CRÍTICA | MIMO Festival – Fantasma Neon: quem pensou que trabalhar o tema da precarização do trabalho em formato musical seria uma boa ideia?
Fantasma Neon aborda um tema de extrema importância quando se fala sobre o mundo do trabalho informal e sua precarização no cenário neocapitalista. Ken Loach soube abordar isso de forma exemplar em duas de suas mais famosas obras, Sorry, We Missed You(2019) e Eu, Daniel Blake(2016). Filmes que funcionam pelo simples fato de tratarem esse tema de forma nua e crua, pois não é um tema que dê para exercer algo dramaticamente “belo” e enfeitado, oque acaba tornando o filme Fantasma Neon um filme pouco potente, até mesmo chamativo em sua conversa com o espectador.
Claro que aqueles que vos escreve não esta ditando regras e obrigações ao diretor responsável, mas se for para falar de um tema tão profundo e delicado, utilizando do método musical, tem que saber muito bem oque está disposto a fazer. O filme também tenta se auto aprofundar com cenas de diálogos expositivos e utilizando de metalinguagem em algumas sequências, para conseguir acrescentar um embasamento dramático para a obra ter alguma potência. Mas o tema em si, a forma que os personagens são trabalhados e conduzidos, em conjunto com o “espetáculo” musical que tenta ser feito em certas cenas, faz com que o filme não funcione em quase nenhum momento, até mesmo no ato de simpatizar, ou conectar, o espectador com o personagem protagonista.
A produção no quesito técnico consegue exercer certos pontos, mas nada que chame a atenção de quem está vendo. A direção, mesmo nas cenas que é exigido uma decupagem e uma construção imagética sólida, mantém toda sua condição em uma execução funcional e sem criatividade para conversar com a ideia musical por trás da atmosfera deprimida e caótica que o tema trás. É possível dizer que o filme tenta um diálogo honesto sobre um tema delicado, mas a conversa é composta por frases que sempre estão na metade, ou frase de efeito que encontramos no mundo visto pelos usuários do Twitter.
Em tais decorrências, o filme tem, em poucos momentos, um jogo de câmera com as danças dos entregadores que chama a atenção rapidamente, mas nada que consiga efetivar o nível de trabalho que acaba sendo executado. Até mesmo no sentido estético das cenas, e de atmosfera sobre aquele ambiente injusto, Fantasma Neon falha.
Falha, não no sentido narrativo, que já foi pautado algumas vezes nesse texto, mas pela forma que o diretor tenta entregar a obra como se fosse algo bonito de se passar na TV, até mesmo em um comercial de uma rede de entregas, oque acaba se resultando em uma proposta contraditória.
A sequência na qual um entregador acaba sendo morto por atropelamento, provavelmente, é uma das cenas que mantém o filme mais conectado com a realidade e que dialoga melhor com o espectador. Mostrando uma face melancolicamente real, onde o indivíduo é escravizado pelo próprio sistema da informalidade, por não ter para onde correr. Algo que não penetra apenas o corpo, mas a mente daqueles que precisam se comportar como motores para sobreviver, sem tempo até mesmo para almoçar.
Fantasma Neon é um filme enfadonho, pouco criativo, e que não se arrisca em seu formato musical, nem narrativo. Apresenta ser uma obra querendo apontar a necessidade de falar sobre o assunto proposto, mas que acaba sendo um retrato triste, trabalhado de uma forma triste. Nada contra a escolha musical, mas se é pra falar da uberização do trabalho, não se deve trabalha-lo como se fosse uma propaganda mal feita para um canal infantil. Não só não condiz com o peso do tema proposto, como o torna um discurso completamente descartável quando tratamos o objetivo com apenas um pouco de técnica, e nada mais.
Nota: 2,5/5
Assista ao trailer:
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