Crítica | Ron Bugado – Uma mensagem necessária no momento certo
Sinopse: Ron Bugado conta a história do jovem Barney, um menino de onze anos que tem dificuldade de fazer novos amigos, e seu companheiro Ron, uma inteligência artificial de alta tecnologia que anda, fala e é o “melhor amigo fora da caixa” de Barney. Mas quando Ron começa a ter seu funcionamento comprometido, os dois saem em uma aventura repleta de ação, onde a amizade entre os dois se mostra verdadeira.
Com o aumento crescente da cultura pop os grandes estúdios repensaram o modo como produzir seus filmes e séries. A maioria deles estão dispostos a fazer coisas que fogem de um único gênero ou algo que se destine a apenas um público específico. Há muito tempo que as animações já deixaram de ser algo exclusivo do público infantil e muitas atraem o público adulto que consome esse tipo de conteúdo e adentram as salas de cinema sem acompanhar nenhuma criança.
Animações como Toy Stoy e diversas outras animações da Disney, assim como de outros estúdios como Minions e Meu Malvado Favorito, passam mensagens que dificilmente uma criança vai entender, além de easter eggs e piadinhas com duplo sentido. Ron Bugado é uma dessas animações que se apropria de ambas as linguagem para conversar com todos os públicos, passando uma mensagem para os mais novos e os mais velhos e uma crítica central pra lá de necessária em plena era tecnológica.
Ron Bugado aproveita o momento certo para abordar como as nossas crianças lidam com o contato humano mediante a crescente demanda dos aparelhos ultra tecnológicos que determinam o grau de sociabilidade e a sua aceitação em meio aos seus “semelhantes”. No longa Barney se vê deslocado por ser o único jovem de sua escola, de seu bairro e quase do mundo, que não tem o aparelho do momento, o B-Bot, um sistema androide criado para ser o novo amigo de seu usuário.
Ainda com costumes quase que pré-tecnológicos, Barney não consegue se socializar porque não consegue achar pessoas que tenham os mesmos hobbies que os seus, como por exemplo colecionar pedras, e quando acha não consegue construir uma relação porque isso não foi oficializado por um algoritmo dos robôs, já que ele não tem um (uma espécie de match). Durante o aniversário do jovem, o pai de Barney percebe a tristeza do filho pela exclusão social e decide lhe dar seu próprio androide amigo, porém com defeito.
A partir daí a trama se desenrola e podemos notar que Ron Bugado vai muito mais além de um filme simplório.
A crítica central de Ron Bugado mostra como a tecnologia está afetando a socialização de nossas crianças. Em pleno século 21 onde as crianças sentem a necessidade de estarem conectadas à internet o contato humano tem ficado cada vez mais raro. A ideia de brincar na rua e conhecer pessoas novas de forma natural já está quase extinta. Obviamente, uma pandemia também ajuda muito em manter essa nova realidade. Um período onde as pessoas devem manter distância umas das outras só incentiva ainda mais o vício pela tecnologia, nos obrigando a passar o dia arrastando o dedo indicador para cima e para os lados em uma pequena tela.
O longa também aborda a verdade sobre as vidas de usuários das tão famosas redes sociais, que já se tornou algo tão obrigatório quando ter uma certidão de nascimento, RG ou CPF. Ron Bugado também reflete muito do público adulto, que usa a internet para mostrar apenas um lado da moeda, na qual só existe a perfeição e felicidade, inspirando muitas pessoas a serem o que realmente não são, apenas para agradar a sociedade.
As emoções de Barney transpassam a tela e fazem com que o espectador, de certo modo, se identifique com ao menos um de seus problemas, assim como os outros personagens secundários do filme. Mas, de fato, quem traz os momentos mais incisivos para o toque de realidade e como as coisas saíram do controle é o pequeno androide Ron, que se destaca com suas piadas fofas mas que no fundo trazem as respostas que muitos precisam. A relação de Ron com Barney proporciona ao espectador momentos emocionantes de uma amizade verdadeira nada convencional que inspira os outros personagens a uma revolução ao final do filme, que parece clichê (e de fato é), mas que ainda sim, não deixa de ser necessária.
Mas nem tudo são flores nessa conclusão, falando da parte técnica, o roteiro leva a trama para um encerramento que foge da lógica proposta. Mesmo que seja uma animação e nem tudo precise fazer sentido, os roteiristas decidem levar o fim da narrativa para o lado mais fácil deixando os erros muito mais evidentes.
No fim, Ron Bugado se faz valer muito mais pela mensagem do que pela técnica, porém está longe de ser um filme ruim nesse quesito. É um ótimo divertimento visual, que promete agradar as crianças, mas também vai agradar o público adulto pela escolha de tema abordado na produção.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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