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  • Crítica | Estado Zero – Minissérie

    Crítica | Estado Zero – Minissérie

    Estado Zero é uma minissérie de 6 episódios que faz uma dura denúncia ao regime de detenção de refugiados na Austrália, e merece toda a nossa atenção

    Atualmente em todo o mundo existem cerca de 70 milhões de pessoas fugindo de guerras e procurando refúgio em diversos países, infelizmente essa história já é antiga e nunca teve a devida atenção. São vários casos de acidentes envolvendo os barcos que levam os refugiados, que faz com que vários acabem chegando mortos na beira da praia, e os que chegam com vida muitas vezes são tratados como animais, a xenofobia acaba falando mais alto e o pré-conceito faz com que a vida deles em um novo país acabe virando um verdadeiro inferno. Estado Zero, apesar de falar sobre a Austrália, é um alerta para todo o mundo.

    Estado Zero
    Estado Zero | Netflix

    Estado Zero apresenta quatro núcleos diferentes, mas que se encontram no decorrer da história. Sofie ( Yvonne Strahovski) é uma comissária de bordo australiana que sofre por ser frequentemente comparada a irmã, e acaba deixando a sua vida de lado para entrar em um culto de auto ajuda chefiada por Pat ( Cate Blanchett) e seu esposo. Após semanas frequentando o culto, Sofie pede demissão do emprego, perdendo o  apartamento e consequentemente a sua independência. Enquanto isso, Ameer (Fayssal Bazzi) é um pai de família afegão que fugiu com a esposa e filhas para a Indonésia afim de encontrar um grupo que colocassem eles em um barco de refugiados em direção à Austrália, e que infelizmente acabam sendo enganados e perdendo todo o seu dinheiro e o local onde estavam sendo abrigados. De volta à Austrália, Cam (Jai Courtney) é um pai de família que está desempregado, e acaba aceitando o emprego de guarda no Centro de Detenção de Refugiados, onde Clare ( Asher Keddie) que trabalhava pra o Departamento de Gerenciamento de Imigração e assuntos Multiculturais, foi enviada afim de abafar a crise existente no lugar.

    A vida dos quatro personagens principais acabam se encontrando no Centro de detenção de refugiados, Sofie se passa por uma turista alemã e é detida sem documentos, ficando presa no centro. Ameer após ter sido vítima do golpe na Indonésia, se separa de sua família, mas acaba chegando na Austrália e encontrando somente a sua filha mais velha, os dois se encontram no centro de detenção. Apesar do lugar parecer só uma passagem para receber abrigo dos australianos, alguns passam anos a espera de uma chance de poder viver livre, porém, o lugar não recebe a devida atenção tanto  da política quanto da mídia. Tudo muda quando descobrem a presença de uma australiana entre os detidos, fazendo com que todos voltem os olhos para o que acontece lá dentro.

    Estado Zero
    Estado Zero | Netflix

    A história não se alonga muito em certos assuntos, e muito menos explora personagens secundários, ela é nitidamente focada em somente uma questão. Criada por Cate Blanchett, Elise McCredie e Tony Ayres, a minissérie de seis capítulos é claramente uma denúncia pra abrirmos novamente a discussão sobre a vida dos refugiados, baseada em eventos reais, ela toca na ferida de muitas pessoas.

    A série  mostra o quão o ser humano -em sua maioria- é individualista, e que só damos a devida atenção a certas questões quando acontece com um dos nossos, o que é muito preocupante. Além de toda a reflexão que a trama trás, não podemos deixar de lado as atuações impecáveis de Yvonne e Fayssal, o drama carregado pelos personagens do intensifica ainda mais a realidade daqueles que viviam no centro, além de apresentar as questões culturais de cada um que estava ali.

    Estado Zero
    Estado Zero | Netlfix

    Felizmente na história real, a descoberta de que havia uma detenta australiana no centro de detenção abriu uma investigação que descobriu falhas no Departamento de Imigração australiano, a falta de respeito pela dignidade humana e o abuso de autoridade, e a denúncia feita pela série pode abrir portas pra que outros centros sejam investigados em todo o mundo. Vale relembrar que atualmente são 70 milhões de pessoas em busca de refúgio, cabe a nós fazermos a nossa parte!

    Emocionante, comovente e necessário, Estado Zero deve ser apreciado aos poucos e com muita atenção, vai muito além de apenas entretenimento, é algo a ser levado para a vida.

    Estado Zero estreia dia 8 de Julho na Netflix.

    Nota: 5/5

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  • Crítica | Thiago Ventura: POKAS

    Crítica | Thiago Ventura: POKAS

    Trazendo um novo formato de comédia stand-up, Thiago Ventura consegue entreter e tirar boas risadas do público sem nem ao menos falar uma palavra se quer.

    A comédia stand-up é uma das formas de arte mais consumidas pelos brasileiros atualmente, que lotam os teatros para prestigiar seus comediantes favoritos, muitos deles ainda em formação no mercado. Um dos principais interesses nesse tipo de comédia e que nos faz ficar sentados, seja em frente a uma TV, um computador ou uma ida ao teatro, por algumas horas, é saber que por um momento passaremos a ver as coisas mais insignificantes do dia a dia se tornarem pautas cômicas para longas conversas entre o comediante e seu público.

    Seguindo esse crescimento, é notável ver que a internet também gerou um grande impacto no consumo do stand-up, tivemos o ressurgimento de alguns artistas mais antigos até alguns sucessos mais recentes como Whindersson Nunes, Bruna Louise, Carol Zoccoli, Rafael Portugal, Nando Viana, Rodrigo Marques e Thiago Ventura, que são exemplos do quanto a internet expandiu esse nicho e os levando à TV, com menção honrosa ao “A Culpa é do Cabral” que tem seu elenco composto por comediantes do stand-up, e devido ao grande sucesso ganhou um programa derivado, “A Culpa é da Carlota”, que expande ainda mais o nicho ao trazer um comédia 100% feminina em uma categoria majoritariamente masculina.

    A Culpa é da Carlota
    A Culpa é da Carlota / Comedy Central Brasil

    Em “A Culpa é do Cabral”, do canal Comedy Central, grande parte dos fãs da comédia stand-up teve o primeiro contato com o humor leve e regional de Thiago Ventura. Mais conhecidos entre os paulistas, o comediante teve a oportunidade de levar sua comédia periférica e com uma raiz paulistana para todo o Brasil. Carismático, caricato e muito simplista, Thiago se consagrou entre o público e expandiu seu nome ao fazer piada com assuntos do dia a dia e vivências da periferia. Merecidamente, hoje, Thiago tem um especial de comédia para chamar de seu na Netflix, o “POKAS”, que é a finalização de uma trilogia de stand-ups que mostram o estilo de vida de um jovem da periferia. Os dois shows anteriores, “Tudo O Que eu Tenho” e “Só Agradece”, estão disponíveis no YouTube, e já ultrapassaram a marca de mais de 16 milhões de visualizações.

    Crítica | Thiago Ventura: POKAS
    Thiago Ventura: POKAS / Netflix

    Em “POKAS” Thiago Ventura faz piada sobre a vida na quebrada, abordando questões sociais e deixando claro que ações falam mais do que palavras. Trazendo um novo formato de stand-up, o humorista se arrisca em se transformar num coach e passar uma mensagem para o seu publico através de uma palestra motivacional bem humorada e que não se transforma apenas em apenas uma paródia pra fazer rir e depois tornar-se esquecível. Com a filosofia “POKAS Ideia”, Thiago traz cinco pontos de como uma pessoa da periferia pode atingir o sucesso pessoal apenas com o esforço próprio: “Definindo Regras”; “Princípios”; “Ser várias versões de si mesmo até você descobrir quem é”; “Erros que geram evolução”; “Por quem você é”!

    “POKAS” tem um roteiro impecável que exalta o paulistano, mas que também não deixa de exaltar o brasileiro no geral, e deixa o espectador entretido durante todo o show. Mesmo que o humorista tenha que se desviar das histórias que está contando para explicar algumas coisas, e algumas vezes com algumas explicações longas, no fim tudo acaba se amarrando e se conectando. As interpretações de Thiago convencem e casam muito bem com o roteiro, vide os momentos que ele utiliza para o público sentir-se emocionado com algumas de suas histórias pessoais pra logo em seguida arrematar com uma piada que eleva o nível do show, mesmo que o humorista não precise soltar um som se quer para nos fazer rir. Bem produzido, o especial também tem uma incrível edição de som, iluminação, bem fotografado e com um cenário que complementa tudo o contexto do espetáculo, como se fosse instalado um palco no meio da periferia.

    Crítica | Thiago Ventura: POKAS
    Thiago Ventura: POKAS / Netflix

    “POKAS” é um grande espetáculo que faz jus ao brasileirismo, estreando já no top 10 de um dos maiores serviços de streamings, e não é para menos. Distribuído mundialmente pela Netflix, esse show vai mostrar para os gringos que não é só de samba, caipirinha e praia que vive o brasileiro; isso, inclusive, é um dos pontos que Thiago toca. Além disso, é repleto de referências a cultura pop e vai agradar bastante o público geek/nerd.

    Seja você paulista, carioca, baiano, recifense, sulista… “POKAS” faz uma bela homenagem ao povo periférico que precisa batalhar dia após dia para atingir o seu sucesso pessoal. Thiago Ventura faz você se identificar com as suas histórias de infância e repensar as suas perspectivas para o futuro, cumprindo sua missão com esse show. Mesmo que você não se identifique, esse especial vai te promover boas gargalhas.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Leia também: Crítica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

  • Crítica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    Crítica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    Eurovision é a mais nova produção da Netflix, e trás Will Ferrell e Rachel McAdams em personagens extremamente excêntricos num besteirol musical que deu super certo.

    Eurovision é um concurso musical anual e televisionado que acontece desde 1956 organizado por países membros da União Europeia de Radiofusão, tendo a participação de talentos espelhados por toda a Europa. O concurso é conhecido por lançar grupos musicais, sendo o mais famoso deles o grupo sueco ABBA, que venceu o programa em 1974.  E foi esse programa que deu início a história de Sigrit e Lars.

    Lars ( Will Farrel ) era só um garoto quando se apaixonou pela música ao ver o ABBA tocando no Eurovision de 1974, ele e sua melhor amiga Sigrit (Rachel McAdams) decidem então formar uma dupla musical, mesmo que seus pais fossem contra esse sonho, Erick ( Pierce Brosnan) nunca acreditou no talento do filho, e gritava aos quatro ventos o quanto sentia vergonha dele. Mesmo com tudo indo contra, Lars e Sigrit tem um sonho em comum : participar do maior evento de música da Europa!

    Eurovision
    Eurovision | Netflix

    Com músicas estranhas  e um visual totalmente cafona, a dupla busca o seu espaço para entrar no concurso de canções, coisa que só é possível quando uma bomba acaba explodindo em um navio, ocasionando a morte da participante selecionada e cheia de talento Katiana ( Demi Lovato). Agora dentro do programa, Sigrit e Lars acabam tendo contato com talentos de toda a Europa, o que acaba dificultando tá no relacionamento deles, principalmente pela divergência de interesses.

    Com personagens estereotipados, a produção de Will Ferrell acerta na mistura entre o besteirol e a comédia familiar, fazendo com que as duas horas de duração passem num piscar de olhos. O ponto alto se dá ao talento nato de Dan Stevens ao interpretar o talentoso e excêntrico russo Alexander, uma surpresa enorme na escolha do elenco.

    Eurovision
    Eurovision | Netflix

    Tratando-se de um filme cujo os personagens principais são cantores, não podemos deixar de lado a voz surpreendente e super afinada do Will Ferrel, já a nossa queridinha Rachel McAdams foi dublada pela cantora sueca Molly Sandén, que ficou em terceiro lugar no Eurovision infantil de 2006.

    Apesar do filme parecer uma sátira do programa e não ser o melhor do Ferrell, ele se mostra como uma linda homenagem ao festival, além de conter uma locação incrível e músicas originais de deixar qualquer um de queixo caído. O longa é declaradamente bizarro, mas gostoso de assistir, vale a pena adicionar na sua lista do streaming.

    Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars já está disponível na Netflix.

