CRÍTICA (FESTIVAL RIO) | O Aroma do Pasto Recém Cortado: Um filme de recasamento
Dirigido por Celina Murga, O Aroma do Pasto Recém Cortado usa traição para contar uma história de reconciliação
No livro Pursuits of Happiness: A Hollywood Comedy of Remarriage (1981), o filósofo e teórico americano Stanley Cavell se baseia em comédias românticas da época de ouro de Hollywood, como Levada da Breca (1938) de Howard Hawks e A Costela de Adão (1949) de George Cuckor, para explorar o gênero de recasamento, na qual, ao invés da produção tentar juntar um casal, ele busca trazer de volta a sua união que foi perdida.
O Aroma do Pasto Recém Cortado conta a história de Pablo e Natalia, dois professores universitários casados, com filhos, e em crise matrimonial. No momento que ele inicia um caso com uma aluna e ela inicia um caso com um aluno, são originadas diversas situações imagéticas que ocasionam consequências em seus próprios casamentos.
O Aroma do Pasto Recém Cortado é uma coprodução da Argentina, Uruguai, México, Alemanha e EUA, com a presença de Martin Scorcese, um diretor renomado e amante declamado da sétima arte, como produtor executivo, assim, a influência deste gênero de recasamento não se encontra tão longe, principalmente por conta de três marcas analisadas por Cavell: o diálogo constante, a presença do divórcio e a igualdade de gêneros.
A produção de Celina Murga apresenta diálogos pontuais, que se somam a diversos momentos contemplativos e de calma, principalmente para dar tempo ao observador embarcar nesta jornada junto com seus protagonistas; O divórcio se apresenta sempre na iminência, porém, nunca colocado como uma real possibilidade; a igualdade de gêneros se encontra por meio de um co-protagonismo dividido por Pablo e Natalia.
“O Aroma do Pasto Recém Cortado”- Foto divulgada pelo Festival do Rio
O Aroma do Pasto Recém Cortado constrói sua narrativa com base em semelhanças imagéticas entre a jornada de ambos. Tanto Pablo quanto Natalia, apesar de não compartilharem cenas durante toda a produção, apresentam casos com alunos; ambos inicialmente negam este sentimento; ambos encontram uma felicidade que se perdeu em seus próprios matrimônios, entre outras semelhanças que nos trazem duas diferentes versões da mesma história.
Após ambos terem seus relacionamentos descobertos, ao invés de O Aroma do Pasto Recém Cortado se transformar em um drama que diretores como Woody Allen fazem no nível da exaustão, se baseando no ridículo de um de seus protagonistas e uma espécie de mea culpa. A produção mantém o seu ritmo lento e contemplativo, em nenhum momentos os casais gritam entre si, porém, na medida que os respectivos conjugues de Pablo e Natalia aceitam com tanta calma esta infidelidade, a dor que sentimos é muito maior.
O filme demarca o desgaste do amor por meio de jogos de iluminação, um exemplo é a casa de Pablo que é sempre escura, enquanto quando está com sua amante é muito mais iluminada, algo semelhante para o que ocorre com Natalia.
A produção é lenta, não apresentando grandes momentos de catarse e cansando o espectador ao acompanharmos a mesma história duas vezes, seja a versão de Natalia ou a de Pablo. Ao seu final, O Aroma do Pasto Recém Cortado, traz um sentimento agridoce, não sentimos que nenhum dos protagonistas realmente sofreram as consequências por suas atitudes, porém, observar como este acontecimento, seja ele errado ou não, ocasiona no que Cavell definiu como recasamento, traz um sentimento de conforto. Talvez o casamento de ambos não dure muito tempo depois do filme, porém, naquele momento eles encontraram um pouco de felicidade.
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