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  • Crítica | A Maldição da Mansão Bly

    Crítica | A Maldição da Mansão Bly

    Baseada no romance gótico “A Volta do Parafuso”, de Henry James, “A Maldição da Mansão Bly” tenta escapar da sombra avassaladora de “Residência Hill”. Apostando alto em uma dramaticidade subversiva, o psicológico da obra de Mike Flanagan sobressai ao terror e, em uma vertente fantasmagórica sólida e expressiva, torna-se o suficiente para chamar a atenção.

    A Maldição da Mansão Bly” tem início em 1987, na Inglaterra, e conta a história de Dani Clayton (Victoria Pedretti), uma jovem governanta que é contratada pelo misterioso Henry Wingrave (Henry Thomas) para tomar conta de seus dois sobrinhos órfãos – Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth) – em uma mansão reclusa e assustadora na região de Bly.

    Inicialmente encantador, o local revela segredos obscuros e traz à tona medos e fantasmas do passado, principalmente para a recém-chegada Dani, que se vê obrigada a lidar com a memória de seu falecido noivo e com o comportamento incomum e assustador das duas crianças da casa. Definitivamente assombrada, a maligna Mansão Bly consome seus inquilinos e tenta se apossar eternamente deles, enquanto expõe seus mistérios e permite que espíritos sem rosto circulem, na escuridão, pelos tortuosos corredores da maldita residência.

    A Maldição da Mansão Bly
    A Maldição da Mansão Bly / Netflix

    “A Maldição da Mansão Bly”, cuja narrativa não é uma sequência de “Residência Hill” , segue por uma vertente diferente de sua antecessora. Dirigida por Mike Flanagan – “Ouija: Origem do Mal” e “Jogo Perigoso” -, o terror da Netflix aposta em uma trama psicológica, romântica e dramática, que passa menos tempo elaborando seus sustos – ainda assim, eficazes -, para explorar a poderosa força de seus personagens e a envolvente história de ódio e rancor que transforma qualquer morto em uma assombração desfigurada. A “renúncia” aos clássicos do gênero dão força para “Mansão Bly” desenvolver uma história íntima, apaixonante e absorta em arrependimentos que, por fim, é capaz de se tornar atraente para qualquer espectador.

    Extremamente relacionável, a maior qualidade da obra fantasmagórica da Netflix é a profunda relação entre os sentimentos dos protagonistas – no geral, a culpa – e as aparições assombrosas da mansão. Mantendo o suspense e a ação necessários para estimular a narrativa, até certo ponto, a teia dramática de “Bly Manor” se destaca entre as demais produções e estabelece um padrão interessante e perturbador. No entanto, o que a faz se diferenciar, também é o que a torna imperfeita. A aposta fria em uma narrativa Ultrarromântica torna o ritmo da série lento e, por vezes, repetitivo. Nada capaz de diminuir o brilho do novo trabalho de Flanagan, porém, parte do potencial parece ter sido deixado de lado. O espetáculo poderia ser ainda maior.

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    A Maldição da Mansão Bly / Netflix

    “A Maldição da Mansão Bly”, sem medo de ser diferente, foge de todas as amarras convencionais do terror e, contando com o retorno de Victoria Pedretti, Henry Thomas, Carla Gugino, Oliver Jackson-Cohen e Kate Siegel – protagonistas de “Residência Hill” -, impressiona novamente. Se o tom da série pode, por vezes, falhar, o quadro geral da produção é um deleite visual e cria, constantemente, uma sensação mórbida de mal-estar. A atmosfera concebida em torno da mansão é brilhante e, dessa forma, nos sentimos em cena com cada um dos personagens, apenas para sermos igualmente assombrados pela Dama do Lago e sua fúria implacável.

    Misterioso e claustrofóbico, o conto sobrenatural de Flanagan é mais incômodo do que assustador e, em diversos momentos, oferece uma viagem psicológica que hipnotiza e atormenta. A realidade e a “simplicidade” dos fatos em tela apavora, uma vez que nos afoga em nossos próprios medos, e revela a real urgência da situação caótica e obscura em tela. “Mansão Bly”, trágica à sua maneira, é mais emocionante do que um simples susto.

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    A Maldição da Mansão Bly / Netflix

    “A Maldição da Mansão Bly”, seguindo por uma vertente distinta de sua antecessora, acrescenta um novo sucesso ao universo de terror de Mike Flanagan. Imperfeita, apesar de fascinante, a nova série do streaming faz o espectador pensar e meditar, enquanto é constantemente alimentado com visões assustadoras de seres que vivem no porão ou no fundo do lago. Mistura ambiciosa de gêneros, “The Haunting of Bly Manor“, no original, é uma amostra consistente do trabalho de um autor em ascensão e, repleta de novas ideias, figura como uma experiência gratificante, na mesma medida que perturbadora e macabra.

    A Maldição da Mansão Bly” já está disponível na Netflix.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=5QHl7wRBfOU

    Veja também: Crítica | A Maldição da Residência Hill

  • Crítica | Manual de Caça a Monstros

    Crítica | Manual de Caça a Monstros

    Manual de Caça a Monstros é a nova divertida produção original da Netflix, ambientada no Halloween e com monstros  super fofos, o filme acerta em focar no público infantil.

    Há uns anos a Netflix vem fazendo filmes temáticos, seja eles sobre o Halloween ou Natal, tornando essas épocas ainda mais especiais. Lançando na semana passada sua produção original O Halloween do Hubie, o streaming acerta mais uma vez com Manual de Caça a Monstros, que chegou no catálogo essa semana.

    O longa conta a história de Kelly (Tamara Smart), que tem a sua noite de Halloween arruinada por uma promessa que sua mãe fez no trabalho, colocando ela como babá do filho de sua chefe. Ao chegar na casa da criança, Kelly descobre que o menino tem problemas pra dormir, envolvendo os vários pesadelos que ele tem há anos, e que contar para os adultos não resolvia o seu medo, já que eles não acreditavam em ministros.

    O que o garoto não sabia, é que Kelly havia sido uma criança medrosa também, e que o seus pesadelos haviam feito ela amadurecer nessa parte. Durante a noite, o garoto recebe a visita de O Grande Guignol (Tom Felton) um “bicho papão” que vai atrás das crianças que conseguem tornar os pesadelos em realidade, e é capturado. Ao tentar salvar o menino, Kelly entra para uma organização secreta de babás que tentam livrar o mundo dos monstros que aparecem nos pesadelos.

    Manual de Caça a Monstros
    Manual de Caça a Monstros | Netflix

    Apesar de ser ambientado no Halloween, o filme não trás tantas referências à data, além do fato de aparecer algumas pessoas fantasiadas, mas de qualquer forma, o ponto não é esse.

    Desde a divulgação do primeiro trailer, ficou claro que o filme seguiria uma linha totalmente infantil, principalmente se formos pegar a aparência dos personagens e até mesmo dos monstros-que chegam a ser fofos ao invés de assustadores-.

    O filme segue uma linha super simples pra os seus acontecimentos, extremamente previsível desde o início. Apesar de lembrar a maioria dos filmes que costumam passar na Sessão da Tarde, a produção conseguiu alcançar um nível muito bom de qualidade na maioria das partes de seu roteiro.

    Manual de Caça a Monstros
    Manual de Caça a Monstros | Netflix

    O destaque, como já era de se esperar, é total do ator Tom Felton. Conhecido pelo seu excepcional papel de Draco Malfoy em toda a Saga Harry Potter, o ator surpreendeu ao aparecer novamente nas telinhas, de onde estava longe desde 2018. O seu papel de vilão caiu, mais uma vez, como uma luva. A minha torcida vai para que a Netflix invista em produções com o ator, já que ele mostrou diversas vezes o seu talento para as mais variadas histórias.

    Voltando para o Manual de Caça a Monstros, seu elenco juvenil também merece a atenção  por mostrarem o talento e maturidade com que lidaram com o papel. Entre eles estão Oona Laurence, Alessio Scalzotto, Molina Tamada, Indya Moore e Jan Ho.

    Por fim, Manual de Caça aos Monstros é divertido, nada de novo no mundo do cinema mas é o típico filme de fim de tarde, pode ser o confort filme de vários assinantes da Netflix, e pelo jeito como o fim foi caminhando, tudo indica que ano que vem teremos a parte dois e, sinceramente, eu adoraria.

    Manual de Caça a Monstros já está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | A Maldição da Residência Hill

    Crítica | A Maldição da Residência Hill

    Baseada no romance de 1959 de Shirley Jackson, “A Maldição da Residência Hill” é uma série de terror sobrenatural criada por Mike Flanagan para a Netflix. Ressuscitando a essência do gênero, a produção da Paramount Television destrói paradigmas e assusta, na mesma medida que mergulha na loucura sombria de uma casa amaldiçoada e arrepia até o mais cético dos espectadores.

    A Maldição da Residência Hill” tem início no verão de 1992, quando Hugh (Henry Thomas e Timothy Hutton) e Olivia Crain (Carla Gugino) se mudam com os seus cinco filhos para a assustadora Mansão Hill. Intencionados a reformar todo o local para, depois, vendê-lo por um preço maior, os planos da família começam a ser tragicamente interrompidos quando elementos sobrenaturais presentes na casa começam a se manifestar.

    Alternando entre passado e presente, a série de terror segue os cinco irmãos, agora adultos, tendo que lidar com os fantasmas seculares que insistem em assombrá-los. Enquanto enfrentam situações horripilantes envolvendo a mansão e superam o luto de um suicídio na família, Shirley (Elizabeth Reaser e Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel e Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti e Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen e Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman e Paxton Singleton) retornam à maldita residência a fim de decifrar a forte ligação da Residência Hill com os Crain e, assim como um mergulho na escuridão, salvar as suas vidas.

    A Maldição da Residência Hill
    A Maldição da Residência Hill / Netflix

    “A Maldição da Residência Hill”, carro-chefe do catálogo da Netflix em 2018, aposta na distinta experiência de Mike Flanagan – diretor de “Ouija: Origem do Mal” e “Jogo Perigoso” -, para ressuscitar a essência clássica do terror e catapultar o espectador em direção ao medo. Evocando espíritos malignos e realocando-os em corredores estreitos e escuros de uma mansão aparentemente “viva”, o thriller sobrenatural sobre a família Crain se estabelece como um dos melhores já produzidos e é, deliberadamente, capaz de enterrar os corpos podres de cada ser que já pisou na Mansão para substituí-los pelo silêncio ensurdecedor de uma necrópole assombrada.

    Desde o início da narrativa macabra de Flanagan, a produção desenvolve um ritmo próprio envolvente e bem construído. O espectador é apresentado a duas linhas temporais distintas sobre uma mesma família e, episódio a episódio, as peças do cenário grotesco da Residência Hill se encaixam de forma elétrica e viciante. A engrenagem narrativa apresentada torna o caos psicológico dos personagens o nosso próprio, e somos capazes de sentir na pele calafrios por cada contato fantasmagórico e cruel vindo da casa dos Crain. Finalmente, o conto de terror da Netflix é coroado por dois plot-twists do tamanho que a produção precisa, encerrando o seu ciclo de maneira brilhante.

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    A Maldição da Residência Hill / Netflix

    “The Haunting of Hill House“, no original, conta com um elenco selecionado a dedo que, aparentemente, foi esculpido para a narrativa de Flanagan. Liderados por Victoria Pedretti – a intérprete de Nell Crain – que, em especial, é um show à parte, todos entregam acima do esperado e compõem uma equipe qualificada que torna cada minuto da jornada maligna na Mansão Hill um deleite audiovisual. Surgindo como um presente para os fãs do gênero, a produção do streaming torna-se referência em tudo o que faz.

    Estratosférica, a série da Netflix é paciente e, em 10 episódios, foge da monotonia para mergulhar fundo em uma investigação poderosa sobre o efeito duradouro do trauma. Criada para envolver, o público não é saturado e encontra a vilania dentro de cada um em tela, assim como em si próprio. Não são apenas as palavras de “Residência Hill” que marcam, mas as imagens de um horror sincero e fúnebre, como a Moça do Pescoço Quebrado. Obstinada a ser diferente, a produção se estabelece em um patamar inimaginável e agrada tanto quanto espanta.

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    A Maldição da Residência Hill / Netflix

    A Maldição da Residência Hill“, fugindo das amarras de gênero há muito estabelecidas, conjura uma sequência narrativa épica, assustadora e apaixonante. Como um filme de terror que só deve ser visto à luz da Lua, a série de Mike Flanagan trará todos os seus medos à tona e, em um arrepio ininterrupto capaz de percorrer toda a extensão da coluna, lhe fará duvidar da própria sanidade. A beleza da adaptação do clássico de Shirley Jackson, de 1959, é imortal e, com toques de perversidade circunscritas em cada linha do roteiro, é capaz de dar à vida uma inesquecível ode ao terror. Assim como espíritos andam amaldiçoados pelos tortuosos corredores da Mansão Hill, ela também está aprisionada em nossas mentes, dessa vez, para sempre.

    Nenhum organismo vivo é capaz de existir com sanidade sob condições de absoluta realidade. Até cotovias e gafanhotos supostamente sonham. A Residência Hill, desprovida de sanidade, erguia-se sozinha contra os montes, abrigando em si a escuridão. Foi assim durante cem anos e talvez seja por mais cem. Em seu interior, as paredes se erguiam verticalmente, os tijolos se uniam com precisão, o assoalho era firme. O silêncio repousava soberano sobre a madeira e a pedra na Residência Hill. E o que por lá andasse, andava sozinho.

    A Maldição da Mansão Bly” estreia no dia 9 de outubro na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Espírito de Família

  • Crítica | O Halloween do Hubie

    Crítica | O Halloween do Hubie

    O Halloween do Hubie, nova comédia de Adam Sandler é uma as produções que abriram a temporada de Halloween na Netflix, estreando hoje, o filme entra com toda certeza pra lista dos queridinhos do ator, sendo algo totalmente novo – ou nem tanto- em sua carreira.

    Particularmente, quando eu vejo algo sobre um novo filme do Adam Sanler, uma onda de nostalgia me invade e eu fico completamente ansiosa pra ver o que de novo vai sair da cabeça do ator e produtor, e assim foi com O Halloween de Hubie. Eu não costumo assistir muitos filmes com a temática de halloween, não por não serem interessantes, mas foi algo que eu consumi muito durante a minha infância e que agora não vejo tanta graça, mas esse em especial – e não digo isso só pelo fato de amar o Adam- me chamou a atenção.

