Crítica | Os Banshees de Inisherin: Não é porque você não vê a Guerra, que ela não existe
Os Banshees de Inisherin é uma obra que prefere se comunicar nas entrelinhas de um espaço em conjunto com as relações humanas, do que se comunicar de forma direta ao espectador sobre uma pauta específica na qual a obra vai seguir em diante.
É necessário reparar que a estória acontece em uma ilha no Oeste da Irlanda, nos mesmos anos que que estava acontecendo a Guerra de Independência. Mesmo a Irlanda se tornando independente do Reino Unido, começa um conflito entre dois países, fazendo com que a Irlanda se torne dois países.
Mas o que tem a ver esse cenário com o filme? É possível ver ao longo da obra que tem algo de errado com o cenário daquela narrativa, não só a relação dos personagens protagonistas. O estranhamento começa com as pessoas da ilha seguindo suas vidas de forma monótona e sem mudarem sua rotina, mesmo com uma guerra sanguinária acontecendo em uma curta distância da ilha, mas ninguém fala nada sobre.
A personagem Siobáh(interpretada pela atriz Kerry Condon) é a única personagem que demonstra alguém que está inconformada com aquela vida e com aquelas pessoas. Enquanto seu irmão Pádraic(interpretado por Colin Farrell) não está compreendendo oque acontece em sua volta, algo que é apresentado logo nos primeiros minutos do filme com o diálogo entre ele e o seu melhor amigo Colm(interpretado por Brendan Gleeson).
Mal comparando, o filme trabalha o diálogo de narrativa e espectador de forma parecida com o filme A Fita Branca(2009), de Michael Haneke. Porém, esse filme é conduzido e moldado de forma muito mais suave e leve do que a obra citada a pouco. O filme também utiliza do elemento da “morte” que paira sobre um lugar, e que as pessoas não fazem ideia do que está por vir, mas é algo que já está certo de chegar.
Elemento que é trabalhado de forma parecida, quase idêntica , à obra O Sétimo Selo(1957), de Ingmar Bergman. Onde a morte está sobre um cenário de chegada iminente da peste negra, enquanto aqui, é o existencialismo e a falta de aceitação de que o conflito já existe, mesmo o ignorando da forma que der.
Os Banshees de Inisherin tem uma fotografia que captura a ilha como um espaço quase paradisíaco, sendo em sua maioria espaços rurais e fortemente esverdeados. Até mesmo nas cenas mais dramáticas, a fotografia não muda sua proposta, o mesmo sobre a direção de arte e efeitos. Algo que faz sentido, pois entra no contexto da falsidade que está em meio aquela população, mas que não é tão positivo para o espectador. Pois mantém a narrativa de forma morna, até mesmo em momentos específicos.
Essa falta de altos e baixos na obra, faz com que certos simbolismos fiquem apenas boiando na narrativa. E começa a fazer com que o espectador, simplesmente, foque mais na relação dos dois protagonista do que o cenário envolta, que tem um forte contexto com que está proposto no roteiro.
Algo que afeta até mesmo a significância do personagem Dominic(interpretado pelo Barry Keoghan), que se mostra nas entrelinhas da narrativa, mas que no final, não cria uma forte conexão com o espectador, que nem ao menos vê muita diferença dele na narrativa ou não.
Mesmo o filme tendo um forte simbolismo mostrando a conexão de uma relação de dois amigos se esvaindo com a guerra que acontece ao lado, Os Banshees de Inesherin acaba se afundando em uma apatia criada sobre o cenário por conta da direção e por uma falta de mudança de tom quando se fala do roteiro propriamente dito. Sendo sustentado pela atuação de Colin Farrel e Brendan Gleeson, que são o verdadeiro chamariz da obra dirigida por Martin McDonagh.
Nota: 3,5/5
Assista ao Trailer:
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