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Crítica | Olhos de Gato – Uma animalesca jornada sobre amadurecimento

Ao lado de grandes obras do estúdio Ghibli, essa nova animação do Studio Colorido conquista espaço na lista de “fantasias contemporâneas” da Netflix.

Os gatos são animais enigmáticos, donos de características peculiares. Não é à toa que os bichanos tornaram-se figuras especiais em histórias de fantasia, ora vestindo o manto de protagonistas, ora como coadjuvantes de luxo, vide o corajoso Barão, em O Reino dos Gatos, ou o excêntrico e sorridente Gato Risonho, de Alice no País das Maravilhas. Dessa vez, o animal “que sempre cai em pé” será vivido por uma jovem que adquire uma estranha habilidade. Olhos de Gato é uma animação nipônica, adicionada recentemente no catálogo da Netflix, narrando as idas e vindas de uma garota que se perde na busca pelo “amor” (aspas colocadas aqui com muita ênfase!).

A roteirista de animes, Mari Okada, que fez até os “otakus” mais fortes chorarem com Anohana, é a responsável pelo roteiro desta animação. Com menos profundidade dramática, mas com um grande poder criativo, ela cria uma ponte interessante entre situações do dia a dia e elementos fantásticos. A cadeira da direção fica por conta da dupla Tomotaka Shibayama e Junichi Sato (conhecido por seu trabalho no clássico anime Sailor Moon).

Sinopse do filme Olhos de Gato:

Miyo Sasaki, apelidado de “Muge”, tem uma personalidade brilhante e é cheia de energia na escola e em casa. Ela também está apaixonada por seu colega de classe, Kento Hinode. Miyo tenta repetidamente chamar a atenção de Kento, mas ele não a nota. Ela percebe que a única maneira de se aproximar dele é se transformar em um gato, mas em algum momento, a fronteira entre ela e o gato se torna ambígua.

Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

A adolescência é a menor fase da vida de uma pessoa, deveras conturbada e repleta de altos e baixos. A chegada da juventude traz uma enxurrada de indagações relacionadas aos sentimentos amorosos. Olhos de Gato, a princípio, nos coloca ao lado de uma protagonista que busca o amor inexistente de um colega de classe (se bem que, nem colega ele é!). Depois, o roteiro abre caminho para uma nova busca: o verdadeiro “eu”.

O filme abre com uma cena festiva, mostrando a personagem principal ao lado de sua mãe e seu irmão. Logo, somos apresentados ao principal elemento fantástico que conduzirá a trama até o fim: uma máscara mágica. Objeto este, que girará as rodas de causa e efeito, gerando acontecimentos e consequências para a protagonista e aqueles ao seu redor.

Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

Ditados populares, muitas vezes, ensinam uma montanha de coisas para cada um de nós, em momentos diferentes de nossas vidas. Se, porventura, eu conhecesse a protagonista, gritaria bem alto para ela: “Quem tudo quer, nada tem!“. Claro que, antes de qualquer coisa, é preciso entender as motivações para tal ato insólito. Muge é uma adolescente que parece ter um, talvez dez, parafusos soltos. Esse é o traço que com certeza fará você aceitar os atos da personagem, ou arquear uma sobrancelha e se perguntar “por que ela está se sujeitando a isso?“.

O amor é um sentimento mutável, despertando as mais improváveis atitudes em uma pessoa. No período da adolescência, essa força abstrata é capaz de aflorar uma avalanche de comportamentos. Muge, enquanto humana, nutre um amor unilateral pelo personagem Hinode, que nem sequer a olha como uma amiga, quem dirá como uma “namorada”. É nesse conflito que o primeiro ato se sustenta, mostrando as diversas situações, algumas bizarras, outras insanas, que a protagonista se sujeita para conseguir a atenção do seu “amado“.

Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

Talvez, a raiva invada sua mente, por causa da protagonista que sofre por não ter o amor de quem não a merece, enquanto esnoba o carinho daquelas que lutam pela atenção dela; como a melhor amiga, o pai e a madrasta. É o típico dilema do personagem que sofre pela ausência daquilo que ele já tem, mas não sabe, ainda! É uma base interessante para evoluir a personagem, no entanto, alguns deslizes narrativos, como diálogos repetitivos e personagens subdesenvolvidos interferem, um pouco.

A partir de uma determinada atitude, essa linha de comportamento desperta um certo incomodo, pois Muge nunca parece ser quem realmente é. Sua imprudência a faz esquecer o “amor próprio”, pois ela vive à mercê de um amor não correspondido. Com isso, a garota começa a usar sua habilidade de andar sobre quatro patas para conhecer Hinode, sem que ele saiba.

Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

Nasce nela, uma dúvida, pois a “Muge Gata” tem toda a atenção, carinho e compreensão, enquanto sua versão humana não tem nada. Nesse ponto, a personagem começa a se perder entre o fio que separa seu lado humano do seu lado gato, afinal, em qual casca ela é mais feliz?

No segundo ato (um pouco arrastado), esse dilema começa a interferir na vida da personagem. Vendo-se diante de uma complicada jornada de autodescoberta, a fantasia ocupa todo o espaço, coordenando a trama na direção de personagens excêntricos e “carigatos“. Ops! Quero dizer “caricatos”.

Com um desfecho razoável, somos bombardeados por cores, belas paisagens e uma direção de arte que encanta até nos mínimos detalhes. Características que marcam cada vez mais as animações orientais, não é mesmo Your Name?

Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

Resolvendo quase todos as questões da protagonista através de situações fantásticas, Olhos de Gato é uma ingênua animação sobre amadurecimento, que conta a história de uma personagem que compreende alguns pilares da vida, como amizade, amor fraternal, amor familiar e “amor próprio”. Mesmo falhando um pouco neste último pilar, o sentimento predominante no final é como um abraço reconfortante.

Quantas vezes nos imaginamos sendo aquilo que não somos, para dizer o que de fato está em nossos corações? Que máscaras usamos para ser ou deixar de ser nosso verdadeiro “eu”? São essas e muitas outras questões que o filme se propõe a fazer. Algumas são respondidas, outras ficarão no ar, dependendo da sua interpretação.

Nota: 3,5/5

Assista ao trailer:

Veja também: Crítica | Cursed- A Lenda do Lago – 1ª Temporada.

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