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  • Crítica | Rua do Medo: 1994 – Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher

    Crítica | Rua do Medo: 1994 – Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher

    Bebendo da fonte literária, a Netflix está adicionando na sua aba de “terror” as adaptações baseadas nas obras do autor R. L. Stine. As pegadas deixadas por Stranger Things indicaram o caminho para o filme Rua do Medo: 1994, ou seja, uma narrativa dedicada às referências. Imprimindo o clima dos anos noventa, a parte 1 in(felizmente) veste todas as características de uma série: perguntas sem respostas, ausência de um final e prévia do que vem a seguir. Se parecer com uma série não é um problema, mas será que a estrutura consegue sobreviver?

    Wes Craven cravou seu nome na história cinematográfica ao quebrar fórmulas estabelecidas nos filmes de terror. Isso aconteceu em 1996, na obra Pânico, o primeiro capítulo de uma franquia que falava sobre as regras do Slasher, homenageava clássicos e iniciava um diálogo auto-referencial. Vinte e cinco anos mais tarde, a polêmica cena de abertura, protagonizada por Drew Barrymore, é usada como matéria-prima para que Rua do Medo: 1994 inicie sua narrativa. Com isso, a Netflix presta tributo ao conjunto de filmes regidos pela figura do assassino mascarado que persegue suas vítimas.

    Rua do Medo: 1994 - Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher
    Rua do Medo: 1994 – Parte 1 / Netflix

    Sinopse Rua do Medo: 1994

    Depois da colega Heather ser morta na saída do trabalho, um grupo de adolescentes passa a ser perseguido por um grupo de assassinos mascarados em 1994, na pequena cidade de Shadyside. Quando começam a investigar as mortes, eles descobrem que não são as primeiras vítimas e que a cidade tem uma longa história de assassinatos brutais que acontecem há anos. Agora eles precisarão descobrir uma forma de impedir os assassinos ou, então, não sobreviverão até o dia seguinte.

    A parte 1 dessa trilogia aspira o passado, do começo ao fim, contudo a trama respira sua própria identidade ao fundir ideias existentes em outros subgêneros do terror. Leigh Janiak, diretora, não esconde a admiração por histórias que possuem o intuito de assustar. Sua trajetória comprova isso, visto que seu recente trabalho ocorreu na série Scream. Aqui, Janiak inaugura sua vitrine de homenagens em um evento cinematográfico que visa lançar um filme a cada semana, com o objetivo de compor a trilogia.

    Rua do Medo: 1994 - Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher
    Rua do Medo: 1994 – Parte 1 / Netflix

    A ascensão do Slasher levou roteiristas a reciclarem uma ideia que, com o passar dos anos, tornou-se constante no subgênero: o uso desenfreado de estereótipos. O Bad Boy, a Líder de Torcida, o Nerd apaixonado e a Protagonista Puritana. Franquias como Sexta-Feira 13, por exemplo, reuniam diversas figuras que seguiam esses moldes; personagens rasos inseridos na trama apenas para aumentar a pilha de corpos. Não existia arco de personagem para eles, o que levou o público, muitas vezes, a pagarem os ingressos tendo em mente a presença do assassino. Por isso, vilões como Jason, Freddy Krueger e Michael Myers assumiram as rédeas do protagonismo em seus filmes.

    Em Rua do Medo: 1994 essa construção “formulaica” acontece, mas a primeira impressão não é a que fica! A Líder de Torcida não é superficial, o Nerd não é enfadonho, tampouco tratado com desprezo; e a protagonista está apaixonada por outra garota, presa entre o amor e o ódio, culpa do preconceito e do medo de ser quem realmente é. E o Bad Boy? Bom, aqui ele ainda é só um Bad Boy, em contrapartida, o amigo tagarela, usado como alívio cômico, é carismático. Esse grupo de adolescentes, antes de se transformarem em potenciais vítimas, são desenhados modestamente, desempenhando papéis que rompem a mesmice dos estereótipos.

    Rua do Medo: 1994 - Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher
    Rua do Medo: 1994 – Parte 1 / Netflix

    É importante que um filme de terror idealize conexão entre o público e personagens, pois esse vínculo torna-se um importante artifício, potencializado nas cenas que jogam os jovens na direção do perigo. À vista disso, a cineasta usa o primeiro ato com a finalidade de apresentar, sem pressa, os mocinhos. O elo construído por Janiak se escora nos elementos cenográficos, dizendo um pouco mais sobre cada figura, através de uma carta, computador, livros, TV, entre outros.

    O deslize acontece na hora de situar o telespectador diante dos acontecimentos históricos que antecedem o ano de 1994. Nessa parte 1, a diretora perde a mão, três vezes, transformando os protagonistas em fantoches, usando-os para vomitar uma sucessão de fatos. Isso soa repetitivo, dado que os créditos iniciais fornecem boa parte dessas informações. Essa sensação de “narrativa mastigada” parece dizer o seguinte: “repete o que já foi mostrado, talvez o público não tenha entendido!“. Ou seja, a inteligência da audiência sendo subestimada. Só que esse problema não apaga os acertos, que se destacam progressivamente.

    Rua do Medo: 1994 - Parte 1 é um tributo ao subgênero Slasher
    Rua do Medo: 1994 – Parte 1 / Netflix

    Apesar dos minutos finais transformarem o longa-metragem num “episódio estendido de uma série”, Rua do Medo: 1994 encerra bem a parte 1, oferecendo um resgate criativo de memórias ligadas aos filmes de terror. A fusão entre Slasher e Sobrenatural resulta numa mitologia que desperta curiosidade. Algo que poderia enfraquecer com o tempo, caso a espera pela Parte 2 e 3 durasse mais que sete dias.

    Em suma, a experiência inédita no streaming ao lançar três filmes sequenciais, em um curto período, é um acerto. Com certeza Rua do Medo: 1994 está escrevendo uma nova fase de lançamentos para as plataformas. O convite ofertado pela Netflix é benéfico, pois não é todo dia que o público tem a chance de assistir uma trilogia que subtrai os meses de espera de um filme para o outro.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer da Parte 1:

    https://www.youtube.com/watch?v=ZoVM-Ol_7O4

    Veja também: The Witcher | Trailer, animação, pôster e muito mais! Confira as novidades da série.

  • Crítica | Pedro e Inês, O Amor Não Descansa

    Crítica | Pedro e Inês, O Amor Não Descansa

    Baseado no romance “A Trança de Inês”, de Rosa Lobato de Faria, “Pedro e Inês, O Amor Não Descansa” é uma coprodução entre Portugal, França e Brasil sobre a trágica história de amor entre o rei D. Pedro I e a sua amante Inês de Castro. Dirigido por António Ferreira, o longa é inicialmente cativante e rende boas sequências, mas a partir do momento que investe em uma narrativa previsível, torna-se desgastante e não preserva a atenção do público.

    Lançado em Portugal no dia 18 de outubro de 2018, tornando-se o filme mais visto do ano no país, “Pedro e Inês” foi exibido na World Competition do Festival Internacional de Cinema de Montreal, bem como na competição “Novos Diretores” da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio, também em 2018. Retratando a história real de duas personalidades históricas da Corte Portuguesa – à medida que experimenta doses tempestivas de ficção -, o filme traz às telas a lenda do amor proibido que transcendeu o tempo, o espaço e a própria vida.

    Em “Pedro e Inês, O Amor Não Descansa”, internado em um hospital psiquiátrico por dirigir com o cadáver de sua amada – na intenção de transformá-la em uma rainha depois de morta -, Pedro (Diogo Amaral) começa a recordar os acontecimentos de suas vidas passadas junto a Inês (Joana de Verona). Deslumbrado, ele descobre como foram todas as suas existências, que passam da Idade Média, até o presente e um futuro distópico. Durante as três épocas distintas da sua vida, Pedro e Inês se encontram e reencontram, vivendo aquela que pode ser considerada uma das maiores histórias de amor de Portugal.

    Pedro e Inês
    Pedro e Inês, O Amor Não Descansa/Pandora Filmes

    Servindo como base para a fábula de Rosa Lobato de Faria, a Lenda de Pedro e Inês é, até hoje, conhecida como a versão lusitana de “Romeu e Julieta” (William Shakespeare), com a diferença que os protagonistas do romance português realmente existiram. Na cronologia dos fatos, Dom Pedro I, de casamento arranjado com Constança, se apaixona perdidamente por Inês de Castro e decide viver um romance proibido com ela, virando as costas para as suas obrigações matrimoniais. Indignado com as atitudes do próprio filho, o Rei Afonso IV, pai de Pedro, procura dar um fim às desventuras do jovem casal e acaba por ordenar o assassinato da amante, que é esfaqueada até a morte.

    No entanto, quando Pedro se torna rei, ele desenterra o corpo de Inês e a coroa rainha de Portugal, protagonizando um dos momentos mais trágicos e marcantes da lenda. A partir de então, a história do amor que “superou a morte” tornou-se parte do imaginário e da cultura do povo português. Dessa forma, quando a lenda virou livro e o livro virou filme, o público lusitano pôde se reaproximar de uma herança importante e bastante singular, o que explica o sucesso doméstico de “Pedro e Inês, O Amor Não Descansa“. Além disso, graças à releitura do clássico literário, parte da história de Portugal tornou-se mais acessível para todo o mundo e colocou ainda mais luz sobre os locais onde se passaram os principais fatos desse conto, como o Jardim de Pedro e Inês e a Ponte Pedro e Inês, por exemplo.

    pedro e ines
    Pedro e Inês, O Amor Não Descansa/Pandora Filmes

    Na adaptação dessa história, fazendo parte de uma “licença poética” para “remodelar” o romance entre Pedro e Inês, Rosa Lobato de Faria expandiu a mitologia da lenda portuguesa e a dividiu em três tempos: passado, presente e futuro. A ideia inicial seria desenvolver a relação do nobre casal por diversos períodos da História, dando a entender que o amor entre os dois foi “além-vida” e perdurou por diversas encarnações. No livro, e posteriormente no filme, o espectador é guiado por essas três “versões” do casal e, inicialmente, é totalmente cativado pela atmosfera sóbria e contemplativa do longa, que ainda entrega uma direção de arte notável e uma cenografia precisamente compatível à narrativa.

    Porém, apesar das qualidades técnicas e de um elenco forte, a incessante exploração de três linhas temporais com, basicamente, a mesma história, transforma “Pedro e Inês, O Amor Não Descansa” em um filme previsível e bastante repetitivo. Em todas as situações, o casal vive um romance proibido e um fim trágico põe fim à sua relação. A única mudança realmente marcante é o cenário em que os atos se desenvolvem. Dessa forma, no decorrer das 2 horas de filme, o público acaba perdendo o interesse inicial e sente que não precisa assistir até os créditos finais. Finalmente, se tratando de uma história real, a adaptação de um dos maiores romances de Portugal é muito bem-vinda, contudo, à medida que peca no desenvolvimento e na estrutura, o longa desperdiça grande parte do seu potencial e se torna simplesmente esquecível..

    Pedro e Inês, O Amor Não Descansa já está em cartaz nos cinemas do Brasil.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Espiral – O Legado de Jogos Mortais

  • Crítica | Space Jam: Um Novo Legado

    Crítica | Space Jam: Um Novo Legado

    Os Looney Tunes estão de volta aos cinemas, agora com LeBron James, em Space Jam: Um Novo Legado, que promete levar os fãs dos personagens lunáticos da Warner Bros. para uma viagem de nostalgia, não só pelo universo Looney, mas também por todo universo da Warner Media.

    Sinopse: Bem-vindos ao Jam! Em Space Jam: Um Novo Legado, o campeão da NBA e ícone mundial LeBron James embarca em uma aventura épica, que combina animação e live action, ao lado do atemporal Pernalonga. Dirigida por Malcolm D. Lee e contando com uma equipe inovadora de cineastas que inclui Ryan Coogler e Maverick Carter, esta jornada transformadora é uma mistura maluca de dois mundos que revela a que ponto alguns pais são capazes de chegar para se aproximar de seus filhos. Quando LeBron e seu filho Dom são aprisionados em um espaço digital por uma I.A. trapaceira, LeBron precisa trazê-los de volta para casa em segurança levando o Pernalonga, a Lola Bunny e uma equipe indisciplinada de Looney Tunes a uma vitória contra os campeões digitais da I.A. na quadra: um elenco de peso formado por astros e estrelas da NBA e WNBA como você nunca viu. Será Tunes contra Goons no desafio mais arriscado da vida de LeBron, que redefinirá o laço entre ele e seu filho, e reforçará a importância de ser você mesmo. Prontos para arrasar, os Tunes desafiam as convenções, turbinam seus talentos únicos e surpreendem até o “Rei” James jogando à sua própria maneira.

    Crítica | Space Jam: Um Novo Legado
    Space Jam: Um Novo Legado | Warner Bros. Pictures

    Space Jam: Um Novo legado traz consigo uma trama familiar muito diferente do que vimos no primeiro filme estrelado pelo astro da NBA, Michael Jordan. Enquanto no primeiro filme Jordan apenas quer voltar para sua realidade, nesse novo filme temos uma história fictícia montada para LeBron e “sua família”. Na trama, o ‘Rei’ tem dois filhos, os quais gostaria que seguissem seus passos no basquete profissional. Enquanto um dos filhos segue a risca os ensinamentos do pai, o outro, chamado Dominic (apelidado de Dom), sonha em ser programador de jogos de video game e não tem interesse em seguir os passos do patriarca. Em uma visita à sede da Warner Bros., Dom é jogado para dentro do Serviverso pelo Al-G-ritmo, vilão interpretado por dom Cheadle, para fisgar o famoso jogador de basquete em uma armadilha. Para salvar seu filho e a sí mesmo, LeBron tem que juntar uma equipe lendária para o jogo do século contra o famigerado vilão, mas nem tudo sai como ele esperava, quando a sua equipe vai se formando apenas com os personagens mais lunáticos da Warner.

    Apesar da inserção dessa trama com raízes familiares fortes – que faria até Domic Toretto ter uma crise de choro – Space Jam: Um Novo Legado não traz nada de tão diferente de “O Jogo do Século”. O roteiro de ‘Um Novo Legado’ trata o filme como um remake do longa de 96 através de pequenas referências, o que torna compreensível, trazer tantas coisas semelhantes. A grande diferença está na inclusão de todo universo da Warner Media que se interliga ao filme de uma forma que parece um grande merchandising de suas principais marcas.

    Crítica | Space Jam: Um Novo Legado
    Space Jam: Um Novo Legado | Warner Bros. Pictures

    Um dos principais erros da Warner Bros. com Space Jam: Um Novo Legado está no marketing, que entregou muito mais do que deveria. Praticamente todas as surpresas que o filme teria do ‘Serveverso’ do estúdio estão nos trailers e teasers divulgados para a sua promoção, tendo apenas uma aqui e outra acolá. O que salva é a forma como todos os mundos são introduzidos dentro da trama.