    Nota: 3,5/5

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  • Crítica | Nancy Drew – 1ª Temporada

    Crítica | Nancy Drew – 1ª Temporada

    Conhecida na cidade por desvendar casos antes da polícia, Nacy Drew enfrenta o maior mistério de sua vida nessa série que mistura histórias assombradas com tramas policiais

    Nancy Drew (Kennedy McMann) é uma adolescente curiosa e que está sempre em alerta sobre tudo o que acontece na sua pacata cidade Horseshoe Bay, desde mistérios envolvendo roubos até desaparecimento  de pessoas. Após o falecimento de sua mãe, Nancy deixa de lado o seu amor pela investigação e começa a trabalhar em uma lanchonete afim de ganhar dinheiro para ir a faculdade e finalmente sair da cidade.Tudo muda após uma socialite ser assassinada em frente à lanchonete, fazendo com que Nancy, seu namorado secreto Nick (Tunji Kasim), sua chefe George (Leah Lewis) e seus dois amigos de trabalho Bess (Maddison Jaizani) e Ace (Alex Saxon) fossem considerados os principais suspeitos do crime.

    Nancy Drew
    Nancy Drew | The CW Television Network

    Contendo passados obscuros e segredos, os cinco se unem para desvendar o assassinato na tentativa de encontrar o verdadeiro culpado, e nessa busca é apresentado vários fatores que poderiam colocar qualquer um deles como o cruel assassino. Além desse crime, histórias que envolvem a morte de uma adolescente há mais de vinte anos voltam à tona quando Nancy descobre o envolvimento de seus próprios pais com o caso. Incrédula quando se trata de seres sobrenaturais, Nancy Drew têm que lidar com aparições, dicas vindas do além e até mesmo com possessões.

    Criada por Carolyn Keene e Edward Stratemeyer em 1930, todo mundo já leu ou assistiu algo sobre a mais jovem detetive, queridinha de muitos, ela não decepciona nessa série de 2019 produzida por Josh Schwartz, que trouxe um elenco jovem e grandes descobertas do mundo artístico. Apesar da trama lembrar séries como Riverdale e até mesmo Scooby Doo em alguns momentos, Nancy Drew é um pouco mais adulto ao trazer cenas quentes entre os atores e questões que estão além das séries citadas.

    Com 18 episódios, a série carrega uma grande carga de sustos e amadurecimentos dos personagens, mostrando que essa releitura de Nancy Drew é destinada para um público adulto, sem entrar no mérito de ser “mais uma série adolescente”.

    Nancy Drew
    Nancy Drew | The CW Television Network

    Apesar do carisma passar bem longe dos personagens, a série chama a atenção por ter uma trama muito bem explicada desde o início, fazendo com que o expectador não espere muito, mas acaba se perdendo -e muito- no decorrer dos episódios, o que acaba dificultando a maratona. Um ponto positivo é que o plot twist no final da primeira temporada nos faz querer ainda mais que a segunda seja produzida, e para a felicidade dos fãs da ruiva, a continuação já foi confirmada.

    Amada por muitos e odiada por poucos, Nancy Drew é uma ótima opção de entretenimento, principalmente se você é fã de carteirinha de Pretty Little Liars e Riverdale, já que o público é basicamente o mesmo. Agora, se tratando de toda a história em volta da detetive que nasceu lá em 1930, a série deixa a desejar só pela falta de carisma, já que em outras produções a personagem, mesmo sendo extremamente madura, esbanja carisma fazendo com que a gente se identifique com ela logo de cara. Apesar dos pesares, Nancy Drew é a prova de que uma boa história pode ser explorada de diversas maneiras.

    A primeira temporada completa de Nancy Drew já está disponível no Globoplay.

    Nota : 4/5

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  • Crítica | Dark – 3ª Temporada

    Crítica | Dark – 3ª Temporada

    Série alemã original da Netflix, “Dark” tornou-se um dos maiores sucessos da história do streaming e chega ao seu terceiro e último capítulo com um status inegável e uma popularidade estratosférica. Idealizada por Baran bo Odar e por Jantje Friese, a enigmática aventura temporal encerra a sua trajetória com uma satisfatória e viciante trama que entrega, paralelamente ao iminente apocalipse, uma das maiores e mais emocionantes series finale de todos os tempos.

    O fim é o começo. O começo é o fim. No início do último ciclo para a cidade de Winden, uma intrigante narrativa que transcende os conceitos de tempo e espaço cerca Jonas (Louis Hofmann) que, recém-chegado a um mundo completamente novo, tenta entender como todas as coisas estão realmente conectadas e o que elas significam para o seu destino. Preso em suas próprias obscuridades, o viajante encontra trevas e luz enquanto protagoniza uma trágica história de amor com o seu oposto complementar e assiste as realidades coexistentes trabalharem para encontrar a origem, quebrar o ciclo e evitar o apocalipse.

    A pergunta não é como, mas quando. E, acima de tudo, em qual mundo. Dentre tantos segredos e loopings, a contínua e interessante complexidade narrativa desamarra cada laço já atado e, com um quê de ternura no meio de todo o caos que assombra os moradores da não tão pacata cidade alemã, mostra que o universo inteiro não é nada além de um nó gigantesco do qual não há escapatória.  

    Dark
    Dark – 3ª temporada / Netflix

    Alfa e Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro, Jonas e Martha. Utilizando-se das afirmações de Einstein, “Dark” qualifica o tempo como uma “essência macabra, como uma dimensão que não pode ser quantificada”. Uma ilusão de que o ontem, o hoje e o amanhã não são entidades separadas, mas um fluxo contínuo que ainda não foi entendido. Apoiando-se em tais premissas e anexando o conceito de realidades paralelas, a série assume um ritmo inicialmente mais tenro, divergindo da segunda temporada, uma vez que se compromete a dar sentido para tudo o que é transmitido e a difundir a sensação de que é realmente o fim dos tempos. A construção preenche todas as lacunas de informação possíveis a fim de disponibilizar, em seu final, a conclusão mais épica que poderia ter sido criada. O caminho até o clímax é completamente explorado. Tudo vale a pena.

    Como em uma gradação, a terceira temporada de “Dark” é o seu auge, o amadurecimento total de uma trama cuidadosamente construída sobre a história de peões, em um tabuleiro de xadrez, guiados por uma mão desconhecida. Vivendo literalmente três vidas – de acordo com a mitologia construída ao longo da série -, os personagens finalizam a primeira com a perda da ingenuidade em si, a segunda com a perda da inocência e a terceira, finalmente, com a perda da própria vida – sendo, esta última, o foco do arco narrativo do vindouro apocalipse que destruirá Winden e dizimará grande parte de seus moradores. Os questionamentos, os motivos e os fins nunca foram tão bem desenvolvidos e encaixados como são neste último capítulo. Um prazer audiovisual ininterrupto, cativante e, quiçá, eterno.

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    Dark – 3ª temporada / Netflix

    Serenidade para aceitar o que não se pode mudar, coragem para mudar o que se pode e sabedoria para saber a diferença. Qualidade inegável e personagens apaixonantes, não é só a trama que torna “Dark” uma das melhores séries do streaming. Mais do que em suas duas primeiras temporadas, são os detalhes do capítulo final da jornada do tempo que chamam a atenção e, juntamente com a epicidade que a conclusão já carrega consigo, revelam uma direção de arte magnífica capaz de deixar qualquer espectador de boca aberta.

    Devidamente apresentados ao novo mundo no qual a história de Jonas irá se desenvolver, percebemos o “espelho” que ele é da Winden original. Seja nas características físicas dos personagens, nas relações sanguíneas entre eles e até na arquitetura da nova realidade – que é completamente invertida quando comparada ao que estávamos previamente acostumados – os oito episódios finais lançados pela Netflix são capazes de despertar um prazer revigorante no espectador e um sentimento de agradecimento pela construção precisa de um meio visual que facilitasse o entendimento da complexa obra de Baran bo Odar e de Jantje Friese. As versões temporais de cada personagem e todas as suas respectivas divergências são únicas e indispensáveis.

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    Dark – 3ª temporada / Netflix

    Dramático e emocional, o encerramento da trilogia é uma carta de amor a qualquer fã apaixonado. Com espaço suficiente para cada personagem, secundário ou não, brilhar à sua maneira, nada é deixado de lado e tudo parece ser suficiente. Fugindo da obviedade e pulando de cabeça em dezenas de reviravoltas incríveis, “Dark” não é uma série que você assiste, é uma série que você resolve. E, junto com ela, chegamos à única conclusão possível: tudo está conectado.

    Entrada, saída. Começo, fim. Bom, mal. Moldado pelo dualismo, nosso pensamento enxerga tais pares como opostos. No entanto, essa premissa está errada. Tudo é a mesma coisa, um ciclo infinito. Assim como o fim é o começo e o começo é o fim.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Coisa Mais Linda – 2ª temporada

  • Crítica | Kidding – 1ª e 2ª temporada

    Crítica | Kidding – 1ª e 2ª temporada

    Kidding entrou recentemente no catálogo da Globoplay, com suas duas temporadas a série prova mais uma vez que o enorme talento de Jim Carrey está além das comédias, trazendo ele num papel hilariamente triste

    Jeff Pickles ( Jim Carrey) comanda um programa infantil chamado Pickles Puppet Time há mais de 30 anos, com músicas sobre situações do cotidiano e várias marionetes, Mrs Pickles é uma figura essencial na vida de muitas crianças e suas famílias. Após perder um de seus filhos em um trágico acidente de carro e consequentemente o seu casamento, Jeff vê a sua vida virar de cabeça pra baixo enquanto tenta lidar com o luto e todas as emoções que vieram à tona após o acontecido, mostrando que a vida não é tão alegre como ele mostra em seu programa, mudando drasticamente a sua fachada de um personagem totalmente otimista para um recém-divorciado estranhamente depressivo.

    Kidding
    Kidding | Showtime

    Além de todo o sofrimento e por perder Jill ( Judy Greer) o grande amor de sua vida e aos poucos o contato com seu filho Will ( Cole Allen), Jeff se vê censurado pelo seu pai Sebastian ( Frank Langella) – que também é o diretor do programa- por não poder ensinar  para as crianças as fases do luto e como podemos lidar com essa situação. Além do pai, a irmã Deirdree ( Catherine Keener) é uma das responsáveis por dar vida aos fantoches, todo esse contato pessoal e profissional da família torna a vida de Jeff praticamente a mesma dentro e fora da televisão.

    A trama discute vários assuntos, desde o luto até a depressão, mostrando que a vida não é um conto de fadas – coisa que nós, meros mortais, já estamos cansados de saber-. Apesar do Jeff ser uma pessoa totalmente positiva e  inocente que usa frases como “ não use uma palavra ruim quando pode usar uma boa” e não toma nada alcoólico, a série faz questão de mostrar a decadência emocional dele após passar por momentos difíceis, e que por muitas vezes oprime toda a dor e rancor, coisa que faz ele ir definhando aos poucos.

    Criada por Dave Holstein e dirigida por Michel Gondry ( que dirigiu Brilho Eterno, drama estrelado por Jim), a série acerta em trazer momentos engraçados em situações de dar pena, principalmente por colocar um ator aclamado no mundo da comédia em um papel que carrega muito drama e angústias.

    Kidding
    Kidding | Showtime

    A primeira temporada chama a atenção por mostrar as fases de uma carreira em decadência e a tardia separação entre a pessoa e o personagem, quando a imagem de Jeff vai de um cara totalmente compreensível para alguém impulsivo, com raiva e triste. Além disso, no decorrer dos episódios é apresentado a tamanha influência que Jeff tem na vida dos americanos, e o tanto que a positividade dele é cobrada pelos seus fãs.

    Jim Carrey foi brilhantemente escolhido para um papel que com certeza marcará a sua carreira, sua volta a TV não poderia ser diferente. Após passar por problemas em sua vida pessoal em 2015, ele trouxe toda a dor que tinha dentro de si para dar vida a esse personagem tão único, sua atuação chama a atenção por ser impecável tanto nos momentos engraçados, como nos diálogos carregados de reflexões sobre a vida.

    Enquanto na primeira temporada nós temos um protagonista tentando lidar com a perda do filho, o fim do seu relacionamento e o seu programa indo de mal a pior, na segunda temos um avanço enorme tanto na personalidade de Jeff, quanto na sua relação com seu pai e com o seu filho.

    Kidding
    Kidding | Showtime

    Não fugindo do drama que cerca toda a série, a segunda temporada mostra o amadurecimento e finalmente o distanciamento entre Jeff e o Mrs Pickles, onde ele assume a sua personalidade e seus erros como uma pessoa normal. Além disso, questões pessoais são mais abordadas do que o programa, que foi deixado em segundo plano ( mas não deixa de ser importante). Flashbacks são apresentados mostrando o passado de praticamente todos os personagens, dando profundidade do drama individual de cada um mostrando suas histórias.

