Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 (final da série)
2020 foi um ano atípico para os fãs de filmes e séries mais assíduos. Mesmo com os cancelamentos rotineiros, tivemos um abalo na indústria audiovisual com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que acarretou em diversos adiamentos e cancelamentos tanto no cinema quanto na TV. Ainda sem entender em qual dessas situações se aplica, fomos surpreendidos esse ano com o cancelamento de “O Mundo Sombrio de Sabrina“, que será finalizada em sua quarta parte; confirmado pela Netflix em meados desse ano.
Após um terceiro ano desastroso, os personagens de “O Mundo Sombrio de Sabrina” retornam para uma nova aventura, onde terão que lidar com as consequências dos atos de Sabrina Spellman (Kierna Shipka) retratados no final da terceira parte, além do caos causado pelo antagonista Faustus Blackwood (Richard Coyle).
Ao longo dos oito episódios da Parte 4, Os Terrores do Sobrenatural descem sobre Greendale. O coven deve lutar contra cada ameaça aterrorizante (O Estranho, O Retornado, A Escuridão, para citar alguns), tudo levando até O Vazio, que é o Fim de Todas as Coisas. Enquanto as bruxas travam uma guerra, com a ajuda do Clube do Medo (formado por Harvey, Roz, Theo e Robin), Nick começa a ganhar lentamente o seu caminho de volta ao coração de Sabrina.
Já no começo dessa nova e última parte, somos introduzido ao início do fim dos tempos causado pela Escuridão em um excelente episódio repleto de suspense e terror, com direito a sustos e momentos de apreensão, mas a partir daí, bem no início de tudo, começa a descida desenfreada da ladeira. Já a partir do segundo episódio fica nítido a queda de qualidade do roteiro da série ao retratar os acontecimentos que culminarão no fim de tudo. A ameaça de cada entidade que pré-anuncia o vazio é retratada em um episódio por vez, cada uma mais poderosa que a outra, mas que no fim são destruídas através de soluções que os personagens tiram da manga de uma forma inexplicável, por pura conveniência do roteiro.
O responsável pela maioria das soluções para derrotar Os Terrores do Sobrenatural é Ambrose, que vem nessa nova leva de episódios como o personagem que vai narrar tudo aquilo que o expectador não vê em tela e trazer os planos mais absurdos e inexplicáveis. Além desse grande problema no roteiro, outro problema está em deixar a trama principal de lado para focar em subtramas dispensáveis, como por exemplo a de Theo (Lachlan Watson) e seu namorado Robin (Jonathan Whitesell), vermos o Harvey (Ross Lynch) passar por quase o mesmo que passou em temporadas anteriores. Até mesmo o romance entre Sabrina e Nick é exaustivo, sendo tudo aquilo que já vimos antes. A única coadjuvante que cresce aqui é a Roz (Jaz Sinclair), que vem em uma nova trama após uma descoberta que muda seus caminhos.
Apesar de ocupar grande parte do antagonismo da última parte, o Padre Blackwood não desenvolve muito bem aqui, sendo praticamente indispensável, ao lado da Mary Wardwell, interpretada por Michelle Gomez, que diferente de Blackwood é totalmente dispensável e serve apenas de peso morto visual para o espectador. Em contrapartida, temos a outra personagem da atriz, Lilith, que ainda vem com certa relevância, mas também nem faz tanta diferença, assim como todo o núcleo do inferno, incluindo aquele que foi tão temido nas duas primeiras partes da série, Lúcifer Morningstar. A única exceção desse núcleo é a Sabrina 2.0.
Talvez o mais triste aqui é saber que finalmente quando temos Sabrina como dona e protagonista da sua própria série ela não terá mais nada do que mostrar. A personagem de Kierna Shipka desenvolve de forma mais aprofundada e deixa de ser que foi um dia: uma personagem apática, ofuscada e sem nenhuma força como protagonista. Apesar de ainda vermos a personagem ser mal aproveitada e indo contra seu amadurecimento em certos momentos, aqui quem finalmente brilha é ela, a verdadeira estrela do show.
Ao fim da série temos a maior das surpresas – não muito boa. É possível ver claramente que de certa forma a história não está finalizada, deixando uma situação desconfortável de um adeus prematuro e a certeza de que a série foi cancelada por motivos de força maior desconhecido. E tudo ainda fica mais evidente quando há algum tempo tivemos a notícia de que a série estava planejada para cinco partes e que os fãs teriam a grata surpresa de um crossover com Riverdale, série dos mesmos criadores. Mas de acordo com algumas declarações do criador e showrunner da série, Roberto Aguirre-Sacasa, a história da série deve continuar em quadrinhos.
Apesar da quarta e última parte de “O Mundo Sombrio de Sabrina” ter sido um fiasco narrativo e mal roteirizado, ainda sim é possível tirar momentos divertidos do show, se assistido sem grandes intenções e expectativas, além de momentos nostálgicos para quem acompanhou a história da bruxinha na série clássica. No mais, a série que muito prometia quando foi anunciada, só se tornou mais uma para preencher o catálogo da Netflix e se tornar mais uma série esquecida e que não acrescentou em nada a cultura pop, diferente da série clássica.
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