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  • Crítica | Lucicreide vai pra Marte

    Crítica | Lucicreide vai pra Marte

    Produção brasileira original da Globo Filmes, “Lucicreide vai pra Marte” apresenta o retorno de Fabiana Karla à personagem de sucesso do programa Zorra Total. Dirigido por Rodrigo Cesar, o longa-metragem apresenta uma temática promissora, mas peca no desenvolvimento da sua narrativa e entrega um produto superficial e pouco agradável.

    Personagem criada originalmente pela atriz Fabiana Karla, em 1989, Lucicreide se tornou um sucesso da televisão ao representar a realidade de uma pernambucana mãe de cinco filhos que alia o caos de sua vida particular com a leveza e a graça de sua personalidade. Retrato da simplicidade do povo brasileiro, a esquete humorística sofreu uma revitalização oportuna e, agora, é adaptada para as telas de cinema.

    Em “Lucicreide vai pra Marte“, a empregada doméstica Lucicreide (Fabiana Karla) está à beira de um colapso: seu marido a abandonou, seus filhos estão fora de controle e sua sogra se instalou em sua casa após ter sido despejada. Saturada das responsabilidades da vida cotidiana, ela promete deixar tudo para trás e permite que o filho de seus patrões a inscreva em um programa de candidatos para uma excursão só de ida à Marte. No entanto, sem entender direito a dimensão de uma viagem ao espaço, a personagem é submetida a uma série de testes – na sede da NASA, nos Estados Unidos – e se aproxima cada vez mais de deixar o planeta Terra para sempre.

    Lucicreide Vai Pra Marte
    Lucicreide Vai Pra Marte / Globo Filmes

    Lucicreide vai pra Marte” é, sobretudo, uma alegoria medíocre sobre a inocência de uma mãe de família que é inserida em uma realidade “fantasiosa” de viagem espacial. Aliando performances teatrais rasas e extremamente forçadas (caso da personagem de Fabiana Karla) com momentos constrangedores de um humor inadequado, a produção de Rodrigo Cesar é decepcionante e pouco funciona. Nesse sentido, a comédia – que procura, desde o início, desenvolver um arco narrativo minimamente eficiente – se torna um grande e terrível deboche. Perdido em suas próprias escolhas, o filme acumula erros e discrepâncias marcantes que, finalmente, afugentam o espectador.

    Por outro lado, enquanto tenta emplacar um conto ficcional sobre um programa da NASA, o filme conquista o seu primeiro ponto positivo: parte das filmagens foram rodadas, de fato, na instalação da agência espacial americana. Resumidamente, é a primeira produção desde “Armaggedon ” (1998) a ser filmada no local. Além disso, dentre os efeitos especiais utilizados na produção do longa, o filme conta com sequências executadas dentro de um avião que simula gravidade zero. A aeronave – dedicada ao treinamento de astronautas – partiu de Las Vegas e realizou acrobacias sobre o deserto de Nevada (EUA), criando sequências inéditas no cinema brasileiro. Portanto, ainda que se esforce para produzir um conteúdo – majoritariamente – ruim, a produção é louvável em seu pioneirismo no cenário audiovisual nacional.

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    Lucicreide Vai Pra Marte / Globo Filmes

    Lucicreide vai pra Marte“, por fim, é uma crescente frustação em formato de filme. Incapaz de proporcionar sequências minimamente cativantes, o longa é uma interminável experiência de desespero e agonia que prioriza situações irrisórias de riso imediato – e de curto efeito -, ao invés de uma trama coesa e razoável. Dessa forma, recheada de erros fundamentais de percurso e de protagonismos essencialmente desagradáveis, a produção nacional se transforma em um genérico desinteressante. Por conseguinte, ainda que ofereça referências bem-vindas às franquias de Star Wars e Alien, o lançamento da Globo Filmes não é capaz de desempenhar o mínimo e se perde no abismo do esquecimento.

    Lucicreide vai pra Marte estreia dia 04 de março nos cinemas.

    Nota: 1,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Judas e o Messias Negro

  • Crítica | Pânico na Floresta (2021)

    Crítica | Pânico na Floresta (2021)

    Produção americana original da The H Collective, “Pânico na Floresta” retorna às telas de cinema em um reboot macabro que conjura elementos sangrentos do subgênero “slasher“. Dirigido por Mike P. Nelson, o sétimo filme da franquia revitaliza a narrativa original de Alan B. McElroy, enquanto oferece uma caçada mortal capaz de aterrorizar e envolver o espectador.

    Dezoito anos após Alan B. McElroy apresentar ao mundo a história cruel da chacina canibal de “Wrong Turn” (2003), no original, o escritor retorna à liderança do projeto que o consagrou com uma trama inédita e ousada sobre o poder do medo e da fúria de um povo. Reinventando a mitologia macabra que definiu o âmago da saga, o longa mergulha na impiedade da floresta e investe em uma odisseia bizarra de maldade e morte.

    Em “Pânico na Floresta” (2021), seis amigos – Jennifer (Charlotte Vega), Darius (Adain Bradley), Milla (Emma Dumont), Adam (Dylan Mctee), Luis (Adrian Favela) e Gary (Vardaan Arora) – partem em uma viagem para caminhar pela Trilha dos Apalaches, no estado de Virgínia. Apesar dos avisos para se manterem na trilha, os caminhantes se desviam do curso e cruzam para terras habitadas pela Fundação, uma comunidade oculta de habitantes das montanhas que, extremamente hostis a forasteiros, recorrem a meios mortais para proteger seu modo de vida. Finalmente cercados, o grupo deve lutar por sobrevivência e buscar uma saída do matadouro selvagem.

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    Pânico na Floresta / Saban Films

    Pânico na Floresta” – que, desde o início, procura se livrar das amarras obsoletas de seus antecessores – opta pelo desenvolvimento de uma sequência fundamentalmente moderna de terror, em prol da construção de uma narrativa mais atraente e prática para o grande público. Dispensando o clássico dos fazendeiros canibais, o longa não se aproveita de grande parte do material original e caminha na direção de uma obra mais autônoma, conquistando o fôlego necessário para o reinício da franquia. Dessa forma, a partir do momento que prioriza uma abordagem mais ambiciosa e esboça um conto inteligente, o longa de Mike P. Nelson torna-se suficientemente marcante.

    Logo, a produção lança mão das tradicionais armadilhas mortais para mergulhar o espectador em uma realidade grotesca e singular que reflete a dicotomia entre o passado e o presente – por meio de um duelo mortal entre o povo secular da montanha e os visitantes da cidade – e que se aproveita do banho de sangue do elenco para promover uma fascinante ode à insanidade. No entanto, apesar de edificar uma narrativa consistente e criativa, o longa da “The H Collective” falha em algumas das suas propostas e, por vezes, beira o genérico. Nesse sentido, é possível perceber personagens rasos e sequências irrelevantes que destoam do tom previamente apresentado.

    Pânico na Floresta
    Pânico na Floresta / Saban Films

    Pânico na Floresta” (2021), finalmente, oferece uma revitalização oportuna à franquia de terror de Mike P. Nelson – que, capaz de revelar mecanismos narrativos surpreendentes e cenas teatrais de retaliação, se distancia dos originais e se define como uma versão moderna e eficiente do subgênero “slasher“. Consequentemente, cumprindo com as expectativas da saga e representando uma alegoria inteligente sobre a atual “divisão” dos povos, o filme entrega um thriller eficaz e, ainda que previsível, oferece emoções devastadoras.

    Pânico na Floresta será lançado em Video on Demand no dia 26 de fevereiro.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Pai em Dobro

  • Crítica | Judas e o Messias Negro

    Crítica | Judas e o Messias Negro

    Baseado em eventos reais, “Judas e o Messias Negro” é uma dramatização histórica eletrizante sobre o Partido dos Panteras Negras e o líder revolucionário Fred Hampton. Dirigido por Shaka King (Newlyweeds), o longa é uma condenação expressiva da injustiça racial no território norte-americano e traz a público uma narrativa poderosa de esperança e traição.

    Judas e o Messias Negro” (2021) conta a história de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), o presidente do Partido dos Panteras Negras do Estado de Illinois que foi perseguido e assassinado pelas forças do FBI durante a sua incansável luta por igualdade de direitos. Na produção da Warner Bros, o ativista de 21 anos torna-se alvo de uma extensa operação policial com o objetivo de frear a sua crescente influência no cenário político. Para isso, o agente especial Roy Mitchell (Jesse Plemons) infiltra o delator William O’Neal (LaKeith Stanfield) no movimento dos Panteras, a fim de colher informações úteis para as autoridades e manipular o líder da organização.

    No auge dos anos 60, o relato melancólico de Shaka King e Will Berson é capaz de colocar um holofote fundamental sobre a luta da comunidade negra e sobre as questões de racismo e identidade na sociedade. Impulsionado pela metodologia eficiente do diretor, o longa torna-se uma declaração social instrutiva que mantém aceso o olhar crítico do espectador e, a partir do momento que investe em uma realidade urgente de morte e segregação, entrega um material relevante que inspira e enfurece.

    Judas e o Messias Negro
    Judas e o Messias Negro / Warner Bros. Pictures

    Judas and the Black Messiah“, que constrói uma proposta ousada sobre um dos maiores líderes do movimento negro, apoia-se na escolha de seus protagonistas para montar uma visão contextual dos Panteras que esclareça ao público a política ideologicamente complexa por trás da narrativa. Apresentando a oposição entre o partido de Fred e os supremacistas brancos como argumento, a história mergulha em um drama poderoso e bem-executado recheado de reviravoltas, alianças e hipocrisias. Nesse sentido, Daniel Kaluuya – o Messias Negro – e LaKeith Stanfield – o Judas – performam um dueto expressivo no desenvolvimento performático do mártir em ascensão e do traidor condescendente, respectivamente.

    Logo, as peças do tabuleiro de Shaka King são distribuídas em perfeita comunhão pelo cenário fílmico e abrilhantam o relato histórico da resistência dos Panteras Negras, de modo a criar uma dinâmica fervorosa que impressiona o grande público – ainda que o final da narrativa já seja conhecido. Por conseguinte, à medida que alia a profundidade do tema com a capacidade criativa de King, “Judas e o Messias Negro” embarca em uma crescente vertiginosa de poder e valor. Dessa forma, representando a realidade violenta dos anos 60 – a partir do magnetismo eletrizante das cenas de ação – e transportando a pauta do racismo para o cenário contemporâneo, o longa é extraordinário em seus fins e deixa marcas significativas no imaginário do espectador.

    Judas e o Messias Negro
    Judas e o Messias Negro / Warner Bros. Pictures

    Judas e o Messias Negro“, finalmente, é revolucionário ao entregar um material que retrata fielmente a legitimidade do movimento dos Panteras Negras e que desconstrói a imagem hollywoodiana da polícia dos Estados Unidos – mais especificamente, o FBI. Unindo a luta, o amor e a libertação em uma cinebiografia pungente, o longa de 2021 torna-se poesia. Nesse sentido, ao investir em uma narrativa informativa e se apoiar no senso de urgência da trama política, a produção de Shaka King se torna indispensável e não demora a se tornar favorito para a vindoura temporada de premiações.

    Judas e o Messias Negro estreia dia 25 de fevereiro no HBO Max.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Tom e Jerry: O Filme

  • Crítica | Tom e Jerry: O Filme

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme

    Em tempos de incerteza sobre novos lançamentos no cinema, a Warner aposta em um novo formato de estreias lançando seus filmes normalmente no mercado internacional, em países que ainda não dispõem do streaming HBO MAX. Tom e Jerry: O Filme é o segundo filme a seguir esse novo modelo estratégico de distribuição e garante muita risada com um toque de nostalgia.

    Uma das rivalidades mais amadas da história é reacendida quando Jerry se muda para o melhor hotel de Nova York na véspera do “casamento do século”, forçando a desesperada organizadora do evento a contratar Tom para se livrar do rato em Tom e Jerry: O Filme, do diretor Tim Story. A batalha de gato e rato que se segue ameaça destruir a carreira dela, o casamento e até o próprio hotel. Mas logo surge um problema ainda maior: um funcionário diabolicamente ambicioso conspira contra os três.

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme
    Tom e Jerry: O Filme | Warner Bros. Pictures

    Seguindo a mesma linha de alguns dos grandes clássicos dos anos noventa que misturam uma animação mais caricata com live action, como ‘Space Jam’ e ‘Uma Cilada Para Roger Rabbit’, Tom e Jerry: O Filme dá uma renovada nessa mistura exótica abrindo espaço para mais adaptações desse tipo e principalmente para a vindoura sequência do filme clássico dos Looney Tunes, ‘Space Jam: Um Novo Legado’.

    Mesmo já vindo de uma linhagem de filmes de sucesso do mesmo tipo, como os citados acima, o longa protagonizado pelo rato e o gato mais famosos do mundo ainda segue descrente pelo grande público, talvez por parecer algo brega e batido. O que é um grande engano, porque o brega também pode ser bom quando bem aplicado! Essa nova adaptação de Tom e Jerry tem tudo para agradar aqueles que cresceram assistindo a animação clássica na infância e na adolescência, personagens e momentos icônicos, além de uma grande sensação de nostalgia e a lembrança de quando acordávamos ainda sonolentos às 7h da manhã, íamos para o sofá com a coberta pendurada sobre os ombros e sintonizávamos a TV no SBT para assistir Bom dia e CIA.