    Com 20 episódios no total, Kidding é sem dúvidas uma das melhores séries dos últimos tempos. Com uma atuação sem falhas e um roteiro excelente, fica a esperança de que uma terceira temporada esteja nos planos do diretor, e que venha recheada de dramas, desfechos e muitos momentos ironicamente engraçados.

    A primeira e segunda temporada de Kidding está disponível na Globoplay.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=OzwU7dbmAyY&t=10s
  • Crítica | Coisa Mais Linda – 2ª Temporada

    Crítica | Coisa Mais Linda – 2ª Temporada

    Produção brasileira original da Netflix, a segunda temporada de “Coisa Mais Linda” retorna ao streaming aprofundando-se na trama que aborda a ascensão da bossa nova, o racismo e o empoderamento feminino na década de 1960, no Rio de Janeiro.

    Inspirada, inicialmente, em um verso de “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Coisa Mais Linda” retorna às telas do Brasil e do mundo em uma trama tão bela e tão carioca que te mareja os olhos e não dá alternativa a não ser maratonar os seis episódios de uma vez só.

    Nesse novo capítulo sobre as quatro amigas do Rio de Janeiro e o seu famoso clube de música, o espectador é novamente mergulhado no drama íntimo da vida de Malu (Maria Casadevall), Theresa (Mel Lisboa), Adélia (Pathy DeJesus) e Lígia (Fernanda Vasconcellos) – depois de o mundo delas virar de ponta cabeça com os tiros assassinos de Augusto (Gustavo Vaz), na orla da praia, em plena na noite de ano novo. Na virada da década, as protagonistas voltarão a enfrentar os gargalos de uma sociedade machista e preconceituosa, enquanto lutam para conquistar, com muita luta e suor, o seu lugar de direito.

    Coisa Mais Linda
    Coisa Mais Linda – 2ª temporada / Netflix

    “Coisa Mais Linda” – que se recusa a perder o DNA marcante que a fez se sobressair dentre tantas séries do streaming – retorna para a sua segunda temporada com ainda mais pautas para discussão, enquanto mantém na mesa o seu foco na música e na união feminina. Nesse sentido, com a chegada do novo ano, acompanhamos um grupo que chora a morte de uma pessoa próxima e que lida com a iminente perda de seu clube – à medida que o mesmo é tomado das mãos de Malu por seu marido, Pedro, que retorna à capital carioca e clama os seus direitos sobre o local.

    Desenvolvendo-se como um presente a todos os fãs, a produção torna-se um palco e uma voz para tantos problemas sociais que são constantemente negligenciados. Na medida certa, as protagonistas – batizadas no jeitinho carioca tão conhecido e amado pelo mundo – ganham ainda mais espaço para crescer e amadurecer, oferecendo qualidades e particularidades marcantes que agregam muito valor à série e a tornam um deleite de assistir. Em seu segundo ano, Malu, Adélia e Theresa se afirmam como uma tríade definitiva, apaixonante e inspiradora – e ainda mostram que têm o público em suas mãos, enquanto interpretam papéis que aparentemente foram moldados para elas.

    No entanto, as peças da engrenagem que mantém a máquina funcionando, dessa vez, são os personagens secundários que foram criados de forma tão precisa quanto cada música de Tom Jobim. Garantindo mais espaço em uma trama leve e divertida, somos presenteados com mais tempo de tela de Ivone, Capitão, Duque e Roberto, que se mostram essenciais para todas as histórias de música e de amor que são contadas ao longo dos seis episódios inéditos lançados pela Netflix. Nada faria sentido ou seria tão prazeroso sem tais ilustres presenças.

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    Coisa Mais Linda – 2ª temporada / Netflix

    Deixando-se levar pelo som da bossa nova, a segunda temporada de “Coisa Mais Linda” é tão necessária quanto uma caminhada na beira do mar em um domingo de manhã. Propositalmente incômoda, por vezes, por retratar tão fielmente e sem obstruções temas tristes e ultrajantes de uma sociedade historicamente machista e racista, o novo ano da aclamada série brasileira é mais um grande acerto para o cinema e para o audiovisual nacional e consegue entregar uma peça formidável que dificilmente sairá do imaginário de seus espectadores.

    Capaz de aquecer o coração – na mesma medida que entristece pelo longo tempo de espera por uma parte três -, os ingredientes de “Coisa Mais Linda” foram misturados na medida certa e são, definitivamente, o sabor mais agradável que já provei em muito tempo.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Bloodshot

  • Crítica | Bloodshot

    Crítica | Bloodshot

    Baseado na série de quadrinhos “Bloodshot”, da editora Valiant Comics, Vin Diesel estrela o novo filme de Dave Wilson como Ray Garrison, um anti-herói genérico em uma trama clichê e sem profundidade.

    O filme roteirizado por Jeff Wadlow e por Eric Heisserer acompanha um soldado recentemente morto em combate que é trazido de volta à vida por uma misteriosa empresa de nanotecnologia. Renascido com diversos poderes especiais, Ray torna-se uma força implacável e um instrumento mortal que é constantemente manipulado para eliminar alvos pessoais do chefe da enigmática organização científica.

    Impulsionado pelas memórias de sua vida passada, o anti-herói não sabe mais o que é real e o que não é e parte em uma missão para se livrar das amarras que insistem em transformá-lo em um fantoche e decifrar toda a nova realidade que o rodeia desde que seu corpo foi transfigurado em uma máquina de guerra.

    Bloodshot
    Bloodshot / Sony Pictures

    Preguiçoso e familiar, “Bloodshot” não é realmente nenhuma novidade. Espécie de spin-off de todo e qualquer filme de ação classe C, a produção erra em praticamente tudo a que se propõe e, quando comparado aos filmes de heróis e anti-heróis recentemente lançados, como os grandes sucessos “Deadpool” e “Logan”, por exemplo, a produção da Sony Pictures passa mais do que despercebida e deixa um gosto amargo em quem quer que a assista. Sem confiança para se tornar algo único, o filme nunca alcança um nível mínimo de satisfatoriedade.

    Perdendo-se no caminho do grande potencial que tinha, o início de sua trama chega a ser minimamente interessante quando somos apresentados a um agente de campo que elimina, sozinho, toda uma célula terrorista (bem ao estilo Vin Diesel) e volta para casa a tempo de ver a sua esposa ser friamente assassinada e para jurar vingança a todos os envolvidos. A partir disso, no entanto, tudo é ladeira abaixo. A perspectiva do filme muda completamente enquanto Ray Garrison morre e volta à vida como uma “máquina” em um enredo superficial que aposta em uma ação genérica e que não oferece nada a mais do que alguns efeitos especiais alucinantes e duas horas de angústia. Quem precisará ser ressuscitado é o espectador.

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    Bloodshot / Sony Pictures

    Parte de um projeto ambicioso da Sony Pictures de tentar compor um universo cinematográfico baseado nos personagens da Valiant Comics, “Bloodshot” começa a trilhar esse tortuoso caminho com o pé esquerdo. Chamado de VCU (Valiant Comics Universe), a produtora já tem planos para continuar a sua Fase 1 de filmes com o vindouro “Harbinger” e com uma continuação de “Bloodshot” e projeta um crescente sucesso para fazer frente, futuramente, à Marvel Studios. Situação agridoce para quem achava que o filme fosse um erro isolado e que não teríamos nenhum tipo de novo seguimento.

    No entanto, é certo dizer que, apesar do roteiro completamente clichê, repleto de frases prontas e de qualidade duvidosa, Vin Diesel arrastará uma enorme legião de fãs cativos para acompanhar o astro de “Triplo X” e de “Velozes e Furiosos” em mais um papel que, de alguma forma, parece certo para ele, e ainda fará com que encontrem um mínimo de diversão no carismático ator que, sendo uma encarnação do estereótipo de herói – ou anti-herói – fortão e machucado por dentro, se sobressai em meio ao caos que “Bloodshot” é.

    Nota: 2/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Dark – 3ª temporada | Primeiras Impressões

  • Crítica | The Morning Show – 1ª Temporada

    Crítica | The Morning Show – 1ª Temporada

    The Morning Show é a primeira grande produção da Apple TV+ , e tem chamado atenção pela qualidade do enredo mostrando os bastidores de um jornal matinal

    The Morning Show é um programa matinal líder de audiência em Nova York, liderado pelos âncoras Mitch Kessler ( Steve Carell) e Alex Levy (Jennifer Aniston) há 15 anos, ele junta o noticiário com o entretenimento típico dos americanos. Mas tudo muda quando Mitch é acusado de abuso sexual em meio ao movimento #MeToo, sendo afastado do programa, deixando Alex encarregada da atração, mudando sua vida do dia pra noite. Para trazer a audiência de volta, a produção do programa decide convidar personagens de vídeos virais da internet para serem entrevistados, e é aí que entra a Bradley Jackson ( Reese Witherspoon), uma repórter sem papas na língua, que trabalha em uma emissora conservadora, e que acaba viralizando após discutir em uma manifestação numa fábrica de carvão.

    The Morning Show
    The Morning Show | Apple TV+

    Em busca de um substituto para Mitch, Alex decide chamar Bradley para assumir a bancada ao seu lado. A interação entre Alex e Bradley é conflituosa e segue pela série toda, mostrando a rivalidade “saudável” no meio jornalístico, além de apresentar também a briga de “cachorro grande” que envolve os produtores e chefes da emissora e toda a expectativa em volta da chegada da nova integrante.

    Ao contrário do que muitos esperavam, The Morning Show não seguiu os passos de “The newsroom” ( série da HBO), a trama não se aprofundou no jornalismo e na redação, preferiu seguir o dia a dia da Alex glamourizando algumas situações e deixando a televisão e o programa em segundo plano.

    O começo da série é um pouco entediante, apesar de apresentar a problemática logo no primeiro episódio, a 1 hora de duração quase que nos carrega, várias informações são jogadas e logo temos que decidir quais personagens vamos amar ou odiar. E é no meio da temporada que o nível de traições, intrigas e diálogos começam a chamar atenção, tornando difícil de deixar a série de lado.

    The Morning Show
    The Morning Show| Apple TV+

    Apesar de ter três grandes nomes no elenco, é a Jennifer que se destaca e da um show em seus monólogos e cenas que demostram a  preocupação de sua personagem em perder o espaço que construiu na TV, levando assim o título de estrela da série. Reese e Steve devem também receber uma atenção, apesar de não terem cenas marcantes, ainda merecem o crédito pela boa atuação.

    Além do trio, os coadjuvantes tornam a trama ainda mais atraente. Cory (Billy Crudup) entregou na sua atuação dando vida ao diretor de programação da emissora, que estava adorando toda a situação e a audiência que o programa estava tendo por conta dos últimos acontecimentos. Nomes como Mark Duplass, Nestor Carbonell, Karen Pittman e Gugu Mbatha- Raw cumpriram muito bem seus papéis na trama.

    Chamando a atenção para um tema mais que importante The Morning Show merece todas as indicações e prêmios que tem recebido. Claro que, para uma primeira grande produção, a série se destaca pela ótima escolha de elenco, produção e direção. Apesar de ter seus pontos baixos, não pode passar despercebida, nos dando a esperança de que a segunda temporada traga boas histórias e talvez um desfecho melhor do que a primeira.

    The Morning show já está disponível na Apple TV+

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=eA7D4_qU9jo
  • Crítica | Space Force – 1ª Temporada

    Crítica | Space Force – 1ª Temporada

    Space Force é a nova série da Netflix que se destaca ao abordar projeto de Trump com uma ótima sátira estrelada por Steve Carell  e John Malkovich.

    Space Force nasceu em 2018 quando Donald Trump anunciou a criação da Força Espacial, plagiando o símbolo da Frota Estelar da franquia Star Trek. Mas o que é a Força Espacial? É basicamente um ramo militar que conduz a guerra espacial, podendo tornar o espaço um lugar para combates entre países, apesar da ideia ser absurda e extremamente cara, o primeiro satélite já está em órbita. Trump só não esperava que este projeto se tornasse a premissa para uma série de comédia da Netflix.

    Space Force
    Space Force | Netlfix

    A série acompanha a vida de Mark Naird (Steve Carell), um general da Força Aérea americana que se torna encarregado de liderar o novo projeto, Space Force, que tem como objetivo mandar pessoas para a lua e habita-la até 2024. Para isso, ele se muda com sua esposa e filha para Wild Horse, Colorado, ficando mais perto da base onde será desenvolvido todo o projeto. Para colocar em prática a Space Force, ele conta com a ajuda do Dr Adrian Mallory (John Malkovich), que diferente de Naird, é totalmente contra guerras, e isso faz com que os dois entrem em várias discussões. Com a esposa Maggie ( Lisa Kudrow) na cadeia, e tendo que assumir os cuidados da filha Erin ( Diana Silvers), Naird se vê numa sinuca de bico onde sua vida gira somente em torno do tal projeto, e em como sua carreira depende do sucesso ou fracasso do mesmo.

