Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho
Ryan Coogler faz de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre uma terapia em grupo para a superação do luto entre seus personagens e o público.
O novo filme solo do Pantera Negra já estava escrito para lidar com o luto, de acordo com Ryan Coogler. O longa se passaria após a volta de T’challa em Vingadores: Ultimato, onde o herói lidaria com o sentimento de luto pelo tempo perdido, dos cinco anos que ficou ‘blipado’.
Após a morte de Chadwick Boseman, o filme teve que ser reescrito para lidar com a ausência de seu protagonista, visto que a Marvel nunca cogitou reescalar outro ator para o personagem ou até mesmo trazer Chadwick em CGI; com isso, T’challa também é dado como morto logo nos primeiros minutos de filme.
A partir daí, a trama se desenrola na recuperação do luto do povo de Wakanda pelo seu rei e a ascensão de um novo Protetor em meio as dificuldades causadas pelas consequências deixadas no longa anterior.
O que mais surpreende em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, é que o filme não é apenas sobre quem será o novo personagem-título, mas sobre o desenvolvimento de Wakanda em meio a essa perda trágica. O material promocional já indica isso, com o foco sempre direcionado ao povo wakandano e principalmente o co-protagonismo de Shuri, Ramonda, Okeye e Nakia, algo também que pode ser notado no título do filme.
Com isso, consequentemente, a Marvel Studios tem mais uma produção de mega destaque representativo em um filme dominado pelas mulheres, visto que o núcleo de coadjuvantes também é praticamente dominado por elas, incluindo Riri Williams e a Dora Milage Anika. Tudo de forma natural, visto que o Pantera Negra de Chadwick Boseman sempre esteve envolto pela maioria delas.
Apesar disso tudo, o filme ainda tem uma preocupação da passagem inevitável e inesperada do manto do protetor de Wakanda, que todos sabiam com obviedade que seria de Shuri. Apesar de todas as polêmicas envolvendo Letitia Wright, a atriz entrega o seu melhor trabalho até então com uma atuação carregada de sentimento.
Ryan Coogler, diretor e co-roteirista, transforma o luto em combustível para criar um filme sentimental e melancólico mas que não se perde na tristeza, se permitindo também celebrar a importância de Chadwick para o UCM, o que fica claro nos primeiros minutos na retratação da cultura wakandana.
Os diálogos entre os personagens a respeito de T’challa transpassam a tela para também integrar o público na superação do luto por Chadwick e mudar o sentimento do espectador em relação a perda. Após a sessão o sentimento que fica é de aceitação e entendimento de que como na cultura ali apresentada, Chadwick viverá pra sempre através do legado deixado.
Apesar disso tudo, Wakanda Para Sempre ainda segue a linha da fórmula Marvel, com piadinhas e conexões com o passado, principalmente referenciando situações do primeiro filme, como também o futuro, com um cameo específico que instiga para o que vem a seguir.
Todavia, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre também se preocupa em trazer entretimento, seguindo a linha de padronagem do universo cinematográfico da Marvel. O filme é repleto de momentos de ação e cenas bem elaboradas. O destaque fica com o povo da cidade submarina de Talocan , Okoye e Riri Williams em sua armadura. Ainda também trazendo momentos de leveza com tiradas cômicas que funcionam nos momentos certos.
E por falar em Talocan, Namor segue uma adaptação quase beirando a originalidade, claramente uma jogada para diferenciar o personagem do Aquaman da DC, o qual já teve destaque em dois filmes da concorrência. O destino do personagem pode desagradar os fãs mais fervorosos, mas é inegável que a essência do personagem ainda permanece ali.
Tenoch Huerta toma o personagem para si e entrega uma atuação digna e envolvente. Namor mostra para o que veio e é fácil entender seu ponto de vista de mesmo indo de desencontro com o dos protagonistas e que suas ações causem marcas tristes e permanentes no futuro da franquia.
A origem de Talocan é simples, porém eficiente, e a cidade submarina é bem apresentada. Em meio ao que fazer para trazer originalidade para esse núcleo e se distanciar do que já foi apresentado antes, adaptar o mesmo como uma descendência dos Astecas remete a visuais belíssimos e uma cultura interessante para explorar futuramente e mesmo assim a essência do povo atlante também está lá.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre tem uma direção incrível, um roteiro eficiente e um design de produção belíssmo. A fotografia é contemplativa em diversos momentos, principalmente quando envolve o povo de Talocan. além disso o filme conta com uma trilha sonora potente de Ludwig Göransson que se complementa bem às cenas elevando todo o sentimentalismo; um dos favoritos para a próxima temporada de premiações.
A respeito do CGI, aqui temos um trabalho muito melhor executado em relação ao primeiro filme, que trouxe um dos piores efeitos especiais da história do UCM. Indo ao contrário de praticamente toda essa fase 4 que pecou nesse quesito, Wakanda Para Sempre faz bom uso da ferramenta, mesmo que deslize uma vez aqui e outra ali.
Por fim, é fácil dizer que o longa entregou tudo o que prometeu: emoção, ação, piadas padrão Marvel, e a preparação do terreno para desenvolver seus personagens futuramente, além de principalmente honrar o legado de Chadwick Boseman. Com um reinício forçado, a Marvel Studios e Ryan Coogler conseguiram fazer o melhor que puderam e o que estava em seu alcance.
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