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme
    Tom e Jerry: O Filme | Warner Bros. Pictures

    O mais interessante é vermos de uma forma mais clara a relação de amor e ódio instinto que Tom e Jerry tem. A trama da personagem de Chloë Grace Moretz (“Vizinhos 2”) casa muito bem com a dos queridos mascotes e que se complementa melhor ainda com a trama dos personagens de Michael Peña (“Homem-Formiga”) e Rob Delaney (“Deadpool 2“). A direção de Tim Story é mais que satisfatória e a trilha sonora um espetáculo. Um dos grandes temores do filme era saber se a interação humana com os animais recriados em CGi seria boa – e posso dizer com satisfação que sim; a ponto de chegar na metade do filme eu já estar convencido de que tudo aqui ali era real.

    Apesar de ser incrivelmente nostálgico e bem adaptado, Tom e Jerry: O Filme ainda tem uns probleminhas com o roteiro, que aborda algumas situações de forma mais brega do que necessário, mas que é facilmente relevado quando levado em conta que tudo que está ali na tela não deve ser levado a sério.

    Tom e Jerry: O Filme é uma experiência que traz alegria e aquece o coração daqueles que se permitirem e aos que entendem a proposta da produção. É o tipo de filme bem Sessão da Tarde, pra toda família, que transcende o corpo adulto e toca a alma de criança que ainda habita em nós.

    NOTA: 4/5

    Assista o trailer e uma cena do filme

    Leia tembém: Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

  • Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

    Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre estreou na última sexta feira na Netflix prometendo dar um ponto final feliz para o relacionamento de Lara Jean e Peter Kavinsky. A produção encerra com o seu terceiro filme levando os fãs a darem os seus mais fofos e sinceros “awn” enquanto assistem.

    Desde o começo, o relacionamento de Lara Jean (Lana Condor) e Peter Kavinsky (Noah Centineo) foi coberto de momentos fofos, entre eles com certeza foi a descoberta de que um estava apaixonado pelo outro no primeiro filme. Com a vida adulta chegando, cabe aos dois enfrentarem os desafios para continuarem juntos, sem deixar o relacionamento esfriar.

    Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre é sobre o crescimento dos dois personagens e as escolhes que devem fazer. Como um bom romance adolescente americano, a escolha pela faculdade pode influenciar em seu relacionamento, principalmente se a faculdade não for a mesma.  O filme começa com a família Covey passando férias na Coreia do Sul, acompanhada pelas irmãs Kitty (Anna Cathcart), Margot (Janel PArrish) e pelo pai (John Corbett), Lara explora a cultura de sua mãe e lugares onde a mesma passou quando era jovem, contando constantemente com a presença do frio na barriga por saber que ao chegar em casa, poderá receber o e-mail de aceitação ou rejeição da faculdade de Stanford.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre
    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre | Netflix

    A escolha da faculdade não foi atoa, com Peter ganhando bolsa de jogador, ficou claro que Stanford era o lugar perfeito para dar continuidade no relacionamento dos dois, e a chance perfeita para eles criarem ainda mais intimidade. As decisões que podem ou não dificultar a aproximação do casal são o tema principal deste terceiro filme.

    Totalmente diferente do anterior, este filme já começa apresentando cenas interessantes, parece até que houve uma melhora no quesito figurino e diálogos. A mudança de cenário também pode ser contado como um ponto positivo que difere o terceiro filme do segundo, sair um pouco da escola e explorar lugares como Nova York foi a pitada que a trama precisava.

    Além disso, a presença constante da família de Lara, que desta vez ganhou mais tempo de tela, deu um tom de despedida para esse que já sabíamos que seria o fim da história. A novidade na trama foi a aparição do pai de Peter, aquele que descobrimos logo no primeiro filme que havia deixado Peter e sua mãe para trás, e criado uma nova família. Numa tentativa frustrante de voltar a se relacionar com o filho, o pai de Kavinsky aparece um total de duas vezes e já chama a atenção por ser interpretado por ninguém menos que Henry Thomas, famoso por interpretar o Elliot no filme E.T.: O Extraterrestre.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre
    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre | Netflix

    Apesar de ser fofo em vários quesitos, o filme peca em vários outros. Apresentar personagens em um segundo filme que nem sequer são citados no terceiro faz eu questionar se os produtores e roteiristas prestaram a atenção no que estavam fazendo, pra mim é como se tivesse faltando algo na história.

    Mas mesmo com esse ponto negativo, Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre conseguiu entregar um final digno a uma história de amor, que mesmo tendo altos e baixos, conseguiu se mostrar o mais perto da realidade possível. Lara Jean e Peter tiveram o final perfeito sem nenhuma forçassão de barra. Foi fofo.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre já está disponível na Netflix.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Cidade Invisível – 1ª Temporada

    Crítica | Cidade Invisível – 1ª Temporada

    Cidade Invisível é a mais nova produção brasileira original da Netflix. A série que estreou na última sexta feira tem como tema principal o nosso tão querido folclore, mas com uma roupagem diferente partindo do suspense policial que flerta constantemente com o terror.

    É fato que nós brasileiros não damos conta da quantidade de personagens mitológicos que temos em nossa cultura, ou por falta de interesse ou por total desapego pelas histórias que rondam as vilas e interiores das grandes cidades. O meu primeiro contato com o folclore brasileiro foi durante a minha infância, quando as histórias de Monteiro Lobato já não estavam mais nos livros, e partiram para a televisão como o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, mas mesmo assim, não procurei me aprofundar sobre a cultura até a adolescência, mas confesso que ver filmes e séries sobre as nossas lendas urbanas era um desejo guardado por anos, e graças a Netflix e sua nova produção “Cidade Invisível”, esse desejo pôde se realizar.

    Cidade Invisível é uma série baseada nas histórias dos escritores Raphael Draccon e Carolina Munhóz, e tem como ponto de partida uma queimada em uma floresta que fica ao lado da Vila Toré, uma comunidade de pescadores no Rio de Janeiro que vem sendo ameaçada por uma construtora. O incêndio aparentemente criminoso acaba fazendo uma vítima.Gabriela (Julia Konrad) era uma antropóloga que lutava ao lado dos moradores para transformar a região em área de proteção ambiental. Para investigar o assassinato, o marido de Gabriela, que é policial ambiental Eric (Marco Pigossi) passa a investigar o caso, ao lado de sua parceira Márcia (Áurea Maranhão).

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Recém-viúvo e tendo a sua filha Luna (Manu Diegue) para criar, Eric começa a passar 100% do seu tempo dedicado a encontrar o assassino de sua esposa, e isso faz com que ele se depare com personagens da nossa mitologia, até se dar conta de que nem toda história é só história.

    Cidade Invisível é uma narrativa que resignifica o nosso folclore, e mistura personagens de norte a sul em uma trama que se passa no Rio de Janeiro.  Trazidas para um contexto de atualidade, hoje as criaturas mágicas já não são mais tão mágicas assim. O seus envolvimentos com o mundo urbano e atual fez com que as mesmas criassem vícios e uma imagem um pouco diferente da que conhecemos, fazendo com que eles se percam em suas histórias as deixando de lado.

    Mas se engana quem diz que fazer com que os personagens pareçam ainda mais como seres humanos normais tire toda a essência de suas histórias, pelo contrário, eu me senti ainda mais perto dessas criaturas e pude perceber que, apesar de serem seres mitológicos, ainda tem um pouco de humanidade em cada um.

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Para começar a falar sobre os personagens que aparecem nessa primeira parte da história, vale lembrar que você deve se desapegar de toda imagem que já viu ou ouviu desses seres, deixar a cabeça aberta para o que irá ver é a melhor forma de conseguir se aprofundar na história. Cuca é conhecida por ter o seu grande caldeirão e ter uma aparência de jacaré, pelo menos essa foi a imagem passada a anos por aqueles que contavam sua histórias. Na série, ela é representada por ninguém menos que Alessandra Negrini , – que está perfeita no papel, diga-se de passagem-, e que é chamada de Inês. Pode parecer estranho essa troca de nomes no começo, mas vale lembrar que  por estar vivendo com uma pessoa normal, não é de se estranhar que a personagem use nomes comum.

    Assim como Inês, temos o Manaus (Victor Sparapane), o famoso boto cor-de-rosa. Conhecido por atrair mulheres e engravida-las, o boto é uma importante peça nessa história. Além dele, Iberê (Fábio Lago) é o Curupira, guardião da floresta, Camila (Jessica Córes) é a sereia Iara, Tutu (Jimmy London) é o bicho papão e Isac (Wesley Guimarães), que é um dos personagens mais queridos e conhecidos do folclore, Saci Pererê. O elenco conta também com nomes como José Dumont e Tainá Medina.

    A atuação de todos do elenco deixa a trama ainda mais tensa, sempre que eu posso vou exaltar a excelente escolha de atores para produções nacionais, visto que é completamente diferente uma pessoa atuar numa novela, no teatro e no cinema.

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Criado por Carlos Saldanha, Cidade Invisível não peca quando se fala em qualidade. O roteiro é ótimo, a trama extremamente interessante e a produção tá impecável. Nem o uso do CGI ( que normalmente não é tão bom) fez cair a qualidade.

    Quando fiquei sabendo que a Netflix estava produzindo uma série sobre o nosso folclore, a sensação foi muito boa. Eu fiquei imaginando o alcance do streaming no mundo, e que dali pra frente pessoas de todos os países poderão conhecer um pouco mais sobre a nossa cultura, que muitas vezes não é valorizada nem pelo próprio brasileiro.

    Por fim, além de série, Cidade Invisível é um poema ecológico, um grito da floresta fácil de ser ouvido. Em um momento que a pauta é a salvação de nossas florestas, a série vem como um pedido de proteção contra a exploração, utilizando da licença poética para fazer isso.

    Cidade Invisível já está disponível na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Malcolm e Marie – Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo

    Crítica | Malcolm e Marie – Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo

    Em 2019, a aclamada série de televisão Euphoria, escrita e dirigida por Sam Levinson, abriu uma porta para que o mundo pudesse vislumbrar o talento de Zendaya. Dois anos depois, a dupla se reúne com John David Washington para compor Malcolm e Marie. A nova produção da Netflix, isenta de cores, mostra que “nem tudo é preto no branco“.

    Sobrecarregado de emoções, a primeira coisa que escrevi ao assistir História de Um Casamento, alguns anos atrás, foi: “Quer ser feliz? Não case! Quer fazer o outro feliz? Case!“. Esse pensamento, proveniente da sabedoria de Masaharu Taniguchi (líder religioso japonês), sacudiu todas as certezas e incertezas que eu tinha sobre relacionamentos. Agora, essa mesma analogia pode ser traçada, direta e indiretamente, ao novo filme Malcolm e Marie. Uma poesia cruel e realista, que toca nas feridas sem apelar para a violência visual, evidenciando que palavras podem fazer o outro sangrar. De mãos dadas, paixão e apatia movimentam a trama, trazendo à tona múltiplos sentimentos.

    Se em História de Um Casamento Noah Baumbach dividiu culpa, dor e arrependimento ao casal protagonista, Sam Levinson seguiu a mesma receita, acrescentando um pouco mais na quantidade de ingredientes, abraçando exageros, mas sem soar caricato. É um longa-metragem difícil de idolatrar e difícil de odiar. É uma experiência paradoxal e necessária, fruto da intrigante química dos atores em cena, da fotografia bicolor e, é claro, da constante presença de longos diálogos e ausência destes, afinal, o silêncio também é parte crucial dessa receita.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Sinopse Malcolm e Marie:

    Um cineasta volta para casa com sua namorada após a estreia de um filme comemorativo, enquanto aguarda o que será um sucesso financeiro e crítico iminente. A noite muda repentinamente quando revelações sobre seus relacionamentos começam a aparecer, testando a força de seu amor.

    Distante, do lado de fora da casa e ansioso. É exatamente assim que o telespectador se sente no primeiro “frame” de Malcolm e Marie. Ao longe, os faróis de um automóvel indicam a aproximação dos protagonistas. E pronto! Segundos depois, você está dentro do lar, cercado por uma mobília moderna, corredores imensos e muito espaço vazio. A movimentação de câmera é precisa, realçando gestos sutis, olhares duvidosos e objetos de cena que falam um pouco mais sobre a camada metafórica do filme.

    Há algo no ar: uma oscilação de humor que aos poucos alimenta nossa percepção. É notório que existe um abismo entre o casal, uma ruptura que desperta sorrisos forçados de Marie e coloca a alegria e excitação de Malcolm em xeque. E assim nasce uma sucessão de pequenos mistérios que levarão a audiência a dissecar o passado, o presente e o futuro desse par.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    A partir dessa premissa conturbada, o público é pego pela mão e jogado em uma roda de discussões calorosas e revelações dolorosas. Em apenas uma noite, Malcolm e Marie abrem todas as feridas, tocando bem fundo, sem medo de magoar, assinando um atestado de casal imperfeito. Não é à toa que a culpa é jogada de um lado para o outro, como se fosse uma bola sendo arremessada. Ambos têm razões e motivações para tal comportamento. Não há alguém correto ou incorreto, apenas culpabilidade para os dois. E ao longo desse vai e volta de palavras afiadas, tanto um, quanto o outro, vestem a camisa de vencedor e perdedor.