    Se você for assistir esperando um The Office 2.0, pode tirar o cavalinho da chuva, apesar dos criadores serem os mesmos, Space Force -diferente do que muitos esperavam- não foi feito para agradar os fãs da sitcom, o que é bom, partindo da ideia de que os diretores podem fazer projetos completamente distintos.

    Space Force
    Space Force | Netflix

    Apesar de ser engraçada, a série parece não saber lidar com o elenco de apoio que, por muitas vezes, trouxe uma péssima atuação ao interagir com os atores principais, além de situações que ficaram perdidas no meio da história, como o fato da esposa do General aparecer presa e com uma sentença de 40 anos, sem ser apresentado o motivo para isso ter acontecido. Em momento algum a vida dos personagens é devidamente explorada, apesar do foco ser a corrida espacial até a Lua, seria interessante mostrar melhor a intimidade de cada um. A dinâmica entre Steve e Malkovich é a única coisa boa vinda da parte do elenco.

    Com a expectativa alta para a chegada de Space Force, a série não decepcionou tanto assim, apesar dos problemas com o desenvolvimento dos personagens, a história em si é muito boa, com destaque para o humor que aparece em momentos de ironia.A produção deixou em aberto algumas situações para que pudesse acontecer uma continuação, o que pode ser bom pra história, mas que também pode acabar se perdendo.

    Space Force
    Space Force | Netflix

    Apesar de momentos maçantes, Space Force ganhou o seu espaço, mesmo não sendo hilária, pode ser uma boa opção para aqueles que adoram uma crítica política disfarçada de entretenimento.

    A primeira temporada de Space Force está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=Au7rXMuzYQQ
  • Crítica | Reality Z – 1ª Temporada

    Crítica | Reality Z – 1ª Temporada

    Reality Z é a nova série da Netflix que se destaca ao apresentar como seria um apocalipse zumbi no Brasil, tendo o estúdio de um Reality Show como único refúgio

    Você já imaginou como seria um apocalipse zumbi no Brasil? Acho que isso já passou pela cabeça de todo brasileiro que está acostumado a ver o Japão e os Estados Unidos lidando com essa situação. E foi pensando nisso que a Netflix trouxe o Reality Z.

    Reality Z mostra o Rio de Janeiro em colapso por conta de um ataque zumbi, mas antes disso, somos apresentados ao maior Reality show do Brasil, Olimpo: A Casa dos Deuses, que acaba se tornando o lugar mais seguro para estar durante uma situação dessas.

    Reality Z
    Reality Z | Netflix

    Nina ( Anna Hartman) é uma das pessoas que trabalha na produção do Reality, e acaba tomando a frente quando os zumbis começam a atacar o estúdio, tendo a missão de informar os participantes sobre que o está acontecendo. Em outro lugar, sabendo da enorme e segura estrutura do set do Reality, Ana ( Carla Ribas), ex engenheira do Olimpo e seu filho Léo ( Ravel Andrade ) entram na jornada para chegar até lá, mas acabam se deparando com o político corrupto Alberto Levi (Emilio de Mello) e sua assistente puxa saco Cristina ( Juliana Ianina) que fazem da família prisioneiros para que eles o guiassem até local da emissora. Como todo bom apocalipse, eles lidam com vários zumbis no caminho.

    A série é uma adaptação da minissérie britânica Dead Set ( do mesmo criador de Black Mirror) sendo assim, a semelhança entre as duas pode ser vista no enredo e no roteiro. Reality Z não apresenta um protagonista, mudando sempre o ponto de vista da série conforme os episódios vão passando, lembrando sempre que não podemos nos apegar a um personagem.

    Apesar da história ser extremamente interessante, as atuações deixam a desejar. Personagens mal estruturados e com um diálogo cansativo são o destaque da produção, que engata somente no sétimo episódio. Nomes como Sabrina Sato e Guilherme Weber integram o elenco totalmente sem carisma, o que torna ainda mais difícil da série ser acompanhada.

    Reality Z
    Reality Z | Netflix

    Com direção de Cláudio Torres, Reality Z parece em vários momentos uma sátira mal feita e totalmente trash, mas serviu pra lembrar que, mesmo em um apocalipse zumbi, o mal caráter do ser humano continua sendo o maior dos problemas.

    Reality Z tinha tudo para se tornar a queridinha dos amantes de zumbi, a história era interessante e no meio da produção questões do cotidiano brasileiro foram abordadas, esperávamos algo à altura de 3%, mas não aconteceu. Talvez o problema esteja na direção, ou no elenco. Ainda não sabemos se terá uma segunda temporada, mas o final da primeira deixou em aberto muitas coisas que poderiam ser bem exploradas em uma continuação. No final, Reality Z mais decepcionou do que agradou.

    A primeira temporada de Reality z já está disponível na Netflix.

    Nota: 1,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Em Defesa de Jacob

    Crítica | Em Defesa de Jacob

    Em Defesa de Jacob é uma produção da Apple TV+ que trás um drama familiar cheio de mistérios, baseado na obra de William Landay que leva o mesmo nome

    Em Defesa de Jacob é uma minissérie americana que foca nos recentes acontecimentos envolvendo a família Barber. Andy Barber (Chris Evans) é um importante promotor de justiça numa cidade pequena, e vê sua vida virar de cabeça para baixo quando seu filho Jacob (Jaeden Martel ) se torna o principal suspeito no assassinato cruel de um adolescente de 14 anos.

    Acreditando na versão do filho, Andy e sua esposa Laurie (Michelle Dockery)  vão em busca da verdade para assim, conseguir provar a inocência de seu filho, mas isso não é tão simples. A vida da família se transforma do dia pra noite, perdendo amigos e seus empregos e, como se já não bastasse todo esse problema, eles descobrem que o filho não é o que parece ser.

    Em Defesa de Jacob
    Em Defesa de Jacob | Apple TV+

    Dirigida por Morten Tyldum, a minissérie se mostra impecável ao introduzir o enorme mistério numa família aparentemente “sem graça”. O suspense e o drama foram adicionados a trama na quantidade certa, prendendo o telespectador logo nos primeiros minutos.

    O elenco principal da um show de atuação, dando destaque ao Chris Evans que brilhou ao interpretar um pai e mostrar todo o seu lado dramático após anos interpretando um herói. Jaeden e Michelle não ficam de lado, ambos entregam uma atuação intensa.

    Os atores Pablo Schreiber ( advogado de acusação de Jacob) e J.K. Simmons ( pai de Andy) se destacaram ao entregar ótimas atuações, mesmo com pouco espaço de tela.

    Em Defesa de Jacob
    Em Defesa de Jacob | Apple TV+

    A temática da série não é novidade, existem várias produções que falam sobre crianças com pensamentos e ações preocupantes, a diferença de Em Defesa de Jacob se dá na maneira como isso é apresentado. Em nenhum momento fica realmente claro o envolvimento de Jacob no assassinato, deixando a interpretação livre para quem está assistindo.

    A série ainda fala sobre o gene assassino, uma vez que o avô de Jacob está preso por assassinato. A mudança da rotina, o comportamento humano e as consequências do bullying também são assuntos frequentes nos 8 episódios.

    O peso da dúvida é uma constante durante toda a trama, o que se destaca ainda mais pela fotografia belíssima com tons frios e escuros, além também da ótima direção.

    Em Defesa de Jacob
    Em Defesa de Jacob | Apple TV+

    Em Defesa de Jacob é uma série pra ser lentamente apreciada, para que se possa aproveitar todo o drama e o mistério. O destaque fica para os dois últimos episódios, deixando em aberto vários assuntos, com acontecimentos de deixar o queixo caído. Essa é sem dúvida a série que estava faltando.

    Em Defesa de Jacob já está disponível no Apple TV+.

    Nota: 5/5

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  • Dark – 3ª Temporada | Primeiras Impressões

    Dark – 3ª Temporada | Primeiras Impressões

    Série alemã original da Netflix, “Dark” tornou-se a produção mais popular do streaming, superando até mesmo Stranger Things – que, anteriormente, ocupava esse posto. Com previsão de lançamento no dia 27 de junho, a Cinerama já assistiu a sua temporada final e trouxe pra você as primeiras impressões da conclusão da enigmática aventura temporal. Confira:

    O fim é o começo. O começo é o fim. Na terceira e última temporada de Dark, a cidade de Winden descobre como tudo está realmente conectado em uma trama completamente envolvente que coloca o espectador em contato com realidades paralelas e loopings temporais. A complexidade da trama é explorada ao máximo e entrega todas as respostas para cada pergunta já feita no decorrer dos anos anteriores, finalizando seu último ciclo de forma viciante e satisfatória, com um quê de ternura no meio de todo o caos que assombra os moradores da não tão pacata cidade alemã.

    Um dos maiores sucessos da Netflix, “Dark” encerra a sua trajetória de maneira épica para todos os fãs da produção e ainda oferece uma das maiores e mais emocionantes series finale de todos os tempos.

    Sinopse: Em sua terceira e última temporada, “Dark” traz um desfecho intrigante que vai além dos conceitos de tempo e espaço. Jonas chega a um novo mundo e tenta entender o que essa versão de Winden significa para seu próprio destino. Os que permanecem no outro mundo precisam descobrir uma maneira de quebrar o ciclo, que agora não apenas altera o tempo como também o espaço. Dois mundos. Luz e escuridão. E, ao centro, uma trágica história de amor.

    A terceira temporada de Dark estreia no dia 27 de junho.

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Curiosa

    Crítica | Curiosa

    Crítica do filme francês “Curiosa” (2019), da diretora Lou Jeunet.

    Como não amar os franceses? Como não amar o amor-romântico-libertino desde Marquês de Sade?
    O sociólogo Zygmunt Bauman escreveu em seu livro “Amor líquido”:
    “O amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. Só que ele encobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento.”
    Os libertinos são mais felizes, não pelas suas práticas sexuais, mas porque conseguem compreender melhor as nuances do amor. Os moralistas são infelizes por não arriscar, por não ir contra as regras morais impostas pela sociedade.
    Já cantava Vinicius de Moraes “é melhor se sofrer junto, do que ser feliz sozinho”, e esta é a escolha de Marie, Pierre e seus cônjuges em “Curiosa”. O sofrer está intimamente ligado a ideia de amor. Os franceses comparam o amor prático à “La petite mort”, “a pequena morte”.
    Em “Curiosa”, de Lou Jeunet, nem todos os personagens amam e são amados. Alguns apenas desfrutam da companhia do ser amado, sem a expectativa, sem o desejo da retribuição… vivendo apenas para satisfazer a vontade de quem se ama. E este é o amor mais puro que existe: amar sem esperar nada em troca. Henri Régnier, marido de Marie, se desfaz da própria essência, do seu próprio conforto, do próprio bem estar, do “moralmente aceito”. Henri faz por necessidade, ele sente necessidade de Marie. E, talvez, pelo peso na consciência? Por ter se aproveitado da ausência do amigo (Pierre Louys) para oferecer ao pai de Marie, um dote, sem consultar as suas pretensões e sem citar os sentimentos de Pierre, como havia sido combinado.

    Se eu pudesse descrever Henri em um poema, seria “O Haver”, de Vinicius de Moraes:

    “[…]
    Resta esse coração queimando como um círio
    Numa catedral em ruínas, essa tristeza
    Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
    Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história…
    Resta essa vontade de chorar diante da beleza
    Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
    Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
    Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
    […]
    Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
    De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
    E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
    Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
    Resta essa faculdade incoercível de sonhar
    De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
    De aceitá-la tal como é, e essa visão
    Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
    E desnecessária presciência, e essa memória anterior
    De mundos inexistentes, e esse heroísmo
    Estático, e essa pequenina luz indecifrável
    A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
    […]
    Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
    Pelo momento a vir, quando, apressada
    Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
    Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada…
    Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
    Esse eterno levantar-se depois de cada queda
    Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
    Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
    Infantil de ter pequenas coragens.”