    No filme, Adam Sandler é um peculiar cidadão da pequena Salém, todos zombam do seu jeito estranho e meio sério de lidar com as coisas, e de sua fiel escudeira: sua garrafinha térmica, que poderia muito bem  ser apelidada de “garrafinha de utilidades”, porque ela vai além de uma garrafa térmica normal, ela tem secador de cabelo e um telescópio embutido.

    O Halloween do Hubie
    O Halloween do Hubie | Netflix

    O halloween é claramente a sua época preferida do ano, e ao iniciar os preparativos para a festa, a cidade fica ciente de que um assassino fugiu de uma clinica psiquiátrica. Como nem todo mundo leva o caso a sério, sobra para Hubie resolver todo o mistério e salvar a noite de todo  mundo, da melhor maneira possível.

    É incontável o número de vezes em que produções trouxeram um mistério a ser desvendado em plena noite de halloween, e nenhuma se destaca o suficiente para agradar os críticos, mas conseguem – e muito- agradar o público.

    A comédia escrita, produzida e estrelada por Sandler é um besteirol temático, daqueles para assistir com toda a família e dar umas boas risadas. Não seria justo da minha parte classificar esse filme como bom ou ótimo, mas ele se contenta muito bem com o razoável e extremamente divertido, assim como a maioria dos filmes no portfólio do Adam.

    O Halloween do Hubie
    O Halloween do Hubie | Netflix

    Grandes produções com uma extensa lista de atores conhecidos é a marca registrada de Sandler como produtor, o ator adora convidar os amigos de longa data para participar de seus filmes, e dessa vez não foi diferente. A longa lista conta com nomes novos e aqueles que batem ponto em praticamente todos os filmes de comédia, entre eles estão Noah Schnapp, Paris Berelc, Lance Lim, Julie Bowen, Karan Brar, China Anne McClain, Kevin James, Rob Schneider, Steve Buscemi, Maya Rudolph, June Squibb, Shaquille O’Neal, Kenan Thompson, Tim Meadows, Ray Liotta, Michael Chiklis, Blake Clark, Ben Stiller e a familia de Sandler, sua esposa  Jackie Sandler, que aparece na maioria dos filmes, e suas filhas Sadie Sandler e Sunny Madeline Sandler, ufa!

    Apesar das piadas batias, situações completamente exageradas e uma atuação um tanto quanto  forçada partindo do próprio Adam, o filme consegue seguir muito bem e não enrola muito em seus acontecimentos,  mesmo se perdendo em alguns pontos.

    E o que eu menos esperava, aconteceu. Ao fim do filme, eu não imaginava que depois dos créditos e de alguns erros de gravação, fosse aparecer uma bela homenagem ao ator Cameron Boyce.

    O Halloween do Hubie
    O Halloween do Hubie | Netflix

    Cameron era um jovem ator que acabou falecendo no ano passado após uma convulsão, sua ligação com o Adam Sandler vem desde 2010, quando os dois trabalharam juntos como pai e filho na comédia Gente Grande. Sandler falou sobre o caso na época em que o ator faleceu, mas ficou claro o seu carinho e o orgulho que ele tinha pelo Cameron nas belas palavras que escreveu.

    Por fim, O Halloween do Hubie não passa de mais uma do Sandler, mas isso de forma alguma é uma coisa ruim. A comédia cumpre o seu papel de ser engraçada e para a família, vale a pena ser assistido várias vezes.

    O Halloween do Hubie já está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

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  • Crítica | The Lie

    Crítica | The Lie

    Suspense fruto de uma parceria entre o Amazon Prime Video e o Bkunhouse, The Lie é a prova viva de que uma mentira contada várias vezes acaba se tornando uma verdade. O filme que estreou hoje no  Prime Video vem chamando a atenção do público desde a divulgação do seu trailer.

    O que você  seria capaz de fazer para encobrir uma mentira? se você ainda não tem uma resposta, isso com certeza vai mudar após assistir The Lie, que é basicamente um filme sobre a mentira e as consequências de se esconder algo.

    Baseado em um filme alemão chamado “Nós Monstros”, The Lie começa com uma leveza que não costumamos ver em filmes tão tensos, nele Kayla (JoeyKing) é uma adolescente comum e com poucos amigos, que tenta lidar diariamente com o divórcio dos pais Jay (Peter Sarsgaard) e Rebecca (Mireille Enos). Um dia, quando estava a caminho da aula de balé, Kayla avistou sua melhor amiga Rebeccca (Devery Jacob) num ponto de ônibus, para impedir que a amiga siga sozinha, Kayla pede para que o seu pai dê carona. Ele prontamente aceita o pedido da filha.

    The Lie
    The Lie | Amazon Prime Video

    Durante o caminho, Rebeccca começa a agir de um jeito diferente, deixando Kayla completamente envergonhada. No meio do caminho o carro para no meio do nada, as meninas saem para andar e Jay fica sozinho parado ao lado do carro. Poucos segundos depois, é possível ouvir um grito assustador e logo em seguida a Kayla em cima de uma ponte, dizendo repetidas vezes de que teria empurrado a  melhor amiga de propósito por não concordar com as atitudes da menina dentro do carro.

    Sem muitas perguntas, Jay logo pensa em como encobertar a filha caso haja uma investigação, e junto de sua ex esposa, faz de tudo para que a filha fique de fora de qualquer  suspeita. Juntos pela primeira vez depois de muito tempo, a família tenta levar uma vida normal ao tentar esconder o assassinato, e tudo ia bem até o aparecimento do pai de Rebecca.

    Suspenses que giram em torno e mentiras são, para mim, os mais interessantes por se aproximarem ainda mais com a realidade. Em uma época em que vivemos coma alta das Fakes News, acreditar em uma mentira nunca foi tão fácil.

    The Lie
    The Lie | Amazon Prime Video

    The Lie, ao mesmo tempo que tem uma curta duração, consegue encaixar muito bem todos os seus elementos, se mantendo interessante do começo ao fim. A discussão sobre “o que um pai é capaz de fazer para ajudar o seu filho?” se faz presente durante todo o filme, nos fazendo ficar em cima do muro enquanto assistimos (pelo menos até os últimos 20 minutos).

    Apesar de pular várias etapas que estamos acostumados a ver num filme como esse, The Lie não decepciona, e se mantém impecável tanto nas atuações como no mistério envolvendo toda a situação do assassinato e da mentira.

    The Lie foi produzido em 2018 e escrito e dirigido por Veena Sud, a demora pelo lançamento aumentou ainda mais a expectativa do público -incluindo euzinha-. Admito que cada vez mais me surpreendo em como a realidade vem se parecendo ainda mais com a ficção, e não consigo ver um lado bom nisso (vulgo caso recente no Brasil em que uma menina menor de idade disparou um tiro na cabeça de uma outra menor, e teve ajuda dos pais para encobrir tudo).

    The Lie
    The Lie | Amazon Prime Video

    Intrigante e cheio de boas atuações, The Lie traz  um constante questionamento sobre o que é verdade e quais as consequências de manter uma mentira.

    The Lie já está disponível no Amazon Prime Video.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Emily Em Paris

    Crítica | Emily Em Paris

    Emily em Paris é a nova comédia da Netflix, focando no mundo do marketing de uma maneira leve e descontraída, cheia dos clichês românticos e o ar parisiense, ela merece toda a atenção do público e uma petição para a segunda temporada sair o mais rápido possível.

    Quem nunca sonhou em ter uma oportunidade de trabalhar na Cidade Luz? Croissant e perfumes são algumas das milhares de coisas que chamam a atenção em Paris, seu ar romântico e sua língua um tanto quanto complicada são itens importantes para uma boa aventura quando se está sozinha.

    Emily Cooper é uma executiva de marketing em uma grande empresa em Chicago, e que vê sua vida mudar completamente quando surge a oportunidade de comandar o marketing debuta agência recém-comprada por sua chefe em Paris, para ser a visão “americana”. Com zero fluência no idioma e considerada “brega” pelos colegas de trabalho – e principalmente pela sua nova chefe-, Emily tenta ao máximo elevar o nível da filial francesa. Sendo responsável pelas mídias sociais de vários clientes importantes, ela tem que provar a todo momento o seu potencial na indústria do marketing.

    Emily em Paris
    Emily em Paris | Netflix

    Mas nem tudo é só trabalho,  Emily terminou recentemente com o seu noivo e, com uma cidade cheia de homens prontos para viver um romance francês, fica difícil não engatar um relacionamento e até mesmo fazer parte de um triângulo amoroso. Amizades também surgem para aqueles que estão completamente sozinhos na cidade, com o carisma e uma boa lábia, Emily faz belas amizades.

    Desde que a série foi anunciada, três coisas ficaram bem claras: a influência de Sex And The City, Gossip Girl e O Diabo Veste Prada, o que foi se confirmando com o decorrer dos episódios e até uma citação à Serena van der Woodsen, e não é de se estranhar toda essa ligação já que o criador é ninguém menos que Darren Star, o mesmo de Sex And The City . Mas, o que difere Emily em Paris das demais séries é a modernidade e a forma com que as coisas acontecem, o feminismo é algo presente nos episódios.

    Emily em Paris
    Emily em Paris | Netflix

    Emily em Paris é uma série leve e viciante, daquelas que a gente maratona sem sentir. Apesar de conter os clichês que talvez sirvam mais para encher linguiça na trama, ela se destaca por ter uma protagonista extremamente interessante. Lily vem brilhando em vários papéis ao longo de sua carreira, e esse com toda certeza será lembrado. Ao lado dela na série, estão nomes como Kate walsh, Lucas Bravo (Gabriel), Ashley Park (Mindy), Philippine Leroy-Beaulieu (Sylvie) e William Abadie (Antoine).

    Louca e imprevisível como a vida, Emily Em Paris é a força e a inteligência feminina nas telinhas, além de um ótimo entretenimento. Existem rumores sobre a sua segunda temporada já estar pronta e nós estamos mais que ansiosos para essa confirmação.

    Emily em paris já está disponível na Netflix.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | The Boys In The Band

    Crítica | The Boys In The Band

    The Boys In The Band é uma peça americana que aborda a discussão sobre a homossexualidade nos anos 60. Trazida para as telonas nos anos 70, o filme ganhou uma nova adaptação nas mãos do produtor Ryan Murphy, entrando para a lista de produções originais da Netflix.

    Não é e hoje que o diretor e produtor Ryan Murphy vem focando em adaptações de grandes clássicos, e dessa vez não seria diferente. Com uma história trazida lá dos anos 60, Murphy conseguiu -mais uma vez- chamar a atenção do público com uma discussão madura sobre a homossexualidade.

    Nesta versão de 2020 do musical, um grupo de amigos gays se reúne em um apartamento para a comemorar o aniversário de um deles, até que um antigo colega da faculdade do anfitrião aparece sem ser convidado, trazendo os seus problemas pessoais para dentro da festa.

    The Boys In The Band
    The Boys In The Band | Netflix

    Homofóbico e agressivo, o penetra muda todo o rumo do evento trazendo vários questionamentos sobre o amor e a homossexualidade. A chegada do aniversariante deixa tudo ainda mais tenso, até que eles decidem começar um “jogo” cruel de encarar brutalmente amores perdidos ou não correspondidos, claramente conduzindo uns aos outros a lugares pouco confortáveis e até exasperantes.

    Apesar de ser uma adaptação de um musical, fica claro desde o começo que o filme não seguiria a mesma linha, o que foi extremamente interessante tanto para a trama quanto para o desenvolvimento dos diálogos complexos.

    Ambientar produções em décadas passadas é a marca de Ryan Murphy, que sabe muito bem trazer de volta os anos dourados para as telas, sendo em séries ou filmes. Mas, o que realmente chamou a atenção em The Boys In The Band não foram os figurinos lindíssimos e nem toda a estética sessentista, e sim a brilhante escolha de elenco.

    The Boys In The Band
    The Boys In The Band | Netflix

    Como citado anteriormente, The Boys In The Band foi originalmente uma peça, peça essa que foi adaptada diversas vezes em diversas formas, que estava no teatro recentemente com alguns dos atores presentes no filme. A intimidade com a história pode ter ajudado ainda mais o elenco a se encontrar dentro do enredo, trazendo o brilho necessário nos personagens.  

    No elenco temos nomes como Jim Parsons (Michael), Matthew Bomer (Donald), Charlie Carver (Cowboy), Andrew Rennells (Larry), Zachary Quinto (Harold), Tuc Watkins (Hank), Brian Hutchinson (Alan), Robin de Jesús (Emory) e Michael Benjamin Washington (Bernard).Com um único cenário, uma discussão necessária e momentos de reflexão, The Boys In The Band veio em sua melhor forma e na melhor hora.

    The Boys In The Band já está disponível na Netflix.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Enola Holmes

    Crítica | Enola Holmes

    Nova produção da Netflix “Enola Holmes” explora de um jeito divertido e inocente a vida da irmã mais nova do maior investigador do mundo, Sherlock Holmes. Baseado na série de livros de Nancy Springer, o filme é uma boa adição para a história do genial detetive.

    É difícil encontrar alguém que não conheça ou que nunca tenha ouvido falar sobre o maior detetive inglês, Sherlock Holmes. A sua história está na literatura britânica desde 1887, quando foi escrito por Sir Arthur Conan Doyle, e com o avanço do cinema não demorou muito para que ele ganhasse o seu espaço nas telinhas.

    Já são mais de 50 produções entre filmes, séries e programas de televisão que contam a história do brilhante detetive que desvenda absolutamente tudo de uma forma um tanto quanto peculiar. Com sua fama, histórias que o ligavam a outras pessoas foram criadas, e assim nasceu Enola Holmes, sua irmã mais nova. A história de Enola foi escrita em uma série de livros publicados em 2006 pela escritora Nancy Springer, e logo foi ganhando o coração dos britânicos por apresentar uma mulher na família Holmes. Não demorou muito para a Netflix se interessar pela história e anunciar a produção de um filme sobre ela.

    Enola Holmes
    Enola Holmes | Netlix

    O longa apresenta Enola Homes ( Millie Bobby Brown), que descobre na manhã do seu 16º aniversário que sua mãe, Eudoria Holmes (Helena Bonham Carter) desapareceu, deixando para trás alguns presentes cheios de enigmas e um grande mistério sobre o seu desaparecimento. Para conseguir encontra-la, Enola decide pedir ajuda para seus irmãos, Sherlock Holmes (Henry Cavill) e Mycroft Holmes (Sam Claflin), mas nem tudo sai como o previsto.

