Crítica | Sem Maturidade Para isso – Comédia e “Nonsense”: uma divertida combinação
De longe é perceptível que o criador de Sem Maturidade Para Isso também foi responsável por Apenas Um Show — o mesmo traço, humor inteligente e apego as referências. Dessa vez, na recente animação adicionada ao catálogo da Netflix, J.G. Quintel abre as portas para uma história que não tem vergonha do ridículo e que usa uma criatividade cômica para fisgar a atenção do público-alvo.
Ah… Ser adulto é como estar em um sonho doce! É se aventurar ao embarcar no ônibus lotado, ouvindo o cantar dos pássaros e, ainda por cima, chegar atrasado no emprego. É sorrir com a chegada de mais um boleto que deverá ser quitado antes do dia quinze. Fascinante mesmo é vislumbrar uma pia cheia de louças para lavar. Quem aí não pula de alegria com tudo isso? Ironias à parte, o que seria de nós, seres ajuizados, se não fossemos convidados a “tirar sarro” da rotina que molda a vida dos adultos?
Pode ser apavorante e, ao mesmo tempo, divertido. Rir ainda é um excelente remédio e a animação Sem Maturidade Para Isso é uma dose exagerada deste medicamento, cuja fórmula consiste em três elementos: ironia, “nonsense” (do primeiro ao último episódio) e muita zombaria.
Sinopse Sem Maturidade Para isso:
O tempo passa rápido, e as responsabilidades só aumentam. Isto é o que um jovem casal está sentindo na pele durante a transição dos 20 para os 30 e poucos anos. Em meio à nova fase, Josh e Emily precisam cuidar de sua filha pequena, manter uma boa relação com seus amigos e ainda enfrentar os desafios comuns do dia a dia – como roubar presuntos ou lidar com palhaços strippers.
É comum escutarmos, vez ou outra, as pessoas falarem “crescer é um saco!“. Essa frase é proclamada como um desabafo diante da tempestade de responsabilidade que cai sobre os ombros dos adultos. É apropriando-se desse consenso que Sem Maturidade Para Isso ligará vários pontos em comum com o telespectador, com a simples missão de te fazer rir e refletir sobre a evolução (física e comportamental) do indivíduo. A série é clara: não é preciso se desfazer de tudo o que você é. Óbvio que esse apontamento nasce da veia cômica do roteiro, que dispensa as convenções para falar sobre amadurecimento (ou o mais parecido com isso).
Com arcos fechados, cada episódio de Sem Maturidade Para Isso, composto por duas histórias distintas, é uma grande viagem — distorcida e cômica — a respeito de temáticas que assombram ou animam a vida da famosa Geração Y. Mesmo que apresente elementos que não conversem diretamente com a geração atual, a forma como a história é contada e, sobretudo, o uso de uma linguagem bem humorada, contribui para que a audiência não fique restrita apenas aos nascidos na década de 1980 e 1990.
As referências a estes períodos, que são muitas, entram na narrativa sem tomar para si o foco do episódio. Sem dúvida, algumas citações nostálgicas surtirão um maior efeito para com o público mais velho, que sentirá mais proximidade com os personagens. Se você é sensível e tem mais de trinta anos, muito cuidado, você vai “chorar de rir” e mergulhar numa onda de saudosismo e dilemas modernos.
Os dias atuais, movidos por uma sociedade apegada a tecnologia, também encontram espaço no roteiro. A sátira sobre as atitudes das pessoas é tratada ao longo da temporada, uma conexão indireta com o público secundário, que talvez não se importe com termos e hábitos datados, como a breve menção às extintas locadoras “Blockbuster”.
Quintel, o cabeça por trás desse show, jamais perde a chance de transformar qualquer fato em piada; aliás esse é um traço (narrativo) que atesta sua sagacidade em discutir assuntos pela perspectiva do bom humor. Esse perfil do criador é catalisador de momentos hilários e inesquecíveis, principalmente nos três últimos episódios que extrapolam os limites do ilógico, sem medo de ser caricato. Portanto, se gargalhadas é o que deseja, gargalhadas é o que terá.
Se você está na “casa dos trinta”, com toda certeza conhece os conflitos deste trecho da vida. Metade dos amigos estão casados, os demais preferem a vida de solteiro. Alguns tem filhos, outros são apenas filhos. Há aqueles que adoram baladas, enquanto outros detestem. Também têm aqueles que vivem sozinhos, os que residem com os pais e os que moram em uma casa diferente (mas, no mesmo quintal da mãe e do pai).
Se não bastasse toda essa pluralidade, quem é maior de idade está em constante transição, ora descobrindo novos gostos, ora se desencantando com velhos costumes. Logo, os diversos hábitos e visões de mundo acabam sendo peças fundamentais para que os personagens de Sem Maturidade Para Isso protagonizem uma história que cutuca a falsa utopia da vida adulta.
Os personagens não passam por grandes transformações, mas é notório a evolução dentro de cada episódio pois Sem Maturidade Para Isso consegue falar descontraidamente sobre os temores e anseios que habitam o lado emocional dos adultos. A utilização de arquétipos desmitifica alguns achismos e quase todos os capítulos apresentam o mesmo discurso: não há nada de errado em preferir o comodismo. Afinal, a zona de conforto é um lugar “confortável” e está tudo bem seguir a vida sem abandoná-la.
Por outro lado, o contrário também é válido, pois não existe um manual sobre “como ser adulto”. Cada um é cada um, mesmo que o dicionário resuma todos em um único termo. Assim sendo, Sem Maturidade Para Isso é um respiro para aqueles que levam a vida muito a sério e um tributo para quem curte uma boa diversão.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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