    Essas coisas que as paixões transformam em obsessão, em “Curiosa”, não vemos o lado racional, só o emocional. O desejo interfere na própria dignidade, como não imaginar que, apesar de tudo, o importante é não perder quem se ama?
    Quem nunca parou para refletir sobre a letra da canção “Sinônimos”, de César Augusto, Cláudio Jair De Oliveira e Paulo Sérgio, conhecida nas vozes de Zé Ramalho e Chitãozinho e Xororó?:

    “Quanto o tempo o coração leva pra saber
    Que o sinônimo de amar é sofrer?
    […]
    O amor é feito de paixões
    E quando perde a razão
    Não sabe quem vai machucar
    […]
    Sinônimo de amor, é amar
    […]
    E quantos segredos traz o coração de uma mulher?
    Como é triste a tristeza mendigando um sorriso
    Um cego procurando a luz na imensidão do paraíso
    Quem tem amor na vida, tem sorte
    Quem na fraqueza sabe ser bem mais forte
    Ninguém sabe dizer onde a felicidade está.”

    Curiosa

    Não é difícil encontrar na cultura e, principalmente, no cinema francês, casos de amor como na película “Curiosa”. Os franceses carregam no sangue a frase de Marquês de Sade “Antes ser um homem da sociedade, sou-o da natureza”. E não é errado. Se todos dão consentimento, não há o que se julgar. Não deve ser apontado o dedo sobre aquilo que não se conhece, e, mais uma vez cito Sade: “Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que ainda entendemos menos”. Só quem vive um amor, ou paixões desse tipo, compreende que, todos os julgamentos sobre traição e falta de caráter são, simplesmente, desnecessários. Ninguém deixa de amar pela traição, segundo Nelson Rodrigues, algumas paixões são despertadas através da traição, como na crônica “Casal de Três”, de A Vida Como Ela É. E esse tipo de traição, nem deve serconsiderado como tal. É um romance lindo de se viver intensamente. Seja com duas mulheres, como é com Marie e sua irmã, onde ambas se unem para satisfazer a vontade de Pierre, dando-lhes prazer através das fotografias, ou como Henri e Pierre que, apesar de não fazer um ménage à trois, se aceitam.
    Há sadomasoquismo quando Henri se humilha, quando ele se ajoelha, quando ele implora o amor, mendigando o resto de afeto que possa ter restado da transa de Marie com o amante… há sadomasoquismo também quando Henri marca o encontro entre esposa (Marie) com o amante (Pierre) para apresentar-lhe “o tigre”, o fruto dessa traição. Há também quando Pierre, o amante, em forma de agradecimento, acata o pedido de Henri: deixa-o ouvir o sexo, por trás das paredes finas — os gritos, os gemidos, o arrastado da cama, as batidas das mãos na parede, os suspiros aliviados. No quarto ao lado, com ouvido colado na parede, Henri com o grito contido, as lágrimas inundando o quarto vazio. Vazio de presença e de sentimentos recíprocos… Henri sabe que não possui o amor, nem o tesão de Marie. Mas ele se apega aos suspiros de amor que ouve de Marie para o amante Pierre, e, se contenta, em meio ao sofrimento. Sim, porque Henri tem pleno conhecimento de que, este é o único momento onde ele irá ouvir a sua voz macia, a sua voz serenizada, trêmula de libido, sem que seja por mera obrigação, ou conveniência em estar cumprindo seu papel de esposa. Porque toda a razão de existir o fingimento acabou quando Marie afirmou que não o ama e nunca o amaria.
    Assim como na canção “Tá Combinado”, de Caetano Veloso:

    “Então tá combinado, é quase nada
    É tudo somente sexo e amizade
    Não tem nenhum engano, nem mistério
    É tudo só brincadeira e verdade
    Podemos ver o mundo juntos
    Sermos dois e sermos muitos
    Nos sabermos sós sem estarmos sós
    Abrirmos a cabeça
    Para que afinal floresça
    O mais que humano em nós
    Então tá tudo dito e é tão bonito
    E eu acredito num claro futuro
    De música, ternura e aventura
    Pro equilibrista em cima do muro
    Mas e se o amor pra nós chegar
    De nós, de algum lugar
    Com todo o seu tenebroso esplendor?
    Mas e se o amor já está
    Se há muito tempo que chegou
    E só nos enganou?
    Então não fale nada, apague a estrada
    Que seu caminhar já desenhou
    Porque toda razão, toda palavra
    Vale nada quando chega o amor”

    Curiosa

    Mas quem há de negar que este relacionamento que agora foi firmado através da verdade não é superior ou igual ao do relacionamento com o Pierre? “E quem há de negar que esta lhe é superior?”, como cantou Caetano Veloso. Pois, Marie demonstra afeto por Henri, diz-lhe de joelhos que a opinião de Henri é muito importante. Henri e Marie continuam com a vida de casados, convivem com a mesma delicadeza, passou o tempo das brigas.
    Como na canção “Todo Sentimento”, de Chico Buarque e Cristóvão Bastos:

    “Depois de te perder
    Te encontro, com certeza
    Talvez num tempo da delicadeza
    Onde não diremos nada
    Nada aconteceu
    Apenas seguirei, como encantado
    Ao lado teu”.

    Nota: 5/5

    Por, Paula Priscila de Melo Barbosa.

    Veja também: Nickelodeon confirma que Bob Esponja é um personagem LGBTQ+

  • Crítica | Kakegurui — 2ª Temporada é uma aposta até a loucura

    Crítica | Kakegurui — 2ª Temporada é uma aposta até a loucura

    Livros, filmes, animes e HQs oferecem ao público infinitas possibilidades de referências (não é mesmo, Capitão América?). Aproveitando esta alusão a Marvel, utilizarei o pensamento de um grande vilão contemporâneo da Cultura Pop, para reforçar uma ideia. Se “a realidade tende a ser decepcionante“, o oposto de “realidade” tende a ser agradável? Usar tal frase para legitimar a proposta de um anime é válido, porque o “irrealismo” de Kakegurui nunca decepciona (entendeu, Thanos?). Se a season 1 escancarou as portas da insanidade com uma história hipnótica, a 2ª temporada é um passo ousado para o abismo das apostas.

    Sobre a 2ª Temporada de Kakegurui:

    Após o empate que ocorreu no duelo entre a Kirari e Yumeko Jabami, os alunos passam a querer disputar a vaga de presidente do grêmio estudantil e com isso, novos jogadores chegam à escola para apimentar a concorrência: o Clã Mobobami. Quem será o grande vencedor?

    Kakegurui temporada 2 Netflix anime
    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    A 2ª temporada de Kakegurui você confere na Netflix. Com doze episódios, o anime consegue manter a essência excêntrica da temporada passada e subir mais alguns degraus no quesito “insanidade”.

    Engana-se quem pensa que Naruto ou Cavaleiros do Zodíaco são as únicas opções que a Netflix tem a oferecer em seu catálogo para os fãs de animes. Não é preciso ser um “Otaku”, para reconhecer o espaço que a líder dos streamings cedeu para os amantes da cultura pop oriental. Cada vez mais, apostando nesse nicho, a plataforma oferece um cardápio de encher os olhos, com doramas, filmes e animações.

    Todo mundo já se aventurou pela Netflix, passando longos minutos procurando algo para assistir, não é mesmo? Algumas vezes, essa busca é capaz de resultar em absolutamente nada (isso é bizarro!). Em outros casos, podemos esbarrar em um conteúdo original e viciante, como aconteceu comigo. Kakegurui tornou-se o pote de ouro no fim do arco-íris, uma analogia banal, decerto, mas foque no “ouro”, pois é o dinheiro que move as escolhas dos personagens desse anime.

    Kakegurui temporada 2 Netflix anime
    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    Ah, o Capitalismo! Se tem um pano de fundo que grita em Kakegurui é a dependência por cifrões, a busca pelo poder e as faces políticas. Dessa vez, os personagens estão numa corrida em busca do controle escolar: tornar-se o presidente do Grêmio Estudantil. Colocando em xeque o antigo sistema e apostando a hierarquia, assistimos em cada episódio uma sucessão de apostas e jogos que determinará o aluno a ocupar o topo da pirâmide escolar.

    No entanto, se você acha que o dinheiro será tudo o que os protagonistas colocarão na competição, engano seu! O futuro, a vida e até mesmo um “dedo” tornam-se moedas nessa temporada. Como diz a protagonista, Yumeko Jabami, “vamos apostar até a loucura?“.

    O novo ciclo do anime merece aplausos ao consolidar a trama ao redor do Clã Mobobami (sobrenome este, semelhante ao da protagonista). Os misteriosos membros desse clã oferecem para o público os motivos, tanto positivos, quanto negativos, para que possamos apostar nossas fichas, ou no personagem “x“, ou no personagem “y“. Ninguém é confiável, claro, e essa é a parte mais divertida, pois nossas tentativas de desvendar a real intenção de cada personagem é como um jogo à parte, entre nós e a narrativa. É como se o enredo dissesse “e ai, em quem você aposta?“. Pelo menos, o público tem a opção de continuar apostando, agora os personagens, infelizmente, não tem essa sorte.

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    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    Se na primeira temporada, Yumeko provou por A mais B que é capaz de aceitar qualquer desafio, dessa vez, ela elevou essa certeza à décima potência. Seguir os passos de uma protagonista que é uma apostadora compulsiva, garante situações peculiares. Se para ela, apostar tudo causa êxtase e deleite, resta para nós altas quantias de ansiedade, apreensão e surpresas. A linha tênue que separa vitoriosos e derrotados é o lugar preferido dela, ganhando ou perdendo, são as reviravoltas que compensam.

    Ainda falando sobre a figura principal do anime, dois inconvenientes se repetem. Mais uma vez, o enredo apresenta, de forma tímida, informações nebulosas sobre o passado de Yumeko; olhar para ela é a mesma coisa que vislumbrar a silhueta de um ponto de interrogação. Talvez, as próximas temporadas quebrem esse empecilho narrativo e nos conceda o que tanto queremos saber: quem, de fato, é Yumeko Jabami.

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    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    O segundo inconveniente está associado a construção da protagonista, o que pode causar olhares franzidos de alguns. Sim, Yumeko é uma personagem “apelona”, entretanto, uma vez que você compra a ideia do anime, esse fator não interfere na evolução do enredo (aqui podem existir divergência, claro!).

    A 2ª temporada mantém a qualidade visual, extrapolando as expressões macabras e distorcidas dos personagens, tal como os olhares penetrantes e chamativos, acentuados por cores neons. O estúdio MAPPA (responsável pela futura temporada final de Shingeki no Kiojin) soube expressar na tela a identidade visual do anime, assumindo o lado caricato presente nas páginas do manga. Graças ao trabalho deles, a loucura tem rosto, nome e endereço: Kakegurui!

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    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    Quem diz que o anime exagera ao mostrar as reações dos personagens durante os jogos é porque nunca assistiu, ou participou de uma partida de Truco no Brasil (para quem não conhece, trata-se de um jogo com muitos gritos, cartas de baralho e “roubos”).

    Os diálogos continuam ágeis e não sobra tempo para respiros. As viradas no roteiro sempre acompanham frases impactantes, que viram a mesa do jogo, repentinamente. Sabe aqueles memes, quando alguém “mita” ao dizer algo ousado, e a edição do vídeo faz surgir um óculos preto sobre a face do proclamador da frase? Prepare-se, pois Kakegurui é uma sucessão desses momentos.

    Uma vez, na primeira temporada, foi dito “na sociedade capitalista, o dinheiro e a vida são a mesma coisa… Mesmo assim, as pessoas ainda lotam os cassinos porque elas aproveitam o prazer da loucura de apostar as próprias vidas“. Se tem um mérito conquistado pelo 2º ano de Kakegurui, foi erguer a bandeira da insanidade, vestindo de uma vez por todas o traje de “anime loucamente bizarro e divertido”.

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    Kakegurui / Netflix / Estúdio MAPPA

    Quem nunca “roubou” em uma partida de dominó, Uno, Banco imobiliário, 21, pôquer ou qualquer outro divertimento que envolva estratégias, que atire a primeira pedra! Cá entre nós, você trapaceou as regras, pelo menos uma vez, não é mesmo? Se porventura, sua resposta for “não”, pode ter certeza que Kakegurui vai abrir seus olhos e mostrar como os jogos podem ser controlados pelas “artimanhas”.

    Se você procura algo diferentão, que desafie sua percepção, aposte suas fichas em Kakegurui. Ganhando ou perdendo, será uma experiência singular.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer do anime:

    https://www.youtube.com/watch?v=diemXy7QKh0

    Confira a crítica da 1ª temporada clicando aqui.

