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  • Crítica | Resgate

    Resgate, nova produção de ação da Netflix garante mais um filme de sucesso no currículo do astro Chris Hemsworth, que já é conhecido pelo grande público por ser o Deus do Trovão no Universo Marvel. Com o roteiro escrito por Joe Russo , que por sua vez também é figurinha carimbada dos filmes de heróis.

    Ovi Mahajan mesmo trancado em um presídio continua sendo o maior traficante da Índia, e quando seu filho é sequestrado, por Amir Asif, um poderoso rival de Bangladesh, o mercenário Tyler Rake (Hemsworth) é contratado para realizar o resgate. Tarefa essa que não será fácil, já que Amir tem uma grande influência  na cidade de Dhaka, controlando a polícia e o exército local, promovendo um verdadeira caçada cujo único objetivo é eliminar os alvos de qualquer maneira.

    A trama se complica ainda mais quando a equipe de Rake percebe que não receberam o pagamento pelo serviço, e que Saju, um membro da organização criminosa de Ovi está envolvido diretamente nesse esquema, pretendendo eliminar os mercenários e resgatar o refém sozinho. Após um conflito com o capanga, e inúmeros membros das forças policiais, Rake se encontra sozinho em uma cidade fechada e cercada de inimigos por todos os lados.

    Crítica | Resgate
    Resgate | Netflix

    A estética do filme, segue o padrão estereotipado norte-americano de retratar lugares que julgam ser quentes e subdesenvolvidos com uma fotografia que exagera na saturação de suas cores. Isso infelizmente é um clichê comum, países como México sofrem com essa padronização, sendo representados em cenas onde o ambiente tem a predominância da cor amarela ou laranja.

    Comandado pelo diretor de primeira viagem Sam Hargrave, que anteriormente trabalhou como dublê, e mais recentemente, como coordenador de dublês em diversos filmes da Marvel. Toda essa experiência é o que faz a diferença na realização do projeto, quem tem como ponto principal as sequências de ação, que são muito bem coreografadas e filmadas com planos abertos, onde nenhum movimento se perde e toda ação é entregue ao espectador. Cenas essas que não seriam tão precisamente executadas se não partissem de alguém com habilidades e um olhar técnico, possível de enxergar além de cenas padrões.

    Essa tendência de filmes, que nos contam uma história de um matador imparável não é nenhuma novidade, mas com toda certeza a franquia de filmes John Wick, estrelada por Keanu Reeves, em especial o primeiro filme da franquia, lançado em 2014 é a fonte de onde o longa de Hargrave mais se inspira. Em ambos os projetos os diretores fizeram sua estreia na direção, e anteriormente trabalharam na indústria como dublês e coordenando outras equipes, até mesmo o começo de ambos os filmes são idênticos, onde o protagonista é apresentado pela primeira vez, completamente ensanguentado e machucado, se lembrando de tudo o que aconteceu até chegar em sua situação atual.

    Crítica | Resgate
    Resgate | Netflix

    O longa ainda consegue remeter a outro filme quando aborda o assunto da criminalidade infantil, é impossível não fazer uma associação com o Cidade de Deus, filme dirigido por Fernando Meirelles que faz um retrato do submundo do crime organizado, elemento esse que é bem trabalhado com o grupo de crianças que também sofre com a influência  de Amir em suas vidas, já que o traficante consegue manipular todas as esferas da sociedade. No fechamento das contas, Resgate consegue se consolidar como uma produção de alto nível, com excelentes aspectos técnicos e o desenvolvimento cada vez mais inventivo e aprimorado de maneiras de se filmar cenas de ação, esse gênero do cinema fica cada vez mais forte, na medida que diretores com experiência em realizar cenas complexas ganham cada vez mais destaque, e assumindo a frente de grandes produções.

    Nota 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Ricos de Amor

    Crítica | Ricos de Amor

    A Netflix é expert em produzir comédias românticas e isso não é novidade pra ninguém, em maio ela trouxe a produção nacional Ricos de Amor para o seu catálogo, uma comédia romântica com abordagens curiosas e que não foge dos clichês que adoramos assistir.

    Ricos de Amor conta a história de Teto ( Danilo Mesquita), filho de um rico empresário do ramo de tomates chamado Teodoro ( Ernani Moraes), mais conhecido como o “Rei do Tomate”. Teto, acostumado com farras e mulheres que ele consegue por ter o título de “Príncipe do Tomate”, vê a sua vida se transformar quando conhece Paula ( Giovanna Lancelloti), uma jovem residente de medicina que está totalmente focada nos estudos. Apaixonado, Teto decide esconder as suas raízes, fingindo ter uma origem humilde e, aproveitando a mentira, ele troca de lugar com o seu melhor amigo Igor ( Jaffar Bambirra), para tentar uma vaga na empresa de seu pai, sem a interferência de seu sobrenome.

    A história se desenrola com a jornada do protagonista ao tentar demonstrar que consegue sim se passar por alguém humilde, mas que não tem conhecimento nenhum na área de marketing, pela qual ele concorre na empresa do pai, e que mal sabe usar uma impressora.

    Ricos de Amor
    Ricos de amor | Netflix

    Apesar do começo do filme nos apresentar a ideia de mudança nos valores internos do protagonista,  essas questões são deixadas de lado na maior parte do filme, onde vemos o seu desenrolar como casal ao lado de Paula, e o seu envolvimento com outros personagens, dando a entender que ele só é um cara de bom coração, e que o dinheiro que ele tem não o tornava uma pessoa ruim.

    O filme aborda assuntos como assédio no trabalho, nos fazendo acreditar que alguma medida sobre isso fosse tomada, porém, apresenta cenas com tom de comédia em cima do assunto, dando um final tosco para o assediador, sem nenhuma lição de moral.

    Uma coisa que chama a atenção é o desenrolar da vida de Igor, melhor amigo do Teto e filho do caseiro da fazenda da família Teodoro , que sonhava em entrar numa faculdade do Rio de Janeiro, e acaba se passando pelo melhor amigo dentro da empresa e tendo um caso com a recrutadora Alana ( Fernanda Paes Leme), que aborda Igor (como Teto), e aproveita da boa vontade do rapaz do interior com interesse pelo seu dinheiro e fama de pegador, mas que no final acaba se apaixonando por ele mesmo sabendo que tudo não passava de uma mentira.

    Ricos de Amor
    Ricos de Amor | Netflix

    Mesmo sendo uma comédia romântica e tendo alguns clichês, parece que a comédia toma conta da trama, tendo algumas tiradas em meio aos diálogos e contendo  atuações um tanto quanto toscas. O final é extremamente fraco baseado na história que poderia ter sido desenvolvida de uma maneira completamente diferente, não souberam aproveitar bem o carisma que o casal principal tinha, e não soube levar a história que foi apresentada nos primeiros 30 minutos de filme.

    Ricos de Amor apesar de não ser uma obra prima, é uma comédia romântica boa, ela funciona bem ao lado da trilha sonora composta só por músicas do dj Alok, e por conter uma história que chama bastante a atenção do público jovem, lembrando até filmes como Hannah Montana – O filme. É  um filme que contem brasilidades, uma ótima opção pra assistir no fim da tarde com a família, o tom de comédia que acompanha a trama inteira deixa o filme leve e fácil de assistir, mesmo com pontos não tão bons.

    Ricos de Amor está disponível no catálogo da Netflix.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer :

  • Crítica | Manifest – 1ª Temporada

    Crítica | Manifest – 1ª Temporada

    Estreando  em 2019 no Brasil com exclusividade pelo Globoplay,  Manifest vem chamando a atenção do público na sua primeira temporada por se assemelhar a Lost no número de mistérios que rondam a trama.

    Manifest ( ou Manifesto: O mistério do voo 828) produzida por Jeff Rake e Robert Zemeckis, agira em torno de um mistério que envolve o desaparecimento de um avião por cinco anos e meio, e acaba reaparecendo com todos os passageiros intactos e com nenhum sinal de envelhecimento aparente. Apesar de passados cinco anos, aqueles que estavam no avião não sentiram essa passagem de tempo, tampouco se deram conta do que havia acontecido, ao contrário das pessoas que viviam aqui embaixo.

    Em primeiro momento somos apresentados á família Stone, Michaela Stone (Melissa Roxburgh) é uma jovem policial, que estava de férias na Jamaica com a família afim de espairecer sobre os recentes acontecimentos envolvendo a morte da sua melhor amiga e o pedido de casamento proposto por seu namorado. Enquanto esperavam o voo para casa, os Stones foram informados de que haviam vagas para o voo 828 com destino a Nova York, e como recompensa os passageiros receberiam 400 dólares. Michaela então decidiu aceitar a proposta, e seguiu acompanhada pelo seu irmão Ben Stone (Josh Dallas)  e seu sobrinho Cal ( Jack Messina), deixando para trás seus pais, sua cunhada Grace ( Athena Karkanis) e sua sobrinha Olive (Luna Blaine).

    Manifest
    Manifest | Globoplay

    Independente do voo durar somente quatro horas e de não ter acontecido nada fora do normal durante a viagem além de uma turbulência, os pilotos acabam encontrando uma certa dificuldade em pousar a nave, e ao tentar foram informados de que seriam recebidos pelos policiais, e é ai que o mistério começa. Ao desembarcarem, os passageiros e a tripulação foram recebidos com a informação de que o voo teria desaparecido do mapa, e que cinco anos haviam passado desde a decolagem. Apesar do enorme susto, os encontros com os familiares aconteceram rapidamente, e junto dele o baque pelos anos perdidos, testes foram feitos e logo os passageiros foram liberados para retomarem as suas vidas.

    Apesar de todo o mistério envolvendo o sumiço do avião, o que mais chama atenção na trama da série é a ligação que os 191 ocupantes do voo desenvolveram entre eles, fazendo com que tivessem chamados estranhos vindo de vozes dentro de suas cabeças, além de aparições de imagens estranhas. Esses fatos acabam levando os personagens a desvendarem mistérios uns sobre os outros, além de terem que lidar com uma realidade diferente da qual estavam acostumados.

