CRÍTICA | MIMO Festival – Alan é um documentário que mostra o verdadeiro retrato sobre oque é ser artista na periferia
Alan do Rap é um rapper que tentava ganhar a vida fazendo o trabalho que tanto ama, mas ao longo do seu percurso, Alan acaba aniquilado depois de tanto episódios que o mesmo passou, seja em questão de saúde, até mesmo por questões envolvendo violência e crime. É importante enfatizar que Alan era baiano, então mostra o cenário de rap fora da metrópole brasileira do sudeste, por onde o gênero musical é mais conhecido por conta de figuras como Racionais Mcs e Mv Bill, que aparecem em alguns momentos durante o filme.
Alan é um filme documentário que utiliza de métodos de linguagem que lembram o início dos anos 2000, seja na sua estética e como a câmera cria conexão com esse personagem, que vive em um barraco caindo aos pedaços, mas que vive em busca de seu sonho. A linguagem utilizada é variada, seja em ligações telefônicas que ficam o fundo da imagem, close ups no rosto de Alan e a utilização frequente de espaços em breu e silenciosos. Os métodos utilizados criam um teor quase Found Footage em cima do que acontece com Alan e com aquilo que ele vai falando ao longo do filme quando entrevistado.
O filme consegue se manter além da aplicação desses métodos, por conta de quem Alan vai se tornando ao longo de cada capítulo de sua vida, em conjunto com tudo aquilo que vai acontecendo com ele. Algo que agrega bastante a narrativa, são as entrevistas que famosos do cenário musical do gênero comentando e respondendo sobre Alan do Rap. O filme, diferentemente da forma de trabalhar do documentarista Eduardo Coutinho, não tem muita aparição daqueles que estão fazendo o filme, o espaço de tela é quase todo do protagonista do documentário, Alan do Rap.
Alan consegue ter sua proposta feita com exatidão principalmente pelo fato da obra não querer se mostrar tecnicamente avançada. Não existe aqui uma filmagem em qualidade 4k, não existe um som capturado de forma detalhada, é uma produção que lembra até mesmo uma estética suja. Estética essa que conversa com a vida e sobrevivência de Alan do Rap no cenário e espaço que ele vive, e os caminhos que o mesmo decide tomar.
Algo que causa até mesmo certa perplexidade no espectador, é a forma que uma figura como Mano Brown, fala sobre o pedido de ajuda de Alan do Rap para conseguir sobreviver no meio do cenário musical, mesmo que seja fazendo um mínimo para viver. Mano Brown fica desnorteado até responder aos entrevistadores: “Não é sair da cadeia e ir pro rap, e ir pro rap para não entrar na cadeia. Tem muito moleque como ele que é trabalhador. Trabalhador. O cara vacilou no sistema, não posso ajudá-lo. Não posso passar a mão na cabeça dele”.
O espectador fica com um sentimento de pena pelo fato dessa figura, Alan do Rap, mostrar talento e vontade em trabalhar naquilo que ama, e pagar pelos erros que o mesmo cometeu. E, mesmo vivendo momentos bons em algumas cenas, Alan sempre volta para o mesmo começo. Não conseguir trabalho, passar por problemas de saúde, ter que invadir palcos de eventos para conseguir mostrar seu talento da forma mais rápida possível, como o indivíduo pode não deixar a moral de lado, quando tudo que chega à ele é sofrimento, dor, tristeza e nada de expectativa?
Alan é um documentário sólido, consistente e perseverante na forma que trata essa figura do Rap independente. Com a utilização de uma estética e atmosfera que se remete à um outro tempo, consegue ainda se ligar ao espectador dos tempos atuais, por conta de um triste cenário, que continua a existir. Pois Alan do Rap é mais um nesse cenário injusto e, quase utópico, no mundo musical e das artes.
Nota: 4/5
Assista ao Trailer:
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