    Malcolm e Marie tem um “que” teatral que funciona até certo ponto, pois essa característica torna-se cansativa do segundo para o terceiro ato. Os diálogos, ao mesmo tempo, avançam e retrocedem a narrativa, criando uma barreira na evolução desses personagens, imprimindo a sensação de que estamos diante de um ciclo vicioso: a culpa é dela, a culpa é dele, ela errou, ele errou, ele grita, ela grita, silêncio. E tudo acontece de novo e de novo. As “pausas” durante as brigas criam uma antecipação do desentendimento que vem a seguir.  Monólogos servem como palanque para que os protagonistas brilhem e mergulhem fundo, nos dando o pior, o melhor e o mediano de cada um.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Você não será juiz, sua função não é sentar na frente da tela e julgá-los. Um expectador impotente é como você se sentirá, compreendendo as angústias, traumas e sonhos. Levinson sabe que a vida a dois é uma viagem cheia de solavancos e ele aperta essa tecla mais de uma vez, sem pintar culpado ou inocente. Ele fica em cima do muro, e está tudo bem. Essa visão de pessoas cinzentas é sensível e condizente com a realidade.

    A “crítica” de cinema entra em pauta e protagoniza um momento crucial no roteiro, em virtude de Malcolm, um cineasta. Ele retruca, cutuca, desdenha e questiona uma análise positiva sobre o filme que dirigiu. Sua visão é confusa e amargurada, e isso gera um debate interessante por causa da metalinguagem.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Zendaya é uma atriz gigante e versátil, capaz de utilizar até os mínimos detalhes para contar algo a mais. Sua performance é composta por uma linha de evolução, fazendo-a reluzir mesmo sem falar, sem se mexer, apenas apoiada no olhar e no gestual. Quando ela se movimenta, de um lado para o outro, falando, gritando, chorando e sorrindo, sua interpretação usurpa para si os batimentos da narrativa. Malcolm e Marie não seria o que é se a terceira letra “M” (de Marie) não estivesse na mesma equação, ao lado da letra “Z” de Zendaya.

    John David Washington carrega uma dose exagerada de explosão e quietude, além de uma perfeita sintonia com sua parceira de cena. Ele dá vida ao “sonhador destruidor”, um cineasta amargo e apaixonado, ora inseguro, ora muito seguro de si. Ele vomita tudo o que está impregnado no cerne de seu personagem, nos dando uma visão completa sobre o mesmo. Sem meio-termo, sem reticências. Para mim, este é o seu trabalho mais desafiador. Não há cenas de ação como em Tenet, permitindo que ele busque respiro no malabarismo conceitual do Nolan (não, isso não é uma crítica negativa!). Aqui, David Washington é um marido, confinado numa casa, falando, falando e falando. Algo complexo, mas feito com muita competência.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    No encerramento (melancólico e belo), ficamos numa posição oposta, quando comparada ao início do filme. E isso diz muito sobre nós, do que eles (os personagens). Aceitamos tudo e seguimos adiante. Não restam julgamentos, nem meias palavras, todas as cartas foram colocadas na mesa, o que é revigorante e exaustivo.

    Talvez, não seja um final feliz, muito menos um desfecho infeliz. Nada é preto, nada é branco. Ao mesmo tempo que há luz, há sombras. É o cinza sendo reverenciando, mostrando que dicotomia é mera fábula. Eis dois personagens que são perfeitos em sua imperfeição.

    Malcolm e Marie carrega em seu âmago mais do que uma dissertação acerca do confronto entre amor e desamor. Em quase 120 minutos de projeção (que poderiam ser enxugados) são apresentadas as diversas faces do ego, do julgamento, da autocrítica e, consequentemente, o choque entre estes. É um filme que comunica com perfeição os efeitos da “falta de comunicação”, muitas vezes propagada além da ausência de palavras.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Fate: A Saga Winx – Abandonando a nostalgia, 1ª temporada trilha um caminho diferente.

  • Cidade Invisível – 1ª Temporada | Primeiras Impressões

    Cidade Invisível – 1ª Temporada | Primeiras Impressões

    Nova série brasileira da Netflix “Cidade Invisível” estreia na próxima sexta feira dia 5, trazendo a mistura perfeita entre o suspense policial e o terror por trás das histórias do folclore brasileiro. A Cinerama teve acesso antecipado aos primeiros quatro episódios, e trouxe as primeiras impressões sobre a série que promete deixar todo mundo de cabelo em pé. Confira:

    Você já deve ter ficado com medo de alguma clássica lenda urbana do nosso tão amado folclore, além de ter aproveitado na infância as histórias do O Sítio do Pica-Pau Amarelo, mas será que já conhecemos tudo? “Cidade Invisível” é a nova série brasileira da Netflix, criada por Carlos Saldanha, ela traz consigo o folclore do jeito mais aterrorizante que alguém possa imaginar. Flertando com o suspense policial, essa nova releitura do folclore era o que estávamos precisando para o audiovisual nacional.

    A nova aposta da Netflix acertou em cheio nos detalhes e no modo em que vai prender os assinantes na frente da televisão. A forma como a série foi apresentada já é o suficiente para atingir a curiosidade das pessoas e com certeza será considerado como uma grata surpresa pra uns, e um tanto mitológico demais para outros.Mas não pense que veremos os personagens da forma que já conhecemos, pois, junto coma releitura das histórias, também encontramos um visual novo para cada um.

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível Netflix

    SINOPSE: Na primeira série em live-action de Carlos Saldanha, um fiscal ambiental (Marco Pigossi) descobre o mundo oculto das entidades mitológicas do folclore brasileiro ao encontrar uma conexão entre o aparecimento de um golfinho de água doce, já morto, numa praia do Rio de Janeiro e a morte de sua mulher.

    A primeira temporada de Cidade Invisível estreia dia 5 de fevereiro na Netflix.

    Confira o trailer:

  • Crítica | Lupin

    Crítica | Lupin

    O disfarce é uma técnica que remonta ao início dos tempos, sendo utilizado em larga escala por diversas espécies. Na humanidade, não foi diferente, e no campo da ficção esta arte sempre aparece – às vezes, infelizmente, de forma clichê. Mas e quando o disfarce se torna o mote do produto em questão? Pode-se dizer que temos a oportunidade de encontrar algo verdadeiramente mágico? Lupin, nova série francesa da Netflix, nos prova que sim.

    O novo sucesso da Netflix é um presente aos fãs de Arsène Lupin, ladrão das histórias de Maurice Leblanc. O personagem, famoso na literatura policial, é conhecido não só pela astúcia, mas também pelo gentileza, elemento crucial para que o leitor sinta empatia e até mesmo torça para que Lupin vença ao final. Esta lógica foi trazida para os dias atuais, a exemplo de Sherlock. A diferença fundamental é que, enquanto na série britânica o protagonista é realmente Holmes em uma Londres contemporânea, em Lupin o protagonista se inspira no ladrão em diversas ocasiões.

    Lupin
    Lupin / Netflix

    Omar Sy brilha em Lupin

    E por falar em protagonista, este é o grande trunfo da série. Omar Sy, interpretando Assane Diop, é extremamente carismático, demonstrando versatilidade e um bom humor que o tornam um excelente personagem. Também, sua causa é nobre: provar a inocência do pai e se vingar de uma família rica. É uma trama que pode não ser lá original, mas é respaldada pela incrível atuação de Sy. Ao longo de cinco episódios, ele esbanja personalidade enquanto se disfarça de entregador, informante, prisioneiro, empresário e outros.

    Mas engana-se quem pensa que Omar Sy é um protagonista perfeito: seu distanciamento para com o filho Raoul (Etan Simon) e o relacionamento problemático com a ex-esposa Claire (Ludivine Sagnier) são algumas questões que ajudam a criar um protagonista imperfeito e que pode sempre vencer, mas nem sempre ficar com a vitória. Soma-se a isso seu relacionamento com Anne Pellegrini, personagem de certa neutralidade que catapulta-se como um fiel da balança na série – embora seu papel não seja tão desenvolvido nesta primeira parte.

    Lupin
    Lupin / Netflix

    Um ponto importante é que a série não ignora problemas da sociedade como o racismo. Assane, filho do imigrante senegalês Babakar (Forgass Assandé), se depara com esse tipo de situação em alguns momento, com a inserção dessas discussões ocorrendo de forma cirúrgica e sendo excelente maneira de provocar o telespectador. Na busca por honrar a memória de seu pai, Assane também se depara com a desigualdade social, com o poder econômico ditando regras em Paris alterando as regras na justiça, na polícia e até mesmo na vida e morte de várias pessoas.

    O roteiro da série, embora desenvolva-se agilmente em cinco episódios, é marcado por alguns ruídos e imperfeições, com algumas reviravoltas dignas das últimas duas partes de La Casa de Papel. Parte disso se deve às trapalhadas de alguns investigadores e também a uma chantagem envolvendo justamente o comissário de polícia. O vilão, Hubert Pellegrini (Hervé Pierre), é um tanto genérico e de dimensão única, mas seu núcleo familiar tem potencial. Com a deixa do último episódio, é esperado que o conflito entre Assane e Hubert se intensifique durante a vindoura segunda temporada.

    Vencidas essas questões, a tom é de certa forma leve, tão leve quanto as mãos de Assane. O talento do protagonista, a dinamicidade dos episódios e o pano de fundo de Arsène Lupin ajudam a disfarçar (!) as falhas do roteiro e tornar a narrativa agradável e convidativa. Talvez o maior atrativo de Lupin, além do excelente trabalho de Omar Sy, é o fato da série ser ágil como uma animação e ter um doce toque literário que impressiona nestes duros tempos de pandemia.

    NOTA: 4/5

    Assista ao trailer:

    Leia também: Crítica | Cobra Kai – 3ª Temporada

  • Crítica | Fate: A Saga Winx – Abandonando a nostalgia, 1ª temporada trilha um caminho diferente

    Crítica | Fate: A Saga Winx – Abandonando a nostalgia, 1ª temporada trilha um caminho diferente

    Adaptações tornaram-se recorrentes no catálogo da Netflix, desbravando um caminho de oportunidades para livros e “live-action” de games e desenhos. Derivada de uma série animada, Fate: a Saga Winx, a nova releitura da líder dos streamings, busca independência do material original, entregando uma 1ª temporada morna e tímida.

    Desculpa tocar nessa ferida, mas é preciso! Existem machucados no mundo das adaptações em live-action de desenhos que não cicatrizaram. Uma marca pungente que está adormecida na mente de alguns fãs por causa de títulos como Dragonball Evolution e O Último Mestre do Ar. Tais produções são usadas como exemplos do “que não fazer” e mostraram que recriar uma animação com personagens de carne e osso é uma missão arriscada. Para tal objetivo, todos os meios são possíveis e inserir um novo tom é a principal escolha na criação de Fate: A Saga Winx, que assume uma identidade diferente do poço que bebe.

    Uma “pegada” sombria é bem-vinda, assim como a relação conturbada entre os personagens. No entanto, a 1ª temporada até tenta condensar tudo em um produto final díspar, mas não chega lá. Preso no mantra de “nada de cores, apenas sombras“, o show emula algo sinistro, falhando em criar uma ambientação que desperte, no mínimo, um friozinho na barriga.

    Fate: a saga Winx - Abandonando a nostalgia, 1ª Temporada trilha um caminho diferente
    Fate: a Saga Winx (1ª temporada) / Netflix

    Sobre a 1ª Temporada de Fate: a saga Winx

    A história de cinco fadas que frequentam um colégio interno mágico no Outro Mundo chamado Alfea. Além de aprender a controlar seus poderes, precisam lidar com o amor, rivalidades e os monstros.

    Em 2004, Iginio Straffi deu asas a sua imaginação e tirou do papel uma história intitulada O Clube das Winx, criando uma trama acerca de jovens garotas descobrindo poderes enquanto frequentam uma escola de fadas. A animação, de origem italiana, ganhou as telas do SBT, nas manhãs do Bom Dia & Cia. Com uma canção de abertura “chiclete”, muita cor e magia, a história de Iginio conquistou fãs, marcando a infância de muitos. Mais de quinze anos depois, o showrunner Brian Young (que tem no currículo Diários de Um Vampiro) entrega uma nova roupagem, deixando de lado quaisquer laços nostálgicos.

    Fate: a saga Winx - Abandonando a nostalgia, 1ª Temporada trilha um caminho diferente
    Fate: a Saga Winx (1ª temporada) / Netflix

    Caminhar pelo solo das adaptações é flertar com a incerteza; de um lado os fãs apegados ao material original, do outro, o público em potencial que desconhece a fonte. Agradar gregos e troianos é uma tarefa quase impossível, de fato, mas o que acontece no momento que escolhas criativas ignoram pontos importantes da obra primária, pecando na hora de inventar algo novo? Fate: A Saga Winx é uma sucessão de erros, com poucos acertos, colocando o espectador em uma jornada desequilibrada, cheia de solavancos. Não é a ausência de elementos nostálgicos que puxam a série para baixo, mas a tentativa de ser sombria e falhar, de ser diferente e cair em velhos clichês.

