Skip to main content

CRÍTICA (FESTIVAL RIO) |Enterre Seus Mortos se inicia muito bem e fracassa no resto

Apesar de Selton Mello e da direção de Marco Dutra, Enterre Seus Mortos é um filme vazio de conteúdo.

Na primeira cena de Enterre Seus Mortos, vemos um cavalo atravessado na parte traseira de um carro, um morto na estrada, e dois homens que chegam para resgatar o animal, ignorando o homem implorando por ajuda, que se encontra preso no banco da frente do carro, destruído pelo corpo do equino.

Baseado no livro homônimo de Ana Paula Maia, Enterre Seus Mortos acompanha Edgar Wilson, Selton Mello, e o ex padre Tomás, Danilo Grangheia, dois homens responsáveis por recolherem animais mortos na estrada, dentro de um mundo pós apocalíptico, porém, diferente de outros mundos pós apocalípticos presentes no nosso inconsciente coletivo, como o de Exterminador Do Futuro e Mad Max: Estrada da Fúria, o mundo de Marco Dutra nunca se apresenta tão terrível quanto deveria.

Isto é um problema comum a todo a produção: tentar chocar, porém, sem apresentar força ou contexto suficiente para transmitir qualquer forma de empatia do espectador para com seus personagens.

Incluindo diversas alegorias bíblicas em seu desenvolvimento, incluindo, mas não limitado a: os 4 cavaleiros do apocalipse, o filme apresentar 7 capítulos, uma chuva de sapos como uma das pragas do Egito Antigo, entre outras. Porém, esta quantidade de alegorias bíblicas dentro de uma narrativa inflada, torna a produção muito hermética para o seu próprio bem e confundindo a audiência.

Enterre Seus Mortos é um filme que aparenta justificar a existência de uma chocante primeira cena, por meio de cenas violentas e uma tentativa de construção de thriller, a partir de uma investigação sobre uma iminente seita que aterroriza os sonhos de Edgar Wilson, porém, a falta de explicações básicas não auxilia.

Apesar de um elenco de peso que inclui Selton Mello, em um de seus papéis mais fracos, Marjorie Estiano e a eterna Betty Faria, a produção aparenta ter o objetivo de construir uma reflexão sobre o bem e o mal, porém, falha em conceitos básicos como a construção de personagens e de um maior enfoque no apocalipse em si.

Os momentos em que Enterre Seus Mortos levemente se destaca, ocorre em alguns diálogos como o de Edgar Wilson com Nete, Marjorie Estiano, porém, mesmo uma cena interessante incomoda ao durar mais do que deveria, algo que Enterre Seus Mortos é perito.

Enterre seus mortos

Marjorie Estiano em cena de “Enterre Seus Mortos”- Foto divulgada pelo Festival Do Rio

A fotografia neon, misturado com um estilo faroeste, apresenta interessante a principio, porém, não se mantém dentro de uma distopia que não é explicada em nenhum momento, assim, por conta do mundo de seus personagens não terem sido devidamente apresentados, a audiência não consegue ter empatia.

Ao final de seu segundo ato, já com parte da audiência tendo desistido de assistir o resto da produção, Enterre Seus Mortos tira um deus ex machina na forma de Gilson, um demônio que estava no controle de Edgar Wilson o tempo todo, o tornando um assassino. O que poderia ser uma virada interessante para seu protagonista, a construção deste ponto de virada é tão absurda que se torna impossível sentir qualquer forma de impacto.

Ao final da produção, saímos com um sentimento vazio, e com grande parte do filme apagado de nossa mente, por conta de uma construção narrativa que não faz sentido, dentro de um filme que se leva a sério demais para o seu próprio bem.

Leia também:

Deixe um comentário