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CRÍTICA | Em roteiro inconstante, MaXXXine traz o encanto e o horror dos anos 80

Um dos lançamentos mais aguardados de 2024, senão o maior deles, MaXXXine chega aos cinemas brasileiros como o último longa da trilogia que já conta com os títulos “X – A Marca da Morte” e “Pearl”, todos os três dirigidos por Ti West. Ambientado na sombria e sinistra Los Angeles nos anos 80, o filme é a sequência direta de “X A Marca do Mal” e acompanha a tentativa da ambiciosa atriz pornô Maxine Minx (Mia Goth) em se tornar finalmente uma estrela de Hollywood. Após ter sido a única sobrevivente de um massacre ocorrido anos atrás, sua nova jornada não é fácil, convivendo com traumas do passado. Para fechar seu cenário, a artista ainda convive ameaças de um serial killer que ronda as ruas da cidade perseguindo e matando jovens. 

Entre alguns banhos de sangue, as ruas de Hollywood com a estética da década, as roupas e maquiagens proporcionam à narrativa um charme retrô digno dos filmes de terror clássico, mesclando tragédia e comédia em seus frames. As referências aos filmes dos anos 70 e 80 são felizes ao remeterem à nostalgia para o gênero noir. A câmera, bem trabalhada, passeia por cenas impactantes, que alteram entre o gore e o belo, com fotografia atrativa e envolvente, prendendo o público na tela em seus 101 minutos de exibição. 

maxxxine

O ponto alto de MaXXXine é, com certeza, a atuação de Mia Goth que, embora esperada, ainda surpreende encarnando os trejeitos de uma verdadeira estrela dos anos 80. Com a arrogância necessária e um toque blasé, ela ainda entrega toda a personificação de uma atriz do século passado em cenas dramáticas, psicóticas, todo o seu talento para protagonizar qualquer filme de terror, se consolidando com uma scream queen moderna.

Mas em meio à narrativa vibrante, o roteiro começa a se perder. Talvez a sede por inovar tenha levado a trama a caminhos incertos e non-sense. Um pouco menos de narrativas mirabolantes e mais sangue teriam feito mais sentido na trama, que se esvazia em meio a tantos contextos desnecessários. De fato, MaXXXine faz boa referência ao gênero slasher,  mas lhe falta a intensidade sangrenta de “X” e a profundidade psicológica de “Pearl”, que pingam na tela, mas não gravam seu espaço. 

Outro ponto delicado na trama é a falta de espaço para outros atores se destacarem e mostrarem seu talento. De fato, Mia Goth é a estrela em MaXXXine, mas o pouco tempo de tela para artistas como Lily Collins e Elizabeth Debicki, foi um falha, já que esses poderiam render personagens profundos e instigantes. 

MaXXXine chega aos cinemas brasileiros

Além disso, o filme peca pela previsibilidade. As mortes, cenas de ação e drama, e o desfecho não surpreendem como deveriam. O plot twist, embora inesperado, não causa o impacto necessário devido à confusão narrativa que o precede. Como o mainstream estava em cena, talvez uma abordagem mais segura e menos experimental tivesse um resultado mais coeso. 

É triste assumir que MaXXXine, junto com a trilogia, tinha o potencial para ser uma obra-prima do terror moderno, mas se perdeu em sua própria ambição e ficou no “quase”, quiçá se escorando um tanto no talento dos outros filmes. Mia Goth entrega uma performance memorável, mas o roteiro e a direção falham em explorar todo o potencial da história e do elenco. É uma experiência interessante, especialmente para os nostálgicos do terror dos anos 80, mas que deixa a sensação de que poderia ter sido mais.

Talvez seja o mais fraco da trilogia, mas, apesar dos deslizes, MaXXXine não deixa de ser uma experiência válida para os fãs de terror e, claro, de um bom trabalho artístico.

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