Crítica | Love: muito sexo e pouco amor
O filme do controverso diretor Gaspar Nóe nos deu conteúdo sexual explícito, mas não foi além disso.
Gaspar Noé já tem sua fama de fazer filmes polêmicos, desde “Irreversível” até seu último longa “Climax”. Então, quase como uma regra, “Love” não seria diferente, a produção ficou conhecida por retratar cenas de sexo explicito e fez com que várias pessoas abandonassem a sessão de cinema logo no começo do filme. Embora o filme tenha sido classificado por alguns críticos como um pornô cult ou gourmet, a falta de pudor não é, necessariamente, um problema na obra de Noé. Apontar que “Love” é uma obra pornográfica não parece ser uma definição correta, já que o filme não parece contar com as atrocidades que a indústria pornográfica carrega, mesmo que os atores realmente tenham feito sexo nas gravações. O que também não quer dizer que as cenas de sexo explicito, incluindo uma ejaculação, deem vida ou emoção ao longa metragem.
A ideia do polêmico diretor era retratar uma relação sexual que contivesse amor em seu maior. Noé já afirmou que o cinema retrata o sexo e o amor, na maior parte das vezes, como duas coisas distintas, nunca em uma mesma composição. Em suas palavras, “Love” foi feito para ser “uma celebração do amor e do sexo”. Mas será que sua obra contemplou o amor, de fato? É inegável que Nóe, e todo seu elenco, entregam o sexo em sua forma mais crua possível, com tudo que se tem direito a mostra. Contudo, quando vamos falar de amor, a moeda muda de face, “Love” nos traz relações amorosas conturbadas e com sentimentos controversos.
O namoro entre Murphy (Karl Glusman) e Electra (Aomi Muyock) é estável até a página 2, mas depois fica claro que falta muito para que os dois consigam manter uma relação saudável e honesta, que fizesse bem aos dois. Pouco a pouco, notamos que o casal principal tem uma certa energia destrutiva um com o outro. Depois que Murphy se casa, a única coisa que não está presente em seu matrimônio, com Omi, é amor, pelo contrário, ele demonstra odiar sua vida e endeusa um passado, que ele mesmo ajudou a destruir.
Além disso, se em algum momento o amor e o sexo se encontraram foi quando Electra e Murphy transam pelas primeiras vezes. Depois disso, o filme se torna um compilado de cenas eróticas, que não aparentam ser mais do apenas o desejo humano. Que fique claro que me mantenho longe de qualquer moralismo, mas o sexo, em 90% do filme, foge da ideia de fusão que Nóe apontou como seu objetivo principal. Se a ideia fosse tratar da sexualidade humana ou falar sobre as nuances das relações interpessoais mescladas ao desejo sexual, o longa provavelmente iria cumprir seu papel, com algumas ressalvas.
Em termos gerais, “Love” choca e incomoda em alguns momentos, além de contar com uma bela composição artística. Mas quando vamos falar de emoções e amor, ele peca e deixa bastante a desejar, pois falta algumas boas pitadas de amor dentro de seu longa. A emoção que mais aparece dentro do filme talvez seja a melancolia de Murphy, seus sentimentos por Electra já não são tanto de amor, mas de angústia e arrependimento. Ou seja, “Love” entrega muito sexo, mas poucas doses de amor.
Nota: 3/5
Confira o trailer de “Love”:
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