    Veja também: Crítica | Eu Nunca…

  • Crítica | Fuller House – Series Finale

    Crítica | Fuller House – Series Finale

    Preparem os lencinhos, os queridinhos dos anos 80 vão nos dar um adeus definitivo, a despedida da família Tenner-Fuller já chegou na Netflix. Fuller House contém altas doses de nostalgia e momentos muito emocionantes, com participações pra lá de especiais

    As décadas de 80 e 90 marcaram toda uma geração, as roupas, músicas e danças trazem sempre um ar nostálgico para quem aproveitou essa época tão excêntrica. E não seria diferente com a televisão, as sitcons  são conhecidas até hoje, muitas delas estão disponíveis online, então sempre dá pra matar aquela saudade.  Três é Demais é uma delas, teve um papel importante na vida de várias pessoas, e poder relembrar os momentos – e até viver novos- é uma experiência mágica, Fuller House chegou como um spin-off, e se tornou um presente para os amantes de uma boa comédia familiar.

    Em Três é Demais tudo começou em 1987 quando Danny Tenner (Bob Saget) perdeu a sua esposa, recém viúvo e com as filhas Michelle ( Mary Kate e Ashley Olsen), DJ (Candece Cameron) e Stephanie (Jodie Sweetin) para cuidar, ele se vê totalmente sozinho e sem apoio. Sabendo disso, seu melhor amigo Joey (Dave Coulier) e se cunhado Jesse (John Stamos) decidem ajuda-lo, se mudando para a casa dele ajudando nas tarefas de casa e até se tornando 1/3 pais.

    Fuller House
    Três é Demais | ABC

    O que poderia acontecer com três solteirões inexperientes cuidando de três crianças? Absolutamente tudo! A sitcom era simples, acompanhava o dia a dia da família Tenner, mostrando as confusões que eles se metiam, abordando diversos assuntos  como drogas, anorexia e até mesmo o luto, além de mostrar o desenvolvimento pessoal de cada personagem. Eram coisas como essas que juntavam ainda mais as famílias na frente da TV para ver Três é Demais.

    Com as crianças crescidas e com cada um tomando o rumo de suas vidas, a série se despediu do público em 1995 depois de oito temporadas, emocionante como sempre, não desapontou os fãs que sempre tiveram um carinho enorme tanto pelo elenco, quanto pela história da família Tenner. Mas esse não foi um adeus.

    Em 2016 a Netflix lançou o spin-off,  Fuller House nasceu para apresentar as crianças agora como adultas, partindo da história da DJ, ficando viúva cedo assim como o seu pai, ela tem que lidar com a responsabilidade de cuidar dos seus três filhos Jackson (Michael Campion), Max (Elias Harger) e Tommy Jr ( Fox e Dashiell Messitt) totalmente sozinha. Após saber da situação da irmã, Stephanie e a melhor amiga da DJ, Kimmy Gibbler ( Andrea Barber), decidem seguir os passos de Jesse e Joey, se oferecendo para cuidar das crianças e morar com a DJ. E assim a história recomeça, seguindo praticamente o mesmo roteiro, mas de uma forma completamente atual.

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    Fuller House | Netflix

    Foram cinco temporadas mostrando o amadurecimento da relação entre as três, várias confusões envolvendo elas e suas famílias, além de trazer antigos amores de volta. Em vários momentos somos lembrados de bordões e situações que fizeram sucesso na antiga série, velhas tradições também são apresentadas e o cenário continua o mesmo daquele dos anos 90, além disso, o tema musical do programa continua sendo “Everywhere You Look”, agora interpretada pela Carly Rae Jepsen, dando a estranha ilusão de que não ficamos órfãos por 21 anos.

    O spin-off serviu também para reunir quase todo o elenco, tendo participações da Tia Rebecca ( Lori Loughlin) e tornando o queridinho ex namorado na DJ, Steve (Scott Weingner) uma figura presente. Como eu disse, quase todo o elenco antigo apareceu, a exceção aconteceu quando as irmãs Olsen decidiram não participar, dando lugar para Kimmy Gibbler ser uma das personagens principais. Além das carinhas que já conhecemos, novos talentos se juntaram, e assim foi formada a família da Kimmy, com sua filha Ramona ( Soni Bringas), seu ex marido Fernando (Juan Pablo Di Pace) e seu irmão mais novo Jimmy ( Adam Hagenbuch), que acaba se relacionando com a Stephanie.

    Esse é o típico spin-off desnecessário que se tornou necessário, é aquela velha história do “ não sabia que queria tanto, até assistir”, é um fan servisse que apesar das duras críticas, fez sucesso com a fã aqui.

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    Fuller House | Netflix
    Sobre a 5ª temporada e o final da série.

    A primeira parte da 5ª temporada saiu no ano passado, deixando em aberto como seria o casamento de DJ, Stephanie e Kimmy. A chegada da última parte trouxe uma das maiores doses nostálgicas de toda a série, e também as situações mais emocionantes. Assim como Três é Demais, Fuller House nos entregou um final digno para uma série familiar.

    Com participações mais que especiais, o elenco se despediu concluindo a vida de cada um da maneira que deveria ser, adultas, apaixonadas e com seus filhos crescidos decidindo o rumo que cada um irá tomar. Não é nada fora do comum, nem um final digno de Oscar, mas serve para lembrarmos que estávamos acompanhando o dia a dia deles como se fossem nossos vizinhos, e que uma hora tudo acaba.

    Cheia de nostalgia e com um grande elenco, Fuller House continua sendo uma série pra assistir em família, com referencias maravilhosas e momentos extremamente emocionantes. Foi a conclusão de uma história que todos nós conhecemos e “fizemos parte”.

    A 5ª temporada já está disponível na Netflix.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | The Last Days of American Crime

    Crítica | The Last Days of American Crime

    Baseado no romance gráfico da Radical Publiching criada por Rick Remender e por Greg Tocchini, “The Last Days of American Crime”, ficção futurista estrelada por Édgar Ramírez, chega ao streaming da Netflix sob a direção de Olivier Megaton e entrega uma sociedade distópica mergulhada em uma trama cheia de suspense e ação.

    O thriller de crimes da história em quadrinhos “Os Últimos Dias do Crime Americano” é ambientado em um futuro não tão distante, onde o governo dos Estados Unidos, como resposta final ao terrorismo e às práticas criminosas, planeja a transmissão de um sinal que impossibilita civis de cometerem atos ilegais conscientemente. No contexto sociocultural da trama, grandes questões acerca da acuidade do projeto governamental são levantadas por toda a população e, no meio do caos e por detrás dos panos, Graham Bricke (Édgar Ramírez), um ladrão de bancos, se une ao gângster Kevin Cash (Michael Pitt) e à hacker Shelby Dupree (Anna Brewster) para planejar o assalto do século e o último crime na história americana antes do sinal disparar.

    The Last Days of American Crime
    The Last Days Of American Crime /Netflix

    “The Last Days of American Crime” é uma obra inovadora. Em um cenário cinematográfico no qual ideias são constantemente reutilizadas e grandes novidades são cada vez mais escassas, o filme de Olivier Megaton acerta em cheio em suas escolhas. A HQ futurista oferece um conceito novo e intrigante alinhado a elementos de ação, suspense e drama que elevam o nível da produção a uma experiência cartunística única onde a impressão é a de ver as páginas de um gibi ganhando vida, principalmente em suas dezenas cenas de violência completamente gráficas.

    Na adaptação, a narrativa totalitária americana que gira ao entorno dos três protagonistas do longa é o suficiente para acender a curiosidade e o interesse do espectador e transmitir a sensação de perigo iminente. Sob o pretexto de servir como “proteção ao cidadão”, o sinal construído pelo governo que erradicaria os crimes não afeta os membros da polícia, que têm chips implantados para bloquear as ondas eletromagnéticas que basicamente paralisam as funções motoras dos possíveis criminosos, e, assim, o cenário de controle mental que já era problemático torna-se cada vez mais adverso, em uma gradação hermética e banhada a muito sangue.

    A mais nova produção da Netflix contém inúmeros pontos positivos, dentre os quais incluem as cativantes performances de seu trio de protagonistas. Encarnando na pele dos personagens de 2009 de Rick Remender e de Greg Tocchini, o criminoso Graham Bricke e a hacker Shelby Dupree oferecem uma química notável que arrecada torcidas pelo sucesso de sua jornada por parte do espectador, enquanto o gânsgter Kevin Cash embarca em uma jornada lunática que mostra as diversas facetas de seu comportamento. A construção de seus arcos, tanto como um grupo quanto individualmente, é cautelosa e bem construída, de modo que o entendimento da obra como um todo é fácil e preciso.

    Somado aos acertos da obra, a direção de fotografia de Daniel Aranyó se sobressai e consegue captar o tom do filme em sua essência. A cidade é mostrada em um tom melancólico e violento, sendo palco para mais de 2 horas de ação ininterrupta. O cenário age como um personagem do filme, retratando algo próximo do interior de cada um que aparece em tela e que vive o contexto caótico de um governo totalitário que tenta implantar uma onda mental para controlar as ações de seus civis.

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    The Last Days Of American Crime /Netflix

    “The Last Days of America Crime” é excelente, pecando, contudo, em um aspecto específico de seu decorrer. A duração do longa parece que poderia ser resumido em menos do que as duas horas e meia que foram disponibilizadas pelo streaming, de forma que alguns momentos da produção são, infelizmente, muito apáticos e até tediosos. Porém, a inércia de pontos isolados da adaptação da HQ da Radical Publishing não se compara à imensa qualidade e a todo o mérito que o filme conquistou e apresentou em seu desenrolar.

    “Os Últimos Dias do Crime Americano” chega no dia 5 de junho de 2020 como uma agradável e surpreendente surpresa, carregando consigo fatores e inovações não vistos todos os dias em uma produção do streaming. Olivier Megaton mira alto e acerta em cheio.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Os Olhos de Cabul

  • Crítica | 18 Presentes

    Crítica | 18 Presentes

    18 Presentes é umas das novas produções internacionais da Netflix, é um filme totalmente comovente, simples e verdadeiro, mostrando a ligação entre mãe e filha de um jeito fora do comum.

    18 Presentes é um drama italiano e uma das mais recentes produções da Netflix, entrou este mês no catalogo com uma história extremamente interessante. A maneira como o trailer não deixa claro o que vai acontecer no filme acaba chamando bastante  a atenção e nos surpreendendo – positivamente- no decorrer da história.

    O filme é separado em dois momentos, no primeiro momento da trama acompanhamos a história de Elisa Girotto (Vittoria Puccini) uma grávida que descobre ter câncer terminal e, sabendo que não tem muito tempo, decide comprar presentes para cada ano de sua filha, até ela completar os 18 anos, deixando a tarefa de entrega-los para o seu marido Alessio Vicenzotto (Edoardo Leo).

    18 Presentes
    18 Presentes | Netflix

    Logo depois o filme tem um salto de 18 anos, apresentando Anna (Benedetta Parcaroli) filha de Elisa, que foi criada pelo seu pai Alessio, o qual não tem uma boa relação por serem totalmente diferentes, e por estarem passando por momentos conturbados da adolescência da garota, onde a rebeldia tomou conta. Anna, ao contrario de todos de sua família, acha uma besteira receber os presentes de sua mãe que nem sequer teve a oportunidade de conhecer, além deles não refletirem nos gostos pessoais da menina. Fugindo no seu 18º aniversário, Anna acaba sofrendo um acidente de carro.

    O filme não esclarece exatamente o que aconteceu assim que Anna sofreu o acidente, mas mostra que a motorista que a atropelou foi a sua mãe –até então morta- como se o tempo tivesse voltado para o dia em que ela descobriu estar doente, fazendo Anna ter contato com Elisa e a transformando em amigas sem que ela saiba que é sua futura filha.

    O longa usa a metáfora da viagem no tempo pra mostrar essa ligação entre mãe e filha, flertando sempre entre a vida real e a ficção. Além de evidenciar, através das personagens, o quanto nós criamos expectativas em relação ao outro, o que em alguns casos acaba resultando em frustração, mas trás momentos emocionantes durante a interação entre elas, tornando o argumento totalmente comovente.

    18 Presentes
    18 Presentes | Netflix

    Apesar do filme ser ambientado em 2001, a história por trás dele é baseada em fatos reais que aconteceram em 2017, onde a verdadeira Elisa Girotto faleceu deixando assim os 18 presentes para a sua filha. O pai, Alessio Vicenzotto, participou da criação do filme, trabalhando no roteiro ao lado de Francesco Amato ( que também dirigiu), Massimo Gaudioso e Deivide Lantieri. A história, que é bonita por si só, se tornou ainda mais especial por conter um elenco principal composto somente por atores italianos, que deram um show de atuação durante o filme todo.