    O grande ponto positivo está na interação de LeBron com os Looney Tunes, onde o astro consegue abraçar todo o universo fantástico e atuar de uma forma satisfatória com os personagens feitos de CGI. Nas cenas de tons cômicos, o protagonista consegue ótimos momentos e até tirar algumas risadas, mas em contrapartida, LeBron não consegue se dar tão bem em cenas que levam para o lado mais dramático, como por exemplo cenas onde ele tem que expressar tristeza ou decepção. Apesar disso, é compreensível, dado que o mesmo é um astro do basquete e não um ator, e essa é justamente a proposta do filme, assim como foi a do filme protagonizado por Jordan – Isso até chegou a virar piada dentro do filme!. Por outro lado temos temos Dom Cheadle que eleva o moral do filme, trazendo um vilão caricato, mas com uma atuação que convence o papel para o público.

    Crítica | Space Jam: Um Novo Legado
    Space Jam: Um Novo Legado | Warner Bros. Pictures

    A volta dos Looney Tunes aos cinemas traz um grande sentimento de nostalgia, mesmo com altos de baixos de polêmicas envolvendo alguns personagens como Pepe Le Gambá, Ligeirinho e Lola Bunny. Em ‘Um Novo Legado’, vemos que apesar da renovação dos personagens, a essência deles ainda está lá, e continuam sendo os mesmos lunáticos de sempre.

    Space Jam: Um Novo Legado não surpreende tanto assim, mas esbanja nostalgia. O roteiro, que apesar de não ser uma obra prima e trazer uma trama batida e previsível, não se leva a sério, exatamente da forma como deveria ser. O mais importante é que o longa consegue transmitir sua mensagem para o público de uma forma simples e fácil de ser entendida.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Sombra e Ossos – Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida

    Crítica | Sombra e Ossos – Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida

    Assim como no cinema, o meio literário também abraça as Trilogias. Composto por três livros, a jornada fantástica escrita pela autora israelita Leigh Bardugo, iniciada no volume chamado Sombra e Ossos, chega ao catálogo da Netflix em formato de série, integrando o time de tramas que exploram a Alta Fantasia. Nessa 1ª temporada, fragmentada em oito episódios, o “showrunner” Eric Heisserer atua ao lado do diretor Lee Toland Krieger. Apesar da confusão inicial, com uma narrativa repleta de termos desconhecidos, a dupla merece aplausos por manter “vivo”, do começo ao fim, o interesse do público.

    É preciso resgatar uma figura importante, presente nas adaptações de obras literárias. Frodo Bolseiro, Harry Potter, Tris e tantos outros personagens nascidos em calhamaços de fantasia/distopia detém o título d’O(A) Escolhido(a). Aos ouvidos de muitos, esse “manto” que recai sobre o protagonista soa clichê, o que não é um problema quando a trama sabe disso e usa o poder da narrativa para fugir do que está batido. Na série da Netflix, a escolhida se chama Alina Starkov, vivida pela carismática Jessie Mei Li. Detentora de suas próprias qualidades [e defeitos], a personagem desvia do previsível e carrega o enredo sem jamais perder a chama de guerreira em ascensão.

    Sombra e Ossos - Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida
    Sombra e Ossos (1ª temporada) / Netflix

    Sinopse:

    A história acontece no Reino de Ravka, que, há milênios, se encontra dividido em dois por uma tenebrosa barreira. Nesse mundo não muito diferente da Rússia imperial, vive Alina Starkov, uma órfã que foi recrutada pelo Primeiro Exército do czar para acompanhar os Grishas, figuras mágicas responsáveis por combater as forças malignas. Para vencer a guerra contra o mal e unir seu país, a jovem vai aprender a controlar seus poderes e a confiar em si mesma.

    De antemão, o público, acostumado a traçar linhas de semelhança, enxergará em Sombra e Ossos uma aura à lá Game Of Thrones. O motivo? A ambientação medieval regida por diferentes núcleos e a presença forte da monarquia. Mas essas comparações param aí, porque a trama da Netflix abraça mais a fantasia, usando-a como elemento primordial para decidir o futuro de personagens e ambientes nessa 1ª temporada.

    Sombra e Ossos - Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida
    Sombra e Ossos (1ª temporada) / Netflix

    Tais elementos fantásticos são como uma cola, conectando todas as frentes em um ponto em comum: a guerra entre a luz e as trevas. Inicialmente, essa é a sensação, mas a narrativa não se agarra ao maniqueísmo e logo investe na existência de personagens que representam a fusão entre a escuridão e a luminescência. Afinal, bem e mal são conceitos desconstruídos aqui, pois a máscara de herói e vilão é usada por todos.

    Enquanto observamos um conjunto de rostos reagir e agir conforme suas vontades, a balança moral se equilibra. E isso vai além da relação direta entre Série e Telespectador, pois esse vínculo também acontece entre coadjuvantes e protagonistas.

    Percebe-se a vitória do idealizador Eric Heisserer na janela aberta por ele, oferecendo uma ampla visão à cultura dessa sociedade ficcional. Sugando, no bom sentido, as principais temáticas abordadas no livro, o showrunner demonstra cuidado na hora de construir figuras narrativas. Para ele, coadjuvante ou não, todos merecem um cantinho sob os holofotes da história. Às vezes, alguns ganham mais luz que outros, infelizmente, mas o resultado ainda é positivo.

    Sombra e Ossos - Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida
    Sombra e Ossos (1ª temporada) / Netflix

    Nessa equação fantasiosa, há números negativos e eles podem tornar a experiência arrastada, vide os episódio quatro, cinco e seis, que deixam o ritmo mais lento. Se a imersão tiver pegado você, isso não será problema, todavia esse amortecimento pode espantar a freguesia, pois a sensação passada, mesmo que ligeira, é de um enredo que fica correndo atrás do próprio rabo, deixando o público tonto e desinteressado. Talvez, dois ou três episódios a menos teriam amenizado esse déficit.

    Outro ponto desfavorável é a existência do “triângulo amoroso”, termo que gera expressões azedas no público em potencial. Parece um mal das fantasias nascidas de 2008 para cá, inserindo protagonistas no meio de dois interesses amorosos. Entretanto, até nesse quesito, a série se sai bem, pois o que poderia ser outro clichê é tratado com ousadia, firmando uma reviravolta que engrandece as figuras.

    Sombra e Ossos - Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida
    Sombra e Ossos (1ª temporada) / Netflix

    Assim como seus primos distantes (Harry Potter e O Senhor dos Anéis), Sombra e Ossos segue a linha das “portas abertas”, concluído a 1ª temporada com lacunas que serão preenchidas nos vindouros ciclos. A vantagem é que a adaptação da Netflix, por ter mais “tempo em tela”, consegue espaço para explorar com calma as tradições e mitologias daquele mundo.

    Sombra e Ossos é uma passagem direta para o mundo composto por reinos, guerreiros e conflitos de raças. Usando a discussão acerca do preconceito entre povos, o show se sobressai a outras adaptações que não conseguiram alcançar o status de bem-sucedida. Não é à toa que diversas adaptações cinematográficas da última década se perderam no caminho, “engavetas”: 16 Luas, Fallen, Percy Jackson e Divergente (que sobreviveu por mais tempo, mas morreu no penúltimo filme).

    Sombra e Ossos - Das páginas para a tela, 1ª Temporada reprisa a jornada da Escolhida
    Sombra e Ossos (1ª temporada) / Netflix

    Metamorfosear as páginas do livro para a série, talvez seja a nova fórmula que os produtores encontraram de ser fiel ao material original, respeitando os fãs. Nem toda saga literária se dá bem no cinema como Harry Potter, basta olhar para o filme A Bússola de Ouro, que fracassou, mas renasceu nas mãos da HBO com uma série que caminha para a terceira temporada. O mesmo vale para Percy Jackson, que tentou se consolidar com dois longas, mas naufragou no mar das adaptações fílmicas e agora ganhou uma segunda chance no streaming do Disney+. Nos próximos anos, acredito que muitos livros sairão das prateleiras e ganharão os streamings.

    Em suma, Sombra e Ossos incorpora a faceta de série promessa, uma fantasia moderna que abraça a diversidade e se arrisca em quebrar clichês. Que venham mais temporadas!

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

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  • Crítica | Luca – Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso

    Crítica | Luca – Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso

    Colaborador de longa data da Pixar, Enrico Casarosa, cineasta italiano, lançou em 2011 o curta La Luna, obra que mostrou a identidade do diretor em capturar a beleza presente na simplicidade. Dez anos depois, seu primeiro longa-metragem sai do papel e ganha as telas do streaming. De todos os elogios possíveis, Luca é um poema de amor escrito para a Itália e em cada verso há uma declaração carinhosa para as tradições italianas, folclores locais e um tributo sensível à amizade.

    A Pixar, também conhecida como a casa de animações que há anos vive um relacionamento de sucesso com a Disney, se consolidou como uma grande contadora de histórias. Na balança global, o equilíbrio é perfeito, pois se no oriente temos o Studio Ghibli encantando com suas tramas peculiares, no ocidente temos a Pixar Animation Studios, sempre disposta a roubar nossas emoções através das lágrimas, dos sorrisos e daquela “magia” que está impregnada em cada novo filme. Depois do incrível Soul, vencedor de dois Oscars, Luca chega para contemplar a aceitação do “eu”.

    Luca - Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso
    Luca / Disney / Pixar

    Sinopse:

    Em Luca, acompanhamos uma história de amadurecimento sobre um jovem que vive um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e passeios intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundamente bem guardado: eles são monstros marinhos de outro mundo, logo abaixo da superfície da água.

    O homem é um ser de curiosidade insaciável. Buscar respostas para as diversas perguntas que cercam a humanidade é uma tarefa rotineira. Todavia, existem indagações mais simplórias, ligadas a essência de ser quem somos. Na frente do espelho, encarando o outro “você”, surge os pontos de interrogação. Quem sou eu? Quem eu quero ser?

    Construído por uma lista de sonhos ingênuos, Luca é o protagonista movido pela ânsia de saber mais. Seu obstáculo, contudo, está no olhar dos outros, pois debaixo da fachada de humano habita um monstro marinho que não pode ser quem realmente é. Casarosa, progenitor do filme, cria sua versão de “Era uma vez…”, colocando no centro do roteiro Os Excluídos — personagens marginalizados por serem quem são.

    Luca - Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso
    Luca / Disney / Pixar

    Na Cultura Pop, tal premissa foi dissecada na tese de outras obras, como a franquia X-Men, que durante anos abordou o vilão chamado preconceito, nascido da ignorância humana. Já Casarosa discute isso pela lente da sensibilidade e enquanto rima a jornada de Luca com os personagens Giulia e Alberto, o cineasta se preocupa em explanar que todos são iguais. Monstro marinho ou não, cada um é feito de objetivos, inseguranças, medos e outras coisas inerentes. Se uma palavra pudesse destacar a trajetória do personagem principal, essa palavra seria “Liberdade”.

    A porta aberta na cena inicial revela um jovem preso em sua existência. Apesar de Luca viver no mar, parece que ele está dentro de um aquário, incapaz de sair do quadrado que o cerca. Podado pelos pais que utilizam o medo para educá-lo, o garoto vai, gradualmente, alçando a superfície, onde pode encontrar a liberdade para desbravar o mundo. Isso incluí qualquer banalidade do dia a dia, do pôr do sol alaranjado que aquece rostos sorridentes ao luar azulado que banha a noite estrelada.

    Luca - Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso
    Luca / Disney / Pixar

    São nesses momentos de pura contemplação que o diretor cutuca nossa necessidade de viver no modo “piloto automático”, pois há fascínio no comum e para vermos isso precisamos desacelerar. Então, Luca retrata as coisas bobas da vida? Depende da sua definição de bobo, pois a magia do longa não é “o que”, mas o “como”.

    Se usarmos uma lupa, no sentido figurado, podemos enxergar essa linha narrativa em quase todos os filmes do estúdio, por isso há anos as pessoas mencionam a famosa “fórmula da Pixar”. Na prática, a trajetória fílmica possuí semelhanças, mas cada aventura pinta uma interpretação própria. A atmosfera de Toy Story, por exemplo, é discrepante da atmosfera confeccionada em Divertida Mente, que por sua vez não é igual aos ares de Luca. Cada projeto nascido na Pixar é singular!

    Luca - Nas mãos da Pixar, o simples se transforma em grandioso
    Luca / Disney / Pixar

    Durante a cerimônia do Oscar 2020, Bong Joon-hon citou uma frase dita por Martin Scorsese: “o que é mais pessoal, é mais criativo“. Isso se aplica como uma luva ao trabalho feito por Enrico Casarosa. Em Luca ele imprime seu passado, criando um álbum animado de lembranças coloridas. É uma celebração da infância, da busca por identidade e sonhos. É um conjunto nostálgico que comunica algo direto: que o inquilino indesejável que vive em cada um, o Sr. Medo, não deve e não pode silenciar nossa liberdade.

    Afinal, por que a Pixar sempre consegue emocionar?” essa foi a pergunta que preencheu minha mente no segundo ato do filme. A resposta surgiu no início dos créditos finais, e ela é a coisa mais simples de todas. Tudo na Pixar é feito com extremo carinho.

    Aliás, lembre-se: “Silêncio, Bruno!“.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão.

  • Crítica | Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão

    Crítica | Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão

    Em todo começo de geração de consoles uma dúvida domina a mente de muitos dos jogadores: qual será a cara do futuro dos jogos? Haverá melhorias significativas e, se sim, quais? Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão é um dos primeiros jogos que satisfazem esta curiosidade neste novo ciclo. O título, exclusivo para o PlayStation 5, cumpre seu papel entregando uma experiência impressionante, refrescante e divertida.

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    Para os que não estão habituados à tradicional franquia, Ratchet e Clank são um Lombax e um pequeno robô, respectivamente, que tornam-se heróis galácticos atravessando diversos mundos em seus feitos. Durante suas aventuras eles colecionam alguns adversários, sendo o Dr. Nefarious o arqui-inimigo da dupla. O antagonista retorna em Uma Outra Dimensão, atacando uma comemoração em homenagem aos dois e levando-os a um universo onde ele é o imperador. Na sequência, Ratchet e Clank são separados. Clank, como mostrado nos trailers, é encontrado por Rivet, uma Lombax fêmea conhecida por ser membro da Resistência, grupo que se opõe ao Imperador Nefarious.

    Ratchet

    A história é leve, sendo uma odisseia interplanetária polvilhada de humor. Temas interessantes são discutidos, como amizade e destino, enquanto Ratchet, Clank e Rivet desbravam nove planetas diferentes. A campanha do game dura pouco menos de dez horas e há algumas atividades secundárias que podem ser desempenhadas pelos heróis. Rivet é uma ótima adição à saga, trazendo fôlego à série e formando uma excelente dupla com Clank. Apesar disso, é de se pensar que sua história e a da Resistência poderiam ser melhor aprofundadas e que a personagem tivesse alguma mecânica que a diferenciasse de Ratchet durante a gameplay, o que pode ser um fator negativo para alguns jogadores.

