CRÍTICA | MIMO Festival – As Canções de Amor de uma Bixa Velha mostra um ponto de vista diferenciado da velhice
As Canções de Amor de uma Bixa Velha mostra, de forma delicada, o dia-a-dia do artista Márcio Januário. Márcio é um homem negro, e gay, e que conta sobre como é a sua vida. Vida, que no momento, se encontra na velhice. O diretor André Sandino Costa decide contar essa narrativa do artista, o fisgando com a câmera de forma pessoal, despojada e querendo mostrar o mundo além da camada da opressão que tal indivíduo sofre.
O curta é conduzido, na maior parte do tempo, com a câmera na mão e mesclando momentos em que Márcio está fazendo sua performance como cantor, se arrumando, e em sua casa ensaiando com seu parceiro de palco. O filme não tenta se aventurar em nenhum quesito técnico e deixa Márcio Januário a vontade para falar abertamente sobre suas experiências sexuais e como é a velhice para si próprio.
Mesmo o filme apontando em poucos momentos o tema da velhice propriamente dito, a direção e a conexão criada entre o artista Márcio e o espectador fazem com que o filme crie uma atmosfera onde todo o discurso do protagonista do documentário pareça uma bela conversa, em uma mesa de bar. Oque, obviamente, não é um problema. Até pelo fato de que o diretor não apresenta a necessidade de dramatizar Márcio, mas sim, mostrar uma face humana que certa parcela do povo esquece que existe.
As cenas de ensaio, mesmo com a questão técnica do som que capta os vários desses momentos de forma pouco funcional, mostra um cenário sobre artistas (em sua maioria, sendo desconhecidos) vivendo sua vida de forma normal, sem glamour e simplesmente falando sobre música. E como, até mesmo, elaborar sua música. A fotografia também contém alguns problemas de enquadramento, cortando a cabeça dos entrevistados, mas nada abrupto que afete a experiência de quem esta vendo o documentário.
Quando Márcio começa a escolher as músicas que vai tocar em seu show, o diretor capta, mas não com tanta ênfase, a ponto do espectador acabar esquecendo sobre as músicas. Pois o espectador se encontra conectado nos outros momentos ditos e pelo discurso do artista Márcio Januário. Mesmo o final não perdendo o fôlego, falta essa parte tão importante que é apresentada até mesmo no título da obra. De que adianta As Canções de uma Bicha Velha ser o nome do curta, se no final da obra essas canções são deixadas de lado pelo próprio diretor?
Mesmo o curta tendo suas problemáticas técnicas e de condução, a narrativa continua sendo cativante, necessária, e delicada em sua maioria. Algo que acontece, não apenas pelas cenas em que Márcio mostra seu trabalho de forma exemplar, mas pelo discurso que sua presença tem e a forma em que ele conversa com aquele que o entrevista.
As Canções de Amor de uma Bixa Velha tem uma execução técnica e um formato que não tenta se aventurar além daquilo que o espectador espera de uma obra documental. Porém, consegue mostrar a vida de Márcio Januário sem ser mais uma obra LGBTQI+ que necessita colocar de forma desnecessária o drama da opressão de tal figura artística para segurar a atenção do espectador. E sim, mostrar a figura de um homossexual, negro na terceira idade, que carrega e exala no seu cotidiano e em sua arte , tanta vida e alegria com seu talento.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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