    Manifest
    Manifest | Globoplay

    Seria Manifest o novo Lost? Apesar da trama chamar bastante atenção dos fãs de Lost por tratar de assuntos que vai além do conhecimento humano, a falta de aprofundamento em alguns assuntos e o mal desenvolvimento e esquecimento de alguns personagens acabam deixando a série um tanto quanto desgastante e confusa. A quantidade de plot twiste e uma bagunça nos acontecimentos acabam fazendo a série se perder no final da primeira temporada. Mesmo não tendo sido lançada ainda no Brasil, a segunda temporada tem arrancado elogios da crítica por finalmente responder algumas questões que ficaram em aberto na primeira, e logo no começo do ano foi confirmada a terceira temporada, então podemos esperar ainda mais muitos mistérios envolvendo esse voo.

     Manifest, apesar dos pesares, é sim uma série boa, dando aquela sensação de blowmind no decorrer dos episódios,  que nos prende ainda mais nos acontecimentos e mistérios a ponto de nos fazer questionar sobre o desconhecido e sobre a ligação que temos uns com os outros, além de todo o drama envolvendo os protagonistas.

    A primeira temporada completa está disponível no catálogo do Globoplay.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Todas as Mulheres do Mundo – 1ª Temporada

    Crítica | Todas as Mulheres do Mundo – 1ª Temporada

    O Globoplay vem recheando o seu catálogo com produções brasileiras e séries originais. Todas as Mulheres do Mundo é uma série intensa como a vida, apaixonante e inspiradora.

    Todas as Mulheres do Mundo estreou dia 24/3 no Globoplay, a série foi baseada na obra do dramaturgo e cineasta Domingos Oliveira (1936-2019), que dirigiu o filme em 1966, tornando-o um grande clássico do cinema brasileiro.  Já a série foi escrita pelo autor Jorge Furtado, que fez uma releitura adaptada aos dias atuais, com direção artística de Patricia Pedrosa, segunda parceria entre o autor e a diretora de arte, que  já haviam trabalhado juntos na série Mister Brau.

    Todas as Mulheres do Mundo
    Todas as Mulheres do Mundo | Globoplay

    Cada episódio conta uma história de amor diferente. Apesar da trama simples, ela junta Paulo com mulheres livres, talentosas, inteligentes, autênticas e que estão além do padrão estético de beleza impostos pela sociedade, e ele se apaixona por todas elas. A diversidade do mundo feminino acaba se tornando a proposta central do seriado, o que nos chama ainda mais atenção nos dias de hoje, onde questões como a quebra dos padrões são discussões frequentes. O elenco é de dar inveja a qualquer diretor, contando com nomes como Martha Nowill, Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres, Lilia Cabral, Maria Ribeiro, Fabio Assunção, Felipe Camargo, Maeve Jinkings, Naruna Costa, Verônica Debom,Ícaro Silva, Priscila Rozembaum entre outros.

    Além de toda a história que é apaixonante por si só , a fotografia maravilhosa quase que monocromática acompanhada da excelente trilha sonora nos deixa ainda mais fascinados pela série. Somos levados por cada detalhe que acaba nos hipnotizando, apresentando a poesia que é o cotidiano, o amor, a vida e a morte, além do humor inteligente.

    Assim como cada episódio nos apresenta uma mulher diferente, há uma mudança na abetura. Com trilha sonora exclusivamente feminina, a abertura conta com 11 intérpretes para a canção “Carinhoso” de Pixanguinha, sendo interpretada por Marisa Monte no primeiro episódio. A sugestão de trazer outras cantoras – aclamadas e novos talentos- partiu da própria Marisa, ideia que trouxe uma beleza a mais para a série.

    Todas as Mulheres do Mundo
    Todas as Mulheres do Mundo | Globoplay

    São 12 capítulos de puro amor, delicadeza e beleza. A poesia está presente em todas as musicas, cenários, diálogos, e na forma em que a história se constrói e se desenvolve. A série nada mais é do que uma homenagem á essência de Domingos, trazendo as questões feministas que já eram levantadas por ele em plena década de 60. Antes de morrer, Domingos foi consultado e pôde ajudar no desenvolvimento do roteiro da série.

    Todas as Mulheres do Mundo é emocionante, acolhedora, bonita, gostosa de assistir, verdadeira em várias questões sobre relacionamentos e sexualidade, mostra o poder e a variedade feminina, a infantilidade do homem “maduro”, trás reflexões filosóficas sobre a vida e o amor, além de ser uma ótima pedida em dias de confinamento como esses que estamos vivendo. Ainda não temos informações sobre uma continuação, mas com uma história tão completa como essa, não tem como não se sentir satisfeito com o que é apresentado,

    A primeira temporada completa está disponível no Globoplay.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Ilha de Ferro – 2ª Temporada eleva o drama dos protagonistas

    Crítica | Ilha de Ferro – 2ª Temporada eleva o drama dos protagonistas

    Lá em 2018, uma série brasileira chamou atenção pela qualidade dos efeitos especiais e uma história ambientada numa plataforma petrolífera. Com rostos conhecidos, como Klebber Toledo, Cauã Reymond e Sophie Charlotte, Ilha de Ferro encerrou seu primeiro ano firmando sua narrativa nos conflitos emergentes e traumas de seus personagens. Dessa vez, a 2ª temporada, logo de cara, é uma explosão de ação, personagens novos e passados obscuros.

    Esse texto pode conter spoilers sobre a primeira temporada da série.

    Sobre a 2ª temporada de Ilha de Ferro:

    Depois da prisão de Bruno (Klebber Toledo), Dante se tornou chefe da plataforma PLT-137, só que as pressões da vida o transformam numa pessoa controladora. Num ambiente isolado como seu local de trabalho, não demora muito para o clima de bomba relógio explodir, onde um incidente faz seu caminho cruzar com a psiquiatra Olivia (Mariana Ximenes), determinada a fazê-lo enfrentar os problemas. Para completar, Júlia (Maria Casadevall) retorna para balançar seus sentimentos e atrapalhar as ambições do irmão, Diogo (Eriberto Leão), presidente da Federativa.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Sempre será um grande desafio criar um novo ciclo de uma série. É preciso dar continuidade aos dramas dos personagens, evoluí-los e movimentar a trama de forma coerente. Disponível no serviço de streaming do Globoplay, a 2ª temporada de Ilha de Ferro conta com 10 episódios.

    O novo capítulo de uma história é refém da expectativa dos fãs, assim como detém a obrigação de apresentar algo diferente. Mas, o que acontece quando o “novo” é apenas uma reformulação daquilo que já foi apresentado? Repetir fórmulas narrativas, em muitos casos, pode dar certo, claro! Mas, às vezes, pode ser um tiro no pé.

    A todo custo, Ilha de Ferro briga para evidenciar tramas inéditas, quando na verdade elas acabam sendo uma releitura daquilo que já assistimos.

    Começando com picos de ação, o primeiro contato com a nova temporada é a descoberta da passagem do tempo. Séries, filmes e novelas já utilizaram esse recurso, ora para engrandecer o roteiro, ora para criar desfechos sem propriamente “mostrá-los”. Portanto, uma passagem de tempo pode ser uma via de mão dupla, beneficiando ou prejudicando o enredo.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Em Ilha de Ferro, passaram-se, aproximadamente, três anos desde que a plataforma PLT-137 foi sequestrada e salva por Dante e os demais petroleiros. Paradoxalmente, tal passagem de tempo torna-se algo positivo e negativo para a trama.

    Os anos decorridos acabam apagando os “porquês” de alguns personagens estarem em determinado ponto. Tentam até usar isso como forma de despertar nossa curiosidade, acerca de como eles foram do ponto A ao ponto B. No entanto, tudo soa como uma desculpa para criar uma falsa “evolução de personagem”. Mais uma vez, os coadjuvantes ficam à mercê dos protagonistas para terem importância. Outro ponto, é que a passagem de tempo não afetou em nada as coisas na plataforma, que está sob a direção de um Dante mais truculento que o “normal”.

    Leona (interpretada por Sophie Charlotte) foi o grande destaque da 1ª temporada. Cheia de camadas, a atriz foi até o fim para entregar uma performance digna de aplausos. E o que acontece? O roteiro se desfaz da única personagem em terra firme que conseguia se destacar até mais que as figuras presas na plataforma de petróleo. Encerrando o arco dela com o cliché da “carta de adeus“, a trama continua, sem nem ao menos apresentar como isso se sucedeu.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Por outro lado, o salto de três anos apresenta uma nova face de Bruno, vivido pelo ator Klebber Toledo. A vida do ex-piloto de helicóptero, se resume a uma cela de prisão. Encarcerado e vestindo o “manto do arrependimento“, Bruno se torna um homem religioso. Deixando a ganância, a inveja e a sede por dinheiro para trás, o que alimenta sua esperança, além da fé, é conseguir o perdão de seu irmão Dante (que criou a própria sobrinha como filha). Mais uma vez, Klebber entrega uma atuação forte, mesmo com pouco tempo em tela.

    O protagonista Dante, vivido por Cauã Reymond é domado por sua “agressividade”, transformando-se num líder antiético e violento; se é que podemos chamá-lo de “líder”! Vivendo sua vida no piloto automático, o personagem fica estagnado na linha do “macho alfa”. O pecado do roteiro é sempre colocá-lo para “salvar o dia”, rotulando-o como o herói da plataforma, mas suas ações se mostram tão tóxicas como uma porção de petróleo que cai no mar e afeta a natureza. A impressão que fica é que a essência do protagonista se perdeu no caos da narrativa.

