Dirigido por Jacques Audiard e com 13 indicações ao Oscar, Emilia Perez é um filme confuso, chato e polêmico que lida de modo simplista com questões importantes.
Esta semana no trabalho estávamos conversando sobre superficialidade e chegamos em Emily Em Paris (Darren Star, 2020), uma série da NETFLIX, criada por norte americanos, que passa uma visão estereotipada da França, porém, que cativa o público por conta de sua construção água com açúcar, romântica, e a presença cativante de Lily Collins. Nativos franceses já se pronunciaram contra a série, entre os principais motivos estão a visão clichê e a falta de representação real da cidade de Paris.
Coincidentemente, ou não, o francês Jacques Audiard lançou o sonoramente parecido: Emília Perez. Um filme também recheado de esteriótipos, clichês, mensagens pouco exploradas, músicas insuportáveis, e que do mesmo modo que Emily Em Paris não é um bom parâmetro para conhecer a França, Emília Perez se torna o pior parâmetro para conhecer o México.
Pronunciamentos do diretor Jacques Audiard como não ter pesquisado previamente sobre o México, e a fala: “espanhol é idioma de pobres e imigrantes”; até pronunciamentos vocais e contraditórios de Selena Gomez e principalmente Karla Sofía Gascón, auxiliaram no surgimento de um gosto amargo ao se discutir a produção.
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Karla Sofia Gascón e Zoe Saldana em cena de Emilia Perez- Divulgação NETFLIX
Após comentários polêmicos de Gascón, como que a equipe das redes sociais de Fernanda Torres a estava difamando, diversos tweets antigos foram descobertos e que demonstravam um comportamento ofensivo, da atriz, para com mulheres muçulmanas, o Islã e até mesmo o caso de George Floyd. Karla Sofia Gascón perdeu muita força e credibilidade, antes com crédito por ser a primeira mulher trans à ter chances de levar o Oscar de Melhor Atriz, agora provavelmente não ganhará nada.
A equipe do filme abandonou a sua protagonista, a NETFLIX cortou laços com a atriz e atualmente baseia o marketing de Emilia Perez em Zoe Saldana; Jaques Audiard se pronunciou que é indesculpável o que Karla Sofia fez, porém, ao receber um prêmio no Critics Choice Awards, a agradeceu.
Apesar de todas as confusões e polêmicas que o filme apresenta, esta hipocrisia e o abandono de sua protagonista por parte da produtora e da equipe, incluindo Zoe Saldana e o diretor Jaques Audiard, é inadmissível, ainda mais estando tão perto da premiação do Oscar. Por mais complicados que tenham sido seus pronunciamentos passados e presentes, não é correto o que a indústria está fazendo com Karla Sofia Gascón.
Ao analisar a produção isoladamente, deixando de lado as polêmicas, o fato dele ser o candidato que possa impedir o Brasil de ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional, ou qualquer outro fator externo, somente analisando a arte por si: chegamos à conclusão que o filme continua sendo muito ruim.
A primeira cena de Emilia Perez envolve mariachis neon, um susto que já dá o parâmetro para o musical que se segue, ou melhor, para esta opereta. Canções são intercaladas com diálogos falados/cantados. A cena em que Zoe Saldana conversa com o médico é a prova disso. Ambos estão conversando e sem preparação prévia nenhuma, o médico inicia o processo de falar cantado, algo que atordoa o público, principalmente pela letra que é recheada de preconceitos de gênero, algo constante durante toda a duração de Emilia Perez.
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Zoe Saldana e Karla Sofía Gascon em cena de Emilia Perez- Divulgação NETFLIX
A história de Emilia Perez tem como gatilho narrativo a jornada de Rita Mora, Zoe Saldana, uma advogada que recebe a missão de auxiliar um líder de cartel em seu desejo de se tornar mulher. Com a presença de músicas que aparentam sair de um delírio coletivo, como La Vaginoplastia, o filme tenta abordar tópicos importantes com o intuito de ganhar a atenção e o carinho dos críticos, ignorando a opinião do grande público que grita quão terrível Emilia Perez realmente é.
Emilia Perez é um filme que apresenta uma fotografia escura e plástica, atuações que variam das boas, como Zoe Saldana, até as terríveis, como Selena Gomez, uma atriz que foi colocada no filme com o simples intuito de atrair público. Um musical com nenhuma música realmente atraente que é plano de fundo para um filme que aparenta ser progressista, porém, por meio de sua narrativa acaba perpetuando diversos preconceitos de gênero e sexualidade.
Além de tudo isto, a produção apresenta um roteiro frágil, muitas vezes vazio, tirando a força de lutas e questões importantes como o movimento trans, ao mesmo tempo que carimba todos os itens essenciais para que receba diversos prêmios, como está acontecendo atualmente.
Emilia Perez é um filme feito para enganar críticos e ser aclamado, mesmo que superficialmente, algumas de suas questões narrativas e técnicas provam isso:
- Em um mundo cada vez mais conservador e de direita, temos uma protagonista trans sendo exaltada como santa ao seu final, independente do modo confuso e contraditório como isto é retratado na produção, a questão é a mensagem transmitida.
- A questão da produção ser um musical, um gênero cinematográfico que Hollywood costuma gostar, principalmente quando ele discute a sociedade.
- O retrato do México, na cabeça de críticos “especializados” e sob o domínio de um cabresto, retrata um país que é um dos mais afetados após a reeleição de Donald Trump, assim, auxiliando Hollywood em uma luta contra esta “direita opressora”.
Emilia Perez é um filme que envelhecerá muito mal, principalmente pelo fato de seu falatório atual se basear no Oscar, em sua competição com Ainda Estou Aqui (2024, Walter Salles), e nos comentários de sua atriz. Uma produção que tenta discutir tanta coisa e ao seu final se torna tão superficial que não diz nada. Em 5, 10 anos, provavelmente ninguém nem mesmo lembrará da produção, ganhando Oscar ou não.
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