    Qualidade técnica do novo Ratchet & Clank impressiona

    Logo em seu início, o jogo já surpreende. Os heróis têm modelos semelhantes aos do jogo de 2016, mas claramente melhorados. As texturas são de alta qualidade, há uma enorme quantidade de partículas e os NPCs aparecem em grande densidade. É possível jogar em três modos: performance, qualidade e RT de desempenho, com cada um deles priorizando um aspecto do jogo. O ray tracing, uma das promessas da nova geração, é competente e esbanja beleza com reflexões em poças de água, no vidro e até mesmo nos olhos de Ratchet e Rivet. O deslumbre visual que temos ao chegar na Cidade do Nefarious é tamanho que tenho certeza que muitas outras pessoas fizeram a indagação: “Por que Cyberpunk 2077 não poderia ser algo assim?”.  É realmente a qualidade de uma animação da Pixar que gosta de aparentar seus méritos e demonstra a capacidade do novo console da Sony.

    Ratchet 7

    Mas o poder do PlayStation 5 também é identificado a partir da mecânica de pulafendas, uma espécie de gancho instantâneo que permite maior mobilidade aos heróis durante a jornada. Temos, em segundo lugar, sequências scriptadas de batalha nas quais o jogo brilha com o SSD do console e realiza uma transição sem telas de loading entre os mundos. Há ainda dois planetas (Blizar e Cordelion) que possuem duas versões. A troca entre elas pode ser realizada durante a gameplay desde que encontrado um cristal que permita a transição. Uma mecânica que não tem tanto a ver com poder de fogo mas cuja adição foi muito boa é a chamada saída-fantasma, basicamente um tipo charmoso de esquiva que também serve para atravessar determinadas passagens obstruídas. Há também a possibilidade de correr pelas paredes em áreas específicas.

    Ratchet 3 1

    As aventuras dos heróis envolvem grandes batalhas e sequências de encher os olhos. Há um número generoso de armas — como é de praxe da série. É possível eletrocutar os adversários, congelá-los, explodi-los e até transformá-los em plantas. O melhor é que o Dual Sense, ao reproduzir várias das sensações do jogo, também o faz com as bugigangas através dos gatilhos adaptáveis. Algumas armas, inclusive, possuem modos alternativos a depender da força com a qual o jogador pressiona o botão R2. A gameplay é fluída e divertida, com combinações interessantes. Exemplo: é possível usar uma pulafenda para se afastar de um inimigo, paralisá-lo e depois executar um bombardeio fatal. Essa mistura de elementos é muito bem-vinda, uma vez que não são raros momentos em que muita coisa ocorre na tela ao mesmo tempo. Por fim, há de se falar em quebra-cabeças que são protagonizados por Clank e outros personagens, sendo um respiro na ação e pedindo o uso do raciocínio.

    Com todas estas qualidades, é difícil não dizer que este é um dos jogos mais bonitos dos últimos anos, com a adição de entregar diversão em alto nível. A cereja do bolo é a dublagem para o português brasileiro em alto nível, como é de praxe em jogos first-party do PlayStation. Todas as vozes estão em bom tom e divertem, além de vários dubladores do jogo de 2016 estarem presentes. Este é com certeza um jogo que agradará tanto crianças quanto adultos.

    Em suma, Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão é um título de peso para o PlayStation 5 e desponta como um dos expoentes da nova geração. Embora a história seja curta, os visuais e mecânicas que exaltam o poder do console impressionam e nos dão os primeiros vislumbres dos jogos que podemos esperar nos próximos anos. A aventura é divertida, empolgante e se traduz em mais um título de grande qualidade do PlayStation.

    NOTA: 4/5

  • Crítica | Velozes e Furiosos 9 – Quando o passado volta a mil por hora!

    Crítica | Velozes e Furiosos 9 – Quando o passado volta a mil por hora!

    Existe um ponto em comum, marcando o encontro de todas as franquias cinematográficas: o Legado. Quando um filme estreia na sala de cinema, ninguém é capaz de prever a longevidade daquela história; pode ser uma trilogia, quadrilogia ou, num passe de mágica, a trama se torna uma saga. Com Velozes e Furiosos 9, o diretor Justin Lin retorna à família, dando continuidade ao Legado iniciado nos anos 2000. Seu comando, entretanto, oscila entre a ação e a fantasia, o que torna perceptível a escassez de ideias.

    Lançado em 2001, o primeiro filme moldou o desenvolvimento dos personagens no ambiente urbano, focando nas corridas clandestinas e explorando o elo emocional nascido da amizade. Ao longo dos anos, a amizade se transformou em família, logo Toretto e companhia estavam conectados, mesmo por baixo da fachada de equipe. Chegando no nono filme da franquia, a história é sacudida quando o passado bate à porta de Dominic, mais uma vez. O roteiro, reciclando ingredientes utilizados nos títulos anteriores, se escora em flashbacks, destrinchando a origem do personagem de Vin Diesel. Parece novo (às vezes, inconsistente), contudo é o filme que mais apresenta exaustão.

    Velozes e Furiosos 9 - Quando o passado volta a mil por hora!
    Velozes e Furiosos 9 / Universal Pictures

    Sobre Velozes e Furiosos 9:

    Na trama, Dominic Toretto e Letty vivem uma vida pacata ao lado de seu filho Brian. Mas eles logo são ameaçados pelo passado de Dom: seu irmão desaparecido Jakob. Trata-se de um assassino habilidoso e motorista excelente, que está trabalhando ao lado de Cipher, vilã do filme anterior. Para enfrentá-los, Toretto vai precisar reunir sua equipe novamente, inclusive Han, que todos acreditavam estar morto.

    Quando analisado separadamente, cada peça desse filme possui seus altos e baixos. Carisma é uma força que paira em Velozes e Furiosos 9, do começo ao fim, pois os personagens são construídos a partir disso, de fato. Protagonistas, coadjuvantes e antagonistas, todos têm seus quinze minutos de “conflitos e resoluções”, alguns apressados, movidos na alta velocidade? Sim! No entanto, há o suficiente para se lembrar de cada um quando os créditos sobem.

    O conjunto da obra, quando olhada de cima, apresenta fragilidade. Fã ou não, qualquer um pode visualizar isso, em pequena ou grande escala. E por mais que essa franquia construa seu legado filme após filme, alguns roteiros podem não colaborar muito com isso.

    Não, esse filme não mancha a trajetória de Velozes e Furiosos, longe disso. Mas, é possível ver que a trama perdeu o fôlego. Aqui e ali, em cenas de pura adrenalina e nos momentos de calmaria, o texto está ofegante, cansado. Talvez, seja um sinal, um pedido corporal para a saga avistar uma placa de “PARE”.

    Velozes e Furiosos 9 - Quando o passado volta a mil por hora!
    Velozes e Furiosos 9 / Universal Pictures

    Sentado no banco do motorista, Justin Lin sabe dirigir as cenas de ação, extraindo a combinação perfeita entre velocidade e caos. Seu olhar passeia pelos cenários urbanos, captando tudo o que tem a sua volta, com o objetivo de buscar elementos que sirvam à narrativa. Carros, objetos, construções, nada escapa dessa captura ocular, qualquer ambiente é um potencial campo de batalha, sejas nas corridas frenéticas, nas perseguições insanas ou nas lutas “mano a mano”. Dizem que o céu é o limite, não para Justin, ele olhou além, mirando o “espaço”, e por mais que pareça uma expressão clichê, o cineasta alcançou “outro patamar”, mas isso não é um ponto positivo, infelizmente.

    A história anda, anda e anda, mas nunca sai do lugar. Mesmo que extasiados por altas doses de adrenalina, a sensação final é que estamos diante de uma linha reta, pois o “status quo” permanece intocável. Boa parte disso está intrinsecamente ligado aos antagonistas. John Cena aqui é o irmão, o vilão e outros amontados de adjetivos. Mesmo que os trailers tenham vendido uma fachada de rival, ele veste esse manto, vez ou outra, mas a sensação passada é morna.

    Há até uma sequência de diálogos direcionados totalmente ao público, questionando a “sorte” dos personagens, afinal, eles sempre saem das missões suicidas sem nenhum arranhão. Soa como uma piada interna, talvez, mas a tese é verdadeira. De todos os ingredientes usados, um foi esquecido na bancada: a ameaça. Por mais ousada [e insana] que sejam as sequências de ação e reação, Velozes e Furiosos 9 não consegue o mesmo feitio que seus antecessores: passar o senso de perigo.

    Velozes e Furiosos 9 - Quando o passado volta a mil por hora!
    Velozes e Furiosos 9 / Universal Pictures

    Enfim, o impossível é possível, vai de cada um ligar ou não o modo “verossimilhança”. Funcionará para alguns, para outro, não! Quem viu o trailer, pôde avistar a façanha de Dominic, transformando seu carro numa espécie de “Homem-Aranha”, saltando o abismo numa corda, como se o automóvel fosse o herói Cabeça de Teia. Isso se repete diversas vezes, e ver os personagens fazerem “malabarismo” com carros entretém, mas no final sempre fica aquele riso nervoso no rosto.

    Tudo o que é bom, tem um final. Na TV e no cinema, filmes e séries, muitas vezes, são esticados ao máximo, ultrapassando o tempo de vida de uma história. Alguns se saem bem, outros, porém, se perdem. Velozes e Furiosos 9 mostra que a franquia já passou da linha de chegada, que já conquistou seu pódio quando se olha para trás, e tudo o que está vindo agora é “hora extra”.

    É preciso concluir. Ter coragem de encerrar, usar o famoso ponto final. Porém, Velozes e Furiosos 9, mais uma vez, opta pelas reticências…

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Sweet Tooth – 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria.

  • Crítica | Sweet Tooth – 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria

    Crítica | Sweet Tooth – 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria

    Transformando as figuras da HQ em personagens de “carne e osso”, a Netflix entrega para os assinantes a 1ª temporada de sua nova e audaciosa produção baseada nos quadrinhos de Jeff Lemire — a fantasia Sweet Tooth. Misturando elementos fabulosos, drama e um toque sombrio, a série carrega para as telas uma carga dramática gigantesca, capaz de adoçar os corações mais pessimistas, além de alertar o público com uma mensagem afiada sobre a preservação da natureza.

    Animais falantes estão no centro das principais fábulas infantis, metaforizando situações cotidianas, com o propósito de ensinar às crianças através da moral da história. Sempre há um discurso por trás de uma narrativa, com a finalidade de alertar, educar ou conscientizar. Livros, HQs, filmes e séries são canais promissores para a narração de tramas fantásticas, e graças a gigante do streaming o público pode espiar o futuro não muito distante, em que a fantasia utiliza híbridos de animais e humanos para construir a premissa de Sweet Tooth.

    Indiretamente, pode-se considerar o show como o novo “Stranger Things”, uma vez que a trama fantasiosa, cercada por mistérios, insere crianças e adultos no enredo que vai do sombrio ao surreal, sem perder a mão. Aqui, a Netflix acerta no tom, modificando alguns pontos do material original, mas mantendo a qualidade narrativa.

    Sweet Tooth - 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria
    Sweet Tooth (1ª temporada) / Netflix

    Sinopse 1ª Temporada:

    Gus, um menino-cervo, vive em um futuro pós-apocalíptico e faz parte de uma nova raça híbrida de humanos e animais. Isso é resultado de uma série de mutações que aconteceram depois do “Grande Colapso”, quando um misterioso e mortal vírus espalhou o caos pelo mundo. Devido à pandemia, Gus cresceu isolado por uma década, até que decide deixar sua casa na floresta para explorar o que restou lá fora e encontrar sua mãe desaparecida. Mas, contra todas as probabilidades, ele se torna amigo do ex-jogador de futebol Tommy Jepperd. Juntos, eles embarcam em uma aventura extraordinária por um planeta devastado.

    Conexão emocional. Duas palavras que, quando combinadas, são capazes de criar uma legião de fãs, de construir uma sólida relação entre série e público. Um sorriso, uma gargalhada, uma lágrima e até um arrepio, são reações provenientes das emoções, respostas do nosso corpo quando algo toca nosso emocional. Foi o que aconteceu com inúmeros projetos televisivos que souberam mirar sua flecha narrativa no coração dos telespectadores, maravilhando-os.

    É isso que está no centro da 1ª temporada de Sweet Tooth: conexão emocional. O nível sentimental é gigantesco e isso está atrelado a todos os pilares da história: personagens, roteiro, diálogos, fotografia e trilha sonora.

    Sweet Tooth - 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria
    Sweet Tooth (1ª temporada) / Netflix

    Gus, o protagonista, é sinônimo de “fofura”, de gentileza. Sua esperança pode soar quimérica aos adultos, mas no discorrer dos eventos, torna-se um lembrete para os “Grandões”. Não há mal nenhum sonhar, alimentar esse resquício de positividade chamado “perseverança”. Crescer é uma desconstrução chata, no entanto, algumas tramas cumprem a função de reavivar a criança interior, de despertar o cultivo da alegria, da vontade de crer no impossível. Querendo ou não, Sweet Tooth é um Conciliador, capaz de induzir alguns telespectadores a fazerem as pazes com a boa e velha Esperança.

    Há mais de um ano, encontramo-nos diante de um cenário caótico, confinados e temorosos, por causa de uma pandemia viral. Consciente desse episódio real, a série cria fortes paralelos com o Hoje, e a todo momento nos vemos representados na história, seja através de um personagem ou de uma situação verossímil, ao ponto de esquecermos que estamos na frente de uma fantasia. Tal associação vale para a conturbada relação do homem com a natureza, pintada sutilmente na temporada inaugural, levantando questionamentos sobre o papel da humanidade em uma terra também habitada pela fauna e pela flora.

    Sweet Tooth - 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria
    Sweet Tooth (1ª temporada) / Netflix

    A galeria de personagens desse show é uma explosão de carisma. Os mocinhos, os vilões, e aqueles que estão no meio-termo, todos possuem múltiplas dimensões, explorados ao máximo. Jepperd, o parceiro de jornada de Gus, é a mente adulta, criando um laço afetivo com o Menino-Cervo, similar ao que já vimos no filme Logan ou na série de games de The Last of Us.

    Dr. Singh e sua esposa, Rani, estão em uma ponta distante e são cruciais para o “andar da carruagem”. Mesmo como coadjuvantes, o roteiro respeita tais personagens, colocando sobre os ombros deles o mesmo peso de importância que está nas costas dos protagonistas. Aimee e sua filha Wendy (duas figuras similares a Jepperd e Gus) também assumem as rédeas narrativas, conduzindo viradas no roteiro e protagonizando um dos momentos mais enérgicos da 1ª temporada.

    Sweet Tooth - 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria
    Sweet Tooth (1ª temporada) / Netflix

    E não podemos esquecer “dele”, que apesar de não aparecer fisicamente, conduz a história com sua voz: o Narrador. Figura importante, cabe a “ele” o papel de levantar algumas reflexões diante da aventura e do caos. Uma voz suave, gentil, mas que não poupa metáforas ou lições de vida para passar ao público as principais temáticas, sem soar piegas ou enfadonho.