    O texto utiliza alguns momentos para pincelar discussões políticas, como a polêmica ao redor da privatização das empresas estatais. Com personagens berrando aos quatros ventos “O PETRÓLEO É NOSSO!“, fica claro a cutucada nas entrelinhas. A temática teve uma breve passagem na primeira temporada, a diferença é que desta vez ela ganha mais espaço através de Diogo (Eriberto Leão).

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Destrinchando o pensamento de que “nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio“, frase do filósofo John Donne, o diretor Afonso Poyart (cineasta responsável pelo longa Dois Coelhos) reforça na interação entre os personagens que, mesmo no isolamento, os seres humanos necessitam da convívio social. Até mesmo os moradores que utilizam a Ilha de Ferro como “refúgio”, dependem um do outro. No fim, são os traumas e as falhas que criam laços entre eles.

    Novos personagens precisam ser exatamente o que eles são: novos personagens! Precisam vir acompanhados de novos arcos, conflitos e backgrounds. Por mais que existam diferenças entre algumas figuras da trama, o que se percebe é que o roteiro fez uma “substituição”. Olivia (Mariana Ximenes) está para Júlia (Maria Casadevall), assim como Playboy (Erom Cordeiro) está para Bruno (Klebber Toledo).

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    A previsibilidade é tão grande, que antes mesmo da Olivia conhecer o personagem de Cauã Reymond, fica nítido que os dois terão um relacionamento; sendo ela a nova “Júlia” na vida do estressado Dante.

    Ilha de Ferro encerra sua 2ª temporada de forma cansativa. A impressão que fica é que as ideias chegaram ao fim perante a regra de ambientá-las na plataforma petrolífera. O segundo ano da produção entrega mais ação, mais dramas e conflitos, mas o custo disso é um desgaste na história.

    Com um enredo que divide o tempo de tela entre a frenética e hostil plataforma de petróleo e a terra firme, focando em alguns poucos personagens, a nova temporada busca usar novos elementos, mas que no fundo são apenas uma “reciclagem” daquilo que já assistimos na temporada anterior. O que suaviza esse tropeço são as principais atuações, que salvam a história do começo ao fim.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    Confira a crítica da 1ª temporada clicando aqui.

    Veja também: Crítica | O Poço – A Apoteose do Comportamento Humano.

  • Crítica | Castlevania

    Crítica | Castlevania

    Série da Netflix é uma das raras adaptações de games bem-sucedidas!

    Em 2017, a Netflix nos brindou com o seu novo projeto: uma adaptação em formato de série do game Castlevania. Logo, a notícia tomou conta das redes sociais, despertando uma expectativa, tanto positiva, quanto negativa.

    “Coragem” é a primeira palavra que vem a minha mente, quando descubro que uma franquia de jogos ganhará vida no cinema ou na TV; os idealizadores de uma adaptação precisam ser corajosos, antes de qualquer coisa! Nos últimos anos, tivemos experiências traumáticas (desculpa abrir essa ferida!), mas preciso relembrar os terríveis Warcraft – O primeiro encontro de dois mundos, Street Fighter – A última batalha e o bizarro Super Mario Bros.

    Em contrapartida, Sonic – O filme, Terror em Silent Hill e Príncipe da Pérsia: As areias do tempo são exemplos das poucas adaptações que conseguiram se sobressair, entregando algo aceitável.

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    Castlevania / Netflix

    A mais nova produção a ocupar espaço no rol das “boas adaptações” é Castlevania. Mesclando fantasia e horror, a história narra como o último membro de um clã de caçadores de monstros, Trevor Belmont, une forças com Alucard e Sypha para impedir que o temível Conde Drácula cause a extinção da humanidade.

    O Roteiro

    Warren Ellis, escritor de quadrinhos (já trabalhou para DC e Marvel), conduz o
    roteiro com muita originalidade. Nada de vampiros superficiais, heróis bondosos
    e tramas fáceis. A medida que a história avança, o cenário torna-se mais
    caótico, com profundas reviravoltas e diálogos filosóficos.

    A ambientação medieval eleva o enredo, com cenários que não são apenas um “pano de fundo” na série. O comportamento dos civis, em um período sombrio, representa o lado mais obscuro do homem. Indo além, o texto coloca em evidência a hipocrisia religiosa e seu domínio cruel, como determinar que algumas mulheres eram “bruxas” e a repulsa pela ciência, resumida a bruxaria.

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    Castlevania / Netflix

    Não é apenas o misterioso castelo de Drácula que possui suas particularidades, Valáquia, muitas vezes, é mais sombria que as criaturas demoníacas que invadem o local.

    Sem medo de abraçar o lado “gore“, Warren consegue representar a fome vampiresca na sua forma mais bruta: sangue, vísceras, mutilações e qualquer outra coisa que possa embrulhar o estômago.

    O grande triunfo do roteirista é valorizar as subtramas, através de personagens coadjuvantes que crescem ao longo da história. Isso é visto nos primeiros episódios, quando Lisa, a mulher de Drácula, ganha mais tempo em tela, do que nos jogos. Ela não é apenas a “motivação do vilão”, ela é uma personagem que sintetiza a esperança humana, mostrando que até nos monstros mais poderosos existe “bondade“.

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    Castlevania / Netflix

    As temporadas de Castlevania

    Quando terminei a primeira temporada, o sentimento que dominou minha mente foi “revolta”. Isso serve como uma insatisfação e um elogio. Com apenas 4 episódios, a temporada inaugural de Castlevania é uma apresentação dos personagens centrais da trama; em outra palavras, é como se o primeiro ano da animação fosse em prólogo. Sem pressa, cada episódio se concentra em mostrar os protagonistas e O Grande Antagonista.

    No final, fica aquela sensação
    de “como assim, já acabou?!“. É nítido o perfil introdutório
    da temporada 1, motivando nossa ânsia em descobrir os rumos que a história
    tomará. Na mesma proporção, a impressão que fica é que a animação foi “cortada”
    pela metade, e que os episódios foram remanejados para a temporada seguinte.

    Sem mais delongas, a 2ª
    temporada de Castlevania é a mais promissora. Isso se deve ao excelente
    desenvolvimento da mitologia daquele mundo sombrio, enquanto o roteiro adiciona
    personagens secundários interessantes, como Carmilla e os dois humanos: Isaac
    e Hector. Surgem, também, os generais de Drácula, apesar de
    alguns ficarem nas sombras e nem sequer falar um “a“.

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    Castlevania / Netflix

    Enquanto o trio Alucard,
    Trevor e Sypha arquitetam um plano para derrotar o vilão, a
    história ganha mais forma do outro lado, com alianças, traições e manipulações
    políticas. A evolução de Drácula é regida pelo Luto; esse é o pior
    inimigo dele, afinal, lidar com a morte de sua mulher e enfrentar o “seguir
    adiante
    ” não são tarefas fáceis para um imortal.

    Com incríveis batalhas, o segundo ano da animação detém os melhores arcos narrativos. O desfecho, no entanto, deixa algumas pontas soltas, que nos catapultam para o terceiro ano da série.

    Dando mais tempo de tela para personagens secundários, e assumindo as rédeas criativas, ao criar conteúdo além do material original, a 3ª temporada da série possui um ritmo mais lento, com pouca ação e mais dramas. Acompanhamos o novo capítulo dos protagonistas, agora separados, enquanto vampiros e humanos ganham força para desafiar a ordem natural das coisas. E o término deixará você sedento por uma 4ª temporada, que aliás, foi confirmada recentemente pela Netflix!

    Os personagens

    Sem frases de efeitos, sem gargalhadas ou grandes demonstrações de poderes, Drácula é um antagonista complexo, que foge de uma releitura clichê do personagem. Conhecemos, primeiramente, como o amor dele por Lisa se transformou em uma jornada de ódio e vingança contra a raça humana.

    Quando o foco muda para Trevor, o enredo utiliza os diálogos entre personagens secundários para sutilmente nos entregar o passado da último caçador de monstros do clã Belmont. Todo o carisma dele é construído sobre uma personalidade irresponsável, ranzinza e destemida.

    Netflix: Castlevania

    Castlevania / Netflix

    Sypha
    aparece pouco na primeira temporada, mas suas habilidades de magia enchem
    nossos olhos. Com movimentos de mãos a lá Doutor Estranho, enxergamos
    nela a típica maga de um RPG. Somente na 2ª temporada que ela obtém uma melhor
    desenvoltura, tanto na ação, quanto no drama.

    Alucard (nome “espelhado” em seu pai) chega nos 45 do segundo tempo, mostrando que classe e etiqueta podem ser visíveis em um combate! Ele é um ser híbrido, filho de Drácula e Lisa. Preso nas amarras dramáticas do roteiro, ele é o personagem que mais agrega peso na história, ao tomar escolhas que envolvem vida e morte.

    série Castlevania

    Castlevania / Netflix

    Talvez, a Netflix se torne a nova precursora de adaptações de games em formatos de séries, um mero palpite baseado no vindouro projeto da franquia de jogos de Resident Evil e na futura série de Devil May Cry.

    Expandindo o mundo além do material original e mantendo a qualidade, Castlevania é uma porta aberta para as adaptações de games, que muitas vezes ficam à mercê de filmes que decepcionaram. Se você ainda não conhece esse mundo sombrio, cercado de criaturas infernais, ainda dá tempo de “maratonar” as três primeiras temporadas e aquecer para a quarta.

    Castlevania é muito mais que uma história de vampiros, é uma representação da linha tênue que separa homens e monstros.

    Nota: 4/5

     

    Assista ao trailer:

    Veja também: O Poço | Diretor explica final do filme.

  • Crítica | Um Amor, Mil Casamentos

    Crítica | Um Amor, Mil Casamentos

    Partindo da ideia de que uma festa de casamento pode acabar de muitas maneiras, Um  Amor, Mil Casamentos é a nova aposta da Netflix, uma comédia romântica cheia de reviravoltas e um tanto quanto tragicômica.

    Um Amor, Mil Casamentos é uma das novidades do catálogo da Netflix no mês de abril, e se tornou uma das produções mais assistidas na última semana, estando no Top 4 da plataforma no Brasil. Dirigida e escrita por Dean Craig, o romance apresenta uma história um tanto quanto conhecida.