    Por ter sido criada somente pela mãe, Enola teve presente uma grande figura feminina que a ensinou a ser independente, livre e várias outras coisas que não condiziam com as atividades e obrigações das mulheres daquela época, e toda essa liberdade não era bem vista aos olhos de seu irmão Mycrof, que achava a mãe uma irresponsável e que a irmã deveria aprender boas maneiras em um colégio interno.

    Sozinha e prevendo que os irmãos não a ajudaria a desvendar o mistério, Enola foge para Londres seguindo as pistas que sua mãe havia deixado, mas não contava que ao conhecer um jovem lorde fugitivo (Louis Partridge) a sua jornada mudaria completamente de rumo. Ao descobrir uma conspiração que pode alterar o curso da História, Enola enxerga uma chance de se tornar uma investigadora de respeito capaz de superar seu famoso irmão.

    Enola Holmes
    Enola Holmes | Netflix

    Desde a divulgação do primeiro trailer, criei grandes expectativas sobre como a história seria contada e como entregariam uma nova personagem sem ofusca-la pela fama do irmão, e logo nos primeiros minutos de filme pude ver que isso de fato não aconteceria, e que Enola era tão brilhante e tão interessante quanto seu ele.

    O filme fala sobre o empoderamento feminino de uma forma leve e as vezes um pouco cômica, mostrando o primeiro contato de Enola com o mundo real e como ela conseguiu lidar com tudo isso estando sozinha.

    De várias coisas interessantes que acontecem ao longo do filme, a que mais chama a atenção é a constante quebra da quarta parede – que é quando o personagem fala diretamente com a câmera-, essa interação com o público deixa a experiência ainda mais divertida.

    Enola Holmes
    Enola Holmes | Netflix

    Dirigido por Harry Bradbee, a adaptação contou com um elenco de peso para dar vida à família Holmes, Henry e Sam já são veteranos no cinema tendo bons filmes em seus portfólios, mas a grande estrela que tomou conta da produção foi Millie Bobby Brown, que já está há um bom tempo atuando, mas que ganhou a atenção do público ao interpretar a Eleven em uma das maiores produções da Netflix, Stranger Things.

    Enola Holmes chegou contrariando tudo o que o público esperava, é um filme divertido que pode agradar tanto os fãs de Sherlock quanto os que nem conhecem o seu personagem. Toda a inocência trazida por Enola é uma escolha perfeita pra se tornar um dos filmes mais assistidos pelas famílias. Talvez a falta de desenvolvimento em algumas subtramas, a pequena participação de Sherlock  ou a mudança repentina de interesse da personagem não faça tanto sentido num primeiro momento, mas acredito que isso seja uma ótima maneira de engatar um segundo filme.

    Enola Holmes estreia dia 23 de setembro na Netflix.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Ratched

    Crítica | Ratched

    Série sobre a vilã do longa clássico  “Um Estranho no Ninho” (1975), Mildred Ratched, estreiou dia 18/09 na Netflix dividindo a opinião do público e apresentando mais uma parceria entre Sarah Paulson e Ryan Murph.

    Não é de hoje que vemos séries derivadas de filmes sendo produzidas, isso aconteceu com a espetacular Bates Motel, que foi baseada na história por trás de Psicose, do diretor Alfred Hitchcock. Explorar clássicos do cinema para criar novas produções parece ser uma ótima opção, principalmente por apresentar histórias clássicas ao público jovem.

    A nova aposta da Netflix está na série Ratched, originado do filme “Um Estranho no Ninho” de 1975. O longa e a série são baseadas no romance de além Kesey, publicado em 1963, no filme Jack Nicholson interpreta Randle Patrick McMurphy, um homem que se passa de louco para escapar da punição policial, e acaba sendo internado em um hospital psiquiátrico.

    No hospital, uma das enfermeiras chama a atenção pela sua forma de trabalhar e lidar com os pacientes. Mildred Ratched é a enfermeira vilã do filme, que entra em um conflito constante com Randle. Na série, Mildred será explorada ainda mais para mostrar o seu trabalho, e sua vilania, mostrando as coisas que aconteceram alguns anos antes da história do filme.

    Ratched
    Ratched | Netflix

    Ratched se passa em 1947, quando Mildred (Sarah Paulson) desembarca no Norte da Califórnia para conseguir um emprego em um hospital referência na psiquiatria, onde novos experimentos começaram a ser feitos na mente humana. Mildred, em uma missão clandestina, se apresenta como uma enfermeira dedicada e inteligente, até começar a se infiltrar e complicar as coisas no sistema de saúde mental e em todos que estão nele. A imagem de “bela moça” de Mildred esconde uma escuridão aterrorizante.

    Conforme o tempo vai passando, o seu modo de trabalho começa a ser inaceitável, e um verdadeiro monstro vai se criando, revelando que nem tudo é o que parece. Mildred -que já não demonstrava os sentimentos- passa a ser alguém ainda mais fria tanto com os pacientes quanto com os médicos que trabalham com ela.

    Criada por Ryan Murphy e Evan Romansky, Ratched seguiu a fórmula que Murphy vê que dá certo há anos. Seguir uma linha firme de suspense sem acrescentar tanto na história já apresentada parece ser o melhor jeito de trazer uma personagem de um clássico a vida.

    Ratched
    Ratched | Netflix

    Outra fórmula que da super certo é a parceria de Murphy com a Sarah, que é visivelmente a sua musa e a primeira a ser lembrada quando surge uma nova ideia. Ele sabe explorar a personalidade de Sarah e suas qualidades, a fazendo brilhar nos thrillers e séries alternativas.

    Se tratando de produção, Ratched está impecável. Os cenários e figurinos que remetem a década de 40 chamam a atenção na maior parte do tempo, além do visual agradável e da estética que é assinatura de Murphy em todas as suas produções.

    Além de Sarah, o elenco conta com grandes nomes como Sharon Stone como Lenore Osgood, Cynthia Nixon como Gwendoly Briggs e Brandon Flynn como Henry Osgood.

    Ratched
    Ratched | Netflix

    Apesar da série ter chamado a atenção pela estética e por abordar a história de um clássico do cinema, seus oito episódios com quase uma hora tornam entediante a experiência e um tanto quanto difícil de maratonar. Seus diálogos são densos e os acontecimentos acontecem lentamente. Mesmo com toda essa lentidão, é difícil dizer que a fórmula Sarah + Murphy não deu certo, a série é extremamente interessante e vale a pena ser conferida.

    O sucesso da produção é tão certa para Murphy, que o diretor já anunciou que tem interesse de produzir mais 4 temporadas, deixando em aberto se em algum momento a série irá abordar a história de “ Um Estranho no Ninho”, que eu particularmente adoraria ver.

    A primeira temporada de Ratched já está disponível na Netflix.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Espírito de Família

    Crítica | Espírito de Família

    Dirigido e roteirizado pelo francês Eric Besnard, especialista em comédias dramáticas, “Espírito de Família” concentra seus esforços na comunhão de uma trama comovente e sincera com o cenário melancólico de uma casa em luto. Aparentemente reciclado, o lançamento da Apollo Films abraça as convenções do gênero e oferece uma aventura agradável e encantadora – ainda que pouco original.

    L’Esprit de Famille” acompanha uma parte da vida de Alexandre (Guillaume De Tonquedec), um escritor que – constantemente mergulhado em seu trabalho – deve enfrentar a repentina morte de seu pai (François Berléand). Abraçado na miséria de sua perda e distanciando-se de seus entes mais próximos, Alexandre, no entanto, começa a vê-lo e a escutá-lo por todo o lado, embarcando em uma jornada de autoconhecimento e dúvida que afeta todos ao seu redor e que o faz “perder a cabeça”, à medida que deve lidar com críticas e situações constrangedoras frutos da relação conflituosa que mantém com o inconveniente espírito.

    Enquanto tenta se desvencilhar da intempestiva presença de seu falecido pai, o protagonista desperta a preocupação dos outros membros de sua família – que lidam com os próprios sentimentos, ao mesmo tempo em que assistem o escritor conversar “sozinho” e mudar constantemente de comportamento. O luto na casa de praia de Morbihan, no noroeste da França, deve colocar os laços domésticos à prova e, em um turbilhão de emoções e desconsolos, encontrar harmonia e união onde antes havia ressentimento e culpa.

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    Espírito de Família / Apollo Films

    Inicialmente lenta, a roupagem de “Espírito de Família” é bem definida e procura tratar com sutileza o doloroso tema de luto e morte. No entanto, circundado pela ironia amplamente presente na filmografia do cineasta francês, o tom enérgico e irreverente desejado por Eric Besnard logo toma conta das ações e se estabelece como a comédia dramática dinâmica e confiante que conquistará a simpatia de muitos espectadores. Recheado de personagens caricatos em profunda comunhão com seus intérpretes, o desenrolar da trama fictícia é regular e rende bons frutos.

    Em contrapartida, o ponto negativo do longa da Apollo Films reside na imensa previsibilidade da trama. Tratando de um assunto amplamente explorado na história do cinema, “L’Esprit de Famille” não oferece nada diferente do usual e peca na simplicidade dos fatos documentados. Ainda que pouco original, a produção tenta se desvencilhar dessas amarras, mas não resiste à trivialidade. Contudo, apesar de não assumir grandes riscos, a produção sabe o que quer ser e aposta numa simplicidade comovente que, finalmente, demonstra grande valor e consegue agradar na medida que emociona – sobretudo quando o espírito do falecido pai é capaz de despertar o melhor que existe dentro de cada um dos personagens.

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    Espírito de Família / Apollo Films

    Espírito de Família” é uma alegoria sobre a morte, a vida e a memória. Investindo em um tom ameno e divertido, o longa-metragem acerta em algumas escolhas e deve receber crédito, uma vez que é capaz de superar a falta de originalidade da trama abordada e de transformar a ordinária aventura francesa de uma família em luto em uma lição aconchegante e aprazível.

    Cativante, ainda que clichê, a produção de Eric Besnard revela ser mais do que uma comédia rasa e mergulha fundo na proposta de explorar os laços familiares em momentos críticos da vida cotidiana. Extremamente relacionável, “L’Esprit de Famille” conquista, lentamente, o espectador e torna-se uma jornada simbólica e bonita sobre a influência dos mortos naqueles que ficam.

    “Espírito de Família” estreia dia 17 de setembro nas plataformas de streaming para compra e aluguel digitais.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Lúcifer – 5ª temporada [Parte 1]

  • Crítica | #Alive – O isolamento social em um cenário de Apocalipse Zumbi

    Crítica | #Alive – O isolamento social em um cenário de Apocalipse Zumbi

    Da vida real para as telas. Filme sul-coreano utiliza a “Quarentena” como pano de fundo para contar a história de Oh Joon‑woo, um típico jovem da Era Digital que precisa sobreviver trancafiado em seu apartamento, enquanto o mundo lá fora é devastado por uma epidemia de zumbis.

    Em 2016, o público apaixonado por cinema pôde experimentar uma nova vertente no gênero “apocalipse zumbi” graças ao excelente projeto do diretor Yeon Sang-Ho com o longa-metragem Invasão Zumbi. Indo na contramão dos filmes ocidentais, o thriller deixou o pedestal para o drama, o que trouxe mais humanidade para a história. Dessa vez, em tempos de isolamento social, a Netflix aposta em #Alive, cuja narrativa conversa com os dias atuais. Trata-se da arte imitando a vida e se aproveitando da licença da ficção para retratar os efeitos do distanciamento social em um indivíduo. O longa é uma versão oriental de Alone, filme do diretor Matt Naylor que ainda não foi lançado.

    Sinopse #Alive:

    Um jovem gamer precisa lutar por sua vida diante de um apocalipse zumbi, se encontrando cercado em seu apartamento. Mas a situação complica ainda mais quando a energia é cortada. Assim, ele não pode mais acessar parentes e amigos online, jogar seu game ou se conectar com o mundo exterior.

    #Alive - O isolamento social em um cenário de Apocalipse Zumbi
    #Alive / Netflix

    Quando a palavra “Zumbi” é dita no trailer de um filme ou lida na sinopse, logo presume-se que a história terá muitas vísceras e um banho de sangue, assim como estonteantes cenas de destruição e morte em massa. Elementos estes que possuem grande força em filmes do gênero lançados nos últimos anos, tendo em conta o frenético Guerra Mundial Z e a franquia Resident Evil. Há anos que os filmes com essa temática afastaram-se dos clássicos como A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero, que foca sua narrativa nas relações entre os personagens e situações simplistas. Eis que o cinema coreano trouxe esse lado “introspectivo” outra vez, atualizando as tramas para a época atual.

    #Alive é a prova viva de que uma premissa intimista é uma saída difícil, porém forte o suficiente para ficar marcada na memória do público. Não que o filme desdenhe do famoso “jump scare” ou algumas sequências sanguinolentas, só que elas ficam em segundo plano. Cho Il (diretor e roteirista) dá espaço para o drama de um protagonista que precisa ficar isolado em seu apartamento, sem informações sobre a família, sem esperanças e em breve sem comida. Qualquer semelhança com a nossa realidade não é mera coincidência!

    O vazio é uma presença que impera durante o primeiro ato do filme. No momento presente, em que todas as pessoas do mundo passaram e ainda passam por um estágio que necessita de isolamento social, a narrativa conversa com a gente, direta e indiretamente. Trancado em casa, enquanto do lado de fora se alastra uma epidemia, o protagonista corre para os braços da sua “vida” virtual, refugiando-se em partidas de games e postagem em redes sociais. Similar, não é mesmo? O drama real sendo pintado na tela através da linguagem cinematográfica.

    #Alive
    #Alive / Netflix

    O roteiro se preocupa em mostrar a passagem do tempo de forma arrastada e sofrida. Os dias discorrem, as notícias da TV não são otimistas e a fome bate à porta do personagem Oh Joon‑woo. Atormentado física e psicologicamente, ele vive um dia após o outro, lutando pela sua sobrevivência. A sacada de seu apartamento é como uma janela nada convidativa para o pandemônio que eclode nas ruas infestadas de mortos-vivos. É nesse canto da residência que ele tem contato com o mundo exterior, muitas vezes incapaz de fazer algo, como um mero telespectador, assim como nós.