    A fotografia é uma explosão de cores, condensando nos enquadramentos a natureza na sua forma mais selvagem e singular. Mesmo que se trate de uma “baixa fantasia”, as imagens combinam com perfeição o cenário urbano/rural com elementos fantasiosos.

    Sweet Tooth - 1ª Temporada é uma fábula doce e sombria
    Sweet Tooth (1ª temporada) / Netflix

    Que semana feliz para ser fã de histórias nascidas da criatividade incomum e do devaneio absurdo. Uma boa dose de fantasia faz bem à saúde, e a Dona Netflix sabe muito bem disso! Não é à toa que ela presenteia os assinantes com a 1ª temporada de Sweet Tooth, uma “série promessa”, que marcará uma nova geração de crianças, adolescentes e adultos.

    Na visão mais pessoal de todas, [eu] senti algo que há muito tempo não sentia. É difícil explicar, mas é fácil exemplificar. Sabe aquela sensação que você teve ao ver os minutos iniciais de Harry Potter, quando aquele bebê foi deixado na porta dos tios? Ou no momento que o quarteto de irmãos atravessaram o guarda-roupa, rumo à Nárnia? Ou quando a personagem Galadriel narra o prólogo de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel? Esse é o “sentimento” que Sweet Tooth desperta! Um “encantamento” complexo de transpor na tela, mas igualmente poderoso quando bem executado.

    Fisgando a atenção (e o coração) da audiência nos primeiros cinco minutos do episódio piloto, Sweet Tooth se consagra como uma das principais produções que terá um longo tempo de vida no catálogo. Eis uma fábula viva, às vezes açucarada, às vezes sombria, mas cativante do começo ao fim.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer da 1ª temporada:

    Veja também:

    LISTA | Qual o personagem mais chato do universo das séries?

    Cuphead | Animação baseada no game ganha 1º teaser focado no vilão.

    Sombra e Ossos | Série de fantasia ganhará 2ª temporada.

  • Crítica | Espiral – O Legado de Jogos Mortais

    Crítica | Espiral – O Legado de Jogos Mortais

    Nono capítulo da famosa franquia de terror, “Espiral – O Legado de Jogos Mortais” apresenta Chris Rock e Samuel L. Jackson em uma releitura curiosa do clássico original de 2004. Dirigido por Darren Lynn Bousman e roteirizado por Josh Stolberg e Peter Goldfinger, o longa aposta em sequências sangrentas e ousadas de ação, mas é apanhado pelas próprias armadilhas e não consegue oferecer mais do que um material genérico e pouco expressivo.

    Originalmente programado para ser lançado em maio de 2020, a produção da Twisted Pictures foi adiada devido à pandemia da Covid-19 e, agora, tem nova data de estreia: 17 de junho de 2021, no Brasil. Reunindo os criadores originais da franquia,  James Wan e Leigh Whannell, que atuam como produtores executivos ao lado do próprio Chris Rock, o filme chega às telas do cinema com grandes expectativas por parte dos fãs mais leais da saga. Porém, a partir do momento que esquece – ou prefere ignorar – as principais qualidades de seus antecessores, “Espiral” coleciona erros e resulta em uma experiência nauseante e pouco envolvente.

    Em “Espiral – O Legado de Jogos Mortais“, um sádico criminoso dá início a uma forma distorcida de justiça pelas ruas de uma cidade norte-americana, ao ressuscitar a herança macabra de Jigsaw e submeter policiais corruptos a “jogos” mórbidos e fatais. Frente ao horror dessa “caçada”, o detetive Ezekiel “Zeke” Banks (Chris Rock) – que vive à sombra do sucesso de seu pai (Samuel L. Jackson), um estimado veterano da polícia -, se une ao novato Willem Schenk (Max Minghella) para investigar a complexa série de assassinatos. Dessa forma, involuntariamente preso em um mistério cada vez mais profundo, Zeke expõe o passado sombrio da sua cidade e, por fim, percebe estar no centro de mais um jogo perverso do assassino.

    Espiral
    Espiral – O Legado de Jogos Mortais / Paris Filmes

    Espiral – O Legado de Jogos Mortais” tenta, desde o início, recuperar um pouco do fôlego da franquia e reestruturar a sua narrativa, há muito desgastada. Até certo ponto, o filme é competente e apresenta o espectador a um universo moderno e cheia de possibilidades. No entanto, apesar do grande potencial do enredo e dos evidentes esforços da produção para oferecer um material mais profundo e elaborado que o original, o longa se afasta das peculiaridades que uma vez já o tornaram um sucesso e revela diversos gargalos estruturais que descredibilizam a produção. Nesse sentido, levando em consideração o “menosprezo” pela cultura dos filmes anteriores, é possível fazer um primeiro comentário bastante significativo: as armadilhas arquitetadas por “Espiral” são ‘fracas’ e incoerentes, e não há possibilidade real de as vítimas escaparem com vida. Sendo assim, o ponto principal de Jogos Mortais, que é jornada de redenção dos personagens, é deixada de lado para que uma matança desleal e pouco significativa tome conta da tela. Os maiores fãs não irão reconhecer o tal “legado” de Jigsaw e sairão insatisfeitos do cinema.

    Enquanto disso, à medida que desenvolve uma história cujas peças do quebra-cabeça parecem não se encaixar, o longa se depara com um novo – e maior – problema: Chris Rock. O comediante, conhecido por papéis irreverentes e pouco profundos no cinema e na televisão, não parece à vontade na função principal de detetive e se perde na própria performance, oferecendo uma atuação histérica e pouco apropriada para a narrativa sombria de “Espiral“. Sem conseguir convencer o espectador, o ator grita e xinga durante a maior parte do filme e torna quase impossível a tarefa de levar a sério o protagonista do show (de horrores).

    Espiral
    Espiral – O Legado de Jogos Mortais / Paris Filmes

    Finalmente, “Espiral – O Legado de Jogos Mortais” falha completamente na sua tentativa de reinventar a franquia sangrenta de 2004 e acaba por oferecer um material genérico e bastante previsível, que não surpreende ou cativa o suficiente nem os maiores fãs da saga. Pouco esforçado, o longa mergulha em questões sérias sobre a brutalidade policial, mas oferece um diálogo raso e não aproveita as melhores oportunidades de se destacar. Sem grandes novidades ou momentos marcantes, o lançamento da Twisted Pictures, que esquece o terror em si e tenta chocar o público com mortes grotescas e nauseantes, trilha um caminho para novas sequências e para mais armadilhas do imitador barato de Jigsaw.

    Espiral – O Legado de Jogos Mortais tem estreia prevista para o dia 17 de junho.

    Nota: 2/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Aqueles Que Me Desejam a Morte

  • Crítica | Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

    Crítica | Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

    Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio traz novos desafios e uma nova luta para Ed e Lorraine Warrien, interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga. O longa agrega uma trama interessante à trilogia e ao casal protagonista, expandindo ainda mais o universo criado no primeiro filme, mas ao mesmo tempo transparece um clima de encerramento de uma trilogia.

    Sinopse: Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio revela uma história assustadora de terror, assassinato e um desconhecido mal que chocou até os experientes investigadores de atividades paranormais Ed e Lorraine Warren. Um dos casos mais sensacionais de seus arquivos, começa com uma luta pela alma de um garoto, depois os leva para além de tudo o que já haviam visto antes, para marcar a primeira vez na história dos Estados Unidos que um suspeito de assassinato alega ter tido uma possessão demoníaca como defesa.

    Crítica | Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
    Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio | Warner Bros. Pictures

    É inegável que a todo o universo compartilhado de Invocação do Mal é muito bem estruturado narrativamente, mesmo tendo seus altos e baixos. A trilogia principal nos leva para um universo biográfico com toques de ficção que tornam a produção ainda mais original. Seguindo o mesmo padrão dos dois filmes anteriores, Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio segue por uma das histórias mais conhecidas do casal Warren, o caso de Arne Cheynne Johnson, jovem que alegou inocência de um assassinato que cometeu por possessão demoníaca, sendo o primeiro dos EUA.

    Nesse novo filme protagonizado por Ed e Lorraine, tivemos um pouco mais do desenvolvimento do casal protagonista, que mesmo já tendo sido apresentado em dois filmes não soa nada repetitivo. No terceiro filme, ao invés de vermos o decorrer do relacionamento, temos pequenos toques de romance que nos transportam pra origem do relacionamento dos dois, causando ainda mais empatia pelos personagens, o que parecia ser impossível. Apesar dos toques do romance, todo o peso do filme ainda está lá, não afetando nenhum pouco o horror do filme.

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    Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio | Warner Bros. Pictures

    A direção do filme é mais que acertada, apesar das desconfianças. Esse é o primeiro filme da trilogia sem James Wan como diretor, mas a substituição não deixa nada a desejar. Michael Chaves traz a sua identidade para esse novo filme e consegue deixar a sua originalidade, expandindo o filme muito além do que vimos nos anteriores que aposta em locações mais contidas, abordando casas mal assombradas, levando os Warren para o mundo. Um dos pontos fortes do filme está justamente na visão de Chaves para Invocação do Mal, onde essa exploração externa leva um pouco para o lado de filmes de investigação, que misturado a gênero do filme, deixa tudo ainda mais dinâmico e prende a atenção do espectador. Porém, essa mesma visão se torna um pequeno problema na identidade da franquia; apesar dos acertos, o diretor só erra na abordagem do filme em relação aos anteriores, onde aposta mais em jumpscares e suspense em vez do terror constante e marcante, que dão aquela sensação de medo.

    Crítica | Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
    Bastidores Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio | Warner Bros. Pictures

    Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio é um grande acerto em praticamente todos os sentidos: direção, roteiro, trilha sonora, e um dos que mais chamam a atenção é o trabalho de maquiagem, que apesar de não ser nada tão exuberante, traz a passagem de tempo entre o primeiro filme e esse, mostrando a consistência narrativa da franquia. As cenas de exorcismo e possessão são extraordinariamente bem produzidas, e termos uma já no começo do filme deixa tudo ainda bem mais interessante. O roteiro consegue dar conta das subtramas existentes e amarra tudo para não deixar pontas soltas.

    No fim, “A Ordem do Demônio” é praticamente impecável e um grande respiro para o universo de Invocação do Mal, além de fazer o que muito já se esperava que era trazer a franquia de volta aos eixos depois de derivados não tão satisfatórios. A espera pelo novo filme da franquia principal valeu a pena.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos

    Crítica | Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos

    Clássicos infantis ganham nova releitura em Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos, produção estrelada por Angelina Jolie.

    As clássicas histórias infantis são facilmente transformadas em algo maior. A história, que por muitas vezes contém elementos de sucesso como aventura+criança+ seres mágicos pode ser desenvolvidas e exploradas de diversas formas diferentes, até se tornar algo lúdico e até mesmo uma história mais adulta e puxada para o terror, não é a primeira vez que vemos clássicos como Alice no País das Maravilhas e Peter Pan contadas por uma outra perspectiva, mas a nova produção estrelada por Angelina Jolie “Alice e Peter” traz algo especial.

     O longa conta a história de Alice (Keira Chansa), David (Reece Yates) e Peter (Jordan A. Nash), três crianças que são incentivadas pelos seus pais Rose ( Angelina Jolie) e Jack (David Oyelowo) a exercitarem a imaginação em suas brincadeiras no bosque perto de suas casas. Apesar de serem uma família aparentemente feliz, Jack esconde uma dívida, que acaba causando consequências tanto pra ele como pra sua família.

    Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos
    Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos | Reprodução da divulgação

    Com os acontecimentos recentes e as crianças tendo que aprender a ter responsabilidade, a questão do amadurecimento e do envelhecimento acaba despertando várias dúvidas entre elas. Afinal, se você pudesse desejar ser criança para sempre, o faria?

    A questão é presente tanto em Alice no País das Maravilhas quanto em Peter Pan, onde seus personagens principais se recusam a assumir responsabilidades da vida adulta, buscando ficar criança para sempre.

    A junção dessas duas fábulas trouxe para a tela uma sensação nostálgica, somadas as críticas internas que aparecem toda vez que assistimos algo novo sobre uma história tão antiga e já contada várias vezes. Apesar da ideia ser incrível, ela acabou não sendo desenvolvida da maneira correta, fugindo da proposta inicial do longa e da roteirista Marissa Kate Goohill.  Apesar da história ser um pouco decepcionante e confusa, fica impossível não notar o elenco composto em sua maioria por negros, principalmente em papéis como Alice e Peter, coisa nunca vista antes.

    Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos
    Alice e Peter: Onde Nascem Os Sonhos | Reprodução da divulgação

    Algo que talvez choque o público é o tempo de tela da consagrada atriz Angelina Jolie, apesar de estampar a maioria dos pôsteres, sua personagem mal aparece. O que é difícil de se imaginar quando se trata de uma atriz de sucesso.

    Alice e Peter : Onde Nascem os Sonhos é clássico, delicado, inclusivo e necessário. Apesar de não ser um filme completamente infantil, ele traz o drama familiar para um lado em que as crianças possam entender e queiram acompanhar.

    Alice e Peter : Onde Nascem os Sonhos estreia dia 3 de Junho nos cinemas.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Aqueles Que Me Desejam a Morte

    Crítica | Aqueles Que Me Desejam a Morte

    Baseado no romance homônimo de Michael Koryta, “Aqueles Que Me Desejam a Morte” apresenta o retorno de Angelina Jolie às telas de cinema em um thriller explosivo sobre segredos e assassinatos. Dirigido por Taylor Sheridan, o longa reúne grandes nomes – como Jon Bernthal, Aidan Gillen e Nicholas Hoult -, mas esquece de preencher os seus buracos e entrega um material pouco expressivo.

    Produção original da Warner Bros. Pictures, sob a alcunha da New Line Cinema, “Those Who Wish Me Dead“, no original, aposta em uma adaptação feroz da obra de Michael Koryta para estimular a curiosidade do grande público. Inicialmente discreto, a produção revela pontos promissores que, finalmente, culminam em um incêndio florestal de grandes proporções que entrega as melhores sequências da trama e deixa qualquer espectador na borda do assento. Ainda assim, é possível notar que o longa se aproxima, por vezes, de um thriller de ação genérico e, dessa forma, falha em algumas proposições que o impedem de ser uma unanimidade.

    Em “Aqueles Que Me Desejam a Morte“, após descobrir um grande segredo político, Owen (Jake Weber) começa a ser perseguido por dois assassinos profissionais e foge da cidade com o seu filho Connor (Finn Little), um menino de 12 anos. No entanto, apesar dos esforços para se manterem a salvo, eles são encontrados e, na emboscada, o pai é cruelmente executado. Antes de morrer, porém, ele entrega todas as provas do crime para o seu filho, que consegue fugir. A partir de então, uma caçada incessante por Connor tem início pelo extenso território de Montana. É quando o menino encontra Hannah (Angelina Jolie), uma bombeira traumatizada pelo fracasso de sua última missão, que vai tentar ajudá-lo a sobreviver e a expor os valiosos segredos descobertos pelo seu falecido pai.

