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Crítica | The Witcher: Lenda do Lobo – Apesar da aventura sanguinolenta, filme aposta no drama

Assinante da Netflix possui um vício inerente: aventurar-se nas abas do streaming, na ânsia de achar algo novo! Não é diferente com o público geek, que acaba de receber uma nova adição conhecida, indiretamente, pelo seu irmão mais velho. The Witcher: Lenda do Lobo (o irmão mais novo) estreou na última semana com a promessa de conjugar dois verbos: “enriquecer” e “expandir” o universo estabelecido na série de 2019, estrelada por Henry Cavill.

Escolha lucrativa para os produtores e benéfica para os fãs ávidos, muitas histórias burlaram o ponto final existente em filmes e séries. Seria uma tarefa árdua, contabilizar o número de tramas que receberam continuações (ou spin-offs) em outras mídias. Star Wars, por exemplo, abocanhou outras fatias do mercado da Cultura Pop: games, livros, HQs, séries e animações. Sob a mesma vontade, em um passo mais curto, está a idealização da Netflix, ramificando o enredo iniciado na série do Geralt de Rivia no filme animado The Witcher: Lenda do Lobo.

O alvo do roteirista é desenhado sem rodeios; longe de julgar o certo ou o errado, ele deseja contextualizar uma realidade cruel, repleta de seres pensantes, que agem conforme suas vontades. No roteiro de Beau DeMayo há um dueto, uma dança de conflitos — Drama e Ação — fantasiados, respectivamente, de “história de amor” e “perseguição a diferentes grupos sociais”. Deixando o “live-action” ao migrar para a animação, Lauren Schmidt Hissrich (showrunner da série e produtora do filme) direciona os holofotes para o novo personagem: Vesemir. Escravo do dinheiro, porém competente em suas funções, o Bruxo é evoluído na jornada dos questionamentos. Assim, surge o debate nas entrelinhas. Emoções pertencem, exclusivamente, aos seres humanos? Ou os monstros também sentem algo?

Crítica | The Witcher: Lenda do Lobo - Apesar da aventura sanguinolenta, filme aposta no drama
The Witcher: Lenda do Lobo / Netflix

Sobre The Witcher: Lenda do Lobo

Vesemir é um jovem bruxo convencido que caça criaturas por dinheiro. Um dia ele se depara com um novo e misterioso poder que o força a enfrentar demônios do passado e acaba descobrindo que alguns trabalhos são mais importantes do que o dinheiro.

Antes do decorrer desse texto, é preciso dizer o óbvio,The Witcher: Lenda do Lobo não é para todos. Qualquer um pode apertar o play, na prática, mas o assinante que cair de paraquedas no filme, sem o menor conhecimento sobre esse mundo, deixará passar em branco referências de suma importância. Apesar da trama independente, a narrativa do filme está de mãos dadas com a série. Portanto, aqueles que pularem o show não serão afetados pelo efeito de algumas “reviravoltas”.

Olhando o esqueleto do projeto, indiretamente, percebe-se que além de um prelúdio de luxo, a animação faz um gracioso aceno para os fãs, lembrando-os de que em breve estreará a segunda temporada de The Witcher. Apreciar as obras, seguindo a ordem de lançamento, é sinônimo de preparo, compreendendo assim elementos internos e externos à narrativa. Isso incluí termos, culturas, locais e personagens; inclusive o mais crucial: a Linha do tempo.

Crítica | The Witcher: Lenda do Lobo - Apesar da aventura sanguinolenta, filme aposta no drama
The Witcher: Lenda do Lobo / Netflix

Com o sabor de uma partida de “RPG de Mesa“, o diretor Han Kwang Il segue uma receita pequena, fazendo mágica com apenas oitenta e três minutos de filme. Despido de imediatismos, nenhum acontecimento soa acelerado, ainda que no final permaneça a sensação de que a animação merecia mais tempo. Escorando-se em elipses, respeitando assim a inteligência do telespectador, Kwang Il constrói a jornada da caça e do caçador, colocando-os em constante movimento.

Dos monstros mais horripilantes, aos bravos heróis, o diretor não apela para o maniqueísmo panfletário. Sua visão está na exploração dos dois lados da moeda, apostando assim numa galeria de personagens dúbios, repletos de camadas e falhas, muitas falhas! Isso se estende até às figuras que aparecem pouco, numa jornada curta, infelizmente!

Crítica | The Witcher: Lenda do Lobo - Apesar da aventura sanguinolenta, filme aposta no drama
The Witcher: Lenda do Lobo / Netflix

The Witcher: Lenda do Lobo é a típica história cujo primeiro minuto conquista ou espanta a freguesia. Fica claro que a fantasia é decorada pelo sangue, vísceras e outras partes de um corpo mutilado; (alô, Castlevania!). De antemão, a violência gráfica dita o tom e a partir disso o perigo iminente parasita, pouco a pouco, a narrativa; somos cobertos pela seguinte certeza: a morte pode levar qualquer personagem, a qualquer momento.

Diálogos, necessários e estratégicos, concedem agilidade à trama, transformando a exposição de informação no elo entre os personagens, ou seja, Beau DeMayo encontra a brecha perfeita para intercalar os discursos, conversas e monólogos. Detalhes ditos no primeiro e segundo ato, permanecem vivos no desfecho, amarrando tudo numa cadeia de falas que sustentam os plot twists no último ato. Nasce, assim, o personagem mais importante em The Witcher: Lenda do Lobo: o Drama.

Crítica | The Witcher: Lenda do Lobo - Apesar da aventura sanguinolenta, filme aposta no drama
The Witcher: Lenda do Lobo / Netflix

Por mais que o vermelho-sangue impere através do desfile de mortes, tal horror visual perde para a força do drama. Não que haja competição entre eles, mas são os momentos de pico de emoção que concedem alma ao filme. Pelos olhos de diferentes criaturas, humanas e não-humanas, a veia dramática cresce progressivamente, culminando em um ponto comum. Não é a morte, tampouco a vida; trata-se da distância entre ambos. Magos, Bruxos, Guerreiros, são tantas classes diferentes, que se esquece que dentro deles há fragilidade, compaixão, dor e arrependimento. Até o ser mais horrendo tem coração, no fim das contas.

Inevitavelmente, Lenda do Lobo é um lembrete de algo maior que está por vir — a 2ª temporada de The Witcher. Nota-se isso na data de lançamento do longa, poucos meses antes da estreia do novo ciclo da série “live-action”. Aqui está uma partida audiovisual do RPG que se sustenta na emoção, na destruição de laços. A empolgação regida pelo erguer das espadas e a adrenalina presente na conjuração de magia são inebriantes, por isso as batalhas estão lá, majestosas. Todavia, a coroa do filme está na cabeça do “Sr. Drama”, pois não é só de lutas que se vive uma aventura.

Nota: 4/5

Assista ao trailer:

Veja também: Crítica | A Lenda de Candyman.

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