    18 Presentes é lindo, comovente e especial. Estreou em maio na Netflix e já obteve o seu lugar no Top 10 da Netflix Brasil. É aquele tipo de filme que dá um aperto no coração por ser a realidade de muitos, é apaixonante e merece ser assistido.

    18 Presentes está disponível na Netflix.

    Nota :3/5

  • Crítica | Você Nem Imagina

    Crítica | Você Nem Imagina

    Você Nem Imagina é uma das novas produções da Netflix que, assim como “Por Lugares Incríveis”, também aposta em um romance com uma pegada cult e um pouco de drama

    Você Nem Imagina  é uma das novas produções da Netflix , escrita e dirigida por Alice Wu, ela apresenta Ellie Chu (Leah Lewis), uma adolescente chinesa que vive numa cidade pacata dos Estados Unidos desde os quinze anos e que, por ter vários talentos além da inteligência e estar passando por um momento financeiro difícil, acaba cobrando para fazer trabalhos para toda a classe. Sabendo do seu dom para escrever textos, o atleta não tão popular e extremamente carismático  Paul Munsky (Daniel Diemer) acaba contratando Ellie para escrever cartas de amor para a sua pretendente Aster Flores (Alexxis Lemire).

    Trabalhando juntos para criar uma maneira de Aster se apaixonar por Paul, e começando uma amizade que envolve até a família dos dois, Ellie acaba atrasando os planos de seu amigo com a pretendente, já que ela também acaba mostrando que secretamente está apaixonada por Aster.

    Você Nem Imagina
    Você Nem Imagina | Netflix

    Abrindo com uma frase de Platão que diz “Amor é apenas o nome do desejo e da busca pelo todo”, o filme mostra de maneira simbólica o amor e como ele pode ser tratado de formas diferentes por diferentes pessoas.  Enquanto algumas acreditam em amor à primeira vista e almas gêmeas, outras preferem ter os pés no chão e esperar que o acaso ou consequências da vida tragam o amor, e algumas até desistem de encontrar o amor e focam em coisas diferentes.

    Apesar de aparentar ser mais um romance adolescente, ao assistir nos deparamos com um tema sério como a falta de oportunidade e o impacto financeiro e cultural que algumas pessoas sofrem ao tentar uma oportunidade nos Estados Unidos, e todo um peso dramático na construção dos acontecimentos que cercam a trama como a religião e a influência dela nas cidades pequenas, e a descoberta da sexualidade na adolescência, sendo alguém que não tem ninguém além da professora e do pai que sofre pela cultura diferente, depressão e a perda da esposa, para conversar.

    Você Nem Imagina
    Você Nem Imagina | Netflix

    Você Nem Imagina, apesar de conter os clichês, que mais pra frente são utilizados pra quebrar os próprios clichês, é extremamente bem estruturado e bem trabalhado, vem se desenvolvendo de uma maneira tímida, com toques do cinema cult, fugindo de todo o glamour que alguns filmes apresentam sobre a adolescência, mas com um carinho e cuidado que sentimos que foram utilizados na construção de cada cena, música, locação ou figurino.

    No final das contas, o filme não é uma obra prima, mas deve ser apreciado como se fosse. Ele nos mostra o amor na sua forma mais crua e como ele pode ser entendido, afinal, por mais que o amor possa ser violento, ele também é o ponto de partida para as histórias mais expressivas, principalmente se você é alguém que está se descobrindo e descobrindo as várias formas de amar. Mesmo o filme se vendendo como um filme LGBT+, a história acaba não focando tanto nesse lado, mas sim sobre o primeiro amor e o sobre amizades que vão além da orientação sexual. 

    Você Nem Imagina é dramático e ao mesmo tempo extremamente delicado, e mostra mais uma vez que o cinema é uma das formas mais bonitas de falar sobre o amor.

    Você Nem Imagina está disponível na Netflix.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Eu Nunca… – 1ª Temporada

    Crítica | Eu Nunca… – 1ª Temporada

    Eu Nunca…estreou esse ano na Netflix e já está conquistando o seu espaço no coração dos jovens

    Eu Nunca…é a nova série adolescente produzida pela Netflix, e nos apresenta a vida de Devi ( Maitreyi Ramakrishman) narrada estranhamente, mas com um propósito, pelo famoso tenista John McEnroe. Devi é uma adolescente de origem indiana que nasceu na Califórnia (EUA), e que como se não bastasse todos os problemas envolvendo os perrengues da adolescência e do amadurecimento, ela acaba perdendo o seu pai de forma repentina, o que acaba influenciando em algumas mudanças em seu comportamento.

    Eu Nunca...
    Eu Nunca… | Netflix

    Entrando no segundo ano do colegial, Devi decide passar por cima dos seus problemas do passado. Querendo se tornar popular, ela envolve as duas melhor amigas Fabiola (Lee Rodriguez) e Eleanor (Ramona Young) em uma busca desconcertante atrás de namorados populares, já que elas são extremamente nerds, e isso acaba envolvendo as três – principalmente a Devi- em muitas situações constrangedoras e descobertas pessoais. Tendo uma paixonite pelo cara mais gato e descolado da escola Paxton (Darren Barnet), um forte inimigo que é tão nerd e competitivo quanto ela Bem ( Jaren Lewison), uma mãe difícil de lidar e uma prima que ofusca as atenções por ser bonita demais, Devi vive a vida atrapalhada de uma adolescente americana.

    Apesar de estar cheia dos clichês adolescentes que já vimos várias vezes em outras produções, essa tem o seu brilho por fugir de vários estereótipos e tocar em assuntos como sexualidade e o luto de um jeito particularmente especial. A comédia criada por Mindy Kaling ( a Kelly Kapoor do The Office) em parceria com Lang Fisher (Brooklyn 99) já é a queridinha dos assinantes da Netflix, trazendo um elenco cheio de revelações e diferenciado, e com uma história cheia de altos e baixos, erros e acertos e muita, mas muita vergonha alheia, daquelas que dá vontade de levantar do sofá e gritar “ NÃO FALA ISSO, DEVI!!”.

    Eu Nunca...
    Eu Nunca… | Netflix

    Para os amantes das séries que a Netflix já produziu sobre o universo adolescente, essa sem dúvida não decepciona. O carisma dos atores trás  todo um tom especial, além do mundo nerd ser abordado fora do estereótipo.

    Mostrando que a adolescência pode ser um saco e ao mesmo tempo uma das melhores fases da nossa vida, Eu nunca… é o alívio cômico que estávamos precisando em tempos de confinamento como esses, nunca uma série chegou em tão boa hora!

    Eu Nunca… está disponível na Netflix.

    Nota : 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Killing Eve – 2ª temporada é um desfile de mortes, Alta Costura e muita obsessão

    Crítica | Killing Eve – 2ª temporada é um desfile de mortes, Alta Costura e muita obsessão

    Se no mundo do cinema, a continuação de um filme é responsável por projetar no público muita expectativa, na TV isso não é diferente, ainda mais quando se fala numa season 2 de uma aclamada série. A pressão para entregar algo que respeite e exceda o nível de uma temporada inaugural, pode ser uma catapulta para grandes surpresas ou decepções. Em 2018, o show Killing Eve estreou, tornando-se um grande sucesso, que rendeu a Jodie Comer o Emmy de melhor atriz em série dramática e fez Sandra Oh arrematar um Globo de Ouro. Magnifica, divertida e perigosa, a 2ª temporada repete o resultado de sua antecessora, nos deixando obcecado, mais uma vez, pela trama ousada e excêntrica.

    Sobre a 2ª temporada de Killing Eve:

    Começando segundos após os eventos da última season finale, com Villanelle desaparecida e ferida, e Eve sem saber se a mulher que esfaqueou está viva ou morta, observamos Os Doze agirem nas sombras, apagando seus rastros. Com ambas em apuros, Eve precisa encontrar a serial Killer antes que alguém o faça. Mas, infelizmente, ela descobrirá que não é a única pessoa procurando a assassina.

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    Killing Eve / BBC America

    Nas telas, os homens sempre estiveram à frente de um excelente thriller de espionagem. Subvertendo essa premissa, Killing Eve não apenas desconstrói o jogo de “gato e rato” em sua 2ª temporada, como evoluí a dinâmica entre a “mocinha” e a “vilã” (termos caricatos, eu sei, mas é somente para ilustrar os rostos desse jogo obsessivo). Com 8 episódios, o segundo ciclo da série está disponível no serviço de streaming da Globoplay.

    Antes de prosseguir, preciso alertá-los do uso excessivo de aspas nesta análise. Tudo o que estiver entre aspas é dito no sentido figurado, mas, ao mesmo tempo, não. Parece confuso, confesso, mas em Killing Eve nem tudo o que parece é, mas no fundo é! Entende? Nada é gritado aos quatro ventos. Enxergamos algo, que muitas vezes, não está lá. Escutamos vozes nos momentos silenciosos. Mas, em algum ponto dessa 2ª temporada, as coisas finalmente começam a ganhar mais forma; ou quase isso!

    Se a primeira temporada colocou agente e assassina no centro de uma caçada desenfreada. Dessa vez, os motivos para tal acontecimento são remodelados. Temos uma nova assassina, alianças repentinas, encontros e desencontros que decidem quem vive e quem morre.

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    Killing Eve / BBC America

    É preciso aceitar um fato sobre Villanelle e Eve. Ambas deixaram de ser, apenas, lados opostos numa conexão entre protagonista x antagonista. Elas estão, de fato, em um “relacionamento” (lembre-se da regrinha sobre as aspas!). A admiração (ou obsessão) que conecta as duas é moldada por medo e excitação, arrependimentos e desejos, curiosidades e descobertas. Qualquer um é capaz de enxergar no ar a tensão sexual que paira entre elas, que logo se transforma numa válvula destrutiva para os que estão ao redor; como o marido de Eve, sua chefe e seus colegas de trabalho.

    Pode-se dizer que o fio condutor, presente no início desta temporada é o “término do relacionamento“. Eve tenta continuar sua vida, se jogando de cabeça na investigação atrás de uma nova assassina. Ela se mostra forte, a princípio, mas a ausência de sua “assassina favorita” desperta nela uma abstinência que é percebida até por aqueles que estão em sua volta. Ela finge que superou o “término“, mas nós, desse lado da tela, sabemos que não é bem assim!

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    Killing Eve / BBC America

    Machucada, enfurecida e ainda mais obcecada, Villanelle, por sua vez, está “na fossa“. Ela não quer seguir adiante, por isso acompanhamos suas tentativas de “seguir para trás“. Aproveitando os sentimentos que afetam a mente da personagem, o roteiro nos permite enxergá-la por outra perspectiva. Tudo fica mais interessante, quando ela expressa seu “ciúmes“, ao descobrir que há outra mulher fazendo seu trabalho.

    Phoebe Waller-Bridge entregou um texto excelente e animadamente perigoso na primeira temporada, e a nova showrunner, Emerald Fennell, honra esse legado. Atriz, diretora e escritora, ela cria uma narrativa que segue de braços dados com a imprevisibilidade, nos chocando e nos fazendo rir em momentos inoportunos. Compreendendo a bagagem que a série carrega, isso não a impede de colocar sua própria identidade no enredo. Uma mistura de humor ácido, suspense, drama e altas doses de obsessão. Emerald tem uma assinatura que se apega aos pequenos detalhes, tornando-os grandes.

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    Killing Eve / BBC America

    A analogia a seguir é um pouco Nerd, mas preciso fazê-la. Se superpoderes existissem, Sandra Oh teria o dom da “super atuação”. É revigorante observá-la se entregar de corpo e alma em seu papel. É de arrepiar! Como protagonista, dessa vez, ela precisa trilhar um longo caminho por uma estrada repleta de pontos de interrogação, para assim entender o que de fato mantém esse laço entre ela e sua “inimiga“. Afinal, a cola que segura essa relação são as diferenças entre elas? Ou as semelhanças? São essas respostas que Eve buscará, para descobrir quem de fato é.

    Repitam comigo “você não pode se apegar a uma assassina!“. Pois é, eu sei, não é fácil. Se as séries viessem acompanhadas de sessões de terapias, isso seria o que um psicólogo diria para nós. Insanidades à parte, a culpa por desenvolvermos esse apego a Villanelle é total e exclusiva da atriz Jodie Comer. Ela é alma dessa série e isso é visível nas minúcias que compõe sua personagem: carisma mortal, humor incomum, desequilíbrio e trajes luxuosos (com exceção do pijama infantil). Sua troca de figurinos só não é maior que o número de expressões que a atriz faz, reforçando sua versatilidade e brilhantismo.

