CRÍTICA I ‘Mais Pesado é o Céu’ é uma Jornada Sem Esperança
Mais Pesado é o Céu transmite uma intensa sensação de desespero e sobrevivência, no meio do interior do Brasil
A luta pela sobrevivência, em meio ao desespero e à falta de esperança, é um tema poderoso e universal no cinema. Quando a narrativa se desenrola em um cenário de caos e adversidade, o espectador é convidado a mergulhar profundamente nas emoções dos personagens, sentindo suas angústias e medos. Esse mergulho é crucial para criar uma conexão intensa entre a trama e quem a assiste, fazendo com que cada cena de sofrimento e cada tentativa de superação se tornem experiências viscerais para o público.
Dirigido por Petrus Cariry (“O Barco”), “Mais Pesado é o Céu” segue essa linha, impressionando pela montagem cuidadosa e atmosfera densa. O relato pesado e angustiante, situado no interior do Brasil, cativa e imerge o espectador, em uma história que explora temas de desespero e sobrevivência, de forma intensa e profunda. Cariry utiliza uma abordagem visual, que é ao mesmo tempo poética e brutal, enfatizando a beleza crua da paisagem brasileira, enquanto destaca a dureza da vida dos personagens.
Mais Pesado é o Céu I Iluminura Filmes
A trama segue Antonio (Matheus Nachtergaele) e Teresa (Ana Luiza Rios), que se encontram e iniciam uma jornada pelas estradas, compartilhando lembranças de uma cidade submersa no fundo de uma represa. Este encontro casual, entre duas almas perdidas, cria um vínculo forte e melancólico, onde ambos buscam um sentido para suas existências em um mundo que parece constantemente desmoronar ao seu redor. A narrativa se desenvolve, portanto, como uma metáfora para a perda e a busca de redenção, com a cidade submersa simbolizando os sonhos e esperanças, afogados pelo tempo e pela realidade cruel.
A sensação de fuga é palpável, com a fotografia de Cariry alternando entre tomadas amplas e claustrofóbicas, transmitindo a falta de rumo dos personagens e aumentando a tensão. Essa escolha estilística não apenas retrata a vastidão do desespero, mas também o enclausuramento emocional, que os personagens enfrentam. Cada plano é cuidadosamente composto para refletir o estado interno de Antonio e Teresa, criando uma simbiose entre o ambiente e a ficção.
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O longa funciona como um road movie, com uma ambientação que brinca com a fuga do espectador, mantendo-o preso à narrativa, enquanto deseja escapar dela. A ausência de esperança é o tema central, especialmente em cenas desconfortantes, como quando Teresa se submete à violência para sobreviver. Essas cenas são particularmente impactantes, mostrando o extremo a que os seres humanos podem ser levados, quando todas as opções parecem esgotadas. O choro de um bebê ainda intensifica tal desespero, simbolizando tanto a fragilidade quanto o milagre da vida, em meio ao caos. Tal elemento adiciona uma camada de vulnerabilidade e inocência à trama, contrastando fortemente com a brutalidade do mundo adulto que os cerca.
As atuações de Nachtergaele e Rios são extremamente fortes, trazendo profundidade emocional que sustenta o filme. Nachtergaele, conhecido por sua capacidade de incorporar personagens complexos e atormentados, entrega uma performance que é ao mesmo tempo poderosa e sutil, capturando as nuances da dor e da esperança. Rios, por sua vez, oferece uma interpretação comovente, de uma mulher que luta contra a desintegração de sua humanidade, mostrando resiliência em face de adversidades insuperáveis.
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No entanto, também há problemas. No meio do longa, a sensação de andar em círculos reflete a confusão e o desespero dos protagonistas, deixando o espectador incerto se isso é proposital ou resultado dos personagens estarem perdidos. Esse aspecto pode ser interpretado como uma crítica à falta de direção na vida de muitos, um espelho da própria busca dos personagens por um propósito. Apesar de isso poder causar tédio, a última cena oferece uma catarse recompensatória, que amarra a explanação de forma magnífica, proporcionando uma resolução emocional que, embora não seja convencionalmente feliz, oferece um senso de fechamento.
Ao fim, “Mais Pesado é o Céu” representa o lado mais sombrio da natureza humana, mostrando como é difícil acreditar na bondade gratuita, em tempos de crise. Através de uma narrativa envolvente, direção sólida e atuações poderosas, o filme entrega uma experiência cinematográfica profunda e perturbadora. A obra desafia o espectador a confrontar seus próprios conceitos de desespero e esperança, deixando uma marca que ressoa muito depois dos créditos finais.
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