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Crítica | Não Olhe Para Cima – Uma divertida crítica social em um filme tipicamente hollywoodiano

O longa de Adam McKay trabalha com o absurdo para argumentar sobre como o pensamento negacionista pode levar uma sociedade à destruição. 

O lançamento da Netflix “Não Olhe Para Cima” chegou à plataforma em dezembro e já ocupa as primeiras posições no ranking dos títulos mais assistidos. O filme ainda divide opiniões do público e da crítica especializada por tratar de temas polêmicos. Como o próprio slogan já diz, o longa é “baseado em possíveis fatos reais”, já que o diretor Adam McKay faz uso da sátira para abordar o negacionismo científico presente na sociedade. 

A história gira em torno de dois astrônomos, Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) e Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), que descobrem um meteoro prestes a colidir com a Terra e colocar a humanidade em extinção. Com a descoberta bombástica, os cientistas vão em busca de ajuda para tentar impedir a catástrofe apocalíptica. Mas ao chegar na casa branca, a dupla descobre o maior entrave para salvar a humanidade: o negacionismo, que misturado à ambição humana, pode levar o mundo a nada além da destruição total. Após entenderem que não haveria compaixão na política, Randall e Kate apelam para a mídia, como tentativa de comover a população. Com os veículos midiáticos, eles enfrentam, além do velho negacionismo, também o sensacionalismo jornalístico. Ou seja, o filme relata uma batalha não apenas para salvar o mundo, mas uma luta para convencer as pessoas que o mundo precisa de salvação. 

crítica não olhe para cima
Foto: Netflix

Qualquer semelhança não é mera coincidência nesse caso, “Não Olhe Para Cima” traz uma verossimilhança certeira com o momento atual no qual o mundo se encontra. Não é difícil enxergar semelhanças entre personagens da ficção e os poderosos da vida real. Ainda mais quando passamos por uma pandemia, em que movimentos anti-ciência ganham palco, a crítica do filme consegue fazer total sentido e é simples entender do que se trata e para quais grupos políticos ela aponta os dedos. 

Para chegar ao resultado crítico, Adam Mckay, que também dirigiu “Vice” e “A Grande Aposta”, trabalha bem com o sarcasmo e ironia. O cineasta deixa bem claro seu ponto de vista e faz duras críticas à política moderna, à mídia sensacionalista e, principalmente, ao sistema capitalista que coloca o lucro em cima de vidas. O longa é recheado de ironias e absurdos, que tornam a situação trágica em uma comédia, em alguns momentos. “Não Olhe Para Cima” tem muitos  exageros, mas é possível afirmar que o cinema tem liberdade poética para trabalhar com a ludicidade na intenção de afirmar um ponto de vista. Como é uma sátira, não há problema em distorcer a realidade para fazer uma analogia. Então, os absurdos, que poderiam colocar o filme como uma obra bizarra, são bem justificáveis para se atingir o objetivo final do filme. Portanto, sem motivos para crucificar as bizarrices que vemos nos mais de 120 minutos de tela. 

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Foto: Netflix

“Não Olhe Para Cima”

A grande mensagem do filme é que o negacionismo não pode levar a nada além da destruição e caos. Contudo, quem pode ser convencido com essa obra? Talvez a narrativa não consiga fazer com que as massas entendam o real significado do longa. Claro que os progressistas que assistirem ao filme, vão ter um objeto de consumo satisfatório, mas não é como se eles já não acreditassem nisso. Não faz sentido reafirmar as mesmas coisas para aqueles que já tem suas crenças feitas. A maior crítica que pode ser feita a “Não Olhe Para Cima” é que o longa não parece mudar a mentalidade de quem ainda duvida da ciência. 

Ademais, embora duras críticas sejam feitas e seja possível direcioná-las bem, o filme não se desprende de uma estética clássica de Hollywood, com nomes como Cate Blanchett, Timothée Chalamet, Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e, até mesmo, Ariana Grande presentes na obra. Além disso, a trama é bem focada nos Estados Unidos, sem se aprofundar muito nas questões de classe ou geopolíticas, que uma catástrofe mundial poderia causar. O diretor tangencia pontos importantes na obra, mas não foca o suficiente neles para embasar mais ainda sua crítica ao sistema. Por isso, “Não Olhe Para Cima” ainda tem uma estética fortemente norte-americana e deixa a desejar neste quesito. Os efeitos especiais também são praticamente impecáveis, como em qualquer filme feito em um grande estúdio americano, com um bom orçamento. 

crítica não olhe para cima
Foto: Netflix

Mas no geral, McKay consegue fazer uma boa crítica social em um filme tipicamente hollywoodiano, com elenco de peso e uma CGI espetacular. Além disso, “Não Olhe Para Cima” é uma obra divertida, prende a atenção do telespectador e conta com uma tecnologia sensacional para fazer os efeitos especiais, que transforma até mesmo uma catástrofe em algo belo, esteticamente falando. 

Nota: 3,5/5

Assista ao trailer de “Não Olhe Para Cima”:

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