    Logo, as cenas que vestem a máscara de “fantasia sombria” não convencem, tampouco são capazes de criar uma aura de perigo iminente como em Diários de Um Vampiro. Basta ver o primeiro contato com a trama, em que uma cena de abertura (previsível em todos os sentidos) expõe a fragilidade desse ponto em especial. Sabemos o que vai acontecer, inclusive a ordem dos acontecimentos. E quando ocorre conforme nossa previsão, torna-se apenas um momento esquecível. Apertar o play em Fate: a saga Winx é ter a impressão de que estamos numa versão alternativa do 1º ciclo de O Mundo Sombrio de Sabrina, sem a mesma atratividade.

    Fate: a saga Winx - Abandonando a nostalgia, 1ª Temporada trilha um caminho diferente
    Fate: a Saga Winx (1ª temporada) / Netflix

    Somado a isso estão itens que deixam o saldo final negativo. A fotografia escura, muitas vezes, cumpre a função de ocultar algum déficit nos efeitos visuais. Há cortes entre uma cena e outra que atrapalham o desenvolvimento dos personagens, impedindo os atores de mostrarem mais, de explorar outras dimensões de seus papéis.

    O roteiro atira para todos os lados, acertando diversas temáticas ao mesmo tempo, porém trata todas com pouco capricho, vide o arco da Stella e sua mãe, que acontece às pressas e a trama de Bloom e o seu passado. Assim como subtramas que envolvem a amizade e a inimizade entre Fadas e Especialistas. Diálogos rasos enfraquecem o ritmo, mesmo a season 1 sendo composta por meia dúzia de episódios. As falas se resumem em um conjunto penoso: observações óbvias, intrigas infantis e conversas vazias. Claro que há diálogos aproveitáveis, mas o lado negativo prevalece, infelizmente.

    Fate: a saga Winx - Abandonando a nostalgia, 1ª Temporada trilha um caminho diferente
    Fate: a Saga Winx (1ª temporada) / Netflix

    Bloom é uma protagonista complicada, sofrendo pela falta de carisma durante toda a 1ª temporada. Compreender suas motivações é um trabalho árduo. Alguns podem conseguir, outros não! Arrogância e indiferença misturam-se para nutrir a personalidade de Stella, uma ideia interessante, porém justificada ligeiramente, deixando a personagem estereotipada.

    Musa recebe um novo dom, o que lhe permite um relacionamento interessante com os demais, mas seus fones tornam-se fechaduras, isolando-a em seu próprio mundo. Na metade da série, Musa simplesmente vira outra personagem, indo de um ponto ao outro sem qualquer desenvolvimento. Aisha merecia mais tempo de tela, passando boa parte da narrativa como coadjuvante, sem dilemas ou conflitos individuais. Ela até mostra um controle considerável de seu poder no início, porém no andar da carruagem ela é enfraquecida, tentando manipular, com muito esforço, dois litros de água!

    Terra é a única personagem que obtém um pouco da empatia do público nesta temporada inaugural. Indo contra padrões, ela transparece mais verdade e sua intérprete se sai bem, fugindo de um retrato caricato, entregando a única Winx que brilha mais que as outras.

    Fate: a saga Winx - Abandonando a nostalgia, 1ª Temporada trilha um caminho diferente
    Fate: a Saga Winx (1ª temporada) / Netflix

    Depois de concluir seis episódios, a sensação que perdura é o desapontamento. Ver o potencial e descobrir que a série foi incapaz de alcançar, é como um tapa de frustração difícil de esquecer. Ainda que tente simular fantasia com uma “pegada” mais “dark“, as coisas soam como um eco das produções recentes da Netflix voltadas para o público adolescente. Tudo acaba sendo superficial, corrido e caótico. Não temos tempo para comprar ideias ou assimilar subtramas (quase todas apáticas). O que resta é um ou outro momento bom, um ou outro personagem aproveitável. E só, lamentavelmente.

    Talvez, Fate: a saga Winx tenha dado o primeiro passo, um tiro no escuro para descobrir o que funciona e o que não funciona, em prol de futuras temporadas. Saber onde errou e buscar um conserto pode ser um processo cansativo e quem sabe uma luz no fim do túnel.

    Nota: 2/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 (temporada final).

  • Crítica | Pai em Dobro

    Crítica | Pai em Dobro

    Produção brasileira original da Netflix, “Pai em Dobro” traz Maisa, Eduardo Moscovis e Marcelo Médici em uma aventura familiar carismática e cheia de significado. Roteirizado pela escritora Thalita Rebouças, o longa infanto-juvenil investe em uma trama leve e espirituosa para garantir a diversão do espectador.

    Pai em Dobro“, aposta da Netflix para o calendário brasileiro de 2021, marca a estreia da dupla Thalita e Maisa no streaming da produtora. Impulsionado pelo clima festivo do Carnaval, o longa dirigido por Cris D’Amato emociona e cativa, à medida que apresenta uma narrativa despretensiosa que sabe aonde chegar.

    No filme, Vicenza (Maisa) é uma jovem de 18 anos que foi criada por Raion (Laila Zaid) em uma comunidade hippie do interior. Sem conhecer o seu pai biológico, a menina aproveita a viagem da mãe à Índia e embarca sozinha para o Rio de Janeiro a fim de encontrá-lo. Seguindo uma série de pistas, ela se hospeda na sede do bloco “Ameba Desnuda” e inicia uma aventura de autoconhecimento pelas ruas cariocas. No entanto, à medida que se aproxima de seu maior sonho, a menina descobre que dois homens podem ser seu pai.

    Pai em Dobro
    Pai em Dobro / Netflix

    Pai em Dobro” – que explora o amor para além dos laços de sangue – baseia a sua premissa na problemática de uma personagem que cresceu sem saber de onde veio. Narrado do ponto de vista da protagonista, o longa transforma a “falta de identidade” dela em uma lição valiosa sobre família e amizade, reunindo peças de coesão que agradam o grande público e que mantêm aceso o interesse do espectador. Cheio de personalidade, o filme é extremamente relacionável e torna-se um sucesso ao teleportar os sentimentos da menina para fora da tela. Dessa forma, à medida que Vicenza tenta impedir que seus pais se encontrem, a história se transforma em um conto cativante de empatia e doçura.

    No entanto, ainda que o longa se esforce em entregar um material impecável, algumas falhas desviam a atenção do público e prejudicam o potencial da produção. Nesse sentido, os diálogos rasos – que infantilizam o contexto narrativo – e a superficialidade dos arcos secundários corroboram para um roteiro previsível e, na maior parte das vezes, ordinário. Sempre preferindo a saída mais fácil, o lançamento da Netflix poderia ser muito mais do que realmente apresenta.

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    Pai em Dobro / Netflix

    Pai em Dobro“, aventura familiar que conjura elementos eficientes do universo infanto-juvenil, é uma amostra simples e significativa de uma história de amor. Apresentando Maisa Silva no papel de uma protagonista confortável, a produção do streaming é leve, engraçada e capaz de encantar todo o tipo de público. O filme, apesar de carregar problemas estruturais em sua fundação, não foge do que sempre propôs e, dessa forma, surpreende positivamente. Carregado de sentimento, é o suficiente para chamar a atenção.

    Pai em Dobro já está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Zona de Combate

  • Crítica | Zona de Combate

    Crítica | Zona de Combate

    Produção americana lançada pela Netflix, “Zona de Combate” apresenta Anthony Mackie e Damson Idris em uma narrativa futurística recheada de ação. Dirigido por Mikael Håfström, o longa ficcional reúne elementos qualitativos capazes de despertar o interesse do espectador, mas se perde no caminho e entrega um produto simplista e pouco convincente.

    Em “Zona de Combate“, no ano de 2036, uma guerra civil na Ucrânia leva os Estados Unidos a enviarem frotas armadas para uma delicada missão de paz. Durante a operação, uma equipe de fuzileiros navais e “Gumps” – soldados robotizados – são emboscados. No meio do confronto, o piloto de drone Thomas Harp (Damson Idris), desobedecendo a uma ordem direta, lança um míssil não autorizado e mata dois de seus compatriotas em campo.

    Como punição, Harp é enviado a uma base de operações americana, no centro de uma zona de conflito, a fim de auxiliar o Capitão Leo (Anthony Mackie) – um super androide disfarçado de humano – a localizar um perigoso dispositivo capaz de potencializar os riscos de uma guerra mundial. Entregues à missão de evitar que o terrorista Victor Koval obtenha o controle de uma rede de mísseis nucleares, a dupla de militares corre contra o tempo e enfrenta ameaças tecnológicas que colocam em risco o futuro do planeta.

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    Zona de Combate / Netflix

    Zona de Combate” – que investe em um diálogo ficcional sobre a relação dos humanos com as máquinas – cria uma atmosfera de ação extremamente violenta e arrebatadora que serve de reflexo social para os problemas advindos da guerra. Apresentando uma sequência introdutória de tirar o fôlego, a produção de Mikael Håfström estabelece um padrão significativamente alto para o curso dos acontecimentos e, até certo momento, as expectativas são atendidas. Conjurando elementos dignos de franquias conceituadas como “Exterminador do Futuro”, o lançamento do streaming oferece, em seu terço inicial, o suficiente para chamar a atenção.

    No entanto, apesar das eletrizantes cenas de ação, o longa não mantém a qualidade inicial e, por fim, se transforma em um thriller genérico recheado de promessas inalcançáveis. Dessa forma, à medida que tenta criar sequências sangrentas para manter acesa a curiosidade do espectador, “Zona de Combate” vira um campo de batalha repleto de morte e destruição e, infelizmente, esquece de oferecer algo a mais.

    Zona de Combate
    Zona de Combate / Netflix

    Zona de Combate“, imerso em uma narrativa futurística, carrega consigo a dose necessária de ação desejada pelo grande público. Lançado no dia 15 de janeiro pelo streaming da Netflix, o longa traduz em tela a emergência dos efeitos da guerra no cenário global e gera um diálogo interessante sobre o futuro da sociedade. Impulsionada por performances empolgantes de seus protagonistas, a produção de Mikael Håfström, no entanto, falha em suas próprias ambições e, a partir do momento que oferece desenvolvimentos simplistas e conclusões precipitadas, torna-se um produto decepcionante. Finalmente, absorto na necessidade de se manter na zona de conforto, a ficção inconstante sobre a distopia automatizada de um mundo em guerra se perde no esquecimento e desperdiça o seu imenso potencial.

    Zona de Combate já está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Legado Explosivo

  • Crítica | Legado Explosivo

    Crítica | Legado Explosivo

    Produção original da The Solution Entertainment Group, “Legado Explosivo” apresenta o retorno de Liam Neeson ao extensivo gênero policial. Dirigido e roteirizado por Mark Williams (Ozark), o longa ficcional esbanja suspense e ação, mas insiste em uma trama pouco profunda e esquece de oferecer uma história minimamente significante.

    Em “Legado Explosivo“, Tom Noland (Liam Neeson), um lendário ladrão de bancos, resolve mudar de vida e se tornar uma pessoa honesta quando se apaixona por Annie (Kate Walsh), uma mulher que trabalha em uma instalação de armazenamento. Na esperança de se entregar aos federais e fechar um acordo por uma sentença reduzida, ele decide deixar o seu legado para trás e concorda em devolver todo o dinheiro que roubou. No entanto, quando dois agentes corruptos do FBI o acusam injustamente de assassinato, uma caçada mortal tem início e a luta por verdade e justiça toma conta das ruas sangrentas do condado americano.

    Legado Explosivo
    Legado Explosivo / Imagem Filmes

    Legado Explosivo” – que, desde o início, tenta convencer com a sua premissa fundamentalmente duvidosa de ação – não é capaz de se livrar das amarras temerárias que as produções do gênero insistem em impor e se desgraça na falta de imaginação de seu corpo “criativo”, que parece firme na tentativa de desenvolver um material inofensivo e, na maior parte das vezes, limitado. Nesse sentido, com pouca personalidade, a aventura policial de Mark Williams se junta à uma imensidão de longas decepcionantes e sonolentos que não alcançam um padrão mínimo para agradar.

    Projeto familiar para os fãs da filmografia de Neeson, no entanto, “Honest Thief” – original – reacende a chama dos clássicos de ação protagonizados desde 2008 pelo ator. Conjurando elementos similares à trilogia “Busca Implacável“, o filme é capaz de despertar um saudosismo interessante no espectador, mas se perde em suas ambições e entrega um material simples e inexpressivo. Dessa forma, à medida que apresenta uma enormidade de falhas – aparentemente sem saída -, a produção estadunidense revela ser incapaz de explorar o seu cenário narrativo e de aprofundar os seus personagens minimamente relacionáveis, reduzindo-os a presenças desinteressadas e confusas que afastam a audiência da completude da história.

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    Legado Explosivo / Imagem Filmes

    Legado Explosivo“, estranhamente empenhado em transformar o roteiro raso de Mark Williams em um blockbuster de ação, falha em suas tentativas de agradar o grande público e acaba por estacionar em uma sessão da tarde pouco convincente e sem muito brilho. Dispondo, a princípio, de elementos interessantes e promissores, a tradução em tela não funciona e, por duas horas, o espectador é bombardeado com frases prontas e arcos narrativos previsíveis de personagens pouco desenvolvidos. Incapaz de sair da sua zona de conforto, o longa, sem muita credibilidade, torna-se esquecível e bem pior do que deveria ser.

    Legado Explosivo já está em cartaz nos cinemas.

