Crítica | Mães Paralelas – Filme de Almodóvar emociona mas se apressa no que deveria detalhar
Mães Paralelas, novo filme do diretor Pedro Almodóvar já disponível na Netflix, conta a história de duas mães que se conheceram no dia do parto. Através deste contato inicial, se descortina uma história encantadora, digna de excelentes novelas de horário nobre, com o selo legítimo de drama Almodovariano: mulheres fortes, reviravoltas surpreendentes, fotografia e cenas impecáveis e atuações dignas de Oscar.
Conhecido pelos seus filmes dramáticos, que condensam imperdíveis e memoráveis histórias, com protagonistas inesquecíveis e enredos dignos de estar no ranking de melhores novelas das 8(se novelas fossem), o diretor Pedro Almodóvar mais uma vez encanta com seu modo único de conduzir suas histórias.
Em Mães Paralelas, é contada a história de duas mães, Janis( Penélope Cruz) e Ana ( Milena Smit) que se conhecem durante o trabalho de parto e a partir dali criam um elo de amizade e companheirismo. E é através desse elo que o enredo escancara contrastes entre realidades familiares, mostrando diferentes figuras maternas, e diferentes formas de acolher, descobrir e buscar seu lugar após conhecer seus vínculos de ancestralidade sempre exaltando a força e a luta que é ser mãe.
A força feminina, tantas vezes exaltada em todos os outros filmes do cineasta, aqui está presente de forma geral, não só nas duas protagonistas como em cada uma das mulheres mães que a trama apresenta. Fora a linha narrativa principal que já é, por si mesma, envolvente, Almodóvar aproveita a história ancestral da protagonista vivida por Penélope Cruz e a relaciona com a história da Guerra Civil Espanhola, buscando conscientizar sobre a necessidade de conhecer a verdadeira história do lugar onde se mora e a história de sua própria ancestralidade para saber qual é seu papel no mundo.
Mesmo antes do filme Mães Paralelas chegar à Netflix, já se ouviam discussões sobre a trama. Penélope Cruz, escalada como uma das protagonistas, foi indicada ao Oscar de melhor atriz, por sua personagem Maria Janis no filme. E a curiosidade de todos fez com que o lançamento fosse bastante aguardado.
Antes do lançamento de Mães Paralelas, a plataforma de streaming Netflix foi disponibilizando de forma gradual alguns dos melhores filmes de Pedro Almodóvar em seu catálogo de filmes, como se preparasse seus assinantes para o que estava por vir. Embora seja um diretor bastante respeitado, Almodóvar não é tão conhecido pela nova geração. Atores como Tom Holland, o atual intérprete do super herói Homem Aranha até deixou escapar em uma entrevista que não o conhecia. A iniciativa da plataforma em exaltar outros trabalhos do diretor para apresentá-lo aos admiradores recentes ao mesmo tempo em que presenteia para os fãs antigos foi excelente.
Apesar de Mães Paralelas ainda ser um legítimo filme de Pedro Almodóvar e sim, ter uma excelente interpretação por parte da atriz Penélope Cruz( com grandes chances de levar a estatueta do Oscar esse ano), o filme se apressa demais em resolver as situações para poder seguir seu enredo. Há diversas situações ali que quem assiste acaba querendo saber mais detalhes, detalhes esses que o diretor infelizmente não conta. Fica quase como um segredo, uma história contada pela metade. O holofote foi quase todo para a história da personagem Janis, de Penélope Cruz e o plural do título acaba, por vezes, sendo desconsiderado nesse aspecto.
Nesta pressa em resolver as situações principais do enredo, o contexto histórico é em parte deixado de lado, como uma chamada implícita para o telespectador buscar por conta própria sobre a verdade ali exposta. É claro que Pedro Almodóvar não deixou de lado nenhum sentimento. Estão todos ali: a revolta, a dor, o amor, o desespero, a esperança, o alívio, a melancolia, a resiliência. E isso compensa em muitas partes a falta de mais detalhes da história dos personagens e do contexto. Mas para um padrão Almodóvar, era de se esperar que tudo estivesse junto e completo. História completa e sentimentos.
É um filme emocionante. E é um filme de Pedro Almodóvar. Não é perfeito considerando o histórico do cineasta. Mas pra primeiro filme feito exclusivamente para a Netflix, é um excelente começo para a plataforma.
Mães Paralelas já está disponível na Netflix.
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