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    Aqueles Que Me Desejam a Morte / Warner Bros. Pictures

    Aqueles Que Me Desejam a Morte“, cuja estreia no Brasil foi programada para o dia 27 de maio, apresenta um elenco consistente que consegue dar suporte ao enredo robusto de Michael Koryta. Recheado de possibilidades, o longa embarca em uma jornada exploratória e, até certo momento, desenvolve seus temas de forma razoável, criando um microcosmo sanguinolento que enfeitiça o espectador. No entanto, à medida que apresenta uma gama considerável de subtramas, a produção da Warner Bros. Pictures cria diversos buracos narrativos e torna-se incapaz de contorná-los. Dessa forma, perdido em suas próprias intenções, o filme não alcança o seu verdadeiro potencial e, de certa maneira, decepciona os esperançosos ávidos pelo grande retorno de Angelina Jolie às telas do cinema.

    Por outro lado, ainda que faça promessas que não pode cumprir – como é o caso da exploração rasa e insignificante do passado angustiante de Hannah -, o longa tem os seus melhores momentos nas sequências de ação em meio ao fogo. Apoiando-se nas excelentes atuações de Aidan Gillen e Nicholas Hoult, os vilões da narrativa, e na performance crível e bastante humanizada de Jolie, uma bombeira atormentada pelos fantasmas do seu passado, “Aqueles Que Me Desejam a Morte” demonstra uma profundidade emocional notável e, por fim, se transforma em um suspense com grande personalidade – mesmo cercado por tantas falhas narrativas.

    Aqueles Que Me Desejam a Morte
    Aqueles Que Me Desejam a Morte / Warner Bros. Pictures

    Finalmente, “Aqueles Que Me Desejam a Morte” – que ainda é capaz de satisfazer uma grande parcela do público – não assume riscos o suficiente para se destacar. Beirando o genérico, o longa é salvo pela imensa qualidade do seu elenco e pelas grandiosas sequências de ação desenvolvidas por Michael Koryta, que teletransportam o espectador para o centro de um incêndio florestal de proporções épicas, enquanto desenvolve uma caçada mortal envolvendo dois assassinos profissionais, uma bombeira e um garoto de 12 anos. Inicialmente promissor, a estreia da Warner Bros. se perde no caminho e, ainda que tenha uma gama de materiais que realmente chamem a atenção do público, o conjunto da obra é pouco expressivo e, infelizmente, não fará muita diferença para quem o assiste.

    Aqueles Que Me Desejam a Morte já está em cartaz nos cinemas.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Em Guerra Com o Vovô

  • Crítica | Cruella

    Crítica | Cruella

    Emma Stone se destaca dando vida a cruel e deslumbrante Cruella em novo remake live-action da Disney.

    Todos nós concordamos que quem maltrata os animais merece o título de pior pessoa da face da Terra, não é mesmo?! E é por isso que Cruella é uma das piores vilãs da Disney. Sua perseguição aos dálmatas já deu o que falar tanto nas animações, como no live action dos anos 90, mas toda essa raiva nunca foi de fato explorada nos filmes, e é disso que o novo live action da Disney “Cruella” se trata.

    Estella (Emma Stone) é uma menina fora do comum. Além de nascer com o cabelo dividido entre o preto e o branco, e a sua paixão e talento para a moda, a garota ainda tem um gênio um tanto quanto complicado. Gostando de se meter em confusões na escola, ela é convidada a se retirar da instituição, forçando a sua mudança e de sua mãe para Londres.

    Cruella
    Cruella | Disney

    Em busca de uma ajuda financeira, a mãe da pequena rebelde decide passar em um lugar no meio do caminho, o que resulta em sua morte e acaba deixando Estella órfã e sozinha na cidade grande. Em seu primeiro dia, a órfã conhece dois ladrãozinhos que a segue pelo resto de sua vida, e que além de participarem de todos os roubos, também são parceiros quando o assunto é moda, shows pirotécnicos e vingança.

    Diferente de diversas produções que focam num passado trágico do vilão, Cruella busca mostrar que a maldade e crueldade podem sim vir de berço, e não necessariamente ser a causa de algo maior.

    A história acerta -e muito- nesse aspecto, e mesmo assim consegue trazer a empatia necessária para a personagem, tendo alguns momentos em que tá tudo bem passar um pano pras atitudes dela.

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    Cruella | Disney

    Dando check na construção da personagem, fica difícil não partir pro tópico mais importante: a moda! Desde o começo fica claro o talento de Estella para a moda, seja ela escandalosa, chique ou cotidiana. O figurino da vilã é o principal assunto do filme, mas não deixando pra trás os vestidos fantásticos usados pela personagem da Emma Thompson, a Baronesa. Os vestidos deixam qualquer um de queixo caído, mesmo os que não são tão ligados ao universo das passarelas.

    O quesito moda toma cerca de 60% do tempo da produção, tendo até comparações com produção como O Diabo Veste Prada, até porque não tem como não pensar no filme quando crueldade e moda estão ligados.  Com shows incríveis, aparições em eventos e criatividade, a moda faz muito bem o seu papel nesse filme.

    O que dizer quando uma produção escolhe tão bem o seu elenco,que fica praticamente incapaz de encontrar um erro? Bom, caricatos ou não, não tem como discordar sobre a ótima escolha do elenco de Cruella, logo de cara somos apresentados a incrível Tipper Seifert-Cleveland, que interpreta a Estella na infância. Logo vem a Emma Stone, impecável como sempre, deixando o sotaque do Arizona de lado e adotando o inglês britânico como se fosse de berço, excelente! Emma Thompson, Joel Fry (Gaspar) e Paul Walter Hauser (Horácio) também dão um show de atuação e carisma, e não se deixam ofuscar mesmo estando ao lado de Stone.

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    Cruella | Disney

    Não podemos falar sobre o elenco sem citar o elenco canino, que fofos! Dois cachorrinhos foram escolhidos para dar vida aos fiéis escudeiros dos vilões, a interação com os atores renderam alguns momentos de fofura.

    A trilha sonora também é um ponto indispensável do longa, simplesmente impecável. Com um tom mais maduro nas músicas, a escolha da trilha foi certeira e trouxe o poder que a personagem carrega nas costas.

    Dirigido por Craig Gillespie ( “Eu, Tonya”) , Cruella se consagra como o tiro certeiro da Disney, um dos melhores live actions (ou nesse caso, remake) já feito, mesmo contendo alguns exageros e furos no roteiro. Graças a essência da história, produção e elenco, o filme não consegue passar despercebido, superando todas as expectativas.

    Cruella estreia dia 27 de Maio nos cinemas e no dia 28 de maio no Disney+.

    Nota:4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | A Mulher na Janela – A obsessão pela vida alheia

    Crítica | A Mulher na Janela – A obsessão pela vida alheia

    Os telespectadores construíram uma relação sólida com as “Telas”. Cinema, TV e celular são alguns dos painéis usados para mergulhar dentro de histórias, bisbilhotando a narrativa acerca do personagem e seus conflitos. Para Anna Fox, protagonista do longa-metragem A Mulher na Janela, sua tela é exatamente o que está no título do filme.

    São inegáveis as comparações que rondam o “thriller” A Mulher na Janela, longa baseado na obra literária de Dan Mallory, que assinou seu livro com o pseudônimo de A.J. Finn. Entre homenagens e o uso de fórmulas estabelecidas em filmes que seguiram a mesma linha narrativa, a adaptação cinematográfica está no banco dos réus, neste exato momento. De um lado, os apreciadores do livro, descontentes com a versão audiovisual, do outro, o público dividido. Afinal de contas, qual é o “crime” cometido pela fita estrelada por Amy Adams? Existe a hipótese de absolvição ou apenas condenação?

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Sinopse:

    Anna Fox mora sozinha em uma casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo vinho, assistindo filmes antigos e conversando com estranhos na internet. Quando uma nova família se muda para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela vida perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando com sua câmera, ela vê algo que muda tudo.

    Concebido, inicialmente, sob o guarda-chuva de projetos da 20th Century Studios, o filme foi passado para a Disney, após a casa do Mickey Mouse comprar a 20th Century Fox. Devido a uma série de fatores, como adiamentos e a pandemia, o projeto entrou na mira da Netflix, que fechou um acordo com a Disney para lançá-lo na plataforma. Estreando no dia 14 de maio, o filme recebeu uma chuva de críticas negativas, e apesar de não conquistar o status de obra-prima, A Mulher na Janela não é esse desastre todo que estão pintando nas redes sociais.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Através das cortinas e persianas, Anna se desliga da própria realidade e passa a vivenciar a vida dos outros. Aspirando uma premissa dissecada em outras obras, o longa dirigido por Joe Wright, às vezes, parece um eco, mas detém sua própria identidade. Recapitulando a 7ª arte, o trabalho de Wright é, em simultâneo, um cortejo ao clássico Janela Indiscreta (de Alfred Hitchcock), e um produto proveniente de uma narrativa explorada em outros títulos como A Garota no Trem, dirigido por Tate Taylor e Paranoia, longa de 2007.

    Todavia, dois erros amargam a narrativa de A Mulher na Janela: o aproveitamento raso de um elenco estelar e a escolha pífia de sustentar um mistério resolvido pelo público nos primeiros 15 minutos de projeção. Fora isso, os diálogos passam do ponto algumas vezes, e o que deveria servir como “indício” para futuras reviravoltas, torna os acontecimentos óbvios. Infelizmente, o elemento surpresa é só um elemento. Há uma única revelação, requentada, que pode levar uma parcela dos assinantes a exclamar um “isso não passou pela minha cabeça!“, porém, a essa altura, o filme já está no chão, após cair do próprio pedestal.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Para compor o time de apoio, o roteiro ganha forma através dos atores Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh, Gary Oldman, Julianne Moore e Anthony Mackie. É frustrante assistir, cena após cena, o desperdício de elenco, no entanto, a única atriz que consegue ter cinco minutos com um bom aproveitamento é Julianne Moore, mas isso não apaga que Joe Wright deixou a oportunidade escapar por suas mãos como fumaça. O longa, Entre Facas e Segredos, por exemplo, contava com um número maior de atores, e ainda assim extraiu o suficiente para justificar a presença de um cast numeroso. Em suma, faltou em Wright um “que” de Rian Johnson.

    Nesse tribunal estabelecido para julgar A Mulher na Janela, Amy Adams é a testemunha de defesa. Sua performance é a única prova que atesta os pontos positivos do filme. Sozinha, ela carrega o peso de ancorar a atenção do público na trama, isso do primeiro ato até a metade do segundo. Apegando-se ao olhar desarticulado e os vícios inerentes do seu papel, Adams incorpora bem esse modelo de “personagem não confiável”. E ainda que o roteiro e as escolhas criativas trabalhem contra, a atriz faz o seu melhor.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Portanto, discutidos os pontos a favor e contra, A Mulher na Janela constrói uma história com um bom começo, mas que tropeça ao costurar um mistério batido, que passa do prazo de validade muito rápido. Ademais, depositar a fé em dois plot twist (um, totalmente previsível, e o outro, fraco), contribuiu para a decepção da audiência.

    À vista disso, é sempre bom lembrar que a experiência é algo singular. O que pode funcionar para mim, pode não funcionar para você, e vice-versa. Ser um filme mediano, não é um crime cinematográfico, mas as consequências disso podem colocá-lo em uma zona chamada “esquecimento”.

    Nota: 3/5

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    Crítica | Mundo em Caos.

    Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games.

  • Crítica | Mortal Kombat

    Crítica | Mortal Kombat

    Mortal Kombat já está entre nós e traz uma trama que introduz um vasto universo mítico, com a promessa de ser desenvolvido em uma nova leva de filmes. Como introdução para uma nova franquia, o longa não chama muito a atenção de quem não acompanha Mortal Kombat em outros formatos, mas traz uma história rica e interessante que merece continuidade.

    Sinopse: “Em Mortal Kombat, o lutador de MMA Cole Young, acostumado a apanhar por dinheiro, não faz ideia da herança que carrega – ou por que o Imperador da Exoterra, Shang Tsung, enviou seu melhor guerreiro, Sub-Zero, um criomancer de outro mundo, para exterminar Cole. Temendo pela segurança de sua família, Cole sai em busca de Sonya Blade por recomendação de Jax, um major das Forças Especiais que tem a mesma estranha marca de nascença na forma de dragão que Cole. Logo, ele se encontra no templo do Lorde Raiden, um Deus Ancião e protetor do reino da Terra, que acolhe aqueles que ostentam a marca. Lá, Cole treina com os experientes guerreiros Liu Kang, Kung Lao e o mercenário vigarista Kano, à medida que se prepara para enfrentar, ao lado dos maiores campeões da Terra, inimigos oriundos da Exoterra em uma arriscada batalha pelo universo. Contudo, será que ele treinará o bastante para desbloquear sua arcana — o imenso poder que existe dentro de sua alma – a tempo não só de salvar sua família, mas também de vencer a Exoterra de uma vez por todas?”

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Logo Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Após alguns anos de espera o novo filme que ‘reboota’ o universo de Mortal Kombat finalmente chegou aos cinemas, prometendo trazer grandes cenas de lutas, coreografias mais fieis nas batalhas, comparado aos jogos da franquia nos video games e uma história mais elaborada para enaltecer seus personagens. Mas será que todas essas promessas foram cumpridas?

    O novo Mortal Kombat consegue prender a atenção do espectador durante todo o tempo, mas acaba pecando em aspectos que mereciam ser impecáveis, como as cenas de luta. A maior surpresa, claramente, são a forma como tais cenas foram pensadas para serem brutais e sangrentas. A classificação destinada para o público maior de dezoito anos possibilitou o longa trazer a verdadeira identidade da produção, que buscou ao máximo respeitar seu material de origem. Mas apesar disso, o excesso de personagens causou uma certa pressa no tempo das lutas e suas coreografias, não atingindo o ápice de toda a beleza das lutas que vemos quando jogamos em nossos consoles. Até existe alguns movimentos que são satisfatórios de ver, como os “falatlities” e “brutalities”, mas o andamento e as finalizações são de uma correria sem tamanho, acabando com toda a euforia que seria necessária para o público.

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Exatamente por conta do excesso de personagens, o roteiro não consegue dar conta de todos e alguns personagens icônicos acabam sendo deixados de lado e se tornam meros lacaios, como é o caso de boa parte da equipe vilã do filme, os seres da exoterra. Em contrapartida temos personagens que se sobressaem como deveria acontecer; Scorpion e Sub-Zero brilham e transmitem angustia e empolgação em todas as vezes que aparecem. O caso das coreografias mal executas não se aplicam especificamente a eles. É visível e compreensível que todo o trabalho mais pesado da produção está em todas as cenas que envolvem esses personagens, e as atuações de Joe Taslim e Hiroyuki Sanada abrilhantam tudo ainda mais. Por outro lado, temos Cole, o protagonista do filme, interpretado por Lewis Tan e que foi criado exclusivamente para o novo filme, mas não brilha e acabou se tornando uma adição não muito boa.