    O romance é um remake do filme francês Plan de Table (2012), e conta a história de Jack (Sam Claflin) e Dina (Olivia Munn), que se conhecem durante uma viagem á Europa, onde ambos foram visitar a irmã de Jack, Hailey (Eleanor Tomlinson). Por um acaso do destino, os dois acabam não engatando um romance logo de cara.

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    Um Amor, Mil Casamentos | Netflix

    Vemos um salto de três anos, e os dois se encontram como se o universo tivesse dado mais uma chance para o amor. O evento que juntou os dois novamente no mesmo lugar foi o casamento de Hailey, em Roma. Ainda apaixonado, Jack decide que irá fazer de tudo para conquistar Dina, porém, como um bom irmão da noiva, ele acaba tendo que assumir algumas responsabilidades, o que acaba impossibilitando a sua presença constante ao lado de sua pretendente.

    O acaso, bastante presente nessa história, acaba desenrolando uma série de fatores em que, ao mudar a disposição da mesa do jantar da cerimônia, as coisas começam a dar errado na vida do nosso protagonista. E quando tudo parece perdido, o tempo volta, mostrando todos os caminhos que a história poderia tomar de acordo com as disposições diferentes que a mesa poderia ter.

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    Um Amor, Mil Casamentos | Netflix

    Apesar da história em si chamar a atenção, somos quase que carregados por 1h40 de filme, que as vezes parecem uma eternidade. Algumas comédias românticas não funcionam e com certeza essa é uma delas. Vemos atores que atuaram maravilhosamente bem em outros papéis, e que neste filme são nada mais que protagonistas mal desenvolvidos e com histórias rasas. Sam Claflin é um ótimo exemplo disso, causando um desconforto ao tentar trazer carisma para um personagem quase que vazio, mesmo sendo o protagonista. A falta de química entre o casal é tão séria que quando eles finalmente se beijam, não sentimos emoção nenhuma.

     Com piadas muitas vezes  sem graça e puxando pra um tom sexual desnecessário, Um Amor, Mil Casamentos pode se tornar um tanto quanto chato de assistir, mas a mensagem final pode até ser levada em consideração: não se pode deixar uma oportunidade passar.

    Nota: 1/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Kakegurui – 1ª Temporada é uma aposta psicodélica para os fãs de anime

    Crítica | Kakegurui – 1ª Temporada é uma aposta psicodélica para os fãs de anime

    O universo dos animes vai muito além das lutas épicas, robôs gigantes ou a sina do protagonista que é o “Escolhido“. Diversas produções que fugiram destas fórmulas tornaram-se grandes sucessos, como Death Note, que mostrava lutas de estratégias e embates psicológicos. Seguindo a mesma linha, mas acrescentando toques de humor, suspense e loucura, a 1ª temporada de Kakegurui é uma viagem frenética e bizarra ao “mundo das apostas“. A grande sacada do anime é que a ambientação acontece numa escola de elite regida por um ranking de ganhadores e perdedores.

    Sinopse 1ª temporada de Kakegurui:

    Hyakkaou Private Academy é uma escola de elite que garante preparar os filhos das pessoas mais ricas do mundo para a vida real. De dia, ela é como qualquer outra instituição de ensino, mas à noite se transforma em uma casa de jogos e é aí que os jovens estudantes aprendem a importância de manipular as pessoas e o poder do dinheiro. Entre os alunos está a novata Yumeko Jabami, que diferentes dos outros, joga por diversão.

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    Kakegurui / Netflix

    Impossível existir uma única pessoa nesse mundo que não tenha assistido um anime sequer. Nos últimos anos, a indústria das animações orientais cresceu muito; basta relembrar as grandes produções, como Dragon BallNarutoOne Piece e Cavaleiros do Zodíaco. Indo contra uma estrutura já batida, Kakegurui é um anime baseado no manga escrito por Homura Kawamoto e ilustrado por Tōru Naomura. Com apenas 12 episódios, a 1ª temporada dublada está disponível na Netflix.

    Se a cidade de Las Vegas tivesse uma escola de apostas, com certeza seria a Hyakkaou Private Academy. Tornar o ambiente escolar o background narrativo é uma escolha criativa, ainda mais quando se utiliza a famosa “pirâmide de popularidade” de um jeito nada convencional.

    Nada de patricinhas ou garotos populares! O enredo mostra como os alunos (você pode trocar alunos por “apostadores viciados“) precisam manter seus status, para não se tornarem “bichinhos de estimação“, termo usado para se referir àqueles que perderam tudo e devem muito dinheiro. Uma alusão singular as classes superiores que controlam as classes inferiores.

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    Kakegurui / Netflix

    A pressão não são os trabalhos escolares, muito menos as notas. O foco do anime é nos fisgar para uma trama recheada de reviravoltas, esquemas de jogos de azar e seus infames “macetes”. Para tornar as coisas insanas, a quantia de dinheiro apostada nas partidas são absurdas, levando muitos estudantes a perderam tudo em segundos.

    Yumeko Jabami é o nome da protagonista, que de repente chega à escola e precisa se enturmar. A princípio, ela parece apenas uma novata que demonstra uma certa “curiosidade” sobre o sistema escolar movido por “jogatinas“. Seu novo colega, Suzui, se encarrega de mostrar como as coisas funcionam, alertando-a sobre os riscos. O que ele não esperava é que a estudante recém-chegada é uma jogadora compulsiva, capaz de ir até o fim numa partida.

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    Kakegurui / Netflix

    Com olhos de águia, Yumeko mostrará sua destreza ao enxergar as manobras ilícitas (as famosas “tramoias”) por trás de cada jogo. O roteiro possui um ritmo dinâmico, colocando a protagonista para enfrentar um desafio mais dificultoso que o anterior. É como se ela fosse a personagem badass de um jogo de vídeo game e em cada episódio tivesse um “Boss” para derrotar.

    Imediatamente, a escola passa a falar sobre a nova aluna e suas vitórias impossíveis. Todo esse burburinho chama a atenção do Grêmio Estudantil, formado por alunos que estão no topo da pirâmide escolar.

    O que eles não esperavam é que a novata não tem medo das consequências, e sua fome por apostas insanas é insaciável. Não existem vilões, tampouco mocinhos. Todos os personagens em Kakegurui falam apenas uma língua; a língua das apostas. Portanto, não se espante com alianças improváveis e os desafios incomuns nesta temporada.

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    Kakegurui / Netflix

    Algo importante precisa ser frisado: Kakegurui não é apenas um anime sobre jogos, cartas e dinheiro. Logo, você perceberá que o rumo da narrativa é a insanidade! Dinheiro não é tudo o que se pode colocar numa aposta, às vezes, pode ser um olho (literalmente!). A vida, o futuro e os sonhos são exemplos de moedas usadas na mesa de jogo.

    Os personagens vão sofrendo drásticas evoluções no decorrer das partidas. Yumeko é uma protagonista que sempre rouba a atenção para si. Infelizmente, a trama revela pouco sobre o passado dela, deixando alguns vestígios de um drama pessoal que desperta nossa curiosidade. Suzui é o que mais demora para ganhar destaque, mas algumas partidas colocará em sua mão o destino de muitos!

    Agora, a coadjuvante que se destaca é Mary Saotome, uma personagem movida pela raiva. No começo, nossa percepção é enxergar nela uma possível “antagonista”, mas a desconstrução que o enredo impõe sobre Saotome, sempre nos faz questionar a quem pertence sua lealdade.

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    Kakegurui / Netflix

    Um estudo chamado “psicologia das cores” afirma que a cor vermelha está associada a desejo, excitabilidade, dominação e sexualidade. Todos estes fatores estão presentes no enredo da 1ª temporada, que adota um visual predominado pelo vermelho. Isso faz de Kakegurui uma jornada psicodélica; uma visita a insanidade presente na mente dos apostadores.

    Expressões distorcidas e exageradas, olhos esbugalhados ou dominados por cores neons. Todos os alunos sofrem tal “mudança visual”, servindo ao propósito de expor a camada emocional com uma pegada mais “surreal”.

    Simbolizando o mundo das apostas como um banquete, a abertura é uma “viagem de ácido” que representa bem esse tom alucinógeno que a animação assume. Aumentando nossa tensão e brincando com o nosso lado Sherlock Holmes, a trilha sonora também abraça a excentricidade.

    A única falha do roteiro é que a maioria dos personagens parecem desequilibrados mentalmente. Algumas vezes, me perguntei se a escola, na verdade, não era um hospício! Algo que pode incomodar são alguns diálogos mais “didáticos”, afim de explicar as regras dos jogos. Todavia, tais infrações no enredo não atrapalham nossa sede em desvendar as artimanhas dos jogadores. É genuíno como o roteiro consegue nos prender no decorrer dessa 1ª temporada, episódio após episódio!

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    Kakegurui / Netflix

    Sabe-se que, atualmente, a atenção dos otakus está voltada para as animações que explodiram de audiência, e tornaram-se hits diante desse público. Yakusoku no Neverland, Dr. Stone e Kimetsu no Yaiba são referências de animes que estão fazendo muito sucesso. Mas, não é somente as grandes produções que merecem todo o destaque. Existem muitas histórias novas, como Kakegurui, que fazem do simples algo grandioso.

    Uma vez, a personagem Alice, enquanto estava perdida no país das Maravilhas, disse para o Chapeleiro que as melhores pessoas que existem são as loucas. Será? Para a protagonista de Kakeguruia loucura é essência da aposta“.

    Indo além do combate de egos, dinheiro e poder, Kakegurui é um anime ousado e diferente, mostrando que a insanidade de seu criador sempre é capaz de ir além. A grande ironia é que você ficará viciado na trama, assistindo os episódios sem pensar em parar. Com um enredo que parece uma sessão de hipnose, somos manipulados para jamais desgrudarmos nossos olhos da tela.