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    Killing Eve / BBC America

    Mesmo sem passaporte, cada episódio de Killing Eve nos faz embarcar pelos cantos mais remotos da Europa. A arquitetura, os monumentos, as belas paisagens e pontos turísticos tornam-se um charme a mais. É fácil se perder nos cenários, capturados com maestria pela fotografia.

    A Cultura Pop está aí, com muitas referências disponíveis. Por isso, farei algumas alusões dessa contínua jornada que o “herói” percorre para compreender o que o separa do “vilão”. O quinto filme de Harry Potter, fez o bruxinho se questionar se ele realmente era tão distinto assim de Lord Voldemort, lembra? Na franquia O Senhor dos Anéis, Frodo tem a missão de destruir o objeto de poder de Sauron, entretanto, no caminho, ele começa a sentir-se obcecado pelo Anel.

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    Killing Eve / BBC America

    Como podem ver, heróis e vilões estão, ao mesmo tempo, separados e interligados por semelhanças e diferenças. É um paradoxo constante! Na 2ª temporada de Killing Eve, isso acontece também, mas com outra releitura, obviamente. É surreal acompanhar esse dilema, que é trabalhado nos diálogos, nos olhares, nas roupas e, acima de tudo, nas escolhas das personagens principais.

    Talvez, sua lista de séries para assistir esteja gigantesca, porém sempre vale a pena dar um tiro no escuro e se deleitar com algo novo, como Killing Eve. Esta é uma série moderna, repleta de surpresas, que fará você “maratonar” os episódios com extrema urgência e sede de reviravoltas. E, é claro, temos Sandra Oh e Jodie Comer, que são razões mais que o suficiente para você contemplar essa obra televisiva.

    Por último, saiba que não me responsabilizo, caso você desenvolva uma obsessão por Eve e Villanelle.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Hollywood.

  • Crítica | A Missy Errada

    Crítica | A Missy Errada

    A Missy Errada é a nova comédia da Netflix e garante boas gargalhadas com direito a altas doses de vergonha alheia

    A Missy Errada é uma comédia com a premissa simples, um homem conhece uma mulher pela internet, a convida para um jantar e acaba percebendo que ela é mais parafuso solto do que aparentava. E é isso que acontece com o recém-divorciado Tim Morris (David Space), que acaba indo em um encontro as cegas com Melissa (Lauren Lapkus), uma mulher jovem e extremamente fora da caixinha, o que não agrada muito o Tim, que acaba fugindo do encontro e perdendo assim o seu contato com a Melissa.

    Dois meses depois, durante uma viagem, Tim encontra a mulher perfeita no aeroporto e totalmente por acaso, os dois – que tem muitas coisas em comum- logo começam a sentir algo um pelo outro, mas acabam tendo que se separar por conta dos compromissos que já haviam marcado, e o acaso (muito engraçado) nos mostra que a garota dos sonhos também se chama Melissa. Após trocarem números de telefone, Tim decide chamar Melissa para uma temporada no Havaí com o pessoal do seu trabalho, mas acaba convidando a pessoa errada, e só se dá conta do erro quando é tarde demais.

    A Missy Errada
    A Missy Errada | Netflix

    Ao começar o filme, vemos a abertura do Happy Madison Productions, produtora fundada pelo Adam Sandler em 1999, sendo assim, já da pra ter uma ideia de como o filme vai ser e qual o rumo que ele vai levar. Com um elenco conhecido por bater cartão na maioria dos filmes de Sandler, o mesmo não aparece neste, mas podemos enxergar referencias ao seu humor peculiar e piadas que são sim engraçadas, e que não passam despercebidas.

    O roteiro que foi escrito por Chris Pappas e Kevin Barnnet é extremamente previsível, o que não foge nada das comédias que já conhecemos e amamos, levando em consideração também a uma hora e meia só de filme, duração normal para filmes como este, que demarcam certinho os seus acontecimentos entregando exatamente aquilo que o espectador espera , sem viajar na história e sem se aprofundar tanto em detalhes.

    Apesar de ser um filme totalmente pastelão, a atuação de Lauren foi brilhante, conhecida por ser engraçada por si só e pelos seus papéis em séries da televisão, não há duvidas de que a escolha de trazer ela para interpretar a Missy foi mais que perfeita. Foi um destaque que a atriz merecia, e um papel em que ela pôde aproveitar bem o seu lado humorista.

    A Missy Errada
    A Missy Errada | Netflix

    Em meio a doses gigantescas de vergonha alheia e situações capazes de tirar qualquer um do sério, o filme é bem engraçado, mesmo não entregando nada além do que já esperávamos, o que facilita na aceitação na forma em que os rumos vão sendo tomados, é o típico filme Sessão da Tarde e que você não vai se arrepender de assistir ( eu acho).

    A Missy Errada estreou no dia 13 de maio e já está no Top 10 da Netflix Brasil. É uma ótima pedida pra assistir no fim de tarde com um baldão de pipoca.

    A Missy Errada está disponível na Netflix.

    Nota: 2,5/5

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  • Crítica | Os Olhos de Cabul

    Crítica | Os Olhos de Cabul

    Baseado no best-seller internacional “As Andorinhas de Cabul”, de Yasmina Kadra, a animação 2D “Os Olhos de Cabul” – dirigido pelas francesas Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mervellec – carrega o espectador por uma obra delicada e crítica em um universo pintado por aquarela e por muita violência.

    Sob o regime do Talibã, o verão de 1998 em Cabul amanhece no meio de miséria e misoginia. Esperanças que pontualmente circulam pela cidade são massacradas pelo cenário catastrófico historicamente imposto ao povo e que, até hoje, tem raízes que assolam a comunidade local. Na capital do Afeganistão, no entanto, encontram-se o amor e expectativas por um futuro melhor, no qual as crianças seriam ensinadas e cresceriam para mudar o mundo.

    Apaixonados, Mohsen e Zunaira são um casal de jovens professores que ainda enxergam uma luz no fim do túnel. Porém, assim como uma flor que nasce em um deserto, o amor dos dois é ressecado pelo fundamentalismo religioso da época e, por um gesto tolo, a vida mostra que guinadas irrevogáveis são uma constante no cenário angustiante onde o conto se desenvolve e que finais felizes em histórias de monstros reais são utopia.

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    Os Olhos de Cabul / Vitrine Filmes

    Integrante da seleção “Un Certain Regard”, de Cannes, e vencedor do Prêmio da Fundação Gan, que incentiva a distribuição de filmes, “Os Olhos de Cabul” é uma história pesada que retrata uma realidade triste e perigosa. Crítica essencial para todos que entrarem em contato com a produção, a direção do longa é um acerto primoroso ao conseguir retratar as perspectivas masculinas e femininas nesse caos imposto pelo Talibã, principalmente com os planos ponto de vista que mostram a visão das mulheres por debaixo da burca e o contraplano dos homens violentos que não conseguem enxergar seus olhos. Uma poesia delicada e importante para o contexto explorado pelas diretoras.

    O controle talibã na capital afegã fornece personagens interessantes e complexos que corroboram brilhantemente para o desenvolvimento da elegante adaptação do livro de Yasmina. A sensação de incômodo é constante e intencional, uma vez que temas aterradores como o feminicídio e o fanatismo religioso são tratados como ordinários pelo regime totalitário – dando vida à cenas angustiantes em que sugerem descartar uma esposa doente ou quando as apedrejam em praça pública.

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    Os Olhos de Cabul / Vitrine Filmes

    Honesto e inteligente, o roteiro nos surpreende até o último segundo. O ambiente opressor e todas as andorinhas são um contraste que transmite a resistência da vida mesmo em tempos tão adversos, em uma experiência simples, direta e bem executada com diversos toques de requinte e intensidade. A força poética é uma meditação sobre a liberdade de um povo oprimido que luta para fugir das amarras de um sistema quebrado.

    A intenção das diretoras do longa é clara desde o início, como uma obra pessoal que só elas pudessem tirar do papel. Necessário para a sociedade e carregando uma mensagem importante, “Os Olhos de Cabul” é uma surpresa agradável – com pinceladas suaves que fazem ter a sensação de assistir um quadro em movimento. Peça de resistência, o filme é digno de reconhecimento e muita admiração.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | Jack Ryan – 2ª Temporada

  • Crítica | Jack Ryan – 2ª Temporada

    Crítica | Jack Ryan – 2ª Temporada

    Produção original da Amazon Prime, a segunda temporada da série sobre o analista mais famoso da CIA foi encomendada antes que a transmissão de sua primeira terminasse. Aposta alta da gigante do streaming, a continuação da história de Jack Ryan entrega mais ação em uma trama política viciante.

    “Tom Clancy´s Jack Ryan” traz novamente John Krasinski (“Um Lugar Silencioso”) como um agente secreto do governo americano. Diferente do estereótipo historicamente aplicado aos espiões do audiovisual, Jack é bem realista e crível, apresentando uma dose de “humanidade” que facilita sua identificação com boa parte do público e o torna um grande sucesso. Tão vulnerável quanto um civil, o servidor da CIA – após lidar com uma grande ameaça terrorista na primeira temporada – se encontra, agora, no meio de uma crise política na Venezuela.

    A segunda temporada da série de ação da Amazon Prime foge da ameaça global previamente causada por Suleiman e foca, agora, em um caos político mais próximo da nossa realidade. Nela, depois de rastrear uma remessa potencialmente suspeita de armas ilegais na selva venezuelana, o oficial da CIA segue para a América do Sul para investigar uma série de pistas. Ameaçando descobrir conspirações de longo alcance, as ações de Jack levam ele e seus companheiros em uma missão profunda e labiríntica.

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    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    “Jack Ryan” volta com muitos pontos positivos que atestam a qualidade da produção milionária da Amazon. Aqui, a série se distancia do enredo de dualidade apresentado anteriormente, no qual todos eram apresentados como “bons” e “maus”, e aposta em uma trama que deixa os personagens no cinza, incluindo Ryan. Tudo se torna mais interessante e intenso, sobretudo quando diversos acontecimentos inesperados nos fazem questionar as reais motivações de cada personagem. Méritos para as adições ao elenco, como as de Noomi Rapace, Jordi Mollá, Michael Kelly e Tom Wlaschiha, que dão vida a papéis complexos, injetando adrenalina e profundidade à temporada.

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    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    Definitivamente interessante e bem desenvolvida, a segunda temporada de Jack Ryan, contudo, peca em questões firmadas no primeiro ano da série que a fizeram se destacar e se diferenciar de muitas outras. Comandado por Carlton Cuse e Graham Roland, o protagonista de Krasinski teve muitas camadas eliminadas para se enquadrar como um herói de ação mais convencional e direto, de modo que grande parte do charme que tornou o personagem de Tom Clancy tão bem conceituado fosse prejudicada. Questões como a resistência de Ryan em ser um agente de campo foram deixadas de lado e substituídas por um profissional experiente que se recusa a abandonar o solo inimigo.

    A mudança de diretriz no tratamento do analista da CIA, porém, não diminui, nem por um momento, a qualidade da segunda temporada. Muito em razão de John Krasinski, que claramente se sente confortável no papel e o moldou com especificidades marcantes, a trama e tudo que a envolve captura o espectador e se desenvolve em um plano multifacetado que conecta as diversas histórias que convergem em tela, oferecendo uma experiência agradável e marcante, digna de um carro-chefe de uma das maiores empresas do mundo, mesmo que a evidente simplificação do roteiro quando comparado com o ano anterior se sobressaia.

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    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    Investindo mais na ação gráfica em comparação à primeira temporada, o segundo ano da série é bem diferente de tudo o que vimos previamente na história de Ryan. Nele, apesar de a dupla de criadores da Amazon terem aberto mão de diversos níveis de complexidade que moldaram todo um conceito em 2018 e terem seguido por um caminho completamente diferente nessa nova aventura, a nova temporada de “Tom Clancy´s Jack Ryan” tem muito mérito e acerta em quase tudo o que se propõe a fazer, ainda que certas escolhas não fossem as mais apropriadas.

    “Jack Ryan” veio à público para, novamente, mostrar que é uma aposta que deu certo para a Amazon Prime. Disponível em oito episódios na plataforma de streaming, a empresa já renovou a série para uma terceira temporada.

    Nota: 4/5

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