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Crítica | Os 7 de Chicago – O Mundo todo está assistindo

A Injustiça é um monstro, muitas vezes, alimentado pela corrupção, abuso de poder e negação dos direitos básicos. São estes “Vilões” que antagonizam o novo drama da Netflix, Os 7 de Chicago, cujo roteiro clama todas as semelhanças corruptas entre o passado e presente político dos EUA.

O ano de 2020 foi o mais louvável para a Netflix que emplacou dois filmes em diversas categorias do Oscar: História de um Casamento e O Irlandês. Chegado o período do ano em que muitos filmes lançados possuem forte apelo a concorrer a estatueta mais cobiçada, a líder dos streamings estreou sua primeira grande aposta para a corrida em abocanhar as principais categorias. Os 7 de Chicago, longa baseado em uma história real, ambienta sua narrativa em um Tribunal do Júri. Enquanto a parte técnica utiliza todos os recursos para tornar a narrativa verossímil, a direção impecável de Aaron Sorkin expõe a violação dos direitos constitucionais sem rodeios, direto ao ponto.

Os 7 de Chigago - O Mundo todo está assistindo!
Os 7 de Chicago / Netflix

Se o trailer não apresentasse a frase “baseado numa história real”, muitos telespectadores olhariam para Os 7 de Chicago e veriam um filme deveras apelativo e quase fantasioso, mas sabemos que não é! Cada frame crucial para a construção da história é tanto verdadeiro, quanto sombrio. É uma representação cinematográfica de como as ramificações da Injustiça prevalecem no sistema.

Sobre Os 7 de Chicago:

Baseado em uma história real, o longa acompanha a manifestação contra a guerra do Vietnã que interrompeu o congresso do partido Democrata em 1968. Ocorreram diversos confrontos entre a polícia e os participantes. No total, dezesseis pessoas foram indiciadas pelo ato.

A voz das pessoas é, e sempre será necessária quando se debate questões sociais e políticas. A partir do momento que a vida de um cidadão é colocada no jogo político em prol da vitória em uma guerra, o medo se torna combustível para mover os donos dessas vozes. Essa é premissa que paira no começo de Os 7 de Chicago, apresentando como pano de fundo o cenário conturbado da década de 1960, período este que os Estados Unidos entrou no confronto da Guerra do Vietnã.

Os 7 de Chigago - O Mundo todo está assistindo!
Os 7 de Chicago / Netflix

Inicialmente, o filme utiliza a típica apresentação rápida, com cortes bruscos e frases marcantes para mostrar ao público quais são os rostos que estão por trás do número 7: John Froines, Jerry Rubin, David Dellinger, Rennie Davis, Lee Weiner, Tom Hayden e Abbie Hoffman. Estes dois últimos interpretados por Eddie Redmayne e Sacha Baron Cohen, respectivamente, são os grandes destaques. Separados em grupos com ideais distintos, mas unidos por uma visão “anti-guerra”, os sete lideram os movimentos protestantes, porém a violenta intervenção policial toma conta das ruas, gerando respostas hostis.

O personagem de Redmayne é quase um eco distante do seu papel em Os Miseráveis. Dessa vez, em outro período histórico, sua construção é feita gradativamente, e ao longo da projeção ele trava uma luta externa e interna. As duas cenas mais fortes e inesquecíveis tem Eddie Redmayne como um coração pulsante, espalhando vida para as demais partes do filme. Não é à toa que o ator conquistou uma estatueta do Oscar por A Teoria de Tudo, como também recebeu inúmeras indicações aos mais variados prêmios.

Os 7 de Chigago - O Mundo todo está assistindo!
Os 7 de Chicago / Netflix

Sacha Baron Cohen não deixa para trás o humor marcante de sua carreira, e felizmente este personagem lhe cai como uma luva. Muito além das cenas cômicas (que servem para satirizar as mazelas do sistema americano), Sacha Baron recebe uma grande carga dramática da metade para o final da história; seus melhores momentos estão amplamente ligados a sua atuação corporal e ao seu olhar marcante. Mas, é em um momento especial do terceiro ato que o astro brilha ao mesclar drama e humor ácido, elevando a discussão que está no cerne da narrativa.

Do primeiro segundo até os créditos finais, um sentimento predomina, atravessando a tela e grudando no espectador — a fragilidade. O filme possui gatilhos que inflamam nossa vontade de reagir em defesa dos injustiçados, de gritar as verdades que estão entaladas na garganta. Entretanto, estamos de mãos atadas assim como os personagens, que por sua vez estão acorrentados ao sistema que já os condenou antes mesmo do veredito.

Os 7 de Chigago - O Mundo todo está assistindo!
Os 7 de Chicago / Netflix

Não importa quais provas atestem a inocência deles, tampouco depoimentos com o mesmo fundamento, todo o “show do julgamento” é regido pela manipulação. Como diz o velho ditado “a corda arrebenta sempre do lado mais fraco“, lamentavelmente. Tal elemento é reforçado constantemente através das tentativas dos advogados em lutar por justiça, só que eles também são tratados como peças inferiores numa trama engendrada para tornar Os 7 de Chicago figuras antipatriotas, quase bestiais.

Grande mérito desta obra é causada pela escrita afiada. Alguns diálogos (mesmo aqueles carregados de jargões) são tão densos e poderosos que roubam o protagonismo da cena. Percebe-se isso quando a raiva da audiência cresce sob os ataques desleais provocados pelo abuso de poder. É na representação do juiz Julius Hoffman (vivido pelo ator Frank Langella) que o roteiro transforma as falas em combustível para mover a narrativa para frente.

Os 7 de Chigago - O Mundo todo está assistindo!
Os 7 de Chicago / Netflix

A discussão racial também explode na tela e a atuação de Abdul-Mateen II é visceral em um grau tão alto, que a ficção e a realidade se tornam uma só. Dando corpo, dor e alma para o seu personagem, que foi transformado em um alvo para o ódio, ele é refém de um sistema que o julgou apenas pela cor de sua pele. Neste ponto pode-se sentir a impotência escrachada, derivada de uma sociedade enraizada no racismo institucional. É Brutal. É forte. Mas, aos olhos da lei, era “comum“.

São desses momentos que o roteiro extrai tamanha veracidade, mirando nossa atenção para as temáticas, que apesar de retratarem o passado, são extremamente atuais. É um lembrete doloroso que resgata fragmentos de narrativas similares como o longa Luta por Justiça e a minissérie Olhos que Condenam.

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Os 7 de Chicago / Netflix

Aaron Sorkin pinta um retrato fidedigno de 50 anos atrás, e ao mesmo tempo reflete os tempos atuais. Motivo esse que faz Os 7 de Chicago saber o momento certo de entregar cada pequena situação, para que segundos depois as transforme em algo incontrolável. Pode-se dizer que é como assistir ao bater de asas de uma borboleta criando o Caos.

Ao que parece a Netflix fincará sua bandeira no palco do Oscar, porque Os 7 de Chicago tem tudo para que a empresa realize tal feitio, novamente. Roteiro excelente, atuações grandiosas e direção magistral. É o combo perfeito para futuras indicações.

Nota: 5/5

Assista ao trailer:

Veja também: Crítica | The Boys – 1ª Temporada.

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