    Sabe-se que as redes sociais tornaram-se corriqueiras, pois nossa vida e existência passaram a significar muito no ambiente virtual. É nessa tecla que o filme bate, mais de uma vez, usufruindo do cotidiano do protagonista como espelho da nossa própria conduta. A necessidade da internet, a dependência da comunicação e a utilização de games como “válvula de escape” estão lá, na primeira parte do filme! Mais que elementos visuais para a construção do protagonista, são analogias aos hábitos praticados por todos nós, inclusive numa quarentena.

    Quando outro rosto surge, adicionando um rumo abrupto para o enredo, cabe a personagem Kim Yoo‑bin, interpretada pela atriz Park Shin‑hye, mostrar uma nova faceta para o termo “sobrevivência”. A inserção dela é uma alavanca para a discussão sobre “solidão x acompanhamento“.

    #Alive
    #Alive / Netflix

    Passar por tudo isso sozinho? Ou contar com a ajuda de outra pessoa para sobreviver? Como diz o velho ditado brasileiro, será que a união realmente faz a força? Ou devemos contar apenas com nós mesmos? A aparição de Kim Yoo talvez seja a resposta para tantas perguntas, afinal, os dois personagens se complementam, mesmo que separados pelo distanciamento.

    O ator Yoo Ah‑In (que empresta seu talento para viver o protagonista) carrega nas costas a primeira meia hora do filme, com muita competência e carisma. Uma tarefa difícil sustentar a atenção do público nos momentos de introspecção, mas ele faz da solidão (e dos objetos) degraus para se aproximar da audiência. É como se estivéssemos ali, do lado dele, observando tudo, sem pode ajudar, sem poder interferir. A verossimilhança com a pandemia causada pelo COVID-19 nos faz torcer minuto após minuto pelo personagem.

    Park Shin‑hye entrega toda a carga emocional de sua personagem através do olhar e das falas impregnadas de sentimentos. A atriz grita suas emoções metaforicamente, e a partir disso conseguimos captar tudo o que ela sente e carrega dentro de si; no terceiro ato isso é ainda mais forte. Ainda que a personagem parece mais “centrada” e regida pela lógica, pouco a pouco o enredo revela algumas camadas dela, isto é, percebemos que Kim Yoo não é tão diferente assim do seu companheiro de sobrevivência, quando destacado seus traumas e escolhas.

    #Alive
    #Alive / Netflix

    Citando mais uma vez o inesquecível Invasão Zumbi, #Alive possui uma semelhança visual quanto a caracterização dos mortos-vivos: a maquiagem horripilante trabalhada em conjunto com o CGI. Ademais, o filme também explora outras possibilidades comportamentais, tornando os zumbis mais do que um amontoado de seres canibais. O vestígio de inteligência nestes seres implementa uma dose extra de pânico na narrativa, uma abordagem parecida com os dinossauros “inteligentes” dos primeiros filmes de Jurassic Park. Esse paralelo é maior quando a confirmação deste fato está associado ao ato de abrir uma simples porta, igual na icônica cena da obra jurássica.

    Não se preocupando em mostrar a origem do vírus, muito menos explorar uma visão mais abrangente de uma epidemia, o longa permanece fiel até o fim em explorar o lado mais íntimo dos personagens, mantendo a trama fechada a poucos espaços. Infelizmente, o terceiro ato não tem a mesma força que o primeiro, todavia consegue embrulhar nossa estômago (não por causa do zumbis, mas sim pela natureza humana e suas inclinações). Nossa senso de perseverança é colocado em xeque tantas vezes que nos minutos finais perseverança e pessimismo travam uma batalha até o último instante. Resta saber qual prevalecerá!

    #Alive
    #Alive / Netflix

    O longa não se prende apenas ao horror oferecido pelo backgraund escolhido; o filme excede isso, mergulhando na camada psicológica dos seus personagens. A luta pela sobrevivência vai além de cenas predominadas pelo vermelho sangue. É preciso vencer, antes de tudo, medos e fraquezas, e o filme compreende isso. Está no interior o primeiro obstáculo que faz da solidão um inimigo silencioso e obstinado.

    Um pensamento propagado na internet diz “entre uma dose e outra, de otimismo, a gente vai tentando sobreviver ao caos“, tal frase representa com exatidão os dramas dos protagonistas. A ansiedade que se propaga no isolamento, o medo constante e as paranoias que sussurram nos nossos ouvidos. O que fazer? A mensagem do filme é clara: “você deve sobreviver”.

    Com uma escala pequena comparada a outros filmes do gênero, #Alive é grandioso nos momentos despretensiosos e no minimalismo de sua história. Tangível pela equivalência com o estado atual do mundo, certamente esse é um filme que não será esquecido.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Yakusoku no Neverland – 1ª Temporada.

  • Crítica | O Diabo de Cada Dia

    Crítica | O Diabo de Cada Dia

    O Diabo de Cada Dia é a nova superprodução da Netflix, o suspense trás atuações densas e uma discussão bem desenvolvida sobre o fanatismo religioso.

    Desde o lançamento do trailer, O Diabo de Cada Dia ( The Devil All The Time) tem chamado atenção não só pela história, mas pelo elenco de peso que foi escalado para dar vida a cada personagem excêntrico e trágico. Escrito e dirigido por Antonio Campos, e produzido por Jake Gyllenhaal e Randall Poster, o longa é baseado no livro O Mal Nosso de Cada Dia, de Donald Ray Pollock, que foi lançando em 2011.

    O Diabo de Cada Dia é ambientado entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Vietnã, e parte de histórias que se cruzam conforme o tempo vai passando, onde num primeiro momento nos são apresentados os personagens, e logo mais tarde desenvolvem as suas histórias, que acabam ficando interligadas.

    A base do longa é a vida do jovem Arvin ( Tom Holland), que é marcada por tragédias que vão desde o bullying que sofria na escola quando era mais jovem, até o descobrimento do câncer de sua mãe Charlotte ( Haley Bennet) e a influência que isso teve no fanatismo extremo e nas ações de seu pai Willard Russel (Bill Skarsgård). Com o fanatismo religioso por parte de sua família, Arvin se torna o único que se afastou da igreja, o fazendo questionar e abrir os olhos para as coisas que são feitas e ditas dentro da “Casa de Deus”.

    O Diabo de Cada Dia
    O Diabo de Cada Dia | Netflix

    Neste mesmo tempo, ainda são apresentados outros arcos na história, que são Carl (Jason Clarke) e Sandy Henderson (Riley Keoug), um casal de serial killers que se fingem ser boas pessoas e dão carona para jovens e o transformam em suas vítimas, deixando tudo registrado em fotos, Lee Bodecker ( Sebastian Stan) um xerife corrupto, Lenora Laferfy ( Eliza Scanlen) meia irmã de Arvin e extremamente religiosa e Preston Teagardin (Robert Pattinson) um pastor que usa da fé de suas fiéis para conseguir ter relações sexuais.

    A partir do momento em que as histórias são apresentadas, o longo começa a mostrar o quão o extremismo é maléfico. O fato de quase todos os personagens serem fanáticos religiosos deixa tudo mais interessante, principalmente quando eles colocam as suas ações como uma obra ou um chamado de Deus, tendo em vista que todos partem para o assassinato ou coisas que fogem tanto da religião quanto das coisas que são aceitas por aqueles que ainda mantêm o bom senso.

    Mesmo tendo várias tramas para desenvolver em duas horas de filme, ele não se perde. O roteiro é tão bem desenvolvido que daria para acompanhar a história por mais duas horas, apesar da lentidão dos acontecimentos no inicio do filme, ele se torna interessante a ponto de dar muito pano pra manga.

    O Diabo de Cada Dia
    O Diabo de Cada Dia | Netflix

    Apesar de ser uma obra ficcional, não demora muito para encontrarmos grandes semelhanças com a realidade, afinal, nem todos que estão dentro da igreja são boas pessoas, e refletir sobre isso abre um leque para várias discussões. O “diabo” no título se apresenta diversas vezes nesses fanáticos religiosos, que utilizam Deus e sua religião para o bem próprio, o famoso custe o que custar.

    É preciso lembrar que o filme não se trata de uma crítica à religiosidade, e sim ao ser humano e sua facilidade em ser manipulado e a sua enorme hipocrisia,  e o roteiro acaba deixando isso bem claro.

    Mesmo a história por si só ser interessante, a maioria do público vai apertar o play influenciado pelo elenco escolhido, que além dos nomes já citados ainda conta com Harry Melling, Mia Wasikowska, Lucy Faust e Kristin Griffith. Me sinto na obrigação de citar o Tom Holland que foi uma grande surpresa nesse filme, mesmo já tendo mostrado o seu talento como o amigo da vizinhança Homem-Aranha e em O Impossível, acredito que um personagem com uma carga dramática e violento era o que estava faltando para ele, outro que merece os parabéns é o Robert Pattinson, que me fez sentir uma repulsa gigantesca pelo seu personagem.

    O Diabo de Cada Dia
    O Diabo de Cada Dia | Netflix

     O Diabo de Cada Dia é um suspense que dá gosto de assistir, tem a tenção e o desenvolvimento digno de boas produções, seu excesso de subtramas não o torna cansativo, por outro lado, é o modo que o diretor encontrou de nos manter ainda mais interessados pela história. Mesmo a Netflix escolhendo Os 7 de Chicago como aposta para o Oscar, O Diabo de Cada Dia poderia muito bem entrar para essa lista.

    O Diabo de Cada Dia estreia dia 16 de setembro na Netflix.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Yakusoku no Neverland – 1ª Temporada explora a rebelião na “Terra do Nunca”

    Crítica | Yakusoku no Neverland – 1ª Temporada explora a rebelião na “Terra do Nunca”

    Anime adapta com muita competência as páginas sombrias e fantásticas do mangá, impressionando com a qualidade visual e a trama frenética regida por personagens imprevisíveis e carismáticos.

    O universo audiovisual transformou-se com o nascimento dos serviços de streamings, impactando diretamente no comportamento dos usuários. Uma característica forte que todo assinante da Netflix adquiriu foi o hábito de “maratonar séries”, consumindo uma temporada completa em uma semana, às vezes em um período menor! Essa prática é maximizada quando aliada a uma produção de alta qualidade, que possuí ganchos no final de cada episódio impossíveis de ignorar. Isso acontece com Yakusoku no Neverland — também conhecido por The Promised Neverland — fantasioso e sombrio na medida certa, esse é um anime propício para uma boa “maratona”.

    Sinopse Yakusoku no Neverland:

    Emma é uma órfã que vive no orfanato Grace Field House junto com outros órfãos. Dentre todos eles, Emma, Norman e Ray são os mais velhos e os únicos que ​​conseguem as pontuações mais altas em testes. Emma observa que, enquanto eles são capazes de fazer o que querem, não podem sair do orfanato para irem ao mundo exterior. No entanto, eles ficam chocados ao descobrirem que a casa onde vivem é na verdade uma fazenda onde eles são criados e colhidos para se tornarem alimentos de criaturas demoníacas.

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    No começo de 2019, Yakusoku no Neverland estreou lá no ocidente convertendo, aproximadamente, as páginas de 36 volumes do manga e condensando tudo em uma temporada com 12 episódios. Agora, a história das crianças inteligentes que enfrentam monstros (humanos e demônios) ganha espaço no rol de animes da líder dos streamings.

    Há uma semelhança estrutural na organização de personagens em Yakusoku no Neverland que já configurou outras obras, tanto no cinema, quanto na TV. O famoso “trio de protagonistas” é uma fórmula predominante e podemos enxergá-la, tal como na saga do bruxo mais famoso do mundo com Harry, Hermione e Rony. Nos desenhos é ainda mais forte como em As Meninas Superpoderosas, Três Espiãs Demais, Du, Edu e Dudu e muitos outros. No âmbito dos animes, isso se repete na história do “Ninja Número Um, Hiperativo e Cabeça-oca” com Sakura, Sasuke e Naruto.

    No anime em questão, Emma, Norman e Ray são os protagonista de uma narrativa que os coloca como principais rostos de um microcosmo cercado por mistérios. O que a 1ª temporada faz com excelência é administrar o suspense em doses certas, nos entregando o necessário e “alimentando” nossa percepção com possibilidades surreais. Como espectador, nossa visão de mundo fica limitada, assim como acontece com os personagens. E a cada descoberta que abala o pequeno mundo deles, somos bombardeados por verdades cruéis demais. A sensação de que o pior passou nunca vem, pois a presença do perigo é constante.

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    Desenvolvendo a história em um orfanato que segue um rígido sistema de aplicação de testes intelectuais, a direção de Mamoru Kanbe (que trabalhou em Elfen lied) é impecável e detalhista, transformando as pequenas adversidades dos personagens em momentos tensos, beirando o horripilante. É como um jogo de “gato e rato” travado silenciosamente; nenhum dos lados pode revelar o que sabe. Por isso os confrontos acontecem sob um véu de aparências, as peças se movendo nas sombras.

    Mamoru “cortou” alguns acontecimentos do manga, tornando a narrativa mais rápida e sem tempo para respiros. Dependendo do contexto, isso pode soar negativo ou positivo. Para aqueles que nunca tiveram contato com o manga, isso não será um problema, por outro lado, os que devoraram cada volume do material original podem sentir que a história ficou “corrida”.

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    A grande sacada do diretor foi potencializar os elementos fantásticos e de terror. O resultado é uma trama que equilibra com perfeição o suspense, a ação e o drama. Decerto você será iludido e impressionado por esperar um acontecimento “x”, que na verdade muda, abruptamente, para uma reviravolta “y”. Os plot twists caem na narrativa com uma bomba, explodindo impasses para todos os lados, a todo momento.

    Yakusoku no Neverland tem uma característica chave. Usar os ambientes internos e externos como chamariz, manipulando nossa curiosidade. Se além dos muros que cercam o orfanato estão mistérios intrigantes, dentro das paredes do orfanato não é diferente. Um livro, uma porta, uma caneta. Objetos e cômodos tornam-se fundamentais para mover o enredo em um jogo arriscado de perguntas e respostas.

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    Duas personagens adultas são responsáveis pelas principais viradas na história: a Irmã Krone e a “mama” (Isabella). Acorrentadas em segredos, elas não só antagonizam a trama, como também possuem seu próprio jogo de “gato e rato”. Em suma, nunca sabemos quem pode ser aliado, traidor ou uma potencial ameaça, e, é ai que mora a diversão.