    Uma das melhores coisas a se notar é a trilha sonora, que até dá um ânimo para as cenas de lutam e deixa uma sensação de nostalgia, e que nos lembra as lutas do jogo. Outro ponto de atenção positiva são os figurinos que estão impecáveis. A repaginação das vestimentas que remetem mais ao oriental moderno, com armaduras texturizadas, preenchem a beleza visual do filme. Os efeitos especiais do longa também não ficam para trás. Apesar de não ser nada tão exuberante, o CGI alcança a naturalidade da paisagem. Já a montagem do longa deixa um pouco a desejar e a direção não é nada satisfatória.

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Apesar dos pesares, a produção apresenta uma história rica e que merece ser estendida, porém trabalhada em algo que fuja do mero fan-service e que seja acessível para o público geral, garantindo seu espaço entre a geração mais nova que não conhece tanto os jogos ou os filmes mais antigos.

    Mortal Kombat é um filme bom para um ponta pé inicial de uma nova franquia, mas pode não agradar aos que não tem muita intimidade com seus personagens em outras mídias. No fim, a produção entrega tudo o que era esperado, mas não cumpre algumas promessas e não supera as expectativas, se tornando uma produção que será esquecida ao passar dos anos caso não tenha uma sequência, o que não aconteceu nem com os filmes dos anos noventa, que apesar de não serem os favoritos do público, ainda conseguiram deixar um legado que vive até hoje.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Em Guerra Com o Vovô

    Crítica | Em Guerra Com o Vovô

    Baseado no livro infantil homônimo de Robert Kimmel Smith, de 1984, “The War With Grandpa”, no original, é uma comédia dramática sobre a relação conturbada de uma criança com o seu avô. Dirigido por Tim Hill, o longa reúne grandes nomes como Robert De Niro, Uma Thurman e Christopher Walken, mas oferece uma narrativa superficial e completamente inofensiva.

    Produção estadunidense original da The Weinstein Company Dimension Films, “Em Guerra Com o Vovô” (2021) foi inicialmente programado para estrear no dia 21 de abril de 2017. No entanto, devido às mudanças nos locais de gravação e ao cronograma apertado da produtora, o filme foi adiado por três anos e chegou até a ser cortado do calendário de lançamento. Agora, após ter os direitos de transmissão adquiridos pela 101 Studios, o longa de Tim Hill finalmente chega ao grande público.

    Em “Em Guerra Com o Vovô“, Peter (Oakes Fegley) é forçado a deixar o seu quarto e a se mudar para o sótão quando o seu avô Ed (Robert De Niro) passa a morar com a sua família. Insatisfeito pela mudança repentina e determinado a retomar o seu espaço, o jovem arma uma série de armadilhas para tentar afugentar o novo residente. No entanto, o velho é mais esperto do que aparenta e pretende revidar as pegadinhas com seus próprios esquemas e armações, dando início a uma verdadeira guerra dentro e fora de casa. A partir de então, decididos a vencer essa briga, os dois perdem o controle da situação e passam a prejudicar todos ao redor.

    Em Guerra Com o Vovô
    Em Guerra Com o Vovô/Diamond Films Brasil

    The War With Grandpa“, que não é capaz de apresentar nenhum material novo para o espectador, falha em sua premissa inicial de fazer comédia e acaba por fornecer uma narrativa genérica e desinteressante sobre um tema já muito explorado pela indústria cinematográfica. Recorrendo exageradamente ao humor físico entre os personagens e à piadas inexpressivas sobre idade e competição, o longa é uma grande e decepcionante sátira sobre a velhice e não tem capacidade de sair da zona de conforto para ir além da “fórmula” da Sessão da Tarde. Nesse sentido, ainda que conte com um elenco estrelado – com nomes como Robert De Niro, Uma Thurman, Christopher Walken, Rob Riggle, Jane Seymour e Cheech Marin -, a estreia da Diamond Films se limita a sequências constrangedoras e estereotipadas de uma luta forçada entre um avô e o seu neto.

    Além disso, enquanto investe em episódios próprios da comédia pastelão e na violência cartunesca de riso fácil, o longa de Tom Hill testa a paciência do espectador e caminha a passos largos para se tornar um dos piores do ano. Por conseguinte, à medida que desperdiça o seu potencial com uma narrativa medíocre, o filme esquece de estabelecer um cenário minimamente decente e decide explorar, em tom de deboche, o luto de um avô amoroso que ainda tem que aturar os tormentos de uma criança mimada. De forma simplificada, há um motivo bastante plausível para “Em Guerra Com o Vovô” ter ficado na prateleira por três longos anos e ter sido cortado do calendário de lançamentos da Dimension Films.

    Em Guerra Com o Vovô
    Em Guerra Com o Vovô/Diamond Films Brasil

    Finalmente, “Em Guerra Com o Vovô” é um entretenimento superficial que não desenvolve de maneira apropriada nenhuma das suas tantas premissas. Dolorosamente sem graça, o longa é um convite ao esquecimento e apresenta ideias tão completamente exageradas e fora de contexto que o transformam em um árduo teste de resistência para quem o assiste. Incapaz de oferecer uma narrativa minimamente interessante, a comédia familiar de Tom Hill é mal conduzida e se perde em suas próprias ambições, deixando de lado a capacidade do seu elenco e entregando um material apático e sem grandes novidades.

    Em Guerra Com o Vovô tem estreia prevista para o dia 20 de maio.

    Nota: 2/5

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    Veja também: Crítica | Bela Vingança

  • Crítica | Bela Vingança

    Crítica | Bela Vingança

    Produção estadunidense original da Focus Features, “Bela Vingança” é um thriller inteligente sobre a questão do machismo e do assédio sexual na sociedade. Dirigido por Emerald Fennell, o longa é uma análise profunda do impacto desses abusos na vida das mulheres e entrega uma sátira sombria que impressiona o espectador, à medida que “faz justiça” com as próprias mãos.

    Com previsão de estreia no Brasil para o dia 13 de maio de 2021, “Promising Young Woman“, no original, é um conto de comédia e suspense dirigido, escrito e co-produzido por Emerald Fennell. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original [e indicado em outras quatro categorias da premiação, incluindo Melhor Filme], o longa estrelado por Carey Mulligan (“As Sufragistas“) é um chamado por justiça que instiga um importante discurso sobre as pautas de gênero.

    Em “Bela Vingança“, Cassie (Carey Mulligan) era uma jovem bastante talentosa e promissora, até que um misterioso evento destrói abruptamente o seu futuro e as suas relações. Traumatizada, nada em sua vida é o que parece ser: ela é perversamente inteligente e vive uma rotina secreta à noite, quando frequenta bares e se finge de bêbada, a fim de atacar os predadores sexuais que tentam abusar dela. No entanto, um encontro inesperado lhe dá uma nova chance de recuperar a sua antiga vida, à medida que ela mergulha em uma trilha de pistas que podem lhe ajudar a corrigir os erros do seu passado.

    สรุปรายชื่อผู้เข้าชิงรางวัล Academy Awards ประจำปี 2021 - Major Cineplex  รอบฉายเมเจอร์ รอบหนัง จองตั๋ว หนังใหม่
    Bela Vingança/Universal Pictures Brasil

    Promising Young Woman“, que trilha a sua narrativa a partir de um primeiro encontro chocante entre Cassie e um abusador de bar, subverte as expectativas do grande público quanto aos famosos “thrillers de vingança”. No filme, o arco narrativo da personagem é uma crítica explícita ao machismo e ao assédio sexual na sociedade, e se apoia em uma atuação forte de Carey Mulligan [indicada ao Oscar de Melhor Atriz], que entrega uma performance sólida e humanizada de uma mulher cuja vida foi destruída pelas ações bárbaras de alguns homens. Nesse sentido, a partir do momento que induz uma conversa assertiva sobre o patriarcado, o longa torna-se extremamente eficiente e traz às telas uma visão visceral e poética do combate à cultura do estupro.

    Além disso, enquanto equilibra uma vasta teia de personagens, valores e ideologias, a produção de Emerald Fennell se destaca ao reunir elementos característicos das comédias românticas com as nuances perturbadoras do suspense, de modo a garantir uma história tão real que chega a ser aterrorizante. Por conseguinte, ao mesmo tempo em que oferece um espelho para a sociedade, “Bela Vingança” condena e ironiza o privilégio masculino, por meio de uma paleta de cores chamativa com tons pastéis e florais que tornam a obra ainda mais atraente e expressiva. Com isso, à medida que desenvolve um relato feroz sobre a violência contra a mulher, o filme oferece uma experiência catártica para o público feminino e reitera que as situações vividas em tela por Cassie são realmente próximas à realidade.

    Bela Vingança
    Bela Vingança/Universal Pictures Brasil

    Finalmente, “Promising Young Woman” abandona o seu disfarce inicial de “vingança fantasiosa” e cria uma narrativa inesperadamente profunda e necessária. Assumindo o protagonismo no discurso sobre as pautas de gênero, o filme alcança um clímax surpreendente e deixa os espectadores ávidos pela conclusão nada ortodoxa da sua trama. Capaz de iniciar um diálogo importante sobre o machismo e o abuso sexual na sociedade, a produção da estreante Emerald Fennell é sombriamente cômica e se torna, definitivamente, uma das melhores do ano.

    Bela Vingança tem estreia prevista para o dia 13 de maio.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Invincible

  • Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games

    Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games

    Quatro anos atrás, a Netflix abriu uma porta para a escuridão. Das sombras, renasceu um dos jogos mais aclamados da empresa Konami Castlevania. Deixando os consoles e migrando para o streaming, a série animada adaptou a trajetória dos “games” seguindo os passos do caçador de monstros, Trevor Belmont. Após três ciclos, a temporada final é uma recompensa para os fãs, transpondo o horror visual e a ação frenética presente no material de origem.

    É comum observar rostos franzidos e sobrancelhas arqueadas quando uma manchete no mundo do entretenimento anuncia uma adaptação audiovisual de “games”. Essa reação é uma resposta automática dos fãs, pois nos últimos anos eles tiveram que engolir, a contragosto, versões cinematográficas que não respeitavam a fonte primária. Nos cinemas, Resident Evil fez bilheteria, mas conquistou uma parcela ínfima de apreciadores dos jogos. Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos, longa baseado no clássico dos MMORPGs, também deslizou no abismo, despertando apenas a insatisfação dos “gamers”.

    Livros, jogos e HQs. Afinal, todas as adaptações precisam ser fiéis? Esse é um debate que está impregnado na essência da Cultura Pop, e até hoje não há uma resposta unânime. Assim como existem exemplos que desagradaram a audiência, o oposto também está por aí.

    Na prática, o que faz uma releitura ser um projeto bem sucedido é a qualidade narrativa, a assinatura criativa combinada entre roteirista e diretor e uma representação que respeite o personagem existente em outra mídia. Esse é o combo de acertos que Warren Ellis fez na conclusão de Castlevania.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Sobre a temporada final:

    ‎Valáquia entra em caos enquanto facções se confrontam: algumas tentando assumir o controle, outras tentando trazer Drácula de volta dos mortos. Ninguém é quem parece, e ninguém é confiável. Estes são os tempos finais. ‎

    A temporada final de uma série detém a responsabilidade de encerrar a jornada, de trancar todas as portas abertas e concretizar as promessas feitas no decorrer da história. Castlevania nasceu na Netflix de forma introspectiva, com apenas quatro episódios, e no andar da carruagem foi ganhando força e forma, apostando nas raízes que fizeram o jogo se popularizar. Agora, dez capítulos cumprem a tarefa de apresentar o “grand finale”.

    A cena de abertura ancora nossa atenção em Sypha e Trevor, ou seja, somos agraciados pela química fervorosa que existe entre eles. Contemplar a Maga e o Caçador de Monstros atuarem em conjunto é um vício; sempre queremos mais dessa dinâmica. Como um dueto destrutivo, ambos alcançaram o entrosamento perfeito. É divertido e assustador assistir os seres demoníacos suarem muito para enfrentá-los.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Warren soube equilibrar o “ouro” que tinha nas mãos: os protagonistas e os coadjuvantes. A dinâmica criada por ele, além de sagaz, transforma o arco dos personagens em um grande espetáculo lúgubre. O aproveitamento feito com os coadjuvantes é o ponto alto na temporada final. Isso já ocorreu nos ciclos anteriores, no entanto, aqui é maior o tempo de tela que eles têm. Alucard, Trevor e Sypha, três pilares cruciais no roteiro, dessa vez passam mais tempo nos bastidores, enquanto os personagens secundários brilham em narrativas paralelas que conquistam nossa atenção.

    Basta um minuto para que o público compre essa ideia, incentivados pelos monólogos bem arquitetados que desbravam o passado, a ambição e a tese trabalhada nos coadjuvantes. Esse cuidado especial vai na contramão de outras produções que tratam tais figuras apenas como suporte narrativo. Entretanto, em Castlevania, todos as peças usufruem o poder de movimentar a história para frente; aqui os peões também são reis, decidindo o destino nesse tabuleiro sangrento.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Trevor Belmont é aquele personagem carrancudo e boca suja que conquista nossa empatia logo de cara. Um especialista em combate com armas, ele eleva o nível de dificuldade para os inimigos toda vez que entra no campo de batalha. Seu arco de personagem é uma bomba relógio: nunca sabemos se ele vai explodir ou se as coisas ao redor dele vão. De fato, ele é um ímã para o caos.

    Ora herói, ora anti-herói, afinal o que pesa mais? Existe uma balança interna no Belmont, oscilando constantemente. Assumir um manto é a grande pergunta na última fase, e caberá aos episódios finais concederem uma resposta definitiva.

    Alucard é como uma fênix renascendo das cinzas. Depois de uma terceira temporada que o deixou de “escanteio”, ele recupera o fôlego, tomando as rédeas de um protagonista. Sob uma narrativa que o insere no centro de uma batalha, quase como um salvador divino, o filho do Drácula precisa lutar, física e mentalmente, contra seus inimigos e os fantasmas que sussurram em sua cabeça.

    O senso de justiça e a vontade de perseverar são os atributos que nutrem a força de Sypha. Canalizando esse dom graças ao diálogo, a personagem cresce episódio após episódio. Suas escolhas e questionamentos são fortes como um discurso. Aliás, todas às vezes que Sypha movimenta as mãos, conjurando elementos da natureza, a animação se transforma em uma explosão de cores e movimentos. A fluidez utilizada para animar os dons dela é um deleite visual. Água, gelo, fogo e sangue — essa é a fórmula que nunca perde o efeito de impressionar.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    A temporada final de Castlevania é uma experiência que une a imersão dos jogos com o poder narrativo de uma série. Diversas cenas simulam o enquadramento dos “games”, como se o público estivesse usando um “joystick invisível”, movendo os personagens nas cenas de batalha. A movimentação giratória e a perspectiva visual durante o confronto final é similar ao clima de títulos como God of War e Shadow of the Colossus.

