Crítica | O Chamado Da Floresta
Baseado no livro homônimo de Jack London, lançado em 1903, “O Chamado da Floresta”, dirigido por Chris Sanders e estrelado por Harrison Ford, chega aos cinemas no início de 2020 como uma diversão para a toda família e como uma das várias adaptações para as telas do conhecido clássico literário.
Em “The Call of the Wild”, nome original do longa, a 20th Century Studios traz novamente à vida a história de Buck, um cachorro que, depois de anos vivendo como um animal de estimação na casa de um prefeito da Califórnia, vê sua vida virar do avesso quando, em uma noite, é subitamente levado de sua casa para uma exótica e selvagem comunidade no Alasca. No meio da corrida do ouro de 1890 e tendo que sobreviver à hostilidade do ambiente e de seus moradores, o protagonista vira um puxador de trenó e, mais tarde, o líder de sua matilha. Descobrindo seu próprio caminho e seu local de pertencimento, Buck, com a ajuda de grandes amigos feitos no caminho, vive a aventura de uma vida em uma jornada para se tornar o seu próprio mestre.
O ano é 1903 e, após a publicação da história de Buck por Jack London, o instantâneo clássico tornou-se alvo de diversas adaptações ao longo dos anos. Treze, para ser exato, incluindo live-actions, animações, programas televisivos e até quadrinhos. A primeira, por sua vez, remonta a uma versão silenciosa, feita em 1923. Em seguida, estrelando Clark Gable e Loretta Young, o cachorro teve, em 1930, sua aventura mais uma vez adaptada para as telas. Posteriormente, diversas outras versões, das quais uma inclui o lendário Charlton Heston, foram produzidas. O romance sempre saltou aos olhos do público e da indústria cinematográfica e, hoje, ainda é assim. Contudo, todas as versões anteriores tiveram algo em comum que o longa de Chris Sanders não tem: estrelaram um cachorro de verdade.
Interpretado por Terry Notary, ex-artista do Cirque du Soleil, Buck é um cachorro de CGI feito através da captura de movimentos. Assim como os outros cães e os outros animais mostrados em tela, igualmente criados pela tecnologia, “O Chamado da Floresta” nos dá a sensação de um filme de animação fotorrealista, tais como “ Mogli: O Menino Lobo” e “O Rei Leão”. O resultado da técnica neste live-action é, no mínimo, duvidoso. Buck nunca parece real e a interação dele com os atores humanos do filme apenas tornam gritantes essa diferença. Contudo, esse detalhe do longa não é surpresa, uma vez que Chris Sanders tem no próprio “The Call of the Wild” a sua estreia em filmes live-action e coleciona em seu currículo as animações “Lilo & Stitch”, “Como Treinar o Seu Dragão” e “Os Croods”.
Tratando-se de um filme infanto-juvenil, no entanto, a abordagem do filme e do visual do protagonista realmente não prejudicam por completo a produção. Decididamente um conto para toda a família, “O Chamado da Floresta” tem muitos pontos positivos e consegue agradar em várias ocasiões. O diretor de fotografia, Janusz Kaminski (Lista de Schindler), duas vezes vencedor do Oscar, por exemplo, luta para dar ao filme um tom grandioso com sua cinematografia categórica e, por muitas vezes, consegue. Presenciamos certos momentos visualmente impressionantes e nos contentamos com o visto, ou não ligamos o suficiente para criticar algo muito a fundo, uma vez que também vemos aproximações não muito convincentes de algumas paisagens. Além disso, a escolha do roteiro de engrandecer os eventos do livro original para aproximar a história da realidade atual é muito importante para a definição de tom adotado pela produção do filme e para a conexão com os mais variados espectadores.
Embora o filme seja aberto também ao público infantil e isso servir como desculpa para as decisões da produção, um Buck animado é difícil de engolir ou assistir. Contudo, “O Chamado da Floresta” tem mais a oferecer do que animais de CGI e paisagens bonitas, ficando nas mãos dos protagonistas humanos de trazer o peso dramático necessário para a obra se desenrolar. Harrison Ford, no seu melhor estilo velho rabugento, é o grande ponto positivo e realmente deixa um gostinho de “quero mais”, uma vez que sua presença plena em tela se dá apenas a partir do final do segundo terço de filme.
Primeira produção a ser lançada com a logo 20th Century Studios, após a compra da Disney, “O Chamado da Floresta” deixa bem claro seu objetivo de ser um filme familiar, e consegue. Seu tom sutil emociona e acerta na dose ao se tratar da adaptação de um clássico literário famoso. Porém, apesar de infanto-juvenil, a artificialidade do longa incomoda, seja ao se tratar do próprio protagonista Buck, seja ao analisar alguns cenários que, apesar de constituírem uma bela cinematografia, ainda não atingem a realidade necessária e não convencem por completo.
“The Call of the Wild” é um misto de sensações e acerta tanto quanto erra. Desigual e artificial tanto quanto emocionante e envolvente, a adaptação da história de Jack London apostou na tecnologia para inovar e conseguiu apenas se afastar cada vez mais da organicidade do real. Clássico “sessão da tarde”, Buck não chega aos pés de cachorros como Lassie ou Marley, mas é o suficiente para agradar minimamente o público com uma trama inocente e animada de muitas maneiras distintas.
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.