    Nota: 2/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Os Novos Mutantes

  • Crítica | Soul

    Crítica | Soul

    Soul, o novo filme da Disney/Pixar, está entre nós! Faz mais de vinte e cinco anos desde que Toy Story, o primeiro longa dessa parceria, foi lançado. Desde então, a quantidade de animações lançadas pelas duas companhias só tem se feito crescer e angariado imensas bilheterias, além de inúmeros corações. Seja como for, 2020 nos apresentou um cenário atípico, com os cinemas no mundo todo ameaçados devido à pandemia. Isto não parou a Pixar, pelo contrário: com uma posição um tanto mais confortável devido ao streaming Disney+, o estúdio lançou no serviço sua mais nova animação. E, ao longo do filme, é difícil não render-se à história e quase exclamar: “eles fizeram de novo!”.

    Leia também: 10 filmes marcantes lançados na década de 2010

    Soul se passa em uma das versões mais coloridas e vivas de Nova York já vistas. Aqui, nosso protagonista é Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de música cujo sonho é a carreira no jazz. Um dia, Joe ganha uma oportunidade de se apresentar com a estrela Dorothea Williams (Angela Bassett). Na empolgação, cai em um bueiro e, aparentemente, morre.

    Soul
    Soul | Pixar

    A virada da trama, já mostrada nos trailers, denota a capacidade da Pixar em construir seus ambientes ainda que eles não tenham apego ao mundo físico. Isto, claro, passa pela necessidade de se abordar de uma maneira branda o conceito de “morte”, uma vez que ainda estamos falando de um filme cujo foco, ainda que por vezes não pareça, seja o público infantil. E, aqui, Soul brilha: o “além-vida” é inserido cirurgicamente na trama apenas como ferramenta para colocar Joe no “pré-vida”, onde as almas ganham suas personalidades antes de irem para a Terra. De todo modo, após algumas trapalhadas, Joe se torna o mentor de 22 (Tina Fey), uma alma desobediente e rebelde.

    Joe e 22 são opostos em diversos aspectos, mas a interação entre ambos é talvez o ponto alto do filme. Entre uma confusão e outra, aos poucos eles vão se entendendo e destruindo suas barreiras para momentos-chave do longa. Jamie Foxx e Tina Fey estão absolutamente fantásticos, realizando com maestria o ato de fazer o telespectador se importar com os dois principais personagens do filme.

    Soul se destaca pelas reflexões

    E entre tantos momentos de humor, a música preenche o espaço e funciona como a suave cobertura de um lindo bolo. Ao escolher um músico como protagonista, a Pixar entregou uma experiência agradabilíssima. a cereja desse bolo se manifesta ainda mais nas intensas reflexões que o filme promove. Alcançar um sonho é realmente momento de euforia ou pode não ser o que se esperava? Qual o propósito da vida, o sentido disso tudo? São perguntas que provocam, fazem a cabeça coçar e são muito bem-vindas.

    Fica a sensação de que esta nova obra se posiciona como um dos melhores filmes da Pixar, não devendo em nada aos grandes títulos que lhe foram anteriores. A delicadeza em abordar os estágios que precedem e sucedem a vida, a estrutura visual de encher os olhos e o humor dos personagens são prova de um roteiro inspirado e uma construção certeira. Tudo é tão bonito que o filme passa como alguns pensam que a vida passa – em um piscar de olhos.

    Por fim, Soul é um filme vibrante, como as animações da Pixar sempre foram. As risadas ecoarão e, provavelmente, as lágrimas virão também. O autoconhecimento de Joe fica como lição e temos, próximo do final, uma das cenas mais emocionantes de toda a história dos longas da companhia. Soul apresentou-se como um respiro, uma alegria ímpar no conturbado ano de 2020. A magia do filme supera a tela e, na passagem dos créditos, temos o entusiasmo de exclamar mentalmente: “eles fizeram de novo!”.

    NOTA: 5/5

  • Crítica | Cobra Kai – 3ª Temporada

    Crítica | Cobra Kai – 3ª Temporada

    Cobra Kai entra em sua terceira temporada com chave de ouro trazendo crescimento pessoal, amizade e muito autocontrole como tema principal, sem deixar a nostalgia da franquia oitentista de lado.

    Cobra Kai estreou em 2018 no YouTube Red, uma alternativa do site que não ficou muito conhecida, e foi ofuscada pelo brilho dos streamings já existentes, sendo assim, a série não ganhou tanta mídia, mas teve espaço na vida dos fãs da franquia Karatê Kid, o que acabou rendendo duas ótimas temporadas.

    Já no início de 2020, o YouTube decidiu que não iria continuar com suas produções originais, o que não agradou os fãs da série e muito menos a produtora Sony, que no meio do ano acabou firmando um contrato com a Netflix e trazendo não só as duas temporadas para o streaming, como também renovando a série para a terceira e quarta temporada.

    Cobra Kai já traz nostalgia em seu nome, mas não fica só nisso. Nas duas primeiras temporadas ela apresenta um novo olhar sobre o valentão do dojô, Johnny (William Zabka), que tenta trazer o nome “Cobra Kai” de volta das cinzas ao ajudar o vizinho Miguel (Xolo Maridueña) a enfrentar os problemas da adolescência com a ajuda do karatê. No meio do caminho também vemos o desenvolvimento pessoal e financeiro de Daniel Larusso (Ralph Macchio), que agora é um empresário do ramo de automóveis e que com o passar do tempo decide reabrir o antigo dojô-Miyagi, e ensinar tanto a sua filha Samantha (Mary Mouser) quanto o filho de Johnny, Robby (Tanner Buchanan).

    Cobra Kai
    Cobra Kai | Netflix

    A rivalidade entre Johnny e Daniel é deixada de lado diversas vezes entre a primeira e segunda temporada, onde vemos os dois criando uma relação de amizade em alguns momentos, coisa que não acontece com os seus alunos, que acabam tomando as dores antigas e tentam passar um por cima do outro.

    Mas tudo se agrava com a chegada do antigo Sensei e criador do Cobra Kai, John Kreese (Martin Kove), que traz um novo olhar sobre o karatê que Johnny pregava, fazendo com que o seus alunos tivessem raiva de seus oponentes, o que ocasionou no violento último episódio da segunda temporada, levando Miguel para o hospital.

    Terceira temporada.

    A terceira temporada já começa apresentando Johnny no fundo do poço – de novo -, os problemas estavam em sua volta, com o seu filho Robby foragido e Miguel em coma após ter sido jogado do segundo andar da escola durante uma briga. Todos esses problemas fazem com que Daniel, que tem um grande afeto pelo filho de Johnny, ir atrás do antigo rival para juntos encontrarem o garoto.

    Cobra Kai
    Cobra Kai | Netflix

    Essa parceria dos dois dura exatos dois episódios, já que cada um acaba tendo que resolver problemas que são maiores do que manterem uma amizade. Com Miguel acordando do coma, Johnny decide se empenhar ao máximo para ajudar o garoto a voltar a andar, enquanto Daniel vai para o Japão tentar uma parceria com uma fabricante de automóveis.

    Como já era de se esperar, a viagem de Daniel não foi por acaso. A volta ao país em que esteve nos anos oitenta trouxe grandes personagens de volta, como por exemplo, o seu grande rival Chozen (Yuji Okumoto) e sua paixão de adolescência Kumiko (Tamlyn Tomita).

    Enquanto isso, a rivalidade dos dojôs e com Kreese comandando o Cobra Kai, a situação entre os adolescentes acaba se agravando, com “Falcão” (Jacob Bertrand) mostrando o seu pior lado e agindo com muita violência.

    Cobra Kai
    Cobra Kai | Netflix

    Apesar da ausência de personagens como Aisha (Nichole Brown), a produção conseguiu dar a volta por cima ao apresentar novos personagens que agregam ainda mais na história, sem perder a essência. Além disso, Ali (Elisabeth Shue) dá o ar da graça e conta um pouco sobre a sua vida nessa nova temporada, momento esperado por muitos.

    Cobra Kai chama a atenção por ser emocionante até mesmo em momentos em que a intenção não é essa, no final do primeiro episódio é feita uma homenagem ao ator Rob Garrison, que participou do primeiro filme da franquia e teve um episódio dedicado a sua história na segunda temporada. O ator acabou falecendo em setembro de 2019, o que foi o suficiente pra tirar boas lágrimas.

    O ponto alto da terceira temporada é sem dúvida a volta de Daniel pra Okinawa, mostrando a evolução comercial da vila em que esteve nos anos 80, além de ser extremamente nostálgico e apresentar a origem do caratê da família Miyagi.

    Cobra Kai
    Cobra Kai | Netflix

    Se engana quem diz que a série se sustenta somente com a nostalgia do público. A história da nova geração é tão interessante quanto a clássica. O novo olhar sobre a violência nas escolas e o desenvolvimento de cada personagem é a chave do sucesso da série.

    Cobra Kai continua mantendo o nível de qualidade da sua produção, não deixa a desejar em absolutamente nada no quesito história e coerência. Mais uma vez, uma das maiores surpresas de 2020 e a minha torcida é para que a Netflix, junto da Sony, consiga trazer boas histórias para essa série, sem interferir com a memória e o carinho que temos pela franquia.

    A terceira temporada de Cobra Kai estreia dia 1º de janeiro na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 (final da série)

    Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 (final da série)

    2020 foi um ano atípico para os fãs de filmes e séries mais assíduos. Mesmo com os cancelamentos rotineiros, tivemos um abalo na indústria audiovisual com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que acarretou em diversos adiamentos e cancelamentos tanto no cinema quanto na TV. Ainda sem entender em qual dessas situações se aplica, fomos surpreendidos esse ano com o cancelamento de “O Mundo Sombrio de Sabrina“, que será finalizada em sua quarta parte; confirmado pela Netflix em meados desse ano.

    Após um terceiro ano desastroso, os personagens de “O Mundo Sombrio de Sabrina” retornam para uma nova aventura, onde terão que lidar com as consequências dos atos de Sabrina Spellman (Kierna Shipka) retratados no final da terceira parte, além do caos causado pelo antagonista Faustus Blackwood (Richard Coyle).

    Ao longo dos oito episódios da Parte 4, Os Terrores do Sobrenatural descem sobre Greendale. O coven deve lutar contra cada ameaça aterrorizante (O Estranho, O Retornado, A Escuridão, para citar alguns), tudo levando até O Vazio, que é o Fim de Todas as Coisas. Enquanto as bruxas travam uma guerra, com a ajuda do Clube do Medo (formado por Harvey, Roz, Theo e Robin), Nick começa a ganhar lentamente o seu caminho de volta ao coração de Sabrina.

    Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina - Parte 4 (final da série)
    O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 | Netflix

    Já no começo dessa nova e última parte, somos introduzido ao início do fim dos tempos causado pela Escuridão em um excelente episódio repleto de suspense e terror, com direito a sustos e momentos de apreensão, mas a partir daí, bem no início de tudo, começa a descida desenfreada da ladeira. Já a partir do segundo episódio fica nítido a queda de qualidade do roteiro da série ao retratar os acontecimentos que culminarão no fim de tudo. A ameaça de cada entidade que pré-anuncia o vazio é retratada em um episódio por vez, cada uma mais poderosa que a outra, mas que no fim são destruídas através de soluções que os personagens tiram da manga de uma forma inexplicável, por pura conveniência do roteiro.

    O responsável pela maioria das soluções para derrotar Os Terrores do Sobrenatural é Ambrose, que vem nessa nova leva de episódios como o personagem que vai narrar tudo aquilo que o expectador não vê em tela e trazer os planos mais absurdos e inexplicáveis. Além desse grande problema no roteiro, outro problema está em deixar a trama principal de lado para focar em subtramas dispensáveis, como por exemplo a de Theo (Lachlan Watson) e seu namorado Robin (Jonathan Whitesell), vermos o Harvey (Ross Lynch) passar por quase o mesmo que passou em temporadas anteriores. Até mesmo o romance entre Sabrina e Nick é exaustivo, sendo tudo aquilo que já vimos antes. A única coadjuvante que cresce aqui é a Roz (Jaz Sinclair), que vem em uma nova trama após uma descoberta que muda seus caminhos.

    Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina - Parte 4 (final da série)
    O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 | Netflix

    Apesar de ocupar grande parte do antagonismo da última parte, o Padre Blackwood não desenvolve muito bem aqui, sendo praticamente indispensável, ao lado da Mary Wardwell, interpretada por Michelle Gomez, que diferente de Blackwood é totalmente dispensável e serve apenas de peso morto visual para o espectador. Em contrapartida, temos a outra personagem da atriz, Lilith, que ainda vem com certa relevância, mas também nem faz tanta diferença, assim como todo o núcleo do inferno, incluindo aquele que foi tão temido nas duas primeiras partes da série, Lúcifer Morningstar. A única exceção desse núcleo é a Sabrina 2.0.

    Talvez o mais triste aqui é saber que finalmente quando temos Sabrina como dona e protagonista da sua própria série ela não terá mais nada do que mostrar. A personagem de Kierna Shipka desenvolve de forma mais aprofundada e deixa de ser que foi um dia: uma personagem apática, ofuscada e sem nenhuma força como protagonista. Apesar de ainda vermos a personagem ser mal aproveitada e indo contra seu amadurecimento em certos momentos, aqui quem finalmente brilha é ela, a verdadeira estrela do show.