    Emma, a protagonista de cabelo claro e arrepiado (favor não confundir com o Naruto!) é uma líder natural que assume as rédeas de um plano insano. Dela partem escolhas impregnadas de esperança, otimismo e coragem, assim como falhas e incompreensões lógicas. Norman é o pilar altruísta do trio, sempre pensando três passos à frente dos outros; o que ele tem de astúcia, ele tem de bondade, qualidades que quando misturadas o tornam um dos personagens mais cruciais da história. Ray é o personagem frio, às vezes distante, mas tão sagaz quanto os outros. Se Emma pode ser comparada ao Naruto, podemos dizer que o Ray é “quase” um Sasuke (quase!).

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    Aos três destina-se o peso de manipular os acontecimentos, enquanto buscam uma chance de liberdade para todos no orfanato. Quanto as demais crianças, nenhuma deles é um peso morto e o mirabolante roteiro consegue aproveitar o potencial de cada um para que eles tenham “um momento”. Engana-se quem acredita que são crianças “bobas”, o que eles tem de pequenos, eles tem de espertos. A princípio, somos enganados pela ingenuidade que brilha no olho de cada um, para minutos depois ficarmos embasbacados pelo nível de perspicácia que existe neles. Não pisque, não se distraia. Cada detalhe, cada movimento, tudo é arquitetado para um propósito maior.

    A estética visual adotada pelo estúdio CloverWorks é banhada por referências as histórias de fantasia que marcaram nossa infância como Alice no País das Maravilhas, Pinóquio e Peter Pan. O uso predominante de luz e sombras torna o jogo da narrativa visualmente deslumbrante, Kazuaki Shimada é o artista por trás do design de personagens e seus traços conseguem fidelizar cada linha das páginas do manga. Além disso, ele aproveita as peculiaridades de algumas figuras para exagerar nas expressões faciais assustadoras, algo que me fez lembrar dos personagens de Kakegurui (com menos bizarrices, claro).

    Yakusoku no Neverland 1ª Temporada
    Yakusoku no Neverland / CloverWorks / Netflix

    Yakusoku no Neverland é daqueles animes que te pega pela mão e te conduz por um caminho viciante e cheio de perigos. Você não apenas compra a ideia, como sofre a cada episódio, cria teorias sobre o que vem a seguir e, essencialmente, é surpreendido a todo momento. Com um senso de urgência que conduz tramas que envolvem “escapar” de um lugar, a obra sabe brincar com a quebra de sua cronologia narrativa, enganando nossos olhos e manipulando nossa percepção.

    Com personagens profundos e uma trama que parece ter vindo de uma mente cuja missão é magnetizar nossa atenção, a 1ª temporada sabe onde quer chegar e quando finalmente alcança esse objetivo, nos resta apenas a ansiedade para um novo ciclo.

    Sinistro como um filme de terror, extraordinário como as fantasias mais emblemáticas e enérgico como um game de ação, Yakusoku no Neverland é uma promessa que cumpre seu propósito: cativar e assustar. Talvez não nessa ordem, mas, certamente, na mesma intensidade.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Lúcifer – 5ª temporada [Parte 1].

  • Crítica | Mulan

    Crítica | Mulan

    Um dos filmes mais aguardados de 2020 foi lançado, o live action de Mulan deixa história infantil de lado fazendo uma releitura da lenda chinesa.

    Em 1998 foi lançado uma das melhores animações da Disney, Mulan era uma guerreira que passou por cima do machismo para salvar a China, o que fez ela entrar pra lista de “melhores princesas” – e a minha favorita-. Aclamado por muitos, a animação infelizmente não recebeu boas críticas do país que homenageou, por ter sido baseada em uma antiga lenda, o filme foi taxado de sátira por ter um tom infantil e alegre.

    Aproveitando a época em que a Disney anda investindo em live actions, não demorou muito para que um de Mulan fosse anunciado. Desde o primeiro trailer ficou claro de que o filme seria completamente diferente da animação, e que tentaria ser uma releitura fiel da lenda folclórica chinesa sobre Hua Mulan.

    No longa, Hua Mulan ( Liu Yifei) é uma garota inquieta e cheia de habilidade que são vistas com maus olhos por sua família e aldeia, já que naquela época o mais importante para uma mulher era ser uma boa esposa. Enquanto Mulan crescia, a China sofria ataques de um grupo comandado por Böri Khan (Jason Scott Lee).

    Mulan
    Mulan | Disney+

    Crescida e sem pretendentes, Mulan vê a sua história mudar do dia pra noite quando um certo dia, a sua pequena vila recebe a notícia de que o Imperador da China (Jet ali) corre perigo, e que um homem de cada família deve se juntar ao exército chinês. Com só duas filhas, Zhou (Tzi Ma) se oferece para lutar mesmo estando debilitado e sem forças. Ver o pai naquele estado fez com que Hua Mulan tomasse uma decisão que poderia acabar com a sua vida, na manhã seguinte ela seguiu para o campo de treinamento do exército completamente disfarçada, carregando a espada e armadura que foram usadas pelo seu pai em confrontos anteriores.

    No campo, Mulan e seus colegas recebem um treinamento rigoroso, aprendem os princípios para honrarem suas famílias e são ensinados a serem verdadeiros, corajosos e leais. Ser uma mulher disfarçada em um campo do exército chinês poderia ser considerado como a maior desonra, sendo julgado com pena de morte.

    A história de Hua Mulan não é nova, ela está na vida dos chineses desde quando foi descrita no poema Uma Balada de Mulan, durante a Dinastia Tang (618-907). A sua história ganhou vida em 1998 com a animação da Disney, que não foi bem recebida pelo povo chinês, que achou que a história contada não fez jus à grande guerreira.

    Mulan
    Mulan | Disney+

    O live action dirigido por Niki Caro se tornou um dos filmes mais aguardados de 2020 por corrigir os erros cometidos na animação. Desde o princípio é possível perceber a seriedade em volta da história e dos personagens, além de várias referências às tradições chinesas e suas belíssimas lutas.

    Por falar em lutas, devo dizer que mesmo não sendo fã de filmes de ação, Mulan conseguiu chamar a minha atenção com suas cenas de deixar o queixo caído e suas lutas bem coreografadas. Outro ponto que merece destaque são as paisagens que foram utilizadas, dando mais intensidade na história.

    Confesso que a falta das músicas da animação e de personagens como Mushu e o Capitão Lee Shang me deixaram com as expectativas baixíssimas para o filme, principalmente pelo fato da trilha sonora deixar tudo mais emocionante, mas assim que entendemos a proposta da Disney para este longa fica claro que a ausência desses itens foi para um bem maior, e que a história não deixa de passar a sua mensagem só porque faltam algumas coisas. Além disso, a inclusão de uma irmã mais nova e de Xian Lang ( Gong Li) – uma bruxa- deixou tudo mais interessante.

    Mulan
    Mulan | Disney+

    Apesar de ser um exemplo de empoderamento feminino, Mulan ainda precisa aprender muito sobre si mesma, mostrar esse lado mais humana da personagem faz com que o carisma por ela só cresça.

    “A garota se tornou um soldado, a soldado se tornou uma líder e a líder se tornou uma lenda.”

    Com paisagens belíssimas e uma história que envolve família, confiança e cumplicidade, Mulan surpreendeu por ultrapassar as expectativas e fugir daquilo que estamos acostumados a ver em filmes da Disney.

    Mulan entrou ontem no Disney + para aqueles que estiverem dispostos a desembolsarem US$ 29,00 ( cerca de R$ 162). Infelizmente para os fãs brasileiros, só será possível ter acesso ao filme no dia 17 de Novembro, que é quando o streaming chega ao Brasil.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Estou Pensando em Acabar com Tudo

    Crítica | Estou Pensando em Acabar com Tudo

    Longa baseado no livro de Ian Reid e dirigido por Charlie Kaufman “Estou Pensando Em Acabar Com Tudo” estreia na próxima sexta-feira (4) na Netflix, e é uma experiência visual que não podemos deixar passar.

    Você já assistiu algum filme que te fez refletir por horas e com um ponto de interrogação enorme na cabeça? Acho que todos nós já nos deparamos com produções que causassem esse efeito, e “Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um ótimo candidato para entrar nessa lista de filmes que não fazem sentido (para alguns).

    “Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um terror psicológico, na trama a jovem Lucy (Jessie Buckey) faz uma viagem para conhecer os pais de seu namorado Jake (Jesse Plemons) mesmo tendo dúvidas sobre o seu relacionamento. Após uma longa viagem numa estrada coberta por neve, os dois chegam na fazenda da família e não demora muito para as coisas ficarem desconfortáveis.

    Os pais de Jake – David Thewlis e Toni Collete – são pessoas aparentemente normais, mas com o passar do tempo vão se mostrando um casal estranho e um tanto fora da caixinha. Os olhares fixos e conversas desconexas tomam conta da visita, além do alerta constante de que Lucy precisa ir embora naquela noite para poder trabalhar no dia seguinte. A situação vai se tornando mais estranha quando percebemos que algo não está certo.

    Estou Pensando em Acabar com Tudo
    Estou Pensando em Acabar com Tudo | Netflix

    Nos primeiros dez minutos do filme temos o casal dentro do carro com um diálogo em que eles parecem completos desconhecidos, e não um casal. A câmera mantida em zoom no rosto dos atores trás uma sensação de desconforto durante toda a cena, causando uma certa claustrofobia com o pequeno espaço onde não tem pra onde fugir.

    A expectativa para a chegada do casal até a fazenda é tomada por uma impaciência devido a lentidão das cenas e dos diálogos complicados.

    O grande triunfo do filme foi ter escolhido Thewlis e Collete para interpretarem os pais, a qualidade da atuação eleva o filme, fazendo com que a ausência deles da metade pro final faça com que percamos o interesse de acompanhar a história.

    Filmes de terror psicológico sempre são interessantes, nunca sabemos de fato qual será o rumo que a história vai levar, e isso tem sido usado muito nos últimos anos, mas parece que nesse filme em particular a história desconexa o torna maçante, mas não é de todo mal.

    Estou Pensando em Acabar com Tudo
    Estou Pensando em Acabar com Tudo | Netflix

    A mudança de nome e profissão da protagonista em cada cena é um dos primeiros sinais de que as coisas não estão normais, as risadas altas fora de hora e o envelhecimento dos pais conforme mudam de cômodo deixam claro que esse filme não é nada convencional. Mas afinal, ele é bom?

    “Bom” não seria a palavra certa para descrever esse filme, na maioria do tempo ele é só um monte de informações jogadas de qualquer jeito e sem pé nem cabeça. Tudo bem que nem tudo precisa ser respondido num filme, mas deixar a história inteira em aberto não é nem um pouco atrativo. Filmes como este costumam ter vários significados, eu tentei descobrir qual era o real motivo por trás de tudo e não cheguei em nenhuma conclusão.

    Cheios de enigmas e um tanto quanto difícil de entender, “Estou Pensando Em Acabar com Tudo” entrega tudo o que foi mostrado durante o trailer, mas acaba decepcionando por acabar com a expectativa que colocamos em cima da história.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Pulsão

    Crítica | Pulsão

    Dirigido por Di Florentino é realizada pela produtora Trópico, “Pulsão” é um documentário nacional que mostra o uso das redes sociais para manipulações eleitorais.

    Usar as redes sociais já virou rotina na vida de muitos brasileiros, a facilidade com que as notícias são compartilhadas agrada todo mundo em uma época em que sempre parece que estamos atrasados para algo. A pressa -conhecida como a inimiga da perfeição- se faz presente, e é nessa pressa em que acabamos não conferindo tudo que é nos passado, e consequentemente nos vemos influenciados pelas famosas “Fake News”, principalmente em épocas de eleição.

    “Pulsão” apresenta uma ampla pesquisa sobre a influência das mídias digitais na política, se mostrando cauteloso ao traçar uma linha entre os fatos. O documentário começa apresentando a internet e as mudanças no país durante os governos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, mostrando a coragem criada pelas pessoas -que são contra o partido- por trás da tela do celular. A divisão de ideias entre a população acaba criando uma corrente de desinformação em um momento bastante complicado na política brasileira.

    Além do período de impeachment de Dilma Rousseff em que as manifestações tomaram conta das ruas e dos estádios do país, a produção faz questão de desenvolver a sua linha pela Operação Lava-Jato até as eleições de 2018, época do ápice das Fake News que rondavam os grupos do WhatsApp.

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    Pulsão | Trópico

    Em produção desde 2016, “Pulsão” era inicialmente apenas um registro do Circo da Democracia, evento que reuniu em Curitiba diversas figuras políticas e acadêmicas para debater a política da época, e acabou se tornando um longa metragem devido a acontecimentos importantes.

    Intenso, essa é a palavra que define muito bem “Pulsão”, com imagens riquíssimas dignas de prêmios da área, o longa consegue passar -e muito bem- a sua mensagem. Com pouco mais de 71 minutos de duração, acompanhar sem interrupção se torna uma tarefa difícil se você não curte muito política, ou até mesmo o formato de documentário, mas para um bom amante dos debates e de dados Pulsão acaba sendo um ótimo entretenimento e fonte de informação.

    Devido a pandemia do Covid-19, “Pulsão” será lançando online na próxima sexta-feira (4), às 19 horas. O documentário ficará disponível gratuitamente por tempo indeterminado.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | A Química Que Há Entre Nós

    Crítica | A Química Que Há Entre Nós

    Lançado recentemente na Amazon Prime Video, “A Química Que Há Entre Nós” é um drama adolescente adaptado do livro de Krystal Sutherlabd.

    O processo de amadurecimento que passamos após épocas conturbadas são as que mais marcam as nossas vidas, e “A Química Que Há Entre Nós” fala absolutamente sobre isso.

    Grace (Lili Reinhart) é uma adolescente que está vivendo uma das piores épocas de sua vida, depressiva após sofrer um acidente de carro que ocasionou a morte de seu namorado, ela se fechou para qualquer oportunidade em que possa encontrar a felicidade novamente. Fugir da realidade é uma das coisas indicadas para superar algumas situações, e para Grace, mudar de escola foi o jeito que ela encontrou para poder “voltar ao normal”. Na nova escola, ela se candidata à editora chefe do jornal, mesma vaga concorrida por Henry (Austin Abrams) um adolescente americano normal cujo hobbies incluem escrever matérias e concertar vasos que ele quebrou.