    Para a Netflix, esse “game over” é o “start” para futuras adaptações de games. A princípio, pode soar prematuro o encerramento da série em seu 4º ano. Todavia, é preciso ter muito tato para colocar um ponto final em uma história. E o criador Warren Ellis escolheu o momento certo, transformando Castlevania em um épico gótico.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Invincible.

  • Crítica | Mundo em Caos

    Crítica | Mundo em Caos

    Mundo em Caos, filme estrelado por Tom Holland (Homem-Aranha: Longe de Casa) e Dasy Ridley (Star Wars: A ascensão Skywalker) não consegue estabelecer uma conexão com o público e nem mesmo aproveitar a força dos atores protagonistas para causar empatia com a produção.

    Sinopse: Em um futuro não muito distante, em um mundo onde as mulheres desapareceram e os homens foram afetados pelo “ruído” – uma força que deixa seus pensamentos audíveis – Todd Hewitt (Tom Holland) encontra Viola (Daisy Ridley), uma jovem misteriosa que aterrissou em seu planeta. Com Viola correndo perigo, Todd jura protegê-la e colocá-la fora de perigo. Para salvá-la, Todd terá que controlar seu “ruído”, descobrir sua própria força e desvendar todos os segredos sombrios que seu planeta e sua comunidade guardam.

    Crítica | Mundo em Caos
    Mundo em Caos | Lionsgate | Paris Filmes

    Você deve estar se perguntando se está valendo a pena ir ao cinema em plena pandemia para assistir aos seus filmes favoritos, porque apesar da crise, a indústria não para e seus filmes favoritos estão sendo exibidos ‘normalmente’. Mundo em Caos é um dos filmes que já estão em cartaz em todo o circuito nacional, mas será que realmente vale a pena assistir esse filme no cinema?

    SPOILERS A SEGUIR!

    O longa começa com uma premissa bastante interessantes, onde os humanos conseguiram colonizar um planta desconhecido, como citado no filme, e misteriosamente os pensamentos dos homens deixaram de ser algo secreto, são expostos e ouvidos por todos, o que denominaram como ruídos, e o assassinato de todas as mulheres da colônia. Esse começo já induz ao espectador uma série de dúvidas do porque tudo aquilo está acontecendo e a ansiedade por respostas é quase iminente.

    Ao desenrolar da trama descobrimos que o planeta é habitado por criaturas nativas do planeta e que esses são responsáveis por matar todas as mulheres da aldeia de colonos e a chegada de uma nova mulher vinda de uma estação espacial, para dar seguimento a segunda fase da colonização após dezenas de anos. Eis aqui mais uma trama para expandir a curiosidade do espectador e transportar ele para dentro da tela, mas em uma tentativa fracassada.

    Crítica | Mundo em Caos
    Mundo em Caos | Lionsgate | Paris Filmes

    O roteiro abre uma centena de parênteses que quando não são explicados de maneira rasa e incoerente, nem são explicados, como por exemplo os nativos do planeta que não não nada aproveitados, estão ali apenas pra justificar uma mentira e a real razão do assassinado das mulheres. Isso também traz uma série de dúvidas sobre o que exatamente essa trama quis abordar, entre feminicídio, machismo, racismo e empoderamento feminino. São tantas bandeiras levantadas de uma única vez, não sei se sem querer ou com a intenção, mas não há a menor convicção e nenhum peso para quem assiste. No final só o que resta é uma chacota de questões necessárias aplicadas de maneira errônea.

    Mundo em Caos tem um elenco invejável, com as principais estrelas da atualidade como Tom Holland (do Universo Cinematográfico da Marvel), Daisy Ridley (Protagonista da última franquia de Star Wars), Nick Jonas, que vem cada vez mais tomando espaço em Hollywood participando de produções aclamadas como a nova franquia Jumanji, além de Mads Mikkelsen, que traz uma atuação avassaladora como protagonista de Druk: Mais Uma Rodada, atual vencedor de Melhor Filme Internacional do Oscar e Cynthia Erivo, vencedora de prêmios como Emmy , o Tony e indicada até ao Oscar e ao BAFTA. Mas eis aqui um desperdício de talentos causado pelo mau desenvolvimento do roteiro. É quase palpável o desconforto dos atores ao decorrer dos longuíssimas 1 hora e 50 minutos. e por incrível que pareça, quem brilha nesse longa estrelado é um cachorro!

    É inegável que o filme comece bem, interessante e com uma proposta que claramente é boa e original, mas nada convence, nada faz sentido, é exaustivo e apático de uma maneira que não há como mensurar. A fantasia, a aventura e a ação do filme são chatas e desinteressantes, sem contar da parte científica que é esquecida em uma trama de ficção sobre colonização de outros planetas. Os protagonistas não encantam e não chamam atenção positiva. A direção de Doug Liman é esforçada mas também não salva absolutamente nada.

    Por fim, Mundo em Caos é um daqueles filmes sem alma, confusos, desinteressantes e que parecem durar uma eternidade e te deixa cansado ao fim da sessão. Com certeza é alvo de comentários como “Era melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Uma pena, de fato, porque potencial não faltou, atores do momento, trama original e interessante trabalhados de forma superficial e sem vontade.

    Nota: 1/5

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  • Crítica | Falcão e o Soldado Invernal

    Crítica | Falcão e o Soldado Invernal

    Segunda produção da Marvel Studios para o streaming do Disney+, “Falcão e o Soldado Invernal” apresenta uma narrativa política sobre os ídolos e a memória de uma Nação. Dirigido por Kari Skogland, a minissérie é um exame profundo do racismo institucional e carrega consigo a carga dramática necessária para se destacar.

    Falcão e o Soldado Invernal“, segunda série do projeto da Marvel Studios para o streaming do Disney+, traz às telas uma narrativa estimulante sobre o legado do Capitão América. Desenvolvida por Malcolm Spellman, a minissérie de 6 episódios tece comentários sociais maduros e aproxima o espectador da discussão sobre intolerância, simbolismo e diversidade. Dessa forma, à medida que assume um compromisso com esses temas, a produção do estúdio norte-americano define o seu tom e adota um diálogo consistente que conquista o público.

    Na série, após receber o manto de Capitão América das mãos do próprio Steve Rogers (Chris Evans), em Avengers Endgame (2019), Sam Wilson, o Falcão (Anthony Mackie), reluta em empunhar o escudo e o entrega às autoridades. Sob forte pressão governamental, o herói se alia a Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan), e embarca em uma perigosa missão que os coloca em contato com os Apátridas – uma célula terrorista que defende que o mundo era melhor durante o “Blip”, quando metade da população foi exterminada por Thanos. Assim, enquanto lutam contra os insurgentes, Sam e Bucky devem resolver as suas diferenças e encontrar um meio de evitar o colapso da geopolítica mundial, mesmo que isso signifique se aproximar de antigos inimigos.

    Falcão e o Soldado Invernal
    Falcão e o Soldado Invernal/Disney +

    Falcão e o Soldado Invernal“, que começa a ladrilhar o futuro de alguns personagens no Universo Cinematográfico Marvel, desenvolve a sua narrativa a partir da recusa de Sam Wilson em assumir o manto de Capitão América. Certo de que o simbólico escudo deveria ser aposentado, o herói o entrega ao governo norte-americano e decide continuar a sua luta contra o crime como o “Falcão”. No entanto, contrariando as expectativas, as autoridades decidem eleger um novo super-soldado para o lugar de Steve Rogers e, então, John Walker (Wyatt Russel), um veterano de guerra, se apresenta ao mundo e assume a missão de dar continuidade ao legado do Primeiro Vingador.

    Nesse sentido, impulsionado por uma atuação impecável de Wyatt Russel, que provoca o ódio do espectador, o novo Capitão América tenta unir forças com Sam e Bucky, a fim de traçar um plano de ação para neutralizar a ameaça dos Apátridas. Porém, à medida que as suas diferenças se manifestam, os dois se recusam a trabalhar com ele. A partir de então, John Walker assume um comportamento controverso e provoca questionamentos à sua integridade, ao passo que coloca em risco a segurança de todos ao seu redor. Por conseguinte, desacreditado, ele se torna uma ameaça real para o Falcão e o Soldado Invernal, dando origem a uma batalha pela memória de Steve Rogers e pelo destino do escudo.

    Enquanto isso, Sam e Bucky procuram maneiras pacíficas de lidar com o movimento insurgente, liderado por Karli Morgenthau (Erin Kellyman), e com os mistérios do Mercador do Poder, uma figura anônima que controla diversos recursos e operações ilegais no Oriente. Para tal, a dupla conta com a ajuda de Sharon Carter (Emily VanCamp) e do excelente Barão Zemo (Daniel Brühl), que acrescentam subtramas interessantes, ainda que pouco profundas, à narrativa de Malcolm Spellman. Logo, o desenvolvimento de “Falcão e o Soldado Invernal” alcança um clímax político complexo que apresenta com excelência temáticas como a crise demográfica e a migração compulsória.

    Zemo (Daniel Brühl) in Marvel Studios' THE FALCON AND THE WINTER SOLDIER exclusively on Disney+. Photo by Chuck Zlotnick. ©Marvel Studios 2021. All Rights Reserved.
    Falcão e o Soldado Invernal/Disney +

    Finalmente, “Falcão e o Soldado Invernal” se debruça sobre uma história madura de perdas e reparações. Servindo como uma passagem de manto do Capitão América no Universo Cinematográfico da Marvel, a minissérie de seis episódios analisa a questão do racismo institucional e denuncia a narrativa dos super-heróis pretos propositalmente “apagados” da História. Produzido exclusivamente para o streaming do Disney+, assim como “WandaVision“, a série é um dos experimentos mais ousados ​​e desafiadores da Marvel. Dessa forma, embora não seja impecável, a nova produção do estúdio oferece um espetáculo grandioso e altamente envolvente que, definitivamente, causa impacto.

    Falcão e o Soldado Invernal já está disponível no Disney+.

    Nota: 4/5

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    Veja também: Crítica | WandaVision

  • Crítica | Invincible

    Crítica | Invincible

    Produção original da Amazon Prime Video, “Invincible” apresenta uma narrativa extraordinária sobre o universo sombrio dos super-heróis. Baseada na série de quadrinhos homônima de Robert Kirkman, a adaptação investe em excelentes sequências de violência gráfica e se destaca graças à profundidade de seus personagens e à força de sua história.

    Recentemente renovada até a terceira temporada, “Invincible” estreou no streaming da Amazon Prime Video no dia 25 de março, com a premissa de subverter o gênero dos super-heróis e parodiar personagens já estabelecidos entre o grande público, como o Batman, a Mulher Maravilha e o Superman. Adaptada diretamente das HQs da Image Comics, a série de oito episódios surpreende o público e mergulha em uma narrativa sangrenta sobre a dualidade dos heróis e o preço dos seus poderes.

    Em “Invincible” (2021), Mark Grayson (Steven Yeun) é um garoto de 17 anos igual a qualquer outro de sua idade – exceto que seu pai é o super-herói mais poderoso do planeta, o Omni-Man (JK Simmons). Frustrado por ainda não ter nenhum poder, Mark vive à sombra da família e enfrenta dificuldades para se destacar. No entanto, à medida que se aproxima da maioridade, ele desenvolve as próprias habilidades especiais e mergulha em um mundo fantástico de heróis e super vilões. Dessa forma, treinado para combater o crime, Mark se depara com uma rede de conspirações e descobre que o legado de seu pai pode não ser tão heroico quanto aparenta.

    Invincible
    Invincible/Amazon Prime Video

    Invincible“, a partir de então, embarca em uma jornada investigativa sobre a duplicidade dos heróis e a corrupção dos seus valores morais, de modo a impulsionar a narrativa em direção ao plot mais importante da série: a chacina dos membros dos Guardiões do Globo, equipe mais poderosa da Terra, pelas mãos do próprio Omni-Man. Nesse sentido, enquanto estabelece seu universo sangrento, a obra de Robert Kirkman se delicia com o prazer que os heróis sentem ao exercer os seus poderes e revela uma abordagem satírica do gênero, guiando o espectador através de sequências brutais e perturbadoras que dificilmente serão esquecidas.

    Por conseguinte, em comunhão com a notável violência gráfica, a produção da Amazon Prime Video estabelece uma gama de personagens humanizados e uma história profunda de dor e perda que, por sua vez, contam com um elenco de voz de excelência (Steven Yeun, J.K.Simmons, Sandra Oh, Seth Rogen, Mark Hamill, Jason Mantzoukas, Zachary Quinto, Mae Whitman) que potencializam a dramaticidade e a força da narrativa. Ao mesmo tempo, à medida que mantém essa seriedade virtuosa, “Invincible” desenvolve um grande – e perturbador – senso de humor e se torna uma experiência obrigatória para o grande público, que descobre uma série equilibrada, audaciosa e emocionante.

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    Invincible/Amazon Prime Video

    Finalmente, “Invincible” é uma adição bem-vinda ao mercado supersaturado de super-heróis e surge a partir de um conteúdo extremo que convida o espectador a fazer parte da loucura sádica de alguns personagens. Comparado ao sucesso de “The Boys” (2019-atualmente), a série entrega um material recheado de reviravoltas e não se preocupa em transformar os seus atos em batalhas sanguinárias que explodem membros e órgãos para todos os lados. Dessa forma, ainda que clichê, a nova produção do Prime Video revela motivos de sobra para se destacar no mercado e promete sequências arrebatadoras cheias do encanto agressivo que fizeram da primeira temporada um sucesso.

    Invincible já está disponível na Amazon Prime Video.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | WandaVision

  • Crítica | WandaVision

    Crítica | WandaVision

    Produção norte-americana desenvolvida por Jac Schaeffer para o Disney+, “WandaVision” é o primeiro retrato da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel, após os eventos de ‘Avengers: Endgame’. Inovadora, a minissérie de nove episódios explora um formato singular e apresenta uma narrativa radical sobre o luto e realidades alternativas.

    Primeira produção da Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel, “WandaVision” faz parte de um planejamento do estúdio para a construção do futuro de alguns personagens. Integrando uma seleção de novas séries (que incluem “O Falcão e o Soldado Invernal“, “Loki“, “Gavião Arqueiro“, e outras), o arco da Feiticeira Escarlate com o seu falecido interesse amoroso, o Visão, abre portas para uma narrativa inesgotável que será explorada nos próximos filmes da Marvel Studios, como “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura“, em 2022.