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    O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 | Netflix

    Ao fim da série temos a maior das surpresas – não muito boa. É possível ver claramente que de certa forma a história não está finalizada, deixando uma situação desconfortável de um adeus prematuro e a certeza de que a série foi cancelada por motivos de força maior desconhecido. E tudo ainda fica mais evidente quando há algum tempo tivemos a notícia de que a série estava planejada para cinco partes e que os fãs teriam a grata surpresa de um crossover com Riverdale, série dos mesmos criadores. Mas de acordo com algumas declarações do criador e showrunner da série, Roberto Aguirre-Sacasa, a história da série deve continuar em quadrinhos.

    Apesar da quarta e última parte de “O Mundo Sombrio de Sabrina” ter sido um fiasco narrativo e mal roteirizado, ainda sim é possível tirar momentos divertidos do show, se assistido sem grandes intenções e expectativas, além de momentos nostálgicos para quem acompanhou a história da bruxinha na série clássica. No mais, a série que muito prometia quando foi anunciada, só se tornou mais uma para preencher o catálogo da Netflix e se tornar mais uma série esquecida e que não acrescentou em nada a cultura pop, diferente da série clássica.

    Nota: 2/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Cyberpunk 2077

    Crítica | Cyberpunk 2077

    Após oito anos de espera, Cyberpunk 2077 está entre nós. O ambicioso projeto da polonesa CD Projekt Red entrega uma boa história, mas derrapa nas promessas não cumpridas e problemas técnicos. Confira a seguir a nossa crítica para o jogo, sem spoilers:

    Em 2077, o mundo acentuou os problemas da atualidade: os danos causados ao meio-ambiente alcançaram um patamar ainda mais destrutivo e grande parte da população vive na miséria. Cyberpunk se passa em Night City, uma megalópole distópica, tecnológica e cruel onde as corporações são empresas ardilosas que ditam o ritmo de vida, explorando as pessoas de maneira pouco ética. As alternativas não são muito melhores: outras zonas da cidade são controladas por gangues violentas em um cenário de pouca esperança. Procurar a polícia está fora de questão: os agentes da lei são em maioria corruptos e nada confiáveis.

    Nesse mundo, você é V, um mercenário que recebe um trabalho de alto risco. A missão consiste em roubar o Relic, um biochip que em tese teria o poder de dar imortalidade ao portador. O problema é o implante estar nas mãos da Arasaka, uma enorme corporação de Night City que não deixará qualquer desfeita barata.

    Leia também: Após bugs e problemas de Cyberpunk 2077, CD Project promete reconquistar confiança dos fãs

    O jogo se inicia com a escolha dos lifepaths, ou seja, os caminhos de vida que definem o passado de V. Há três opções: corporativo, marginal ou nômade. Embora cada rumo seja diferente, tudo deságua em um único começo pós-prólogo. As implicações dessa primeira decisão são mínimas, com algumas alterações nos diálogos, por exemplo. Isto pode decepcionar alguns jogadores, uma vez que limita o fator roleplay.

    Após esta etapa, realizamos a personalização de V, podendo haver alteração de sexo, cor de pele, tatuagens etc. Embora mostre potencial, as opções são um tanto limitadas, não permitindo mudar peso e altura, por exemplo. A tão falada escolha de tipos de genital também parece mais um mero capricho, não tendo utilidade prática.

    Falando de Night City como elemento da gameplay, a cidade não entrega tanto do seu potencial e do que foi anunciado pela CD. A cidade é inegavelmente impressionante na parte estética, com cada bairro tendo suas próprias características. Entretanto, a interatividade é pequena para o que Cyberpunk poderia entregar. Fliperamas não são operáveis, ambientes internos têm poucas opções e até a polícia opera de jeito estranho, aparecendo literalmente de nenhum lugar para punir delitos de V. Com certeza, o jogo não entrega uma revolução. Isto pode ser visto até mesmo na física, inferior a games da sétima geração de consoles como GTA V.

    A história, ainda que seja em um nível superior a muitos jogos, não supera o enredo de The Witcher 3: Wild Hunt, o grande medalhão da CD. A aventura de Geralt possui um tom sério pincelado com irreverência em momentos oportunos. Em Cyberpunk, parece que esse equilíbrio se perde e temos um clima sombrio em maior quantidade. Em contrapartida a isso, a localização brasileira tem palavrões e memes exagerados, com referências que vão desde o ex-BBB Kléber Bambam até o humorista Sérgio Mallandro. Porém, de forma geral, o enredo de Cyberpunk é bom. Talvez o gênero cyberpunk pudesse ser melhor explorado e algumas decisões narrativas trocadas, mas o DNA da CD está lá.

    De todo modo, as missões — principais ou secundárias — são muito interessantes e podem ser resolvidas de diversas formas — embora o resultado final não mude muito. Os personagens por vezes se comportam de maneira robótica, mas há como ficar imerso e realmente se importar com os dilemas dos habitantes de Night City. Para auxiliar na jornada de V, temos pontos de atributos e, dentro de cada uma dessas áreas, habilidades específicas. São adições bem-vindas e que permitem definir como V soluciona seus problemas.

    Além disso, podemos modificar partes de nosso corpo em “medicânicos”, que nos dão desde olhos melhores até implantes subcutâneos e as temidas lâminas louva-a-deus. Cyberpunk 2077 também promove um sistema de hacking satisfatório responsável por desativar câmeras, distrair inimigos e muito mais. Elementos básicos como controlar carros e semáforos, presentes na franquia Watch Dogs, não têm lugar aqui, entretanto.

    Muito se tem reclamado desde 2018 sobre o fato de Cyberpunk 2077 ter sido anunciado como um jogo em primeira pessoa. Quando se inicia a história de V, entendemos que a decisão foi a melhor: certas cenas funcionam muito melhor se as vermos a partir dos olhos do mercenário, facilitando a inclusão de detalhes e também aumentando a imersão. Falando de forma clara, o jogo com certeza perderia muito de sua essência se fosse construído em terceira pessoa.

    Sobre a localização brasileira, ela é boa, arrancando boas risadas com a vasta inclusão de memes, como mencionado antes. O porém é que, como as referências aparecem em demasia, talvez os jogadores se cansem delas posteriormente. Alguns textos do tutorial não estão traduzidos e se encontram em polonês, dificultando o entendimento de mecânicas do jogo. Certas vozes também estão fora de tom, mas no geral a dublagem merece elogios – destaque para as vozes de V, Jackie e Johnny Silverhand.

    Problemas técnicos minam o potencial de Cyberpunk 2077

    A parte técnica de Cyberpunk é o grande calcanhar de Aquiles. Os NPCs não têm uma inteligência artificial aceitável e situações bizarras que pareceriam bugs à primeira vista se mostram como parte do código do jogo, como o já citado comportamento da polícia.

    Atirar em uma rua fará os transeuntes correrem, mas é só girar a câmera para eles desaparecerem, como se nunca estivessem ali, de fato. Interromper o trânsito com V causará um efeito parecido: gire a câmera e o engarrafamento formado some em um passe de mágica. São questões prejudiciais que não podem ser ignoradas para um jogo que parecia ser o suprassumo do open-world dividindo um panteão específico com o já citado The Witcher 3 e Red Dead Redemption 2.

    No PlayStation 5, o jogo corre a 60 fps na maior parte do tempo, mas ocasionalmente tem quedas para 40 ou 50. Não é um problema grave, mas é de se considerar visto que ainda não há versão next-gen (os atuais consoles topo de linha rodam as versões de PlayStation 4 e Xbox One por meio de retrocompatibilidade). Da mesma forma, a densidade dos NPCs é reduzida e isso tira um pouco o brilho de Night City. Bugs ocasionais ocorrem, desde paredes intangíveis até inimigos mortos que se mexem. Crashes também acontecem, prejudicando a experiência.

    O resultado de tudo isso é um lançamento conturbado, para dizer o mínimo, e um jogo que abriu mão de muito potencial. A CD busca melhorar sua imagem com reembolsos e anúncios de atualizações para acalmar o público, mas é difícil negar que Cyberpunk seja uma grande frustração para quem esperava um mundo revolucionário, responsivo e orgânico.

    Apesar dos problemas, Cyberpunk 2077 ainda é um jogo com vários trunfos, como a beleza de Night City, a individualidade das pessoas que V encontra e a quantidade de itens, atributos e modificações. A cidade é um grande playground com o escorregador quebrado, mas que, ainda assim, pode dar muitas horas de diversão e fazer o jogo figurar por um bom tempo na biblioteca dos amantes de RPG e do gênero cyberpunk.

    O recomendável é que se espere que a CD realize as correções necessárias para só depois ter uma experiência polida embora, ao menos nas plataformas de nova geração e em PCs mais parrudos, seja possível desfrutar do jogo. De qualquer forma, independente do que acontecer daqui para frente, Cyberpunk 2077 é um dos maiores e mais ruidosos lançamentos de todos os tempos na indústria dos videogames. Mas será que isso vale quando a confiança no seu produto é completamente abalada? Esperamos que a CD continue com seus updates e se esforce para que Cyberpunk faça um pouco de jus ao hype. Por ora, o jogo está bom — mas apenas isso.

    NOTA: 3/5

    O console utilizado para avaliar o jogo foi um PlayStation 5.

    Confira o trailer de lançamento abaixo:

  • Crítica | Amor Com Data Marcada

    Crítica | Amor Com Data Marcada

    Nova comédia romântica da Netflix “Amor Com Data Marcada” traz Emma Roberts selando um pacto de encontro marcado para todos os feriados existentes.

    Com o Natal chegando, os solteiros já ficam imaginando o quão doido será ouvir aquela famosa pergunta : e os namoradinhos (as)?
    Pra fugir dessa pergunta, Emma Roberts encontrou uma solução que caberia para muita gente.

    Sloane (Emma Roberts) é a típica mulher bem resolvida com o trabalho mas que deixa a desejar em sua vida amorosa -pelo menos é o que a família dela acha-. Tudo muda após a sua tia levar o “Ferigato” ( um encontro só para os feriados) para a ceia de Natal.

    Do outro lado do país, Jackson (Luke Bracey) se mete numa furada ao ser levado para a ceia de Natal da mulher com quem está saindo há apenas dois dias, criando expectativas tanto nela quanto na família que é um tanto quanto fora da caixinha.

     Amor Com Data Marcada
    Amor Com Data Marcada | Netflix

    Como uma boa comédia romântica, Jackson e Sloane acabam se conhecendo e comentando sobre a tragédia que é suas vidas amorosas, selando um pacto de que para não entrarem mais em sais justas, seriam o ferigato um do outro.

    A premissa já deixa claro tudo o que vai acontecer no decorrer do filme, mas como eu curto bastante essas comédias românticas extremamente previsíveis que ainda conseguem tirar uma lágrima da gente, essa tá valendo.

    Apesar de conter muitos esteriótipos que acabam baixando a qualidade da história, ela consegue se manter pelo carisma e química da Emma e do Luke, e de seus personagens.O longa é debochado e divertido em todas as suas fases, e consegue chamar a atenção com as situações estranhas e de vergonha alheia que acontecem durante os feriados.

    Um erro grotesco cometido na produção e a forçação de barra ao tentar introduzir os atores coadjuvantes na história sem ao menos um gatilho que faça sentido, deixando de lado todo o talento que poderia ser explorado das atrizes Frances Fisher, Kristin Chenoweth, Jessica Capshaw e Cynthy Wu.

     Amor Com Data Marcada
    Amor Com Data Marcada | Netflix

    Mas com tantos erros, o longa não deixa de agradar aqueles que adoram ver o amor alheio na telona, é o típico confort filme com todo mundo deve ter.

    Amor Com Data Marcada não foge dos clichês, mas faz isso de uma forma diferente, com um tom divertido sem soar cafona e realmente faz um filme afiado e uma grata surpresa. O texto de Paulsen os abraça, tira sarro, e faz chacota com eles, e sabe os usar de boa uma maneira mesmo que não entregue nada de novo e para mim está tudo certo.

    Amor Com Data Marcada já está disponível na Netflix.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Crônicas de Natal: Parte 2

    Crítica | Crônicas de Natal: Parte 2

    Sequência direta do longa de Clay Kaytis, “Crônicas de Natal: Parte 2” serve uma nova porção do espírito natalino que conquistou o coração do grande público em 2018. Dirigido por Chris Columbus, o conto fantasioso da Netflix traz Kurt Russel e Goldie Hawn em uma nova aventura encantadora e emocionante, ainda que distante da original.

    Em “Crônicas de Natal: Parte 2“, dois anos se passaram desde que Kate (Darby Camp) e Teddy Pierce (Judah Lewis) ajudaram o Papai Noel a salvar a noite de Natal pela primeira vez. Agora mais velhos, eles deixam a sua casa em Massachussets e viajam para Cancun a fim de celebrar o feriado com a sua mãe e o seu novo namorado.

    No entanto, no auge de sua adolescência, Kate reluta em aceitar o relacionamento dos dois e decide fugir de volta para casa. Quando a jovem escapa, o misterioso Belsnickel (Julian Dennison) a engana para usá-la como forma de invadir o Polo Norte. Dessa forma, adentrando os domínios de Noel, ele rouba a Estrela do Natal e ameaça destruir o futuro da festividade, de modo que Kate e seu meio-irmão são forçados a embarcar em mais uma aventura com o Papai Noel (Kurt Russell) e salvar o Natal.

    Crônicas de Natal
    Crônicas de Natal: Parte 2 / Netflix

    Crônicas de Natal: Parte 2“, lançado pela Netflix no dia 25 de novembro de 2020, aprofunda a mitologia natalina apresentada no longa original. Apostando em uma narrativa recheada de clichês do gênero, a produção carrega o espectador por uma trama agradável e surpreendente envolvendo a Vila do Papai Noel, a magia élfica e todo o processo da noite de Natal. Por conseguinte, além da construção detalhada ao entorno do espírito festivo, o longa ainda conta com adições pontuais no elenco, apresentando novos personagens carismáticos e bem desenvolvidos que contribuem para a atmosfera alegre de festas e cativam a atenção do público.

    Protagonizado novamente por Kurt Russel, “The Christmas Chronicles 2” dispõe de Goldie Hawn no papel de Mamãe Noel. Confortável no personagem, Hawn é uma surpresa encantadora. No entanto, assim como o vilão Belsnickel – que insiste em ser inofensivo -, ela tem o seu potencial desperdiçado. Afogada em um arco monótono, a sua performance é resumida a biscoitos assados e lições de moral. Nesse sentido, longe do cenário ideal, seus melhores momentos ocorrem quando em comunhão com o Papai Noel. Casados na vida real, Kurt e Hawn têm uma química notável e carregam nas costas todo o charme do filme.

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    Crônicas de Natal: Parte 2 / Netflix

    Crônicas de Natal: Parte 2“, finalmente, se distancia de seu antecessor e embarca na tentativa de entregar um universo natalino mais amplo e complexo. Entretenimento familiar, o lançamento da Netflix tem bons momentos e consegue divertir e emocionar o espectador. Contudo, apesar de seus acertos, o longa de Chris Columbus não agrada tanto quanto o original. Perdendo o brilho à medida que avança, o filme opta mais por um espetáculo colorido do que pelo toque inspirado que tornou a primeira parte tão especial.

    Crônicas de Natal 2 está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Crônicas de Natal: Parte 1

  • Crítica | Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia

    Crítica | Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia

    Apostando no clima natalino, a líder dos streamings faz de Missão Presente de Natal uma reflexão sobre abnegação, enquanto conta uma história que utiliza a velha cartilha do “eles brigam tanto que isso acabará em namoro“.

    O lado apaixonado do natal, sistematicamente, fica ao encargo das comédias românticas que se propõem a contar uma história de amor ambientada no clima natalino. A maioria desses filmes optam, no entanto, em deixar a data como um pano de fundo, ou como um elemento de relevância passageira. Mas, a Netflix fez um pouquinho diferente em Missão Presente de Natal: nada de neve, grossos casacos ou Nova York! O longa concede ao Natal uma importância a nível de protagonista, baseando-se numa ação humanitário verídica para discutir o poder da empatia, e como o “pouco” pode significar “muito” para algumas pessoas.

    Sobre Missão Presente de Natal:

    Buscando ser promovida, Erica Miller, uma assistente parlamentar, viaja para uma base aérea no Pacífico a pedido de sua chefe, furando o Natal com sua família. No local, ela precisa decidir se a base será fechada para corte de custos ou não.

    Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia
    Missão Presente de Natal / Netflix

    O nascimento do amor entre duas pessoas tem sido contado desde os primórdios do cinema. Não tardou para que a Sétima Arte buscasse inspiração teatral e levasse para as telas as comédias românticas. No decorrer das décadas de 1990 e 2000, esse gênero criou longas que até hoje permanecem na mente de muitos como 10 Coisas que Eu Odeio em Você, Como Perder Um Homem Em 10 Dias, Um Lugar Chamado Notting Hill e Uma Linda Mulher. Quem tem abocanhado uma boa fatia desse nicho é a Netflix. Com frequência, a empresa investe nessa receita, usando um ingrediente indispensável: o clichê.

    A Barraca do Beijo e Para Todos os Garotos que Já Amei são filmes que surgiram dessa empreitada e conquistaram um público fiel. Já, o filme em questão, Missão Presente de Natal, está alocado em uma categoria especial: comédia romântica natalina.

    O diretor Martin Wood transforma o choque de realidade em combustível para construir a relação entre os protagonistas. Ainda que sua mão direcione a relação dos personagens para algo mais simples, sua intenção é dividir o tempo de tela entre o casal que se apaixonará e uma singela homenagem a operação natalina que o Departamento de Defesa dos EUA faz desde 1952; entregando suprimentos essenciais para os moradores de ilhas remotas. Logo, Wood usa modestamente seus 90 minutos para explorar esse romance de natal e mostrar alguns heróis da vida real.

    Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia
    Missão Presente de Natal / Netflix

    Erica, vivida por Kat Graham (a inesquecível bruxa Bonnie, personagem da série Diários de um Vampiro), é a pessoa de fora que chega como uma “ameaça”. A atriz se sai bem quando depende do carisma, mas é mal explorada no quesito drama, culpa do roteiro que apresenta um conflito inicial interessante, resolvido mais tarde nos “quarenta e cinco do segundo tempo” de forma preguiçosa. Nada que afete a história ao extremo, todavia pode incomodar aqueles que esperavam algo nesse quesito, uma falha recorrente em filmes românticos da Netflix.

    Alexander Ludwig, conhecido por dar vida ao Björn na série televisiva Vikings, vive o “mocinho”, conhecido como Capitão Andrew. Seu papel é o que mais abraça o lado cômico, misturando ironia e charme sem temer as consequências. Ludwig também transforma seu carisma em um pilar para tornar sua jornada algo que desperte nessa curiosidade. Diferente da sua colega de elenco, ele consegue mais tempo para expor as nuances de seu personagem, expondo um lado dramático equilibrado com o tom do filme.

    Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia
    Missão Presente de Natal / Netflix

    Ambos, Alexander e Kat, conseguem fazer um bom trabalho como dupla, mas a química entre eles não é potente a todo momento. Quando estão separados, trocando olhares, sorrisos ou expressões indecifráveis, eles não funcionam. Em contrapartida, quando os dois estão juntos, trocando farpas e fazendo bom uso dos diálogos, a interação cresce e a química do casal convence. A beleza singela desse relacionamento é que o amor deles evolui, criando laços com a missão humanitária. Outros reflexos do amor ganham espaço no enredo: o amor ao próximo, o amor a família, o amor a profissão e o amor as raízes.

    Há uma avalanche de acontecimentos previsíveis, de fato, e você pode comprar ou não as reações de personagens coadjuvantes. Missão Presente de Natal da Netflix é como aquele embrulho enfeitado com esmero que fica abaixo da árvore natalina, cujo conteúdo reforça as ramificações do amor e a prática da empatia. Em suma, é uma comédia romântica com boas intenções e uma premissa requentada, porém necessária.

    O saldo positivo em Missão Presente de Natal também é justificado na ambientação de uma história que foge do frio urbano nova-iorquino que permeia boa partes das comédias românticas. O clima quente, com praias e paisagens litorâneas traz um ar de familiaridade para nós, que estamos acostumados com um Natal que flerta com o Verão.

    Missão Presente de Natal – Produção da Netflix é uma mensagem sobre amor e empatia
    Missão Presente de Natal / Netflix

    Enfim, ainda que entregue uma história de namoro passageiro, Missão Presente de Natal funciona ao fixar sua mensagem positiva na mente do telespectador. No desfecho, quando a edição nos brinda com uma pequena amostra da história real que inspirou este filme, somos inspirados a pensar no próximo.

    Recheando a tela com os efeitos gerados pela corrente do bem, o filme da Netflix presta continência a abnegação. Além disso, reforça um conhecido provérbio popular: “Fazer bem e não olhar a quem“. Incentivar gestos altruístas é uma ação que merece exaltação.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: 5 Animações para assistir na noite de Natal.
    Confira: As novidades de janeiro na Netflix.
  • Crítica | Marvel’s Spider-Man: Miles Morales

    Crítica | Marvel’s Spider-Man: Miles Morales

    Spider-Man: Miles Morales foi lançado no dia 12 de novembro para PlayStation 4 e PlayStation 5 como uma grata surpresa para os fãs do Homem-Aranha e de Miles, protagonista do jogo. O novo capítulo do universo do aracnídeo produzido pela Insomniac é extasiante e, por mais que seja curto, tem muitos méritos.

    O standalone se inicia um ano após os eventos de Marvel’s Spider-Man. Miles e sua mãe, Rio, se mudaram para o Harlem e o jovem está aprendendo com Peter Parker a ser um novo Homem-Aranha. Depois de um prólogo frenético, Peter anuncia que irá viajar a trabalho com Mary Jane e precisará que Miles cuide da cidade sem seu auxílio enquanto isso.

    O adolescente fica receoso, mas aos poucos aceita a responsabilidade de não estar mais sob a tutela do seu mentor. Felizmente, o rapaz conta com o apoio de seu colega Gank Lee e de Danika Hart, criadora do podcast Danikast. Também, para a sorte de Miles, há mais poderes à sua disposição: bioeletricidade (chamada de Venom) e camuflagem.

    Leia também: Após bugs, vendas de Cyberpunk 2077 são finalizadas na PlayStation Store

    Muito além das habilidades sobre-humanas, entretanto, Miles prova ser digno de ser um herói com sua inteligência, altruísmo e responsabilidade. Ao mesmo tempo, o personagem é extremamente carismático, o que facilita com que o público se identifique e não faça comparações desnecessárias com Peter. Miles não é um simples Homem-Aranha genérico, sendo a representação do Harlem. Mesmo assim, obviamente sua área não é restrita ao bairro e toda Manhattan está livre para explorar e fazer missões ou obter colecionáveis.

    A trama é interessante, embora tropece em alguns quesitos. Fica a sensação de que vários temas foram abordados de forma um tanto superficial. A causa disso não são os roteiristas, e sim a duração do jogo em si (entre 5 e 7 horas). Dá para perceber uma certa correria com a história, em parte porque este é um jogo menor e para poder manter a janela de lançamento junto com a chegada do PlayStation 5. Felizmente, há diversas atividades e missões secundárias que aumentam a vida útil do jogo, além do NG+ que desbloqueia um novo traje e habilidades. No total, cerca de vinte horas devem ser o suficiente para platinar o game.

    Apesar da história curta, há grandes momentos (destaque para a vilã Tinkerer). Já Simon Krieger, dono da Roxxon, é um vilão genérico com pouco a mostrar, mas que cumpre seu papel como antagonista primário. Importante frisar que o enredo brilha em fazer o público entender os dilemas pessoais de Miles e a importância do novo Homem-Aranha para a sua comunidade. Algo que também merece destaque são as diversas referências tanto ao primeiro jogo quanto ao universo da Marvel, desde os capangas do Sr. Negativo até o Mjolnir. No geral, a história é boa e apresenta o início da carreira de Miles como herói de forma competente.

    Marvel’s Spider-Man: Miles Morales tem jogabilidade aperfeiçoada

    Na jogabilidade, há muitos pontos positivos. Balançar-se por Nova York está ainda melhor, com novas acrobacias aéreas e movimentos únicos. A identidade de Miles está em vários pequenos detalhes, como nos trajes e finalizações, também. Seus poderes específicos (principalmente o Venom) são excepcionais e você vê que há uma diferença entre jogar com Miles ou com Peter, já que o Aranha original usa mais as teias.

    Somam-se a isso os novos apetrechos como o dispositivo de gravidade, minas elétricas e até hologramas. O stealth ainda precisa melhorar, mas supera em muito o disponível no Spider-Man original e, aqui, podemos acabar com bases inteiras de inimigos silenciosamente.

    Nos aspectos técnicos, há bem mais quantidade de partículas e inimigos em tela do que no jogo anterior. Os detalhes nos uniformes e efeitos são visíveis e jogar a 60 fps leva a experiência a outro nível. O ray-tracing funciona muito bem e traz uma diferença notável. Ver o reflexo do Homem-Aranha e das ruas de forma fidedigna nos prédios é um marco e tanto para os jogos do teioso e um excelente feito da Insomniac. E, para quem não se importa de jogar a 4k dinâmico, há o modo 60fps + RT, o que é impressionante e abre boas possibilidades para o futuro.

    A tradução para o Brasil é muito boa e segue o padrão de exclusivos da Sony, com localização completa e dublagem. Diferente do primeiro jogo, aqui não aparecem nova-iorquinos falando em inglês ao fundo, o que auxilia na imersão. Entretanto, a falta de tradução das alcunhas dos personagens continua (como Spider-Man, Tinkerer e outros). Outro ponto negativo é a mudança do dublador de J. Jonah Jameson, interpretado brilhantemente por Mauro Ramos em Marvel’s Spider-Man.

    No geral, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales é muito divertido e conta uma boa história, embora esbarre em alguns clichês e tenha que acelerar o enredo pela duração do game. Para os fãs do herói, é um prato cheio. E, ah, temos uma cena pós-créditos!

    Nota: 4/5

    O console utilizado para avaliar o jogo foi um PlayStation 5.

    Confira o trailer de lançamento abaixo:

  • Crítica | A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura

    Crítica | A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura

    Vanessa Hudgens vive três papéis em continuação da produção original Netflix A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura.