    Num primeiro encontro entre os personagens temos praticamente nenhuma interação, mas a figura pra baixo de Grace chama a atenção de Henry, o que faz com que ele tente um primeiro contato que dá origem a uma amizade um pouco fria. Os dois passam bastante tempo juntos no jornal da escola, o que acaba ajudando para que um sentimento cresça entre eles, que logo tomam iniciativa e dão início ao relacionamento não rotulado.

    A Química Que Há Entre Nós
    A Química Que Há Entre Nós | Amazon Prime Video

    Por conta dos traumas em sua vida, Grace se mostra totalmente despreparada emocionalmente pra assumir um relacionamento sério, o que confunde o Henry e acaba afastando os dois.

    A premissa desse filme se iguala a outros romances, mas a dor do luto sendo sentida da maneira mais difícil é a forma em que o roteirista Richard Tanne encontrou para diferenciar a história.

    A Química Que Há Entre Nós tem o desenvolvimento lento, o que torna um pouco cansativo conseguir terminar de assistir, mas assim que toda história é revelada, o tempo começa a passar rápido até demais.

    A Química Que Há Entre Nós
    A Química Que Há Entre Nós | Amazon Prime Video

    A escolha dos atores foi extremamente interessante, tanto a Lili quanto o Austin já trabalharam em produções para o público jovem, mas dessa vez estiveram na pele de personagens complexos, emotivos, cheios de camadas e que mudam bastante ao longo do filme.

    “O amor é uma química que vem e vai.”

    O longa deixa claro em todos os momentos de que é um drama bem construído, ainda mais quando mostra que é extremamente difícil projetar a cura emocional em um novo relacionamento, nos dando algo para pensar assim que o filme acaba.

    A Química Que Há Entre Nós já está disponível no Amazon prime Video.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Cobra Kai – 1ª e 2ª Temporada

    Crítica | Cobra Kai – 1ª e 2ª Temporada

    Série derivada de Karatê Kid “Cobra Kai” chega na Netflix usando da nostalgia para reviver a franquia 34 anos após o seu lançamento.

    Karatê Kid sempre chamou a atenção tanto pela trilha sonora quanto pela forma exótica em que o Senhor Myagi (Pat Morita) treinava o até então desengonçado Daniel Larusso (Ralph Macchio), quem nunca se imaginou dando uns belos golpes de karatê depois de encerar o chão ou até mesmo depois de pintar uma cerca? E foi dessa maneira extremamente anormal que Daniel conseguiu vencer o campeonato de Karatê lá em 1984, contra o valentão Johnny (William Zabka), dando um dos golpes que ficou marcado na história.

    O clássico da Sessão da Tarde ainda teve mais dois filmes com Daniel como protagonista, mas a história de Johnny acabou caindo no esquecimento após ficar em segundo lugar no importante campeonato, e cá entre nós, tirando o personagem de Neil Patrick Harris em How I Met Your Mother que praticamente idolatrava o perdedor, a história do cara mau-caráter nunca de fato chamou a atenção do público, até agora.

    Cobra Kai
    Cobra Kai- 1ª temporada | Youtube Premium

    Após 34 anos desde o lançamento de Karatê Kid- A Hora da Verdade, fomos surpreendidos com uma produção original do YouTubeRed ( uma versão paga do YouTube), “Cobra Kai” trouxe Johnny como protagonista da sua própria decadência. Passando a maior parte do seu dia alcoolizado e cheio de dívidas, ele encontra uma maneira de se reerguer ao conhecer Miguel (Xolo Maridueña), um garoto que acabou de se mudar para a casa ao lado e que anda tendo problemas com os valentões da cidade, Johnny então decide treina-lo e logo em seguida reabre o antigo dojô Cobra Kai.

    Do outro lado da história, Daniel aparece como um empresário de sucesso, dono de uma concessionária ele carrega a fama que ganhou  em 1984 e com isso consegue manter o seu negócio funcionando super bem. Casado com Amanda ( Courtney Hanggeler) e com dois filhos, ele se vê afastado do karatê desde a morte do Senhor Myagi, até que Robby ( Tanner Buchanan) – filho do Johnny, que carrega uma grande mágoa pelo pai ausente- arruma um emprego em sua loja e a ligação entre os dois faz com que Daniel sinta vontade de treiná-lo. Inimigos desde que se conheceram, Daniel e Johnny se enfrentam no 50° Campeonato de Karatê, agora com os seus representantes.

    “Cobra Kai” faz um uso muito bom do seu próprio universo. Para os fãs  do clássico, a série acaba sendo uma bomba nostálgica. A primeira temporada estreou em 2018 e  é cheia de flashbacks e momentos emocionantes, com várias referências sutis ao original . A série é apresentada de uma forma em que fica extremamente difícil para o público tomar um partido, são duas versões de uma mesma história, é um desenvolvimento pessoal de cada personagem que nos leva do ódio profundo ao amor eterno.

    Cobra Kai
    Cobra Kai- 1ª temporada | Youtube Premium

    A série nos mostra os novos e velhos  personagens lutando contra o bullying e problemas de autoconfiança na adolescência usando como cenário a já batida escola de ensino médio americana. E faz isso de maneira bem pouco ortodoxa, o que é interessante. O roteiro tem muitas reviravoltas envolvendo os personagens ligados aos protagonistas da série que vão crescendo até o último e empolgante episódio.

    É um fan servisse muito bem produzido, uma grata surpresa para quem já acompanhava a história e para os que estão chegando. Cobra Kai entrega tudo de uma maneira tão orgânica que até os clichês funcionam bem.

    A segunda temporada é ainda mais interessante e dramática, após vencerem o campeonato, Johnny tem que lidar com o ego de seus alunos e com a volta de um dos seus piores pesadelos: o sensei  Kreese (Martin Kove), responsável por toda a sua dor física e emocional durante a adolescência. O reencontro é bastante pesado, mas faz com que Johnny fique dividido entre dar uma segunda chance a ele ou rejeitar totalmente. A série mostra mais uma vez que não serve apenas para relembrar as glórias do passado, mas sim questioná-las em um novo contexto.

    Cobra Kai
    Cobra Kai – 2ª temporada | Youtube Premium

    “Atacar Primeiro, Atacar Mais Forte e Não Ter Piedade”, aparentemente esse lema dos anos 80 voltou para os alunos do Cobra Kai, Miguel e Hawk (Jacob Bertrand) se mostram cada dia mais mudados e cheios de raiva, o que pra Johnny é algo como ver a sua infância espelhada na nova vida dos alunos.

    Para quem acompanhou a primeira temporada, esperávamos de Miguel uma atitude parecida com a de Daniel na adolescência, mas a segunda temporada mostra que tudo isso não passa de uma ilusão. Miguel e Hawk se tornaram oficialmente os novos valentões da cidade, o que deixa o lugar de mocinhos para o Robby e a Samantha (Mary Mouser) – filha de Daniel – que vem treinando diariamente com o campeão no antigo Myagi-Do, e acabam desenvolvendo um romance.

    A rivalidade entre os dojos acaba saindo do controle quando vemos que Daniel e Johnny podem realmente um dia serem bons colegas, mas que seus alunos não estão nem um pouco interessados nisso. A luta do último episódio deixa claro que as coisas podem fugir do controle de uma hora pra outra e se tornar algo muito maior e perigoso.

    No final da temporada fica em aberto a volta de uma personagem que foi o motivo de tanta rivalidade entre Daniel e Johnny.

    Cobra Kai
    Cobra Kai – 2ª temporada | Youtube Premium

    Tão boa quanto a primeira, a segunda temporada de Cobra Kai é ainda mais nostálgica e cheia de ação, nada comparado aos filmes de luta que vemos no cinema, mas é algo especial.

    A série produzida por Katrin L Goodson e Bob Wilson foi -finalmente- entregue para a Netflix, e uma terceira temporada já foi anunciada, o que podemos esperar? Bastante ação e mais momentos nostálgicos.

    Superando o reboot de 2010 com Jackie Chan  e Jaden Smith, “Cobra Kai” se tornou uma das minhas séries preferidas e aposto que vai entrar para o top 10 do público.

    As duas temporadas de Cobra Kai já estão disponíveis na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer :

    https://www.youtube.com/watch?v=mS6TbSvOcgs
  • Crítica | Lúcifer – 5ª Temporada [Parte 1]

    Crítica | Lúcifer – 5ª Temporada [Parte 1]

    Baseado nos quadrinhos da DC Comics criados por Neil Gaiman, a quinta temporada de “Lúcifer” retorna ao streaming em uma trama celestial provocante e – acima de tudo – caótica, que insiste em circundar a sua zona de conforto e ignorar o espaço de sobra que tem para se desenvolver.

    Drama procedimental originário da Fox, “Lúcifer” chegou às telas, primeiramente, em 2016. Alvo de críticas predominantemente mistas, a série – desenvolvida por Tom Kapinos – conquistou uma legião de fãs devotos e garantiu três temporadas produzidas pela emissora norte-americana – em parceria com a Warner Bros. No entanto, apesar do rápido sucesso e da trama chamativa sobre o Diabo que renunciou aos seus deveres no Inferno e veio tirar férias na Terra, o programa deixou de ser lucrativo para o canal e foi, finalmente, cancelado.

    Prontamente resgatada pela Netflix, que viu na produção a oportunidade perfeita de reformulação para o seu catálogo, “Lúcifer” ganhou uma quarta temporada completamente diferente de suas anteriores e conseguiu definir o caráter “ideal” para o seu desenvolvimento. Investindo em personagens novos e em arcos interessantes – além de tentar escapar do modelo seriado auto-conclusivo de seus três primeiros anos – , o salto de qualidade que a série encontrou ao cair nas mãos da gigante do streaming foi significantemente desmontado e a trama celestial sobre o Rei do Inferno retornou à sua antiga zona de “conforto” – mesmo sabendo do espaço que tinha para se desenvolver.

    Lúcifer
    Lúcifer – 5ª temporada / Netflix

    Lúcifer (Tom Ellis), na quinta temporada, encontra-se novamente recluso no Submundo, após declarar o seu amor por Chloe Decker (Lauren German). Reabraçando os seus compromissos bíblicos, o Diabo passa um milênio voluntariamente torturando pecadores e deixa a sua vida “humana” para trás. O vácuo de sua ausência, no entanto, atrai o seu irmão gêmeo Miguel, um Arcanjo que pretende assumir a sua identidade em Los Angeles. Dessa forma, Lúcifer se vê obrigado a retornar à Terra para proteger àqueles que ama, enquanto embarca em uma jornada de autoconhecimento perigosa e expositiva que revelará segredos dramáticos e desafiadores.

    A premissa central de uma trama interessante salta aos olhos ainda no começo da quinta temporada, quando o drama celestial instaurado no mundo dos vivos pelo embate entre Lúcifer e Miguel tem início. Definitivamente digno de nota, a produção detém em mãos um arco narrativo tão curioso quanto o de Eva, na quarta temporada, e recorre à situações complexas que, notoriamente, deixam qualquer espectador excitado e ávido por mais. Envolvendo e impactando, profundamente, diversos dos personagens, a trajetória ambiciosa de “Lúcifer” reflete em seu contexto geral e oferece um duelo épico entre anjos e demônios que ficará marcado no imaginário de qualquer fã da série. A construção crônica dos atos de “Lúcifer” é bem detalhada e se apoia novamente em um Tom Ellis inspirado que é, simplesmente, certo para o papel.

    Os ingredientes necessários para o sucesso absoluto do seriado estão ali – e são bem definidos – , porém, a mixagem de todos eles gera um produto fraco e, de certa forma, decepcionante.

    Lúcifer
    Lúcifer – 5ª temporada / Netflix

    Insistindo em desenvolvimentos e em narrativas rasas, “Lúcifer” deixa de lado o que tem de melhor e se perde em suas próprias peculiaridades, de forma a pecar na execução de uma ideia, na teoria, interessante. A trama central do quinto ano da série é intercalada com casos policiais – um por capítulo, desde 2016 – que desviam a atenção do público do que é realmente necessário e que atrasam, ou até mesmo prejudicam, o desenvolvimento dos fatos. O sistema procedimental – clássico dos seriados dos anos 90 – não deveria ser mais bem-vindo aqui. Porém, ele ainda rege a maior parte do tempo de tela de “Lúcifer” e, simplesmente, cria uma monotonia desnecessária em todos os episódios. Há quem goste. Contudo, a reformulação da Netflix deveria oferecer algo de novo, como foi visto na quarta temporada, e não voltar à sua zona de conforto – fato que a fez ser cancelada dois anos atrás.

    A primeira parte da quinta temporada da série da Netflix oferece, mais uma vez, uma Ella (Aimee Garcia) sem destaque individual algum e reduzida à um “alívio cômico” que convence – por pouco – por sua doçura. Além dela, Maze (Lesley-Ann Brandt) é outra personagem prejudicada pela falta de competência criativa da equipe. “Presa” em um mesmo arco – no qual é constantemente sujeitada à adversidades para que volte a apresentar um “comportamento demoníaco” – , ela é vítima de um descaso que também a reduz a uma “sidekick” de quem quer que ofereça a melhor “recompensa”. Por fim, temos Dan (Kevin Alejandro), que continua a ser uma peça do tabuleiro sem importância alguma – haveria diferença se ele simplesmente desaparecesse? O “desprezo” por seus maiores patrimônios prejudica diretamente a série, que vê, cada vez mais, problemas na construção de uma narrativa coesa, profunda e realmente significativa.

    Lúcifer
    Lúcifer – 5ª temporada / Netflix

    “Lúcifer”, em um nível satisfatório, tornou-se um produto básico da Netflix que muitos fãs irão gostar. Afastando-se dos riscos que poderiam alavancar a série de patamar, a primeira parte da quinta temporada decepciona ao repetir seus erros passados e ao se recusar a desenvolver suas maiores qualidades. No entanto, recheada da sexualidade maligna e sangrenta que a tornou um sucesso, a série se “salva” ao apresentar um cliffhanger – gancho narrativo para o próximo episódio – incrível que tende a tornar a reta final do quinto ano do Príncipe das Trevas a mais interessante e relevante desde 2016 – esse é o nosso verdadeiro desejo.

    Inicialmente caótica, a nova roupagem da produção americana encontra um meio-termo moroso que – inerte em sua zona de conforto – ainda encontra brechas oportunas para empolgar e criar expectativas.