    Em “WandaVision“, três semanas após os eventos de Avengers: Endgame (2019), Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) se esforçam para levar uma vida suburbana relativamente normal na cidade de Westview, no estado de New Jersey. Esforçando-se para esconder os seus poderes, o casal começa a suspeitar que a perfeição de suas vidas não pode estar tão certa assim. Na verdade, eles se encontram presos dentro de uma gigantesca sitcom criada pela própria Wanda e, conforme o tempo passa, essa realidade alternativa começa a apresentar diversos problemas e ameaçar a segurança dos cidadãos da cidade fictícia.

    WandaVision
    WandaVision/Disney+

    Produzida exclusivamente para o streaming do Disney+, “WandaVision” mergulha fundo na dimensão dos poderes da Feiticeira Escarlate. Ao contrário de “Vingadores: Era de Ultron“, sua primeira aparição nos cinemas, que reduziu a personagem à manipulação mental e outros poderes ‘vermelhos’ genéricos, aqui ela foi completamente redefinida e aprofundada. Desde o luto pela morte do Visão [pelas mãos do Titã Louco, o Thanos] até as suas motivações para a manipulação da realidade, Wanda Maximoff entra em um desenvolvimento crescente que culmina em uma explosão de dor e poder que aprisiona toda uma cidade dentro de uma realidade televisiva dos anos 50, 60 e 70.

    Neste cenário, assombrada pelos seus sentimentos, a Feiticeira “recria” o Visão e embarca em uma jornada pessoal de negação, abandonando a vida real e fugindo para uma sitcom de TV, onde tudo é perfeito e exatamente como ela deseja. No entanto, enquanto isso, os verdadeiros cidadãos de Westview são mentalmente manipulados pelos seus poderes e forçados a desempenhar papéis que contribuem para a manutenção e para o desenvolvimento da história roteirizada por Wanda, na qual ela e o Visão ainda são um casal e viverão felizes para sempre.

    Em contrapartida, apesar da serenidade inicial de sua criação, a quantidade absurda de Magia do Caos utilizada pela Feiticeira para a manipulação da realidade [e o consequente “sumiço” de uma cidade] chamam a atenção da SWORD, uma agência de inteligência ultrassecreta. Dessa forma, uma missão governamental com o objetivo de pôr fim aos caprichos revoltos de Wanda e salvar os reféns tem início – e traz de volta à tela alguns personagens já conhecidos pelo público, como Darcy (Kat Dennings), de “Thor”, e Jimmy Woo (Randall Park), de “Homem Formiga”. Contudo, à medida que o apego de Maximoff àquela realidade aumenta, seus poderes se fortalecem e exterminam qualquer tentativa mortal de impedi-la. A partir de então, diversas possibilidades narrativas sobre a extensão das suas habilidades são criadas, abrindo brechas para o futuro da personagem nas próximas produções da Marvel Studios.

    Elizabeth Olsen as Wanda Maximoff and Paul Bettany as Vision in Marvel Studios' WANDAVISION exclusively on Disney+. Photo courtesy of Marvel Studios. ©Marvel Studios 2021. All Rights Reserved.
    WandaVision/Disney+

    Finalmente, a partir do momento que decide se distanciar da “fórmula Marvel” e explorar um formato diferente de tudo que o estúdio já produziu antes, “WandaVision” cria uma abordagem genuinamente única para o UCM e para a TV em geral, assumindo um protagonismo na reformulação da forma que histórias de heróis podem ser contadas e possibilitando uma gama maior de produções do gênero. Por conseguinte, além de sua entrega ao formato, a série torna-se um sucesso ao abordar temas fortes relacionados à tristeza, amor e família, o que humaniza os personagens e aproxima o público da história de luto e desespero [inicialmente disfarçada de uma sitcom ] ofertada pela Marvel Studios.

    WandaVision, que revoluciona o mundo das minisséries VOD (Video on Demand), é imperdível, do início ao fim, e já está disponível no Disney+.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | O Último Jogo

  • Crítica | Godzilla vs. Kong

    Crítica | Godzilla vs. Kong

    A Warner segue firme e forte lançando seus filmes no mercado internacional, quase sem concorrência, e a sua estratégia de lançar as suas principais produções simultaneamente nos cinemas dos EUA e no HBO MAX, superando todas as expectativas e se consolidando entre as principais arrecadações durante a pandemia, batendo recordes atrás de recordes.

    O que torna um filme bom atualmente? Um roteiro super elaborado, fotografia esplêndida, uma trilha sonora inesquecível, atuações impecáveis ou apenas o puro e simples entretenimento? A cada filme do universo compartilhado de monstros da Legendary Pictures que é lançado, além de muitos outros de “gosto popular,” esses questionamentos reaparecem e para entendermos como isso está ligado a franquia, e até chegarmos a Godzilla vs. Kong, precisamos recapitular.

    Quando lançado em 2014, “Godzilla” foi a porta de entrada para um universo compartilhado. A produção se tornou um enorme sucesso por sua trama mais parecida com um filme de catástrofe, e voltada para o ponto de vista humano sobre os ataques do grande monstro, o que acarretou em apenas 15 minutos de tela do monstro protagonista e dono do título do longa, gerando uma onda de críticas por conta disso e das cenas escuras que envolviam o mesmo. Mas apesar das reclamações, o público comprou a ideia e pediu por mais, e cerca de três anos depois tivemos o segundo filme do intitulado “Monsterverse”.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla (2014) / Warner Bros. Pictures

    Em 2017, assim como o grande lagarto gigante e radioativo, Kong (o rei dos primatas, como conhecido por muitos) teve um filme para chamar de seu. Em um filme de época, situado nos anos 70, o filme aborda a viagem exploratória de uma organização para buscar informações sobre os temíveis Kaijus na Ilha da Caveira, lar do protagonista, assim como sua ascensão. “Kong: A Ilha da Caveira” garantiu a expansão do universos de monstros co-produzido pela Legendary Pictures e a Warner Bros. Depositando pequenas referências, ligando as tramas dos filmes e deixando mais para o futuro. E aqui mais um sucesso, garantindo mais um filme para expandir ainda mais a história das gigantescas criaturas e garantindo o confronto que todos esperávamos: Godzilla vs. Kong!

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Kong: A Ilha da Caveira (2017) / Warner Bros. Pictures

    Muito diferente do primeiro filme, “Godzilla 2: Rei dos Monstros” decidiu deixar o núcleo humano em segundo plano e focar nos grandes monstros aterrorizantes. Aqui descobrimos que os Kaijus estão reascendendo e gerando destruição por onde passam, e podemos ver tudo isso mais ao ponto de vista dos próprios monstros e de todo o caos causado por eles. Tal decisão deixou o público dividido entre os que gostaram de uma trama voltada única e exclusivamente para pancadaria de monstros gigantes e os que preferiam ver uma trama mais elaborada, focando no ponto de vista humano. Porém, o publico pediu mais e devido ao apelo tivemos a confirmação de “Godzilla vs. Kong“.

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    Godzilla II: Rei dos Monstros (2019) / Warner Bros. Pictures

    “Godzilla vs. Kong” foi um dos muitos filmes que sofreu com as consequências da pandemia e teve diversos adiamentos, até finalmente ser lançado nos cinemas dos EUA e nos HBO MAX em 31 de março e no Brasil apenas em 29 de abril. Mas será que toda a espera valeu a pena?

    Sinopse: Lendas entram em rota de colisão em Godzilla vs. Kong, quando esses dois adversários míticos se encontram em uma batalha espetacular e histórica, que coloca o destino do mundo em jogo. Kong e seus protetores iniciam uma jornada perigosa para encontrar seu verdadeiro lar. Com eles está Jia, jovem órfã com quem Kong criou um vínculo único e sólido. Mas, inesperadamente, eles cruzam o caminho de um Godzilla enfurecido, que tem deixado atrás de si uma trilha de destruição em todo o planeta. O confronto épico entre os dois titãs – instigado por forças invisíveis – é apenas a porta de entrada do grande mistério que reside nas profundezas do núcleo da Terra.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla vs. Kong / Warner Bros. Pictures
    Alerta de spoiler!

    “Godzilla vs. Kong” é um daqueles filmes que deixam um gosto agridoce depois da sessão. Pode-se dizer que o filme é um dos mais fracos de todo o monsterverse até o momento, o que é uma pena, pois esse, com certeza, foi um dos filmes mais ‘hypado’ da franquia. Os problemas começam pela divulgação do longa, que sofreu com os adiamentos inevitáveis devido o atual saúde de saúde e sanitária, e que foram a causa do atraso do marketing. Muita coisa foi entregue desnecessariamente em diversos materiais de vídeo, como por exemplo a presença do Mechagodzilla e o excesso de novas informações dadas pelo diretor da produção.

    Partindo para o filme em si, o roteiro prejudica demais e essa é a pior coisa a pontuar. É perceptível que a trama central do filme são os embates entre Goodzilla e Kong e que tudo além disso está ali unicamente para preencher o longa, não é atoa que esse é o filme mais curto do Monsterverse, e garanto que poderia ser mais. O núcleo humano é péssimo, mal desenvolvido e arrasta a história em um grau absurdo, causando desconforto e a sensação de pressa para que alguma cena de ação comece.

    Os novos personagens são mal inseridos e os antigos reduzidos a absolutamente nada, o personagem de Kyle Chandler se tornou uma mera participação e a de Millie Bobby Brown um verdadeiro pé no saco. O alívio cômico foi deixado para o personagem de Brian Tyree Henry, que traz um personagem mais caricato que o necessário e com atitudes que não casam com os momentos. Um exemplo, é uma cena onde ele invade um galpão de instalação secreta e solta um grito para fazer eco – Não faz nenhum sentido. A única personagem que causa uma boa sensação em tela é a de Kaylee Hottle, que é uma fofura e com uma atuação perfeita.

    Seguindo ainda pelas péssimas decisões do roteiro, está a parte científica da história que tenta elaborar demais e nem mesmo se explica. As informações sobre a Terra Oca, assim como a capacidade de um humano viajar para lá, mesmo depois de diversas falhas que acabaram em fatalidades, são jogadas para o lúdico, com interpretações que devem ser feitas pelo próprio espectador, e que muito provavelmente não se trata nem de interpretar, mas apenas aceitar o que viu e bola pra frente. A criação do Mechagodzilla é uma desculpa esfarrapada para um final clichê, que todos já sabiam. Uma das coisas mais irritantes para o espectador é não saber exatamente como o Kong foi capturado vivo e como ainda conseguem mantê-lo sob custódia, além de sua descendência que foi abordada, mas também não foi explicada. O final deixa claro, que muito disso poderá ser abordado em um próximo filme (se realmente tiver um).

    Os pontos positivos estão certamente no que o filme é e foi prometido, nas lutas entre os titãs. Com embates épicos e bem produzidos, a cada luta é uma apreensão para saber quem sairá vitorioso. É tudo muito grandioso, estrondoso e violento. Uma das maiores surpresas é realmente ver que de fato temos um vitorioso explícito, sem necessário interpretações. A cena de Hong Kong é espetacular, o uso das cores neon abrilhantam literalmente as cenas. A trilha sonora deixa tudo ainda mais dinâmico e eleva consideravelmente a dinâmica de tudo que está acontecendo na tela.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla vs. Kong / Warner Bros. Pictures

    Esse filme responde muito bem a pergunta sobre o que é necessário para se considerar um filme bom, e a resposta é muito simples: cumprir o que foi prometido, no mínimo atingir as expectativas, e sem a necessidade de elaborar um roteiro mais ou menos do que é necessário, que além de prejudicar a produção, acaba tirando a identidade do que ele realmente é. No caso desse filme especificamente, ele tentou ser mais do que podia e deveria ser. É nítido que Godzilla vs. Kong” foi feito feito para ser assistido numa tela de cinema, e pra ser mais exato, em uma sala IMAX, porém no final você se questiona se ele realmente vale o ingresso.

    Com tramas indigestas e que beiram a chatice e a cafonice, as decisões mal tomadas do roteiro pesaram demais sobre tudo de bom que o longa tem, e que são poucas. Ao menos temos a promessa cumprida de um embate épico e poderoso, com a destemida decisão de apresentar um vencedor de forma coerente. No fim tudo que sobra são questionamentos e o desejo que o próximo filme do “Monsterverse” seja tão bom quanto os três primeiros e que se redima por esse.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Vozes e Vultos

    Crítica | Vozes e Vultos

    Em novo suspense produzido pela Netflix “Vozes e Vultos”, Amanda Seyfried e James Norton enfrentam possessões, aparições e uma crise gigantesca no casamento.

    Sabe aqueles filmes de terror onde a família compra uma casa assombrada e dali pra frente a vida deles nunca mais foram as mesmas ? Pois é, o clichê mais conhecido dos filmes assustadores está bem presente em Vozes e Vultos, nova produção da Netflix.

    Vozes e Vultos conta a historia do casal Catherine Clare (Amanda Seyfried) e George (James Norton), que se mudam para a cidade onde George irá lecionar. A casa no interior é grande e antiga, além de ser cercada de mistérios que envolve a vida de seus primeiros donos.

    Após a mudança, Catherine começa a perceber que coisas estranhas vem acontecendo, o que não a assusta tanto já que ela tem uma ligação é uma crença forte que beira ao espiritismo. O que mais assusta a artista é que seu marido George vem agindo de maneira completamente diferente é extremamente agressivo, como se estivesse possuído por algo ruim. Clichê? Sim!

    Vozes e Vultos
    Vozes e Vultos | Netflix

    A história de uma família que vê fantasmas na casa nova já é coisa antiga, mas mesmo assim parece que a fórmula agrada tanto os roteiristas, diretores e produtores, que é visível em praticamente 60% dos filmes de terror.

    O que difere Vozes e Vultos dos outros filmes com certeza é a atuação da Amanda e do James, que mais uma vez foi impecável e deram um show. Além da história colocar a protagonista como uma pessoa sensitiva, ganhando pontos por não mostrar uma mulher fraca e medrosa, e sim alguém curiosa que vai atrás de descobrir o real da história.

    Apesar das aparições constantes e do susto leve que levamos no decorrer do filme, o drama e o péssimo convívio do casal acaba chamando toda a atenção, fazendo com que certos detalhes sejam deixados de lado.

    Vozes e Vultos
    Vozes e Vultos | Netflix

    O longa é baseado no livro de Elizabeth Brundage, e foi dirigido por Shari Springer Berman e Robert Pulcini que, apesar de já terem trabalhado em grandes obras, não conseguiram fazer o mesmo feito e trazer a mesma qualidade com Vozes e Vultos.

    A Netflix vem investindo bastante em produções originais nos últimos anos, a minha torcida é que isso não vire um problema que acarretará na diminuição da qualidade de cada lançamento. Óbvio que o longa não é de todo ruim, tem seus momentos de tensão e dão leves sustos, mas também não são filmes memoráveis.

    Por fim, Vozes e Vultos não ganha o prêmio de obra prima, mas passa bem longe de ser um filme sem graça. A história é interessante, mesmo se perdendo no drama do casal ele não perde a sua essência do suspense.

    Vozes e Vultos já está disponível na Netflix.

    Nota: 2/5

    Veja o trailer: