Crítica | Tár é um “Beijo no Asfalto” que zomba da Geração Z
O novo filme de Todd Field não demora para mostrar exatamente oque significa seu discurso. A obra Tár começa com um diálogo bastante extenso e com muito peso teórico histórico musical, em que Cate Blanchett entrega uma aula de atuação por mostrar alguém que sabe, realmente, do que esta falando.
A entrevista inicial mostra um forte contraste da personagem com os novos tempos. Mostrando alguém que não está muito interessada no mundo digital e nas discussões sociais que acontecem nele. Mesmo sendo só um trecho da entrevista, é uma pitada do que estamos prontos para ver.
Tár consegue demonstrar algo que lembra bastante algumas características de obras vindas de diretores como Luis Buñel e Jean Renoir, mostrando uma faceta suja e ridícula por trás do mundo artístico que se finge de civilizado e conversas falsas sobre conhecimentos teóricos, fantasiados e disfarçando interesses pessoais e profissionais.
Essa parcela da narrativa é mostrada de forma sútil pelos personagens Eliot Kaplan(interpretado por Mark Strong), Andris Davis(interpretado por Julian Glover) e Francesca Lentini(interpretada pela Noémie Merlant) que conseguem mostrar de forma sutil, sendo na forma de diálogo ou por olhares, oque eles realmente querem falar ou pensar sobre.
O filme começa de forma bastante confusa, abordando personagens com comportamentos perturbadores, que mal aparecem em cena, em conjunto com a vida pessoal da personagem Tár. O filme tenta capturar o espectador com o elemento de se instigar a entender oque está acontecendo, mas faz isso de forma mal dosada e, em certos momentos, pouco desenvolvido no peso dramático que a cena precisa.
Esse problema acontece em várias sequências, pois a direção tenta compor muitos estilos de direção e de construções para uma obra que na própria narrativa já contem muito conteúdo no qual o espectador fica atento, principalmente nos diálogos. E o filme se afoga em plano-contra-plano para mostrar os diálogos, botando o espectador em um estado de canseira, porque começa a não entender pra que tanto se esse tanto não esta ajudando na composição do resto da obra.
Além de que é possível perceber que o filme tem uma adição de cenas que são simplesmente para mostrar a habilidade do diretor em mostrar que consegue fazer um filme calmo com quase 3 horas de duração. Algo que não faz sentido, pelo fato de que a obra carrega uma potência emocional carregada por Cate Blanchett que não precisa de muito mais para se entender oque esta proposto desde o início.
A obra, também, carrega uma forte crítica aos efeitos do que a Geração Z é capaz de fazer com o indivíduo(a) que não segue a mesma linha de raciocínio sobre temas sociais ligados a objeto de estudo. A ideia de como é fácil construir uma fake news sobre alguém com uma simples edição e com boatos pela internet, mostra o quão um ser social está escravo de uma geração que não faz questão de apurar fatos, além de destruírem a carreira de alguém por simples discordância. Mostrando que “O Beijo no Asfalto” de Nelson Rodrigues não está muito distante de nossa realidade.
Mas, agora, não mais o julgamento das pessoas dos anos 50, até mesmo anos 90. Porém, uma geração carregada de jovens falso puritanos, que estão dispostos a te afundar caso não seja “correto” como eles. Uma crítica justa, e que recebe um bom desfecho comparado com a construção da narrativa de outros personagens e da jornada da protagonista durante o meio da narrativa, que o roteirista, e diretor, não parece saber que caminho está interessado em tomar. Mesmo com sua maturidade técnica.
Claro que escrevo sem colocar a personagem Tár em um pedestal de personagem inocente. Pelo contrário, ela se mostra errando, mentindo e com um lado considerado até tóxico em certos momentos. Mas a beleza da personagem, que é complementada pela atuação majestosa de Cate Blanchett, é exatamente esse ponto: Tár se mostrando um ser humano com erros e acertos, e ela tem noção disso. Algo que pode implicar com alguns e simpatizar com outros espectadores, até por ser um personagem construído para isso.
Tár, mesmo sendo uma obra que tenta construir um ar de complexidade de forma desnecessária, consegue ser impactante e irônica em alguns de seus momentos. Além, de Cate Blanchett provar, mais uma vez, ser uma forte aposta na premiação como Melhor Atriz no Oscar de 2023.
Nota: 3/5
Assista ao Trailer:
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