    A segunda parte da quinta temporada de “Lúcifer” ainda não tem previsão de estreia.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | The Umbrella Academy – 2ª Temporada

  • Crítica | Crimes de Família – Entre o amor e a descrença

    Crítica | Crimes de Família – Entre o amor e a descrença

    Diretor Sebastian Schindel traz verdades cruéis em uma narrativa simplista, mas extremamente necessária e urgente.

    Quando um filme arrisca-se a contar uma história densa que retrata a dura realidade vivida por diversas mulheres em todo o mundo, ele tem a difícil missão de dar voz aos personagens ficcionais, que simbolizam personagens reais do nosso dia a dia. Muitos filmes e séries já assumiram tal missão, expondo situações que orbitam esse fato social. Recentemente, um longa-metragem que se dispôs a discutir essa temática foi Crimes de Família; drama argentino que estreou no catálogo da Netflix, dissecando as dores e os dilemas de uma mãe que se vê no meio de uma ruptura familiar.

    Sinopse Crimes de Família:

    Crimes de Família acompanha Alicia (Cecilia Roth), uma mãe que se encontra desesperada para fazer com que seu filho Daniel (Benjamín Amadeo), acusado de tentar matar a ex-mulher, não seja preso. Durante o processo, Alicia acaba descobrindo algo que mudará o rumo de sua vida para pior.

    Crimes de Família - Até onde o amor materno é capaz de ir?
    Crimes de Família / Netflix

    Há dois anos, eu apertei o play para assistir a aclamada série Big Little Lies. Com atuações fortes e cenas pesadas, Nicole Kidman me fez ver os traumas e o ciclo do ódio que habita alguns lares. Rompendo a visão externa e nos colocando na pele da personagem, a série fez algo crucial: deu espaço para um importante assunto. Agora, em 2020, este mesmo tema surge diante de mim com o longa Crimes de Família. Com diferentes abordagens e algumas semelhanças (como tornar o tribunal palco para momentos-chave), o filme argentino aposta em apenas uma personagem para guiar a história. Uma escolha que, talvez, poderia ter sido diferente.

    A maioria das pessoas, em algum momento da vida, escutou o seguinte ditado popular: “Mãe é tudo igual, só muda o endereço!“. Será? Sabe-se que o amor materno é uma força da natureza capaz de fazer uma mãe pular em um rio, sem saber nadar, para salvar a vida do seu filho. Esse sentimento tão poderoso pode nublar a capacidade de enxergar detalhes, e é isso que acontece com a personagem Alicia. É através do ponto de vista dela que iremos mergulhar nas teias de acontecimentos e consequências. Ou quase isso!

    Crimes de Família - Até onde o amor materno é capaz de ir?
    Crimes de Família / Netflix

    No começo, observamos uma mulher controladora, vestindo uma armadura oferecida pelo seu status social, utilizando-a para inocentar seu filho de acusações graves. Dividindo sua rotina em beber chá com as amigas ricas, dedicar um pouco do seu tempo em cuidar do filho de sua empregada e lidar com sua crise familiar, Alicia é uma personagem, muitas vezes, acompanhada pelo silêncio. É na quietude de suas cenas que escutamos as vozes que gritam dentro dela. Uma atuação introspectiva, mas poderosa, feita por Cecilia Roth (que atuou no filme Dor e Glória). A atriz deixa boa parte de suas emoções serem expressadas por seu olhar ou sua interação com “objetos de cena” — particularmente com um celular e um jogo de louças.

    Existem mais duas figuras maternas importantes para o desenrolar do enredo. Marcela (interpretada pela atriz Sofía Gala) é a personagem que luta em provar os crimes que foram cometidos pelo filho de Alicia. Sondada pelo medo e pelo instinto de proteger seu filho, Sofía incorpora uma imagem que conversa com as vítimas de violência doméstica, no entanto, essa conversa acaba sendo subdesenvolvida.

    A outra figura é Gladys (vivida por Yanina Ávila), personagem rodeada de mistérios, que trabalhou na casa de Alicia e que agora enfrenta uma sombria jornada nos tribunais, também. Com uma incapacidade de se expressar com clareza, a doméstica carrega em seu olhar perdido traumas do passado e do presente. Dela, partem pouquíssimas falas, o que deixa sua atuação corporal com a grande função de dizer aquilo que ela está sentindo.

    Crimes de Família - Até onde o amor materno é capaz de ir?
    Crimes de Família / Netflix

    Veja, essa dupla carrega um peso grande dentro da história, todavia, ambas ficam apagadas por uma sucessão de escolhas no roteiro que as colocam como “figuras de fundo”, infelizmente. Essa é a grande falha do filme, ou seja, o maior “crime” de Crimes de Família é não dar voz o suficiente e mais tempo de tela para personagens que mereciam isso. Apostar somente no ponto de vista de Alicia apagou a oportunidade de mergulhar mais fundo na premissa que o roteiro prometeu discutir. Somado a isso está uma narrativa fragmentada que se arrasta no primeiro ato e alguns diálogos que parecem incompletos.

    Sebastian Schindel, além de dirigir, também assina o roteiro ao lado de Pablo Del Teso. Desde a primeira cena, que coloca o telespectador no fim de um corredor, observando algo de longe, a narrativa não se prende a exposições fáceis. Os flashbacks cumprem bem o papel de, pouco a pouco, revelar a interação que existiu entre os personagens. Nada nunca é mostrado com clareza, deixando as ações dos personagens sustentadas por mistérios. Em boa parte da projeção caberá a você formular uma opinião sobre os ocorridos.

    O infortúnio é que o desfecho é totalmente previsível, e no terceiro ato, quando o texto de Schindel e Del Teso começa a desatar os nós criados ao longo da película, não há impacto, tampouco surpresas, o que faz a virada de roteiro perder força. Fiquei me perguntando, por um longo tempo, como a protagonista não chegou a mesma conclusão antes.  Talvez, o lado sentimental a impediu de ver as coisas com mais clareza.

    Crimes de Família - Até onde o amor materno é capaz de ir?
    Crimes de Família / Netflix

    A trama aproveita alguns pontos para pincelar outras críticas sociais. Enquanto duas histórias distintas são contadas ao mesmo tempo, observa-se alusões feitas ao poder que o dinheiro exerce em um julgamento, como comprar a verdade. Também aparecem sutis referências as futilidades e a falta de empatia que cerca a bolha da alta sociedade.

    Quando o amor de mãe é colocado a prova, perante crimes hediondos, o que prevalecerá? A proteção ao filho ou a desconfiança perante indícios?

    Em um mundo bombardeado 24 horas com relatos e notícias sobre crimes contra a mulher, é de se esperar que essa temática ganhe cada vez mais espaço nas telas. Crimes de Família é um recorte cru e intimista sobre os horrores que cercam muitas mulheres: viver debaixo do mesmo teto de um agressor. No fim, não existe um herói, tampouco uma salvadora; há apenas um retrato humano de arrependimentos e escolhas.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer do filme:

    Veja também: Crítica | 3% – Series Finale.

  • Crítica | Power

    Crítica | Power

    Com direção da dupla Henry Joost e Ariel Schulman, o novo original Netflix brinca com as possibilidades que super-poderes poderiam alcançar no mundo contemporâneo, em uma Nova Orleans violenta e esquecida.

    Power” é o momento quando “The Wire” se encontra com uma espécie de mistura entre Vingadores/Máquina Mortífera e o resultado não é tão bom quanto eu esperava, mas entretém por um par de horas. Acho que o problema principal é se levar a sério demais, sendo que o filme trata de elementos fantasiosos e uma ação desenfreada. Os clichês estão todos lá para você escolher (não que seja algo de todo negativo), indo dos policiais que não seguem as regras aos traficantes sul-americanos que precisam ser impedidos.

    O modo como a direção e o roteiro mexe com esses clichês é o que dificulta tudo, trazendo uma trama cansada e enjoativa após algum tempo, que não se sustenta apenas no carisma da dupla principal: Jamie Foxx (Art) e Dominique Fishback (Robin), parte de um outro clichê: a dupla improvável que aprende a se amar. Assim, nada é muito original e as escolhas ao redor da história não ajudam muito.

    Power
    Cena do original Netflix.

    Histórias com pílulas, drogas e super-poderes já foram exploradas antes, também não de uma forma tão coesa, como no longa “Sem Limites” (2011), com Bradley Cooper e Robert De Niro. Algumas coisas funcionam, como os momentos de alívio cômico, determinadas cenas de ação e a jornada de Robin. Quanto ao segundo tópico, a ação, o resultado parece mais um daqueles vídeo clipes, com cenas não tão empolgantes no geral, e uma dificuldade em captar boas sequências de tirar o fôlego.

    Os efeitos especiais também não ajudam muito, com uma estética que chega a ser bizarra em alguns momentos e muita dependência em cortes rápidos e a boa e velha câmera lenta (alô Zack Snyder!). A trilha sonora é marcante, mas não emplaca tanto, sendo esquecível depois de alguns minutos após você desligar a televisão. A única exceção são os momentos de Rap emplacados por Robin, com sempre muito bom humor.

    Penso que as piadas e os momentos em que a própria história tira sarro de si mesma são os pontos chave do roteiro, podendo ser muito mais explorados. Infelizmente, a trama parece querer entregar um drama coeso, quando ela mesma não se vê desse jeito. Prefiro muito mais as piadas em torno de Clint Eastwood e sua persona policial, do que a jornada heroica de Art e seus não tão legais arcos dramáticos.

    Power
    Netflix“.

    Abraçar a galhofa e a falta de seriedade, muitas vezes, funciona em filmes de ação e uma ideia mal executada (como essa) é muito mais triste do que apenas um filme ruim. Tinha potencial, mas ao tentar ser uma crítica social misturada com altas doses de adrenalina, o filme parece não ter um rumo definido, tendo que ter resolvido no último momento, em uma boa e velha batalha final em uma navio cargueiro prestes a zarpar.

    Os comentários sobre o sistema e o descaso de um poder público não são tão aproveitáveis, pois o todo parece falar em tom maior, ressaltando os tão fortes aspectos negativos da trama. A mistura, mencionada aqui no começo, não apresenta um equilíbrio e pode cansar até mesmo os fãs do gênero.

    Ao final, o resultado parece uma espécie de videogame e não no bom sentido, tendo-se em vista obras-primas como “The Last of Us” ou “Red Dead Redemption“, mas um daqueles jogos que você aproveita por um mês e depois larga para sempre. Não é a partir de bons momentos e ideias que poderiam ser que se faz um filme, com “Power” provando isso ao telespectador à todo momento.

    Nota: 2/5

    Veja também: Preço do Disney+ no Brasil é revelado: opções são mais caras que Netflix e Prime Video!

    CONFIRA O TRAILER:

  • Crítica | 3% – Series Finale

    Crítica | 3% – Series Finale

    “3%” estreou em 2016 sendo a primeira produção original brasileira da Netflix. Tendo bons números de audiência e boa recepção da crítica, a série entra na sua quarta e última temporada com o maior embate entre o Maralto e Continente.

    Em um mundo pós-apocalíptico onde um Processo é a forma de escolher os 3% que são merecedores de ter uma vida cheia de regalias, era de se esperar que uma oposição fosse criada, e é no ano do Processo 105 que a vida dos moradores do Maralto e Continente começou a mudar.

    De infiltrados da Causa no Processo à construção da Concha, vários acontecimentos levaram até o momento em que a quarta temporada começa, com Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Veneza Oliveira), Marco (Rafael Lozano), Natália (Amanda Magalhães) e Elisa (Thais Lago) entrando no prédio do Processo e embarcando para o Maralto afim de forjar uma negociação com o conselho, em troca de Marcela (Laila Garin), que após tentar dar um golpe na Concha, foi mantida como refém pelos moradores junto de seus guardas.

    3% quarta temporada
    3%- 4ª Temporada | Netflix

    O plano para destruir o Maralto era aparentemente simples: acabar com toda a tecnologia existente do lado de lá, sendo assim, toda informação necessária para a criação de um novo processo estaria totalmente perdida, mas não é tão fácil como parece, a colaboração e o trabalho em equipe são essenciais para o cumprir o plano. Embarcando para o Maralto -alguns pela primeira vez- o falso acordo poderia ser feito junto ao Conselho cara a cara.

    Enquanto isso na Concha, Michele (Bianca Comparato) tenta fazer com que as coisas voltem ao normal após a invasão, e pra isso ela conta com a ajuda de Xavier (Fernando Rubro) e Glória ( Cynthia Senek). Enquanto Marcela é mantida como refém, André (Bruno Fagundes) dá um golpe no conselho e assume a liderança do Processo 108 e do Maralto, tomando decisões extremamente perigosas, o que acaba sendo pretexto para a destruição que definirá o futuro do mundo dividido.

    A quarta temporada chegou para ser mais do que um ponto final na história, é uma crítica à sociedade atual e abre os olhos para os problemas que devem ser resolvidos em conjunto.

    3% quarta temporada
    3%- 4ª Temporada | Netflix

    Além de todo o conflito entre os mundos, os flashbacks mostrando o passado da maioria dos personagens rechearam a produção que manteve o nível alto nos sete episódios. O elenco – que vem ganhando destaque desde a primeira temporada- tem um salto enorme de qualidade e merece a atenção, o desenvolvimento e amadurecimento dos atores foram essenciais para que sentíssemos amor ou ódio por determinados personagens. A construção da trajetória de cada um foi colocada de forma tão linda que chega a ser extremamente emocionante.

     Atores como Vaneza, Rodolfo e Rafael já haviam mostrado o talento nas temporadas anteriores, além deles, quem merece destaque na quarta temporada são os atores Bruno Fagundes, Cynthia Senek, Laila Garin, Fernando Rubro e Bianca Comparato, que havia recebido críticas por sua atuação morna nos outros anos, mas que deu um show de talento e passou toda a emoção que a temporada exigia.

    Zezé Motta e Ney Matogrosso continuaram com as suas participações durante os episódios da quarta temporada, e foram essenciais para a conclusão da história.

    Outro ponto de destaque é a trilha sonora que, com músicas 100% brasileiras,  tornou a experiência ainda mais especial. Na maior parte do tempo instrumental, algumas músicas ganharam vida nas vozes de nomes como Liniker, Elza Soares e Johnny Hooker.