    E então, vamos apostar até a loucura?

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=HtaX4ejba-o

    Veja também: Crítica | Eu, a Vó e a Boi.

  • Crítica | Atração de Risco

    Crítica | Atração de Risco

    Longa independente realizado em uma co-produção entre Encripta e Perocini Filmes, “Atração de Risco”, novo suspense nacional, estreará no Brasil via streaming no dia 16 de abril e estará disponível em diversas plataformas digitais.

    Assinado pela dupla Renato Siqueira e Beto Perocini, responsáveis também por “Diário de um Exorcista”, o vindouro thriller psicológico “Atração de Risco” leva o telespectador em uma jornada na vida de Carlos, um publicitário bem-sucedido. Casado com Fabiana e à espera de um filho, eventos em sua empresa o levam a se relacionar com Jéssica, uma mulher misteriosa. Sem memórias do ocorrido, o protagonista se vê em uma situação sem saída quando sua família passa a ser atormentada pelo caso misterioso de Carlos e por seu marido, o ex-presidiário Rômulo, que desenvolvem uma obsessão doentia pelo casal e colocam a vida de todos ao redor em risco.

    Atração de Risco

    Atração de Risco / Perocini Filmes

    Realizado com investimentos privados, “Atração de Risco” foi produzido de forma 100% independente. Sem contar com qualquer tipo de incentivo de órgãos públicos, a dupla que assinou a direção do filme tem como marca registrada a produção de longas de qualidade feitos com recursos mínimos. Grandes defensores do cenário independente no Brasil, os dois ostentam a bandeira da constante e interminável luta pela conquista do espaço desse tipo de produção no território nacional.

    Com a proposta bem clara do plano de produção de suas obras, a ideia do vindouro filme surgiu após o sucesso de sua parceria prévia no terror da Netflix “Diário de um Exorcista”, cujo lançamento mundial alcançou 86 países e firmou a premissa da dupla e seu modo de trabalho, além de ter servido como inspiração para diversos produtores brasileiros e estrangeiros.

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    Atração de Risco / Perocini Filmes

    “Atração de Risco” é mais atraente por sua falta de recursos, assim como tantas outras obras feitas de forma independente. Sem poder contar com grandes efeitos especiais, com câmeras caras ou com cenários elaborados, o filme não tem onde se esconder e precisa desenvolver todos os seus aspectos técnicos com mais dificuldade, de forma que o resultado final demonstre realmente a qualidade de todos que trabalham na obra. A dedicação ao roteiro que irá a público faz com que a história contada se aproxime do cerne do que realmente é o cinema e transforma um arco “simples” em uma verdadeira obra cinematográfica.

    Muito mais do que apenas um filme independente, “Atração de Risco” é uma fuga do cinema contemporâneo realizado com grandes investimentos e da facilidade imposta por toda a tecnologia envolvida nesses processos. É um filme cru que se atira no abismo para entregar ao espectador o máximo feito com o mínimo e que se revela como um símbolo na luta diária dos produtores menores por reconhecimento e na dificuldade imposta pelo sistema para a realização de sua arte.

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    Atração de Risco / Perocini Filmes

    Apesar de não ser livre de defeitos, “Atração de Risco” é uma boa pedida para quem deseja conhecer um pouco mais do cenário cinematográfico independente e se afastar um pouco das grandes produções que dominam o mercado, tais quais Hollywood e a própria Globo. Interessante do início ao fim, o filme é uma faceta do cinema atualmente pouco conhecida pelo grande público que consume cada vez mais dos grandes estúdios.

    Feito para lançamento via streaming, o filme de Renato Siqueira e Beto Perocini tem estreia programada para o dia 16 de abril e estará disponível nas seguintes plataformas digitais: NOW, Looke, Google Play, iTunes, Vivo Play e Microsoft Store.

    Nota: 3/5

    Assista o trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=YolLYoxnPzw&feature=youtu.be
  • Crítica | O Poço é a apoteose do comportamento humano

    Crítica | O Poço é a apoteose do comportamento humano

    Produção espanhola original da Netflix, “O Poço” – dirigido pelo estreante Galder Gaztelu-Urrutia – surge como uma crítica social oportuna e arrasta questões filosóficas e socioculturais em uma trama fictícia que, na verdade, não foge muito à realidade.

    O Poço” conta a história de uma grande prisão em um futuro distópico. Distribuídos em uma torre, os reclusos são mantidos em um cárcere vertical onde vivem dois por andar. Conectados por um grande buraco central, os presos são alimentados por meio de uma plataforma que desce gradualmente os níveis da instalação. O sistema, na teoria justo, revela grandes problemas da vida na sociedade. Oferecendo, inicialmente, comida suficiente para alimentar todos os detentos da prisão, uma luta por sobrevivência tende a se iniciar quando os níveis superiores começam a levar muito mais comida do que o realmente necessário.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    No filme, os olhos do espectador são os olhos de Goreng (Ivan Massagué), o protagonista que, voluntariamente, entrou na prisão. Dentro do Poço, Goreng tem contato com o seu primeiro companheiro de cela e, assim, passa a conhecer a rotina do Centro Vertical de Autogestão – como definido pela administração local. Isolados do mundo e confinados em uma cela quadrangular, a rotina dos detentos – além de tentar sobreviver a contratempos impostos por outros presos – é esperar pela plataforma de comida a fim de realizar a única refeição do dia.

    Destroçada pelos indivíduos dos níveis superiores, a Plataforma costuma chegar quase sem mantimentos para os andares mais baixos e vazia para os últimos. Quanto mais baixo, mais próximo da morte e da insanidade. Contudo, a mística da estrutura da prisão possibilita a mudança mensal dos presos de andar, redistribuindo-os aleatoriamente. Dessa forma, todos os prisioneiros são testados nas mais diversas situações – condenados do nível 200 podem ser realocados para o nível 5, por exemplo – e, assim, podem gozar do acesso prévio à comida que lhes foi anteriormente negada.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    Sem nenhum beneficiado pela lógica da prisão vertical, a experiência do Poço é clara e objetiva ao demonstrar que os detentos de andares inferiores, ao serem realocados para cima, perpetuam o comportamento egoísta dos presos da instalação e procuram manter tudo para si – de forma a sempre faltar alimento para grande parte da população da estrutura. Ninguém é beneficiado, mas todos resistem às mudanças e se determinam a ter o máximo que podem enquanto têm o acesso prévio à Plataforma. Quem tem em abundância quer sempre mais, enquanto os que nada têm recorrem, muitas vezes, ao canibalismo. E, mesmo quando Goreng, o protagonista, se determina a mudar o modo de funcionamento do Poço, as “forças socioculturais” em ação tratam de constantemente derrubá-lo.

    Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”. A pirâmide social desenhada pelo Poço é bastante conhecida e a metáfora utilizada para representar os tempos atuais é forte. O filme disseca a estrutura socioeconômica do capitalismo e utiliza uma narrativa categórica para permear as características do sistema vigente – no qual os indivíduos do topo forçam as camadas mais baixas a, literalmente, se matarem por qualquer pedaço de comida ou fio de esperança. A condição humana e as relações de poder são desnudadas e colocadas à prova em um verdadeiro abismo social que faz aflorar o estado de natureza do homem e que bestializa cada ação do ser que se mostra egoísta frente às adversidades.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    “O Poço” é uma produção escapista, ficcional e simbólica, de modo que procurar sentido em cada ação do filme é uma tarefa incoerente. O surrealismo da trama, por conseguinte, é completamente horripilante quando o espectador, sob uma avalanche de emoções, consegue enxergar a própria realidade no cotidiano do Centro Vertical de Autogestão. Os devaneios presentes no filme são consideravelmente parecidos com a sociedade contemporânea e é por isso que o filme é um sucesso. A forma como tudo é contado é eficaz e implacável, de forma que um soco no estômago doeria menos.

    Nada em O Poço” é sutil. Porém, os tempos modernos também não o são. O pesadelo minimalista e imprevisível não hesita em mostrar a pior faceta do ser humano e mergulha fundo na tarefa de abordar as relações atuais. O horror é constante na produção de Galder Gaztelu-Urrutia e o ensinamento geral é evidente. Porém, assim como no final emblemático e metafórico do filme, a mensagem subliminar para o Poço e toda a sociedade é clara: esperança.

    Leia também:

    CRITICA | Sem a tensão do primeiro, O Poço 2 falha em conceitos básicos

  • Crítica | Ilha de Ferro – 1ª Temporada

    Crítica | Ilha de Ferro – 1ª Temporada

    A guerra de streamings foi declarada quando grandes nomes entraram na acirrada disputa. Disney+, Telecine Play e Amazon Prime são exemplos de empresas que observaram o sucesso que a Netflix alcançou, e decidiram investir nesse meio. Com a finalidade de abocanhar uma fatia desse mercado, a Globo entrou nessa disputa com o Globoplay, apostando, inclusive, em conteúdo original como a 1ª temporada da série Ilha de Ferro.

    O homem é capaz de se tornar uma ilha quando não encontra uma cura para as feridas emocionais. O filósofo Nietzsche escreveu “não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca”, tal frase sintetiza muito bem os dramas dos personagens de Ilha de Ferro. Os protagonistas Dante e Júlia, acostumam-se com a solidão, todavia a convivência colocará ambos em conflito.

    Sinopse 1ª Temporada de Ilha de Ferro:

    Dante é o coordenador de produção da PLT-137, uma plataforma petrolífera recordista de acidentes. Ele sonha em se tornar gerente do local, mas fica revoltado quando percebe que precisa competir com a recém-chegada Júlia pelo cargo. No entanto, é no meio dessa disputa que acaba surgindo uma paixão entre os dois capaz de mudar o rumo de suas vidas.

