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CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | As Mulheres da Sacada é comédia francesa no melhor estilo Almodóvar

As Mulheres da Sacada usa a comédia absurda para criticar a visão masculina

Dirigido por Noémie Merlant, Retrato de uma Jovem em Chamas (2019), Mulheres da Sacada começa com uma óbvia referência à Janela Indiscreta (1954), porém, na medida que avança e ocorrem cada vez maiores absurdos, o projeto se inspira em um diretor que recorria a muitos destes absurdos durante o inicio de sua carreira: Pedro Almodóvar.

Se inspirando em filmes como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), a produção conta a história de 3 mulheres: A cam girl Ruby, Souhelia Yacoub, a atriz Elise, interpretada pela própria Noémie Merlant, e a escritora em crise Nicole, Sanda Codreanu. Três mulheres bem diferentes entre si, porém, que se completam dentro das loucuras do filme.

É impossível uma crítica de As Mulheres da Sacada sem spoiler, na primeira cena uma dona de casa mata seu marido abusador com uma pá, dando o tom para toda a narrativa que se seguirá.

O filme se desenrola após o trio ir beber no apartamento de um atraente vizinho, dosando tensão e comédia, a audiência percebe que algo está errado, seja pela fotografia escura em contraponto à luz que havia no inicio, ou ao sentimento de claustrofobia que é apresentado. Após o vizinho abusar sexualmente de Ruby, ela acidentalmente o mata, levando as três mulheres a darem um jeito no corpo.

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Ruby, Elise e Nicole em cena de “As Mulheres da Sacada”- Foto divulgada pelo Festival do Rio

O interessante de As Mulheres da Sacada, é que se inicia como um drama, então vira comédia, então thriller e se encerra como uma junção dos três, com uma pitada de realismo fantástico na forma de fantasmas de abusadores mortos, o que parece muita coisa, se torna um ode à amizade feminina e principalmente ao corpo feminino, algo que o cinema, ambiente majoritariamente masculino, falhou em retratar diversas vezes.

Noémie Merlant usa Mulheres da Sacada para discutir uma male gaze cinematográfica que persiste até hoje, apresentando diversas cenas de nudez ao longo da produção, porém, todas normalizadas e vistas de modo natural. Consultas à ginecologista, flerte com a terra da planta, masturbação com a alça da cadeira, tudo isto e mais está presente no filme de Merlant de modo poético e brilhantemente filmado.

O design de produção faz um trabalho excelente ao compor suas três protagonistas, o estilo de cada uma é marcada em suas roupas. A fotografia varia de uma escuridão, até um brilho natural que elas apresentam e o filme é acompanhado, em sua totalidade, por uma trilha sonora que envolve um coral que muda de entonação ao longo do filme, trazendo diferentes sentimentos.

Se inspirando em grandes diretores de tensão e comédia, como Alfred Hitchcock e Pedro Almodóvar, Mulheres da Sacada se torna um filme necessário no mundo de hoje, intercalando graça e comédia que leva uma sala inteira a rir em harmonia, com cenas bem mais tensas que nos fazem refletir sobre porque rimos anteriormente. Esta quebra ocasionada pelo roteiro e direção de Noémie Merlant que transforma a produção em algo único.

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