    3%- Quarta temporada | Netflix
    3%- 4ª Temporada | Netflix

    Desenvolvida por Pedro Aguilera, “3%” foi a primeira produção brasileira da Netflix, dando início ao grande catálogo de filmes, séries e documentários nacionais no streaming.

    “O mundo era dividido em dois lados, não é mais.”

    Com tantos acontecimentos para assimilar em tão pouco tempo, é inevitável que não sentir o “gostinho de quero mais”, mesmo sabendo que é o fim. A quarta temporada chegou para fechar com chave de ouro, essa série pode ser um ótimo começo para deixarmos de lado a síndrome de “vira-lata” e começarmos a valorizar a produção nacional.

    A quarta temporada de “3%” já está disponível na Netflix.

    Nota:5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Parasyte – 1ª Temporada é uma viagem sombria e questionadora

    Crítica | Parasyte – 1ª Temporada é uma viagem sombria e questionadora

    Anime recém-chegado na Netflix é uma adaptação do manga de Hitoshi Iwaaki, que criou e ilustrou uma narrativa bizarra sobre as questões que separam homens e monstros

    No instante que a palavra “anime” é falada em uma roda de conversa entre amigos, a primeira imagem que vem à mente de muitos são as produções com o típico personagem principal otimista, que aspira grandiosidade e empatia. No entanto, existe uma sombria galeria de protagonistas que fogem dessa construção com veias esperançosas, visando outras propostas, como o Kira em Death Note, ou Shinji de Neon Genesis Evangelion. Quem também se enquadra nesse perfil é Shinichi, figura essencial do anime Parasyte, cuja história se dispõe a dissecar a escuridão que há dentro do ser humano, assim como as sombras que residem o interior de monstros.

    Sobre Parasyte:

    A história se passa em um mundo que seres parasitas surgem na Terra. Eles se apoderam dos humanos, entrando por qualquer cavidade corporal, com a finalidade de controlar o corpo da vítima. A história se desenvolve quando um desses parasitas falha em se apoderar do corpo de Shinichi Izumi, fazendo com que os dois sejam obrigados a conviver juntos.

    Parasyte - 1ª Temporada
    Parasyte / Madhouse / Netflix

    Aqueles que escutam de longe podem confundir o nome deste anime com o longa sul-coreano que levou o Oscar de “Melhor filme” em 2020. Mas, apesar de ambas as obras se apoiarem nas infinitas associações que orbitam o termo “parasita”, a animação nipônica Parasyte abandona quaisquer metáforas e conta uma história literal sobre monstros x humanos. Disponível no catálogo da Netflix, com 24 episódios, a trama é uma tempestade de discussões sobre o homem e a sua relação com a vida, a morte e a grande (ou pequena) linha entre esses dois polos, chamada de “existência”.

    A primeira vista, sua mente pode reduzir Parasyte a um simples enredo sobre um adolescente que tem um parasita falante no lugar do braço. Bom, a princípio, é exatamente isso! Entretanto, após o desfecho intrigante do primeiro episódio, percebe-se que esse anime tem muito para falar e você, como telespectador, tem muito a ouvir. Shinichi não carrega o protagonismo sozinho, pois ele divide esse fardo com sua “mão parasita” — chamado de Migi — um ser pensante, com um forte desejo de entender tudo ao seu redor, porém com um grande déficit em compreender simples atos humanos movidos pela emoção. Para ele, escolhas tomadas a partir da empatia, amor materno, amizade e outras vertentes abstratas, não fazem sentido.

    Parasyte - 1ª Temporada
    Parasyte / Madhouse / Netflix

    Assistir um jovem humano dividir seu corpo com um parasita é uma experiência bizarra (uso esta palavra como um grande elogio para o anime!). E, enquanto ambos aprendem um com o outro e protagonizam momentos incomuns, somos bombardeados por pensamentos profundos. O que separa homens de monstros? O que diferencia o ser humano, que mata animais para comer, de um monstro que faz o mesmo, se alimentado de carne humana? Qual o propósito da vida quando percebemos que estamos destinados a morte? São estas e outras indagações que “parasitam” sua cabeça episódio após episódio.

    Com uma trama profunda que nunca se sacia com diálogos ou situações rasas, a direção pega a mão de sua audiência, conduzindo-os em uma jornada de ideias, dúvidas e debates. Claro, tudo isso pelos olhos de uma ficção melancólica e brutal. A narrativa de Parasyte utiliza muitas máscaras: ação, comédia, terror e suspense. Contudo, por baixo de toda essa fachada, o rosto desse anime é o “drama”.

    É o drama que impera a narrativa do começo ao fim, por mais que existam momentos cômicos aqui e acolá, muitas cenas de luta com extrema violência gráfica e grandes mistérios. São os monólogos pensados pelo protagonista e as falas proclamadas pelo novo “hóspede” de seu corpo que dominam os principais conflitos e resoluções. Talvez, no começo, a estranheza despertada pelo visual possa criar um certo afastamento no telespectador, mas os diálogos cumprem bem o papel em fixar a atenção daqueles que compraram a proposta.

    Parasyte - 1ª Temporada
    Parasyte / Madhouse / Netflix

    O melhor acerto de Parasyte está em seu protagonista, que nunca é transformado em “herói”, ainda que tenha traços para ser um. Sua jornada é uma desconstrução daquela figura que vemos nos primeiros episódios. Logo, não tarda para o protagonista sofrer uma drástica metamorfose, ficando diante de situações que mais parecem um beco sem saída. Ficando mais forte, ele perde gradativamente sua humanidade, precisando reencontrá-la dentro de si para resolver seus problemas.

    Longe da perfeição, Shinichi é apenas um refém do acaso, que precisa continuar nadando nesse mar de monstros, lutando para não se afogar nas semelhanças entre eles. Aqui temos um personagem que sofre as consequência de seus atos, que cresce e diminui a cada escolha, que se encontra e se perde muitas vezes. Mas, acima de tudo, está em constante desenvolvimento.

    Migi (vulgo parasita) é um personagem que não sabe muito deste mundo, e logo se propõe a entendê-lo, sem jamais abandonar sua visão pragmática. Dele partem as principais questões que levará você a ficar alguns minutos perdido, buscando respostas e duvidando de suas justificativas. Para ele, tudo é novo, e sua atos, baseados apenas no lado racional, logo são confrontados quando batem de frente com as ações emocionais de seu “anfitrião”.

    Parasyte - 1ª Temporada
    Parasyte / Madhouse / Netflix

    Quem merece aplausos é a equipe de animação do estúdio Madhouse, que faz um excelente trabalho de adaptação. Como o manga foi lançado no final da década de 1980 e sua versão animada estreou em 2014, ocorreram singelas alterações nos traços, mas nada que destoe muito do material original. A produção embarcou nas bizarrices, mantendo as distorções visuais que marcam os monstros, e preservando as características dos humanos que também possuem estranhezas comportamentais.

     A conclusão de Parasyte é um soco no estômago, através de palavras e ideias que te levarão a discussões internas. Colocando o homem como a figura primordial em uma trama de monstros, seguimos por um caminho cruel, frio e realista. Afinal, o que é pior? A monstruosidade humana? Ou a monstruosidade de um monstro? É fácil se perder nos pontos de interrogação que o anime se propõe a esculpir em nossas mentes, por outro lado, é muito difícil encontrar respostas.

    Parasyte - 1ª Temporada
    Parasyte / Madhouse / Netflix

    Existe uma lista de produções audiovisuais que habita uma parte da nossa cabeça, alimentando nosso repertório através da ficção. Algumas pessoas jamais serão as mesmas após assistir um filme ou uma série, e isso acontece de forma particular e singular. São poucas histórias que, de alguma forma, falam diretamente com o público, tirando-o de sua zona de conforto, levando-o a questionar as mesma indagações feitas pelos personagens.

    Em suma, Parasyte é um palco para aqueles que adoram se perder em debates sobre a moral e o livre-arbítrio. Um anime melodramático? Sim! Aterrorizante? Sim! Excêntrico? Sim! Mas, acima de tudo, original e questionador.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | 3% -3ª Temporada.

  • Crítica | Olhos de Gato – Uma animalesca jornada sobre amadurecimento

    Crítica | Olhos de Gato – Uma animalesca jornada sobre amadurecimento

    Ao lado de grandes obras do estúdio Ghibli, essa nova animação do Studio Colorido conquista espaço na lista de “fantasias contemporâneas” da Netflix.

    Os gatos são animais enigmáticos, donos de características peculiares. Não é à toa que os bichanos tornaram-se figuras especiais em histórias de fantasia, ora vestindo o manto de protagonistas, ora como coadjuvantes de luxo, vide o corajoso Barão, em O Reino dos Gatos, ou o excêntrico e sorridente Gato Risonho, de Alice no País das Maravilhas. Dessa vez, o animal “que sempre cai em pé” será vivido por uma jovem que adquire uma estranha habilidade. Olhos de Gato é uma animação nipônica, adicionada recentemente no catálogo da Netflix, narrando as idas e vindas de uma garota que se perde na busca pelo “amor” (aspas colocadas aqui com muita ênfase!).

    A roteirista de animes, Mari Okada, que fez até os “otakus” mais fortes chorarem com Anohana, é a responsável pelo roteiro desta animação. Com menos profundidade dramática, mas com um grande poder criativo, ela cria uma ponte interessante entre situações do dia a dia e elementos fantásticos. A cadeira da direção fica por conta da dupla Tomotaka Shibayama e Junichi Sato (conhecido por seu trabalho no clássico anime Sailor Moon).

    Sinopse do filme Olhos de Gato:

    Miyo Sasaki, apelidado de “Muge”, tem uma personalidade brilhante e é cheia de energia na escola e em casa. Ela também está apaixonada por seu colega de classe, Kento Hinode. Miyo tenta repetidamente chamar a atenção de Kento, mas ele não a nota. Ela percebe que a única maneira de se aproximar dele é se transformar em um gato, mas em algum momento, a fronteira entre ela e o gato se torna ambígua.

    Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
    Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

    A adolescência é a menor fase da vida de uma pessoa, deveras conturbada e repleta de altos e baixos. A chegada da juventude traz uma enxurrada de indagações relacionadas aos sentimentos amorosos. Olhos de Gato, a princípio, nos coloca ao lado de uma protagonista que busca o amor inexistente de um colega de classe (se bem que, nem colega ele é!). Depois, o roteiro abre caminho para uma nova busca: o verdadeiro “eu”.

    O filme abre com uma cena festiva, mostrando a personagem principal ao lado de sua mãe e seu irmão. Logo, somos apresentados ao principal elemento fantástico que conduzirá a trama até o fim: uma máscara mágica. Objeto este, que girará as rodas de causa e efeito, gerando acontecimentos e consequências para a protagonista e aqueles ao seu redor.

    Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
    Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

    Ditados populares, muitas vezes, ensinam uma montanha de coisas para cada um de nós, em momentos diferentes de nossas vidas. Se, porventura, eu conhecesse a protagonista, gritaria bem alto para ela: “Quem tudo quer, nada tem!“. Claro que, antes de qualquer coisa, é preciso entender as motivações para tal ato insólito. Muge é uma adolescente que parece ter um, talvez dez, parafusos soltos. Esse é o traço que com certeza fará você aceitar os atos da personagem, ou arquear uma sobrancelha e se perguntar “por que ela está se sujeitando a isso?“.

    O amor é um sentimento mutável, despertando as mais improváveis atitudes em uma pessoa. No período da adolescência, essa força abstrata é capaz de aflorar uma avalanche de comportamentos. Muge, enquanto humana, nutre um amor unilateral pelo personagem Hinode, que nem sequer a olha como uma amiga, quem dirá como uma “namorada”. É nesse conflito que o primeiro ato se sustenta, mostrando as diversas situações, algumas bizarras, outras insanas, que a protagonista se sujeita para conseguir a atenção do seu “amado“.

    Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
    Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

    Talvez, a raiva invada sua mente, por causa da protagonista que sofre por não ter o amor de quem não a merece, enquanto esnoba o carinho daquelas que lutam pela atenção dela; como a melhor amiga, o pai e a madrasta. É o típico dilema do personagem que sofre pela ausência daquilo que ele já tem, mas não sabe, ainda! É uma base interessante para evoluir a personagem, no entanto, alguns deslizes narrativos, como diálogos repetitivos e personagens subdesenvolvidos interferem, um pouco.

    A partir de uma determinada atitude, essa linha de comportamento desperta um certo incomodo, pois Muge nunca parece ser quem realmente é. Sua imprudência a faz esquecer o “amor próprio”, pois ela vive à mercê de um amor não correspondido. Com isso, a garota começa a usar sua habilidade de andar sobre quatro patas para conhecer Hinode, sem que ele saiba.

    Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
    Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

    Nasce nela, uma dúvida, pois a “Muge Gata” tem toda a atenção, carinho e compreensão, enquanto sua versão humana não tem nada. Nesse ponto, a personagem começa a se perder entre o fio que separa seu lado humano do seu lado gato, afinal, em qual casca ela é mais feliz?

    No segundo ato (um pouco arrastado), esse dilema começa a interferir na vida da personagem. Vendo-se diante de uma complicada jornada de autodescoberta, a fantasia ocupa todo o espaço, coordenando a trama na direção de personagens excêntricos e “carigatos“. Ops! Quero dizer “caricatos”.

    Com um desfecho razoável, somos bombardeados por cores, belas paisagens e uma direção de arte que encanta até nos mínimos detalhes. Características que marcam cada vez mais as animações orientais, não é mesmo Your Name?

    Olhos de Gato - Uma animalesca jornada sobre amadurecimento
    Olhos de Gato / Studio Colorido / Netflix

    Resolvendo quase todos as questões da protagonista através de situações fantásticas, Olhos de Gato é uma ingênua animação sobre amadurecimento, que conta a história de uma personagem que compreende alguns pilares da vida, como amizade, amor fraternal, amor familiar e “amor próprio”. Mesmo falhando um pouco neste último pilar, o sentimento predominante no final é como um abraço reconfortante.

    Quantas vezes nos imaginamos sendo aquilo que não somos, para dizer o que de fato está em nossos corações? Que máscaras usamos para ser ou deixar de ser nosso verdadeiro “eu”? São essas e muitas outras questões que o filme se propõe a fazer. Algumas são respondidas, outras ficarão no ar, dependendo da sua interpretação.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Cursed- A Lenda do Lago – 1ª Temporada.