CRÍTICA | Fantasmas Ainda Se Divertem é como uma locomotiva acelerando lentamente até seu ponto máximo
Apesar de problemas com tom, “Os Fantasmas ainda se divertem” é uma sucessor digno do clássico de 1988.
Se conseguimos ver Beetlejuice novamente na tela grande, devemos agradecer à Netflix. A partir da série Wandinha, Tim Burton se reconectou ao prazer de trabalhar após ter considerado a aposentadoria depois do fracasso de Dumbo (2019). Segundo entrevista dada no 81º Festival de Veneza, “Os Fantasmas ainda se divertem” é um recomeço para o cineasta.
A sequência se inicia da mesma maneira que o clássico de 1988, com um voo rasante pela cidade e terminando na casa que conhecemos tão bem. Danny Elfman, compositor carteirinha de Tim Burton, engrandece o tema original em diversos momentos do filme.
A partir disto, somos reintroduzidos à velhos personagens: Lydia Deetz continua gótica e atormentada por fantasmas do passado, Delia Deetz continua fazendo arte e roubando o filme para si, e por fim Beetlejuice, o demônio que continua o mesmo após todos estes anos.
Os Fantasmas Ainda Se Divertem”- Divulgação Warner Bros
A premissa inicial é simples: Três gerações da família Deetz: Lydia, Delia e Astrid, filha de Lydia, se reúnem novamente em Winter River. Lydia tenta se aproximar da filha, porém, a relação das duas é frágil após a morte do pai de Astrid. Quando a menina é sequestrada e levada ao submundo, Lydia não tem opção a não ser chamar Beetlejuice para auxiliá-la.
O primeiro ato e meio desta jornada aparenta ser uma busca por tom, na medida que contextualiza os problemas e as relações, o filme aparenta esquecer a simplicidade que fez o primeiro um clássico para inicio de conversa, fazendo o público esperar o momento que as peças acabam de ser arrumadas, para finalmente o jogo começar no segundo ato e principalmente no terceiro.
Diferente do primeiro filme, a sequência apresenta um arco dramático ao focar na relação das três mulheres Deetz, porém, saídas fáceis de roteiro fazem a produção perder a força. Sejam personagens interessantes como Wolf Jackson, interpretado por um certeiro Willem Dafoe, e Delores, interpretada por uma estonteante Monica Bellucci, mas que não acrescentam nada no grande escopo da narrativa, ou momentos de virada que conseguimos ver desde o primeiro segundo, a paixonite de Astrid e seu “segredo”, por exemplo, mesmo a relação de Astrid e Lydia não foge da clássica mãe e filha do gênero Blockbuster.
“Os Fantasmas Ainda Se Divertem”- Divulgação Warner Bros
Os melhores momentos da sequência ocorrem quando Tim Burton se solta dentro de seu universo, seja uma sequência em preto e branco e narrada em italiano, uma Monica Belluci sendo reconstruída ao som de Bee Gees, uma sequência em stop motion que mostra a morte de Charlie Deetz, ou um terceiro ato que remete aos bons tempos de Looney Tunes.
Ao longo da produção, Michael Keaton prova mais uma vez como é perfeito para este papel, seja realmente assumindo a posição de demônio possessor em uma cena musical ao som de MacArthur Park de Donna Summer, ou com um charme canastrão presente em todos os momentos que aparece na tela.
Toda a construção de mundo gira em torno de seu personagem, mesmo na sua ausência. Tim Burton amplia este mundo inicialmente criado 36 anos atrás, utilizando do conhecimento pre existente do público perante o mundo apresentado, a direção de arte apresentou uma forte liberdade para colori-lo e planeja-lo da maneira que quiser, assim, se tornando um dos pontos fortes da produção. Além disto, a produção, não usa efeitos visuais à todo momento, preferenciando efeitos práticos que favorece a estética Burtoniana e evita erros como os de Dumbo e de Alice no País das Maravilhas (2010).
No grande escopo, “Os Fantasmas ainda se divertem” apresenta erros principalmente nos dois primeiros atos, no qual a produção ainda está tentando encontrar o caminho, mas, ao final, é eficiente como a sequência de um clássico consagrado, trazendo momentos cômicos, personagens carismáticos, cenas marcantes e uma diversão garantida para os fãs do original.
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