    1ª temporada Ilha de Ferro

    Ilha de Ferro / Globoplay

    O roteiro da série aproveita o cenário isolado e hostil para criar tramas que oscilam entre o drama e a ação. A produção é resultado das mentes criativas de Max Mallmann (criador da obra literária As mil mortes de César) e Adriana Lunardi (autora do livro A longa estrada dos ossos). Ambos fazem um trabalho convincente, mas alguns deslizes no enredo vão surgindo no decorrer dos 12 episódios da 1ª temporada. Uma edição mais rígida, com certeza, compactaria a série em 8 capítulos, tirando alguns excesso narrativos que não movimentam o plot.

    Não há problema algum quando uma história finca suas bases em dois gêneros. Quando bem feito, torna-se um recurso de saltar os olhos. O erro de Ilha de Ferro é fazer isso de forma desequilibrada. No início da série podemos ver com clareza a desigualdade da balança narrativa, que não sabe aprofundar algumas situações. Somente nos minutos finais que o drama ganha força e um cliffhanger nos catapulta para o próximo episódio.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Ilha de Ferro cria a todo momento novos conflitos. A pergunta é a seguinte: todos eles são necessários? Enquanto os personagens principais enfrentam guerras internas, os coadjuvantes recebem conflitos que não apresentam nenhuma consequência e são resolvidos de forma pífia. Um exemplo é o casamento organizado às pressas, mas desfeito por uma traição, para segundos depois a deslealdade ser perdoada. Tudo acontece em um único episódio sem relevância alguma. Veja, o problema não são os personagens; o grande defeito é o desenvolvimento superficial que colocam sobre eles.

    Há uma simbologia representada pelo roteiro, que merece todos os elogios. No decorrer da 1ª temporada fica nítida para o espectador que a plataforma petrolífera funciona como um refúgio para que alguns personagens fujam de seus fantasmas. Em outras palavras, é como se eles fossem náufragos por vontade própria. Sutilmente, o roteiro vai apresentando os monstros que habitam a terra firme e obrigam os personagens a tornar a Ilha de Ferro um abrigo.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Quatro nomes se destacam na produção. Cauã Reymond assume muito bem sua função de protagonista. O ator tem um bom desempenho ao dar vida para o carrancudo e amargurado Dante; um líder nato que conquista nossa admiração através da química com as demais figuras da trama. Seu arco é recheado de traições, perdas e escolhas de vida ou morte. Está no olhar de Cauã a preocupação de seu personagem. Não podemos ver ou ouvir os gritos internos dele, mas podemos sentir.

    Maria Casadevall faz Júlia Bravo, a nova gerente da plataforma petrolífera. Um dos pilares da série, ela possui o melhor pano de fundo, despertando de cara nossa curiosidade para entender o que de fato aconteceu no seu misterioso passado. Às vezes, fria e rígida, outras vezes, corajosa e humana, sua personagem se reveste em uma casca de proteção e graças à atuação excelente da atriz, essa casca vai se quebrando e podemos visualizar as nuances de Júlia. O roteiro aproveita a força da personagem para discutir o machismo de forma nua e crua.

    Logo de cara, Sophie Charlotte usurpa todos os holofotes para si. A atriz faz um trabalho excelente na composição de Leona. Tudo é feito naturalmente: seu olhar, seu modo de falar e andar. Esse conjunto de detalhes fazem a atuação de Sophie se destacar. Ela nem precisa colocar seus pés na Ilha de ferro, uma vez que a câmera faz questão de evidenciar que o apartamento dela é “sua ilha”. Cada cômodo mostra como a personagem está confortável em seu eterno desconforto, presa com seus demônios, na companhia de seus gatos e seu amante que está em coma. É genial como as cores neons contribuem para ressaltar perturbação mental da personagem.

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    Sophie Charlotte como Leona em Ilha de Ferro / Globoplay

    Outra grande surpresa da 1ª temporada é o personagem de Klebber Toledo. Encenando como o imprevisível Bruno, ele passa metade da história de lado, mas a sua presença e atitudes passadas geram consequências para os demais. Não vou me estender muito sobre ele, pois estragaria a experiência. O que devo ressaltar é que sua atuação é tão impecável quanto a de Sophie Charlotte.

    A equipe de efeitos visuais ganham pontos a cada vez que visitamos a Ilha de Ferro, feita com muito esmero. Também é interessante como eles usam uma linguagem abstrata para representar os medos, anseios e desejos que estão na cabeça de cada personagem. O uso das cores e a performance dos atores submerge o passado de cada um.

    Um ponto negativo é que não existe um apelo visual que crie contraste entre a plataforma de petróleo e o continente. Uma pena, pois ambos os locais deveriam ganhar mais personalidade pelas mãos da fotografia.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    A missão da trilha sonora é cumprida. Tudo o que está na camada emocional da história chega até os nossos ouvidos de forma “agressiva”. A composição sonora remete a todo momento o sentimento mais predominante na série: a raiva. E além disso, as músicas com letras mais “corajosas” contam um pouco mais daquilo que está nas entrelinhas. A música de abertura “Heroes, kings and gods“, por exemplo, diz muito sobre os protagonistas: “Você achou o que você precisava? Ou era apenas uma busca interminável?“.

    Acertando e errando na mesma proporção, Ilha de Ferro é uma história que se arrisca nas guerras internas de seus protagonistas, mas que peca por utilizar o mesmo caminho de forma superficial com os personagens secundários. Algumas viradas de roteiro até parecem interessantes, mas se tornam cansativas minutos depois. Infelizmente os dois últimos e incríveis episódios não anulam as falhas que tanto incomodam. Uma coisa é certa: boas histórias precisam dar importância aos seus coadjuvantes, assim como para seus protagonistas. Veremos se tal falha será corrigida na 2ª temporada.

    Veja também: Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=b-UZrTCgcy8
  • Crítica | Eu, a Vó e a Boi

    Crítica | Eu, a Vó e a Boi

    Produção original da Globoplay, “Eu, a Vó e a Boi”, comédia dramática baseada em fatos reais e escrita por Miguel Falabella aposta em roteiro excêntrico e no peso de seus protagonistas para entregar uma obra com a assinatura clara de seu autor.

    Em junho de 2017, a história que posteriormente viria a ser adaptada para o streaming, chegou, primeiro, às redes sociais. Eduardo Moreira, programador conhecido como “Hanzo” pelos seus web seguidores, enquanto estava entediado em uma fila de padaria decidiu postar no Twitter uma thread sobre a peculiar história da relação de rivalidade entre sua avó e sua vizinha, apelidada de “Boi” pela primeira.

    Antagonismo de mais de 60 anos, o incomum relacionamento entre as duas e os relatos postados chamaram atenção no mundo virtual e atraíram os mais diversos olhares. Dentre eles, o de Glória Pérez, que, na época, trabalhava na seleção de projetos dramatúrgicos para a Globo.

    Sugerido pela novelista que primeiro teve contato com a sequência original de 56 tuítes, Miguel Falabella tomou a frente do projeto e se responsabilizou por transformar a história compartilhada por Hanzo em um roteiro de série. Autor de programas como “Pé na Cova”, “Sai de Baixo” e “Toma Lá, Dá Cá”, o humor de Falabella é bastante específico e foi uma escolha unânime da Globo para a adaptação dessa história um tanto peculiar.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Em “Eu, a Vó e a Boi”, o espectador é apresentado à um microcosmo social e às relações que o compõem. Com um foco especial na relação entre Turandot (Arlete Salles) e Yolanda, a Boi (Vera Holtz), a trama se desenvolve, em sua maior parte, com base nos efeitos que a convivência quase destrutiva das avós de Roblou (Daniel Rangel) trazem para a pequena comunidade. Tentando sobreviver em meio ao caos, o protagonista, neto em comum das duas arqui-inimigas, resiste ao ambiente hostil e, quebrando por vezes a quarta parede, envolve quem assiste no cenário conturbado e fantasioso que Miguel Falabella criou.

    Explicitamente uma crítica social, a série é classificada por Miguel Falabella como uma metáfora da situação atual de “um mundo polarizado e dividido pelo rancor”. Nesse sentido, a maneira descomedida com a qual a história é levada e tratada é satisfatória. Marcada pelos exageros e pelas situações quase surrealistas entre as personagens, o espectador não consegue imaginar qual rumo que a trama vai tomar e se surpreende a cada minuto de cada episódio. “Eu, a Vó e a Boi” é uma caixa de surpresas e realmente foge do comum ao se tratar de tantos lançamentos recentes via streaming.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Dividida em 6 episódios com cerca de 30 minutos cada, a série é um excesso extravagante. Trajando características comuns das outras produções do autor envolvido, “Eu, a Vó e a Boi” tem um texto ágil, interessante e pode facilmente ser maratonada. Tratando de temas como preconceito, intolerância, homossexualidade e política, por exemplo, a série disfarça assuntos sérios no meio de tanta comédia escrachada, criando uma narrativa leve ao mesmo tempo que não esquece do cerne das questões e das pautas que recorrentemente entram em discussão.

    Contudo, apesar dos diversos aspectos positivos de “Eu, a Vó e a Boi”, o equilíbrio da trama não é alcançado em momento algum. Para compor a história adaptada dos tuítes em uma série de 6 episódios, Falabella teve que criar uma gama de personagens secundários para ajudar no desenvolvimento de todos os eventos. De fato, esses personagens secundários têm importância na trama e, para o objetivo que o autor quis alcançar, são essenciais no desenrolar dos acontecimentos. Porém, na maior parte das vezes eles se resumem a papéis surrealistas e caricatos, o que pode ser ainda pior quando levado em consideração que o local onde a série se passa é uma simples rua de um bairro isolado, sem um alicerce para justificar tamanha estranheza e bizarrice. “Pé na Cova”, por exemplo, se apoiava no cenário de uma funerária para legitimar os episódios excêntricos e esquisitos.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Definitivamente um conteúdo com um grande potencial, Miguel Falabella tenta transformar uma história real de ódio entre duas vizinhas em uma comédia exagerada. Arrancando algumas risadas dos espectadores, a obra, infelizmente, não vai muito além e consegue se perder no surrealismo de seu roteiro, ainda que esse tenha sido o objetivo da produção.