    Na continuação do filme lançado em 2018, A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura traz grandes desafios para a atriz ao ter que interpretar três papéis, quanto pro público para conseguir assistir até o fim.

    Em A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura, quando a Duquesa Margaret (Vanessa Hudgens) herda inesperadamente o trono de Montenaro e passa por uma fase difícil com o namorado Kevin (Nick Sagar), cabe a sua sósia, a Princesa Stacy de Belgravia ( Vanessa Hudgens) reunir o casal novamente.

    Mas com se já não bastasse as duas serem extremamente parecidas, a presença da prima de Margaret, Fiona (Vanessa Hudgens), causa um alvoroço por ser a terceira cópia perfeita e cheia de ambições, sendo uma delas roubar o trono da prima e recuperar todo o dinheiro perdido.

    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura
    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura | Netflix

    Mais clichê que isso, impossível. Assim como o primeiro filme, fica óbvio o fim que vai levar a comédia romântica dirigida por Michael Rohl, o que é péssimo por aqui desse o elemento surpresa e manter o público interessado.

    Infelizmente, interesse do público está em falta quando falamos deste filme, apesar de ser um leve entretenimento, fica extremamente difícil de acompanhar a história, principalmente com a personagem Fiona ser muito exagerada em tudo que faz.

    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura é fraco em vários quesitos, com personagens caricatos é uma história chata que parece que não tem fim, acabou com as minhas expectativas, além de achar que a história inicial pudesse ter sido mais explorada no segundo filme, ao invés da introdução de uma nova personagem e uma nova história sem pé nem cabeça.

    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura
    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura | Netflix

    O ponto alto do filme continua sendo a atriz Vanessa Hudgens, que precisa interpretar não duas, mas três personagens idênticas. Alterando sotaques, roupas e personalidade, a produção megalomaníaca cria uma trama difícil de acreditar, considerando a probabilidade lógica de três pessoas serem exatamente iguais e habitarem a mesma região do mundo.

    A química do elenco também não fica pra traz, talvez seja isso que faça com que o telespectador aguente o filme inteiro de ladainhas apenas pelo carisma dos atores.

    Por fim, a fórmula do sucesso só acontece uma vez, o filme pode se tornar decepcionante  se você assistir cheio de expectativas, e por mais que tenta, não consegue trazer o espírito natalino a tona.

    A Princesa e a Plebeia: Nova Aventura já está disponível na Netflix.

    Nota: 1,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | A Princesa e a Plebeia

    Crítica | A Princesa e a Plebeia

    Vanessa Hudgens estrela filme natalino da Netflix A Princesa e a Plebeia atuando em dois papéis diferentes e super carismáticos.

    É comum encontrarmos filmes onde pessoas parecidas trocam de lugar para abrirem o seu leque de experiências estranhas durante a vida, ou até mesmo pra fugir da vida pacata que levam.

    Em A Princesa e a Plebeia, Satcy (Vanessa Hudgens) é uma ótima padeira de Chicago, que vai para um pequeno reino chamado Belgravia para uma competição no ramo de confeitaria. Em seu primeiro dia, Stacy acaba conhecendo Margaret (Vanessa Hudgens), a duquesa de Montenaro que é idêntica a ela, e que está prestes a se casar com o rei que mal conhece.

    Em uma conversa, a duquesa propõe uma troca de papéis até a véspera de Natal, para que enquanto ela aproveitasse a vida simples de uma cidadã normal com os amigos e família, a jovem padeira passaria a assumir as atividades reais.

    A Princesa e a Plebeia
    A Princesa e a Plebeia | Netflix

    A premissa do filme já implica quebras duas não terão facilidades ao trocar de lugar, e é isso que instiga o público a ver até o final a saga das duas mulheres que são completamente parecidas sem ao menos ter um grau de parentesco.

    Apesar do roteiro ser bem provável e já ter sido usado diversas vezes tanto em filmes quanto nas animações, não podemos deixar de citar que A Princesa e a Plebeia do streaming avança na frente com o completo carisma da atriz Vanessa Hudges e do elenco que, apesar de não ter nomes tão conhecidos, ainda assim ganha o público.

    Mas nem tudo são flores para este filme, apesar de ser um filme com temática natalina, o Natal mesmo só é lembrado em um momento pontual, talvez deixando a desejar pra quem estava à espera de algo mágico e que fosse memorável.

    A Princesa e a Plebeia
    A Princesa e a Plebeia | Netflix

    E além disso, o clichê é extremamente presente, deixando o filme completamente previsível desde o começo, é o típico filme pra assistir somente por diversão.

    Por fim, A Princesa e a Plebeia não se destaca, não surpreende mas também não desanima no decorrer do filme, é uma produção leve e que teve destaque no streaming, mas que não passa apenas de um simples filme clichê.

    A Princesa e a Plebeia já está disponível na Netflix.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Mulher-Maravilha 1984 – Em tempos sombrios, Patty Jenkins resgata esperança e heroísmo

    Crítica | Mulher-Maravilha 1984 – Em tempos sombrios, Patty Jenkins resgata esperança e heroísmo

    A Guerreira de Themyscira, uma das pontas essenciais na composição da “Trindade” da DC, é um legado da Cultura Pop e isso é um fato. Honrando essa herança, Gal Gadot e Patty Jenkins nos cativam mais uma vez. Mulher-Maravilha 1984 é o filme mais humano do Universo Estendido DC, feito com muito coração e ternura.

    No passado não tão distante, o mundo dos heróis projetado na tela do cinema foi assombrado por uma infame hesitação: fazer ou não fazer filmes solos protagonizados por mulheres? Em mais de cinquenta anos, apenas cinco longas foram protagonizados por super-heroínas. Na ponta do lápis, quando o cálculo é feito, a discrepância é gritante! Supergirl (1984), Mulher-Gato e Elektra, filmes que não agradaram o público e a crítica, tornaram-se justificativa para a incerteza dos produtores e dos estúdios. Mas, em 2017, Patty Jenkins mudou esse cenário com Mulher-Maravilha. Três anos depois, a continuação — Mulher-Maravilha 1984 — é entregue ao público.

    Nesse meio tempo, a casa concorrente da DC também brindou os fãs com uma estrutura similar em Capitã Marvel. Talvez, Jenkins não soubesse, mas seu trabalho impactou a indústria. Não demorou muito para que Mulher-Maravilha se transformasse em um “farol”, iluminando um novo caminho para as super-heroínas, derrotando de uma vez por todas esse grotesco vilão chamado Hesitação. Toda essa trajetória gerou uma das sequências mais sublimes. Mulher-Maravilha 1984 é um show visual e uma explosão de positividade. Super-força? Não! O verdadeiro dom desse filme é a boa e velha Esperança.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    Sinopse Mulher-Maravilha 1984:

    Diana trabalha no museu Smithsonian, como arqueóloga, podendo ser a heroína mais forte do mundo. Em 1984, ela está diante de um perigo mortal, fruto da conspiração feita pelo empresário Max, que canta alto para satisfazer os desejos das pessoas, e uma inimiga misteriosa, a Mulher-Leopardo.

    A princípio, sensibilidade e força podem soar como conceitos que estão em lados diferentes, compartilhando apenas a distância que existe entre eles. Dois fatores que, quando combinados, constroem um pano de fundo rico, criando tanto uma abertura para que as falhas e as fraquezas de um herói sejam mostradas, quanto a sua “volta por cima” e como ele lida com fracassos e perdas. Se no primeiro longa Patty Jenkins fundiu esses dois elementos, pintando uma protagonista que conquistou o público, dessa vez ela eleva o nível sem perder a mão, inserindo a Princesa Diana em um estágio diferente de sua vida como heroína e como membro de uma sociedade em ascensão.

    Não há apelo ou apego a ação desenfreada, o que não significa que tais cenas fiquem em segundo plano, aquém do esperado. Muito pelo contrário, os momentos enérgicos do roteiro são de extrema qualidade, colocando a heroína em situações distintas, para que seus poderes sejam explorados por outra perspectiva. A principal escolha do filme, contudo, está no aprofundamento da personagem, na sua relação com o mundo, com o luto e com as pessoas ao seu redor. O desenvolvimento é mais rico, tomando boa parte da projeção, aproximando-nos mais da Mulher Maravilha.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    Em vários momentos, provavelmente sem perceber, você notará um sorriso no seu rosto, perceberá que seus olhos estão marejados e sentirá um abraço “indireto”; é como se os diálogos e os olhares fossem dedicados, especialmente, a você! Tudo isso está no pacote de otimismo, que nada mais é que um presente encantador que Mulher-Maravilha 1984 oferece. A alma do filme é tão palpável, tão real, que nos tornamos espelhos dessa aura radiante; o coração que Patty Jenkins colocou no roteiro é uma força motora que contagia. É impossível sair da sala do cinema e não se sentir perseverante.

    Em tempos que a nossa realidade é tomado por adversidades que alimentam o pessimismo, gerando preocupação contínua e temores, correr para os braços da Sétima Arte significa buscar um refúgio. E Mulher-Maravilha 1984 chega para salvar o dia, a semana e o mês de muitos, estendendo uma mão de boas vibrações, desfazendo esse peso generalizado que torna nossa rotina um mundo monocromático.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    Ao longo de Mulher-Maravilha 1984 a fusão entre ser forte e ser sensível é compartilhado com outros setores do filme. A fotografia é uma explosão de cores vivas, evidenciando a naturalidade dos ambientes urbanos e a beleza utópica que rege a Ilha de Themyscira. Os enquadramentos são majestosos, captando um mundo real e fantasioso ao mesmo tempo. Já a trilha de Hans Zimmer, mais uma vez, gera boas doses de energia, coragem e solidariedade. As batidas frenéticas ainda possuem a vitalidade de um grito de guerra, capaz de arrepiar e tocar o lado emocional do espectador. As cenas dramáticas não ficam de fora, sendo embaladas por notas cuja missão é maravilhar o nosso “eu” interior.

    Chris Pine, Gal Gadot, Kristen Wiig e Pedro Pascal formam o time na frente das câmeras, cada um deles tem a sua própria “escada” e precisam subir um passo de cada vez, enfrentando conflitos e dilemas. Fazendo disso seu ponto forte, o roteiro investe no desenvolvimento desse quarteto, contando histórias distintas que vão se emaranhando numa teia de ação e reação. O ponto de chegada para cada um desses personagens é uma questão que desperta nossa curiosidade, mas é a caminhada até lá que importa.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    A frase a seguir pode soar clichê, porém não há melhor definição para o trabalho dela. Gal Gadot nasceu para viver a Mulher-Maravilha, e isso é incontestável. Poderosa na atuação, a atriz se entrega para o papel, assumindo esse manto com mais garra, provando que a força de sua personagem não é quando ela está com os punhos erguidos, mas quando ela utiliza o poder do diálogo para enfrentar seus inimigos. Chris Pine é uma surpresa que os trailers deveriam ter mantido em segredo, mas tudo bem. É engraçado observar que dessa vez é ele quem precisa de um “guia” para compreender as mudanças sociais e tecnológicas que aconteceram em sua ausência. A química entre ambos permanece firme.

    Kristen Wiig, intérprete da Dr. Barbara Minerva, sai de um ponto e vai para o extremo oposto, subindo um degrau de cada vez. A atriz utiliza sua veia cômica com naturalidade e ao longo da sua transformação vivenciamos as nuances de sua personalidade, moldada por ambição, desejo e sede por mudança. Wiig domina a fera, assinando um trabalho marcante.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    Já o Max Lord, de Pedro Pascal, é uma incógnita dentro de uma equação complexa, desafiando-nos a resolve-la. O ator utiliza o charme de seu personagem, alimentando a visão que temos sobre ele. Consequentemente, acontece uma desconstrução e ele se transfigura noutra pessoa. Nem é preciso uma mudança drástica de visual para notarmos isso, pois Pascal mergulha fundo na psique do personagem, nos brindando com um vilão humano e convincente.

    Existe um quinto personagem crucial para a história e “ele” magnetiza todos os holofotes para si diversas vezes: o ano 1984. Extremamente importante para o roteiro, a década de oitenta não é só uma fachada; há uma combinação perfeita entre os dois lados da moeda dessa data. Na prática, somos transportados e isso é resultado do figurino colorido, da ambientação fidedigna, da trilha e da representação midiática daquela época. Se por um lado a beleza de 1984 é enaltecida, em contrapartida a fealdade é patenteada. Não é só de aclamação ao período “oitentista” que vive Mulher-Maravilha 1984. Questões sociopolíticas que envolvem paranoia global e politicagem também encontram espaço no enredo.

    Mulher-Maravilha 1984
    Mulher-Maravilha 1984 / Warner Bros.

    Você pode até pensar que está preparado para este filme, mas o seu coração não tem ideia do que está por vir! Mulher-Maravilha 1984 é uma chama de esperança, incendiando aquele resquício de heroicidade que habita o nosso ser, transformando-o em uma labareda. É um resgate daquele velho sentimento acerca do heroísmo. Cheio de vida, a nova fase da Guerreira de Themyscira vem para fincar sua bandeira no solo sagrado destinado somente as melhores sequências.

    Em resumo, Mulher-Maravilha 1984 tem um propósito nobre: bombear vida para a fonte de inspiração que um herói, nesse caso heroína, tem para oferecer ao mundo.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | O Gambito da Rainha – O Xeque-mate de Anya Taylor-Joy.