Crítica | Nas Terras Perdidas: a péssima execução de uma boa premissa

nas terras perdidas

Dirigido por Paul W. S. Anderson, Nas Terras Perdidas apresenta um universo interessante, porém, falha em explorá-lo além do raso

É um fato que George R. R. Martin pode ser considerado um gênio para criação de universos, antes mesmo de estruturar A Guerra dos Tronos (1996), Martin já havia escrito diversos contos fantásticos que mostravam o seu potencial como autor, entre eles, um conto presente na coletânea Amazons II (1982) chamado Nas Terras Perdidas.

Contando a história da bruxa Grays Alys e do caçador Boyce, Nas Terras Perdidas se passa um mundo povoado por criaturas místicas como bruxas, demônios e lobisomens, ao mesmo tempo que homens e mulheres comuns, além de um governo autoritário, uma igreja poderosa e outros clichês presentes em diversas produções pós apocalípticos.

Nas Terras Perdidas apresentava em suas mãos todas as peças para se tornar um blockbuster de sucesso, porém, seus dois maiores problemas conseguem impedir o sucesso de qualquer filme: roteiro e direção.

O roteiro de Constantin Werner não estabelece o universo e nem mesmo os seus personagens, até mesmo a bruxa Gray Alys, a protagonista da produção, não é bem desenvolvida, a ponto de não entendermos os seus poderes, a fazendo ficar sujeita às vontades do próprio roteirista, o que ele quer que ela faça no momento, ela fará, e não é assim que se constrói nenhum personagem.

Nas Terras Perdidas

Milla Jovovich e Dave Bautista em cena de Nas Terras Perdidas- Divulgação oficial

Os diálogos não auxiliam no enriquecimento nem dos personagens e nem do universo, além do fato de Gray Alys e Boyce, serem os únicos personagens com o mínimo de desenvolvimento, todos os personagens dizem e expressam a todo momento, exatamente o que eles estão pensando, isto não é bom para ninguém e muito menos para o público, é quase um tell, not show ao invés da regra clássica dos roteiristas show, not tell.

O universo de as Terras Perdidas apresenta potencial, porém, entrega uma estética muito padrão para um mundo pós apocalíptico, a todo momento eu olhava a construção da cidadela e lembrava do castelo de Imortal Joe em Mad Max: Estrada da Fúria (2015, George Miller), com direito à mesma caveira como símbolo de autoridade.

Ao sair do filme, eu nem mesmo lembrava o nome do personagem de Dave Bautista, que era o co-protagonista da produção junto com Milla Jovovich, o que dirá dos outros personagens esquecíveis como a rainha ou o líder da igreja, isto é grave em um filme deste tamanho e com um autor tão rico por trás, quanto George R. R. Martin.

O que me leva ao segundo problema de Nas Terras Perdidas, a direção e escolha estética de Paul W. S. Anderson. Apesar de apresentar um nicho cinematográfico e fãs, Anderson produz filmes com narrativas medianas para fracas, porém, que apresentam algumas características estilísticas que conseguem prender a atenção do público, como o caso de Monster Hunter (2020, Paul W. S. Anderson), assim, Nas Terras Perdidas não seria diferente, sendo mostrado nas principais inspirações de Anderson: o cinema de faroeste e uma estética muito usada por outro diretor espalhafatoso: Zack Snyder.

O cinema de faroeste alcançou seu auge na segunda metade do século XX, durante o século XXI tivemos algumas tentativas como O Cavaleiro Solitário (2013, Gore Verbinski), porém, nada que realmente se comparasse à glória dos filmes de Sergio Leone ou de Clint Eastwood, algo que Anderson sabe bem, porém, que não o impediu tentar e criar algo extremamente mediano em Nas Terras Perdidas.

O clima árido, a união dos solitários, o bang-bang clássico, a camaradagem durante os perigos e as sessões de “santa ceia” ao redor de uma fogueira, aonde os personagens desabafam sobre suas vidas e pesares, todas estão presentes em Nas Terras Perdidas, juntamente com uma estética vazia que tira toda a vida e a cor dos personagens, e suga a energia do público no processo, o que fazia o faroeste, um filme de faroeste, se perde em pró de uma estética vazia.

Nas Terras Perdidas

Milla Jovovich em cena de Nas Terras Perdidas- Divulgação Oficial

As cenas de ação são competentes, principalmente nas cenas em que Boyce utiliza duas cobras como arma, e Gray Alys utiliza suas foices. Nestas cenas de ação, Anderson utiliza uma estética usada muito por Zack Snyder no filme Sucker Punch (2012, Zack Snyder) como o universo plástico, a câmera lenta em cenas de ação para maior impacto e uma paleta monocromática que atua como sonífero para a audiência.

Em Nas Terras Perdidas, Anderson construiu um universo gigantesco em tela verde e efeitos especiais, auxiliando nas filmagens de sua grandeza por meio de drones e demonstrando a magnitude do mundo ficcional, porém, na medida que suas regras básicas não são estabelecidas, nem com seus personagens e nem com sua organização social básica, do que adianta o público se importar, por uma hora e 40, com personagens vazios, se nem mesmo eles mesmos aparentam se preocupar?

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