    Praticamente descartada pela Globo, uma vez que a primeira temporada foi mal recebida pela cúpula interna, a produção de uma segunda temporada está cada vez mais distante e já vem sendo esquecida por boa parte do público.

    “Eu, a Vó e a Boi” é uma série inconsistente. Entretenimento passageiro, os 6 episódios acarretarão uma montanha-russa de emoções. Na mesma medida que trará risadas, também fixará o espectador em um certo tédio e em muitas dúvidas sobre em qual universo paralelo tudo aquilo pode estar acontecendo.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=5sfu0ZeB0ic
  • Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    A fórmula do “mocinho tentando a todo custo prender o vilão” já foi contada várias vezes na TV e no cinema. Dois exemplos são os filmes Prenda-me se for Capaz de Steven Spielberg e o longa O Fugitivo, estrelado por Harrison Ford. Estas histórias possuem um ponto em comum: todas são protagonizadas por homens. O que não acontece em Killing Eve, pois são as mulheres que movimentam a frenética caçada.

    Sinopse 1ª temporada de Killing Eve:

    Eve trabalha como guarda de proteção em uma agência de inteligência britânica, mas seu emprego estável e dentro de quatro paredes não sucumbe o desejo dela de se tornar uma espiã. É por isso que quando a primeira oportunidade surge, ela não pensa duas vezes e mergulha em uma caçada incansável contra uma assassina. Agora, seu alvo é Villanelle, uma criminosa tão elegante quanto perspicaz.

    1ª temporada Killing Eve

    Killing Eve / BBC America

    Killing Eve é uma série proveniente das páginas do livro “Codename Villanelle“, do autor Luke Jennings. A adaptação televisiva foi feito pela brilhante e talentosa Phoebe Waller-Bridge, responsável pelo sucesso Fleabag.

    Preciso confessar, antes de tudo, que esbarrei por acidente nessa série e eu nunca agradeci tanto ao acaso. São poucas as produções da atualidade que pensam fora da caixinha e entregam algo novo para o público. A primeira vista, pensei que Killing Eve fosse retratar em cada episódio um “vilão do dia“; e com grande felicidade eu digo “foi o melhor equívoco da minha vida de serimaníaco!“. Em um dia, assisti toda a 1ª temporada, que está disponível no serviço de streaming do Globoplay. São apenas 8 episódios.

    Nada de mocinho heróico combatendo um vilão caricato. O roteiro de Phoebe Waller é contrário a essa fórmula ao representar as protagonistas de forma realista, humanizando-as com o auxílio do cotidiano de cada uma e desconstruindo clichês do gênero. Com um ar mais contemporâneo, o enredo nos coloca na mente das personagens que desenvolvem uma obsessão recíproca, que foge para além da tela e nos contagia; acredite você ficará obcecado por Killing Eve.

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    Killing Eve / BBC America

    De um lado temos Eve Polastri, inteligente, entediada profissionalmente e presa a uma rotina burocrática que jamais desafia sua mente. Na outra ponta temos Villanelle, uma assassina de aluguel fria, carismática, com um senso de moda único e seu charme bizarro e intrigante. Duas personagens separadas pelo “bem” e pelo “mal“. Mas, o que de fato define tais aspectos? É isso que a série usa como pontapé, colocando Eve e Villanelle uma no caminho da outra, criando um laço entre elas, aguçando nossa ansiedade por um confronto.

    Killing Eve não é uma série que recorre aos embates físicos. A grande sacada do roteiro são os confrontos de inteligência, são as lutas de escolhas e consequências. A cada episódio, o enredo brinca com a nossa percepção, usando nossa ansiedade e curiosidade para prender nossa atenção. Quando a gente pensa que sabe o rumo que o barco está tomando, nossas teorias são esbofeteadas com as reviravoltas.

    Tudo o que queremos é ver um encontro entre protagonista e antagonista. E cá entre nós, o encontro delas é a combinação perfeita entre bons diálogos e atuações magnificas. Juntas possuem muita química, mesmo que a interação entre elas signifique vida ou morte. Assisti-las assumindo e perdendo o controle torna a caçada muito mais interessante.

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    Killing Eve / BBC America

    Conhecida pelo seu papel na série Grey’s Anatomy, Sandra Oh nos brinda com a melhor performance de sua carreira. A atriz incorpora a protagonista Eve de forma tão carismática, que nos rendemos a ela em sua primeira aparição. Qualquer espectador consegue enxergar como Sandra Oh se diverte nesse papel. É impossível não se apegar a personagem, com o seu jeito “gente como a gente” de ser. Astuta, corajosa e completamente audaciosa, abraçamos os desejos dela ao longo dos episódios.

    Se as palavras “deboche” e “maldade” pudessem ser combinadas como substâncias químicas, a junção delas criariam a misteriosa Villanelle. A talentosa Jodie Comer não mede esforços ao construir sua personagem. Despretensiosa, estilosa, dona de um sarcasmo mortal e uma criminosa de elite, ela é um ponto de interrogação, nos desafiando a buscar uma explicação para sua personalidade. A genialidade do roteiro é tão grande, que logo de cara entendemos os motivos da personagem Eve ficar tão obcecada nela. Queremos saber o que Villanelle está fazendo, o que ela está comendo e vestindo. Queremos ficar próximos de uma assassina para saber qual será seu próximo passo!

    A veterana Fiona Shaw (conhecida por interpretar a tia Petúnia Dursley na saga Harry Potter) dá vida a Carolyn Martens, o cérebro que lidera a caçada por Villanelle. Não é qualquer ator que consegue despertar tamanho temor com uma interpretação sutil e contida. Infelizmente, a 1ª temporada não revela muito sobre o passado ou os segredos da personagem. Nos resta aguardar pelo 2º ano da produção.

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    Ver duas personagens mulheres conduzirem um thriller de espionagem repleto de suspense vai contra tudo aquilo que já assistimos. Se existisse um dicionário que classificaria as séries em apenas uma palavra, a definição de Killing Eve seria “surpreendente”. Desde a primeira cena, não há outra coisa que a trama faça, que não seja te surpreender através dos imprevisíveis personagens (aqui, me refiro a todos eles!). Todos os que amam mistério precisam assistir. E aqueles que não são amantes do gênero, não se preocupem, a série é capaz de fisgar você através das demais subtramas.

    Com altas doses de suspense, humor, drama e ação a série é uma versão moderna e ousada de “um jogo de gato e rato“. Não existe nenhuma outra expressão que define tão bem Killing Eve. E o melhor de tudo é que o “gato” e o “rato” trocam de papéis, destruindo nossas expectativas e nos chocando a cada segundo!

    Veja também: Crítica | Hunters – 1ª Temporada.

    Nota: 5/5

    Confira o trailer da 1ª temporada:

    https://www.youtube.com/watch?v=mPnn7vgw3zY
  • Crítica | Hunters – 1ª Temporada

    Adaptar fatos ocorridos na Segunda Guerra Mundial pode se tratar de um assunto batido no cinema e na televisão, seja em forma dramática, heroica ou traumática. Então fica a pergunta: Como inovar?

    “Hunters”, nova série do Amazon Prime Video, tenta juntar um pouco de cada elemento já citado, mesmo que, a princípio, eles não combinem.

    A história se foca em Jonah (Logan Lerman) que acaba descobrindo que houve uma conspiração, em torno do assassinato de seu avô. Isso, porque, o jovem, de família judia, se depara com células nazistas infiltradas no território americano. Assim, ele decide se unir a um antigo amigo da família, Meyer Offerman (Al Pacino), e corre em busca de caçar esses soldados alemães que tentam retornar com seu regime totalitário.

    Por mais estranho que possa parece estranho, o plot embarca nessa aventura, com orgulho, e se mostrando algo digno do caminho das produções dos anos 70, onde se reinava aquilo que era mais barato, mas que apelava para o excesso do absurdo. Nisso, lembra um pouco o que o diretor Quentin Tarantino mostra em “Bastardos Inglórios” (2009) e “Era uma Vez em Hollywood” (2019).

    Crítica | Hunters - 1ª Temporada

    Hunters/Amazon Prime Video

    Apesar do bom plot e do excelente visual, “Hunters” também comete falhas, principalmente, quando exagera em seu sensacionalismo. Um exemplo disso é no uso da violência, que é acertadamente utilizada em alguns momentos, especialmente, contra os nazistas, mas que se perde, quando os personagens precisam enfatizar o tempo todo por que aquilo está acontecendo. 

    Mas seu maior pecado, sem dúvida, é no tom sem unidade. No início, parece que teremos algo mais relacionado a aventura e comédia, mas há um corte na segunda metade da temporada, que a história parte em investir no lado dramático. É como se a série mirasse em “Bastardos Inglórios”, no apelo divertido, mas mudasse o caminho, no meio, para algo mais tradicional, como “A Lista de Schindler”. O tema é o mesmo, mas a execução é completamente diferente.

    Se o objetivo do espectador for ver uma visão divertida, sem pretensão alguma, de um fato real trágico, vale a pena, mas se forem procurar algo mais realista e documental, passe bem longe de “Hunters”.

    Série disponível no Amazon Prime Video.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=HBGkjmfIzAw
  • Crítica | Fleabag

    Crítica | Fleabag

    Produzida, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge, Fleabag conquistou o espaço nas mais variadas premiações e nos nossos corações. Produzida pela Amazon Prime Video em parceria com a BBC, a série nos apresenta o humor britânico de uma forma ácida, falando sobre sexo e diferentes formas de relacionamentos, contendo altas doses de deboche.

    Fleabag é uma adaptação de uma peça de teatro, que conta a história de uma mulher (Phoebe Waller-Bridge) que lida com diversos problemas em sua vida, indo desde o luto após a morte de sua mãe e o suicídio acidental de sua melhor amiga e sócia, frustrações em seus relacionamentos e conflitos familiares, até o estado de falência do café em Londres, no qual é proprietária.

