CRÍTICA | S. Bernardo: Um grito político, além da metrópole brasileira
S. Bernardo é dirigido por um dos grandes diretores brasileiros, Leon Hirszman. A narrativa gira em torno Paulo Honório, que, depois de um trabalho intenso, consegue se tornar um fazendeiro. Depois de se chegar a ser um fazendeiro da alta sociedade, se casa com Madalena, uma professora culta e que entra em muitos conflitos com seu marido por questões políticas e amorosas.
É necessário dizer que o filme consegue ser um longa denso por trabalhar a ideia estética da obra em conjunto da evolução de ambos os personagens principais. O trabalho fotográfico aqui tem um primor a ponto de cada plano da obra parecer tão delicado como uma pintura. Seja na construção das sombras, na colocação central da câmera em conjunto com o cenário, além dos ensaios dos atores junto com a proposta que o ambiente exige.
S. Bernardo trabalha a ideia psicológica do protagonista de forma muito detalhada, algo que tem um resultado positivo, principalmente pela a atuação de Othon Bastos. Contando o fato de ser um dos filmes que Othon mais gostou de seu trabalho, pode ser considerado uma das maiores atuações da história do cinema brasileiro. Othon desenvolve um personagem que está desconfiado de tudo e todos, principalmente por aqueles que não acreditam nos seus mesmos ideais. Ideais que são o principal embate com sua mulher.
O personagem Paulo acredita que tudo que segue as diretrizes daquilo que ele acreditou para chegar onde chegou deve ser executado ao pé da letra. Mas ao se deparar com muitas monstruosidades que ele cometia com seus empregados e com as ideias de sua mulher, seu personagem começa a se encontrar perdido e com ódio. Criando desconfianças sobre sua mulher e acreditando que todos que compactuam com os ideais dela, querem destruir aquilo que ele construiu.
Esse conflito consegue ter a potência que tem, também, pela atuação de Isabel Ribeiro como Madalena. Que em nenhum momento foge daquilo que ela acredita e mostra uma presença que, ao mesmo tempo sendo forte como a de Othon, mostra um retrato melancólico da solidão de lutar pelo que acredita, da perda da fé no ser humano e como sua melancolia faz um contraste com um ambiente de tantas cores vivas, assim como suas roupas. diferentes dos outros personagens no mesmo cenário.
Acentuo aqui o discurso sobre o “anticomunismo” que se mostra uma ameaça quase demoníaca para Paulo, simplesmente pelo fato de ele só acreditar que aquilo vai destruí-lo, sendo que ele mal consegue elaborar uma resposta para qualquer pergunta de sua mulher quando se trata de seu trabalho e dos trabalhadores que vivem por perto.
Existe uma forte construção de Paulo ser aquela figura oprimida e que agora quer oprimir, além de querer ser uma figura de grande respeito para todos por ter suas posses, por fazer colégios, e construir uma igreja perto dos trabalhadores, mesmo que ele demita ou expulse qualquer um que cogite ser contra aquilo que ele considera o certo.
Os diálogos entre o casal protagonista e sua resolução mostram como o retrato da tirania por fazendeiros e dos conflitos ideológicos como algo persistente em lugares isolados por todo o território brasileiro. A destruição de quem nós amamos por aquilo que acreditamos, a visão real e suja de como essa ideia de construção de um capital não significa nada se o indivíduo não tem paz, pelo que faz com seus próximos e para aqueles que o mesmo trata como animais.
Mesmo com problemas na parte técnica do som, onde muitas falas não dá para se ter total entendimento, o filme consegue ser um grito sobre um retrato brasileiro real e presente.
Além de ser uma adaptação de um dos maiores autores brasileiros de todos os tempos, Graciliano Ramos, é uma obra que mostra um cenário do caos do homem com a sociedade que ele negocia, com aquilo que é sua fé, e com sua miserável existência.
Nota: 4,5/5
Assista ao trailer:
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