Skip to main content

CRÍTICA | Pinguim se Torna Aposta Certeira da DC e Peça Fundamental para o Futuro do universo de Matt Reeves

Com uma narrativa intensa e personagens complexos, Pinguim revela a essência perturbadora de Gotham e promete moldar e revirar o futuro do universo de ‘The Batman’.

A série do Pinguim, nesse contexto de um pós -“The Batman”, traz uma profundidade muito interessante para um personagem que, apesar de carismático, sempre foi uma figura perturbadora e, até certo ponto, incompreendida. A atuação é, sem dúvida, o ponto mais alto da trama, com o ator (Colin Farrell) encarnando o Pinguim de uma forma que nos faz questionar constantemente nossa própria visão sobre o que é “bem” e “mal”. Essa habilidade de fazer o público simpatizar com um psicopata e depois, no mesmo episódio, lembrá-lo de sua frieza é um jogo arriscado, mas bem executado. A série tem coragem de se manter nessa linha tênue, sem buscar redenção barata para Oswald Cobb, o que é um ponto positivo e uma escolha ousada.

O enredo se apoia na briga de poder após a morte de Carmine Falcone, com o filho Alberto Falcone (Michael Zegen) assumindo o trono, até ser brutalmente assassinado por Oz. Essa morte fria e impiedosa nos dá o tom da série, reforçando que, em Gotham, a sobrevivência é para quem está disposto a fazer sacrifícios e Oz, mais do que qualquer um, parece pronto para qualquer coisa. A introdução de Alberto e o conflito entre ele e Oz servem como um catalisador perfeito para o caos que só cresce entre o restante da família Falcone.

A morte de Alberto nas mãos do Pinguim, ao invés de ser meramente um ato de maldade, acaba revelando traços da personalidade desequilibrada de Oswald, além de um desprezo pelo poder estabelecido, sugerindo que ele não busca só o controle de Gotham, mas algo mais profundo: uma subversão total.

Com uma narrativa intensa e personagens complexos, Pinguim revela a essência perturbadora de Gotham e promete moldar e revirar o futuro do universo de 'The Batman'.

Pinguim | HBO | Max

Ao longo da série, somos apresentados a dois personagens que dão ainda mais profundidade ao caos da série: Victor Aguilar (Rhenzy Feliz) e Sofia Falcone (Cristin Milioti) que entregam um verdadeiro espetáculo de atuação. Victor, um jovem que tenta sobreviver nos bairros pobres de Gotham, é pego tentando roubar peças do carro de Oz. O Pinguim, no entanto, não apenas o poupa, mas o faz seu “aliado”, desde que o rapaz o ajude a esconder o corpo de Alberto Falcone. Esse encontro com Oz acaba sendo o começo do fim para Victor, que, na tentativa de sobreviver, se envolve cada vez mais no submundo do crime. É uma história trágica que ressalta a perversidade de Oz: digamos que ele dá uma falsa escolha a Victor, mas o destino do jovem já está selado desde o momento em que cruza o caminho do Pinguim. Victor representa a juventude de Gotham, constantemente destruída pelo sistema e pelas figuras de poder.

Já Sofia Falcone, filha de Carmine Falcone, surge como um contraste interessante. Ela é uma personagem marcada pela dor e pela vingança, moldada pelas decisões do próprio pai, que a usou como peão e a condenou ao Asilo Arkham por crimes que ela não cometeu. Seu tempo em Arkham apenas alimentou sua fúria e destruiu qualquer traço de sanidade que ela pudesse ter. Ao sair, Sofia é um misto de ódio e resiliência, determinada a vingar-se e a tomar o que julga ser seu por direito. Com a morte de seu irmão Alberto, o ódio reprimido de Sofia explode, tornando-se um desafio real para Oz. O apelido de “Carrasco” acaba realmente pegando por uma boa razão, e a rivalidade entre ela e Oz é um dos pontos mais intensos da trama, que vem sendo mostrado desde a época que Oswald trabalhava como motorista da família Falcone.

A relação de Oz com Sofia e Victor deixa claro que, apesar de seu discurso sobre justiça social, ele só usa as pessoas para seu próprio ganho. Ele explora a empatia do público ao se posicionar como vítima da sociedade, destacando as desigualdades de Gotham e dando aos bairros pobres uma sensação de esperança. Contudo, é tudo uma manipulação: ele nunca busca ajudar de fato, apenas recruta essas pessoas como ferramentas para seus próprios fins.

Com uma narrativa intensa e personagens complexos, Pinguim revela a essência perturbadora de Gotham e promete moldar e revirar o futuro do universo de 'The Batman'.

Pinguim | HBO | Max

No decorrer da série, somos introduzidos a Francis Cobb (Deirdre O’Connell), mãe de Oz, e entendemos a obsessão doentia de Pinguim por ela. O amor que Oz sente pela mãe é tão extremo que ele chega ao ponto de matar os próprios irmãos para garantir que Francis seja apenas dele. Esse relacionamento distorcido aprofunda ainda mais a complexidade de Oz, mostrando como suas conexões mais íntimas também moldaram seu caráter. É algo que nos faz questionar se, de algum modo, ele também é um “produto” das influências à sua volta ou se o próprio coração dele sempre foi dominado por essa frieza cruel.

A brutalidade de Oz atinge um ponto alto quando ele queima vivos o filho e a esposa de Salvatore Maroni, mais um ato de crueldade que nos faz questionar até onde ele irá. Até que chega o momento em que o mesmo assassina Vic, seu jovem comparsa, de maneira gratuita e cruel, logo após o rapaz ajudá-lo a derrubar Sofia Falcone e a consolidar seu poder sobre Gotham. Essa morte é a gota d’água para o público que, até então, ainda mantinha algum tipo de compaixão por Oz. É aqui que percebemos a extensão da frieza dele: Vic, que poderia simbolizar alguma redenção ou laço genuíno, é apenas outra vítima descartável para Oz. O peso dessa morte é brutal, como se fosse uma última evidência de que o Pinguim é imutavelmente o diabo.

O desfecho da série abre novas possibilidades. Com a nova queda de Sofia Falcone, a mesma é enviada de volta ao Asilo Arkham, onde recebe uma carta de sua meia-irmã Selina Kyle. Esse detalhe adiciona um gancho interessante, apontando para uma possível expansão do universo e quem sabe até um spin-off ou uma nova trama que pode ser explorada em “The Batman 2”.

A Warner acerta em cheio com a série, tanto em termos de desenvolvimento de personagem quanto no universo sombrio e caótico que constrói ao redor do Pinguim. É uma produção que mantém a essência de Gotham e do Batman, deixando os fãs ansiosos por muito mais. Matt Reeves já deu indícios de que há mais surpresas a caminho, e, se esse primeiro arco é algum indicativo, o que vem a seguir promete ser ainda mais intenso. No final, a série do Pinguim fecha com um gostinho de “quero mais”, abrindo as portas para que esse vilão tão complexo mergulhe ainda mais fundo na escuridão de Gotham.

Os 8 episódios de Pinguim já se encontram disponíveis na Max.

Deixe um comentário