    No desenrolar da primeira temporada somos apresentados aos personagens que cercam a vida da nossa querida
    protagonista, a que se faz mais presente é a sua irmã complexa e muito bem de vida Claire (Sian Clifford), o seu cunhado Martin ( Brett Gelman) que é  um cara um tanto quanto escroto e mau-caráter, seu pai (Bill Paterson) e sua madrasta brilhantemente interpretada pela atriz Olivia Colman, que faz jus ás palavras má e aproveitadora.

    Crítica | Fleabag

    Fleabag | Amazon Prime Video

    Mostrando a vida de um ponto de vista feminino, Fleabag trata de assuntos considerados tabus, o desejo sexual da protagonista é extremamente explorado, tendo como pauta de um dos episódios o fato de seu namorado Harry (Hugh Skinner) não aceitar  o consumo de pornografia e a automasturbação, terminando o relacionamento.

    No decorrer da primeira temporada, a fachada alegre de Fleabag entra em conflito com a realidade, tendo seus segredos revelados no episódio final e se distanciando de sua família, temos um salto de um ano e alguns dias, onde na segunda temporada vimos a protagonista um tanto quanto madura, com o seu café indo bem e pensando em relacionamentos duradouros.

    Impossível falar sobre essa série sem citar a quebra da quarta parede no qual somos pegos de surpresa logo no primeiro episódio da primeira temporada, e quando menos se espera somos envolvidos na história, passando a assumir o papel de confidente da protagonista, visto que, além de sua família e seus relacionamentos fracassados, Fleabag não tem um melhor amigo com quem possa conversar sobre seus desejos sexuais e até mesmo sobre a sua louca paixão por um Padre extremamente gato (Andrew Scott).

    Crítica | Fleabag

    Fleabag | Amazon Prime Video

    No ultimo episódio interagimos pouco e podemos perceber a carga dramática que os diálogos carregam, assistimos com dor no coração a  mais uma desilusão amorosa da nossa querida protagonista, que se despede dando um tchauzinho de até logo. Mas será mesmo?  Pelo o que tudo indica, não teremos uma continuação dessa história tragicômica.

    Phoebe Waller-Bridge, criadora da série, deixou bem claro após vencer o Globo de Ouro que não tem interesse em continuar com a série, e que a decisão parece cada vez mais certa.  Mas não precisa ficar triste, Phoebe está trabalhando em novas produções da Amazon, sendo assim,  não ficaremos órfãos de seu talento.

    Atenção:  você corre sérios riscos de se apaixonar e querer mais.

    Fleabag tem sua duas temporadas disponíveis na Amazon Prime Video

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    “1968: O Ano que mudou o Mundo”, o ano das revoltas estudantis pelo globo, o ano dos descontentes. A mudança é a marca desse icônico ano, que por sua vez, é a data em que se passa “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” (2019), terror ausente de qualquer mudança significativa entre o gênero.

    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” só adota a data como meio de inserir uma ambientação histórica muito bem feita e imersiva, mas as inovações passam longe de sua trama e estruturas narrativas. A nostalgia é o que reina.

    Mas antes, a sinopse oficial: “A cidade de Mill Valley é assombrada há décadas pelos mistérios envolvendo o casarão da família Bellows. Em 1968, a jovem Sarah Bellows, uma garota problemática que mantinha um mau relacionamento com os pais, foi ao porão para escrever um livro repleto de histórias macabras. Décadas mais tarde, um grupo de adolescentes descobre o livro e começa a investigar o passado de Sarah. No entanto, as histórias do livro começam a se tornar reais.“.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Imagem promocional. “CBS Filmes”.

    Dito isto, voltemos ao assunto principal:

    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” não é ruim, claro que não. Mas, falta um elemento novo, aquele negócio que te faz pular da cadeira (muito mais do que um sustinho básico e um gritinho ali em outra cena). O terror e o medo devem ser induzidos de outras formas e surpreender o espectador.

    Nós adoramos relembrar o passado, mas no caso de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”, a lembrança impede o novo e o ousado. Os clichês estão todos lá: adolescentes (excluidos/”estranhos”) enfrentando uma ameaça do além, policiais ausentes e idiotas, cidadezinha pequena e uma astuta protagonista.

    Os personagens não se destacam muito, parecem paródias de um conto de Stephen King. Um “Stranger Things” sem muito tempo de tela, se posso exagerar. São, no geral, mais do mesmo do que já foi explorado dentro do gênero.

    Os clichês novamente são exagerados e usados de maneira errônea pelos inúmeros roteiristas, incluindo o magnífico Guilhermo Del Toro (“Hellboy“). A história se desenvolve bem, apesar de alguns momentos arrastados e tediosos.

    O final poderia ter se apoiado em decisões fortes tomadas ao redor da trama, mas acaba escolhendo um caminho mais fácil (sem spoilers), novamente, menos inovador e até covarde, se me permitem.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. “CBS Films”.

    Os dois pontos altos são: a fotografia e a protagonista Stella. Comecemos pela primeira, a maioria das cenas é linda, com belos cenários, com destaque para a incrível sequência da “sala vermelha”. De tirar o fôlego até!

    Um sopro de novidade em meio à um mar de nostalgia, representado pelos inúmeros pôsteres de filmes de terror no quarto de Stella. Sem contar, o cinema drive-in passando o clássico “A Noite dos Mortos Vivos” (1968).

    Influenciado pelos clássicos do gênero, esteticamente, o diretor André Øvredal acerta em cheio, mas lhe falta coração. O único personagem com emoções acima da média é a protagonista Stella (Zoe Margaret Colletti), marcada por um excelente arco evolutivo e uma boa ligação com o desenrolar da história.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. “CBS Films”.

    O resultado não é um filme inovador e incrível, mas uma boa forma de entretenimento. Você pode se emocionar e gostar das situações, afinal, este é o objetivo final do cinema. Não é horrível, mas podia pelo menos tentar ser mais.

    A produção e a ambientação são os aspectos mais notáveis e inovadores de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro“. Em alguns momentos, a câmera parece procurar ângulos e situações inovadoras. A perspectiva da nostalgia empobrece o filme, mas bons elementos ainda estão lá.

    Ps: O filme está disponível no Prime Video. Em tempos de quarentena, recomendo.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao Trailer:

    https://youtu.be/u-y3Z34YkiY
  • Crítica | Joias Brutas

    Crítica | Joias Brutas

    Escrito e dirigido pelos irmãos Josh e Benny Safdie, Joias brutas, produção feita da parceria entre Netflix e o estúdio A24, traz Adam Sandler em uma de suas melhores performances, junto a uma trama que prende do começo ao fim.

    Howard Ratner (Sandler) é um joalheiro na cidade de Nova York, que acaba de adquirir uma pedra extremamente valiosa, capaz de causar um efeito único e poderoso. A posse desta nova joia é uma grande oportunidade para lucrar e ter sucesso em seu negócio, algo que Howard precisa com urgência, já que ele está sendo cobrado por dívidas passadas, das quais faz de tudo para adiar, e nesse cenário onde ele insiste em continuar prolongando o inevitável, ameaças cada vez mais violentas se tornam parte do seu cotidiano.

    Quando a estrela do basquete Kevin Garnett (interpretando ele mesmo) aparece em sua loja, e desperta uma repentina obsessão pela nova joia, que será leiloada em breve, impossibilitando a tentativa do atleta de compra-la. Howard decide fazer um acordo, a pedra ficará com o astro apenas para o jogo da noite, servindo como uma espécie de amuleto da sorte, porém a situação do joalheiro se complica ainda mais, quando Garnett não cumpri sua parte do acordo e não demostra sinais que pretende realmente devolver a joia, desencadeado uma série de eventos e tornando a vida de Howard ainda mais caótica.

    Adam Sandlers ‘Uncut Gems is a gloriously ugly film — The Undefeated

    Joias Brutas | Netflix

    Bom comportamento, projeto anterior dos irmãos Safdie estrelado por Robert Pattison, já se mostrava como um trabalho promissor, e revelava a habilidade dos irmãos de desenvolver roteiros intrigantes e uma alta capacidade na direção dos longas metragens. Em Joias Brutas todo esse talento é aproveitado ao máximo, o desenrolar da trama segue de maneira precisa para deixar o espectador inquieto para descobrir o que a próxima cena pode trazer, o resultado disso fica evidente na tela, enquanto observamos o protagonista se perder cada vez mais em seus atos gananciosos, transformando sua já complicada situação em uma bola de neve ainda maior, e cada vez mais fora de controle.

    Todo esse mérito deve ser dividido também com Adam Sandler, que carrega a responsabilidade sozinho de fazer com que o público sinta empatia por Howard, que por sua vez não é um personagem que poderia ser interpretado por qualquer um, na medida em que passamos o filme inteiro assistindo o protagonista cometer erros atrás de erros. Se fosse qualquer outro ator na pele de Howard, essas falhas logo se tornariam um motivo para questionar como o personagem pode agir de uma maneira tão estupida, o que prejudicaria o ritmo do longa, quebrando sua imersão.

    Sandler tem carisma de sobra para o personagem, e é exatamente este carisma que faz com que a audiência não desista do protagonista, torcendo para que as coisas melhorem para ele, e que exista a possibilidade, mesmo que pequena, de contornar toda está situação. Provando que quando bem dirigido, o ator que muitas vezes é apenas lembrado por seus péssimos desempenhos, tem a chance de mostrar todo seu potencial.

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    Joias Brutas | Netflix

    Um ótimo início de carreira para a dupla de diretores, que tiveram êxito em sua estreia, e foram capazes o suficiente para produzir mais uma obra de qualidade, e aos poucos estão construindo um carreira sólida, com chances de se tornarem referências quando se trata de filmes que te deixam com os olhos vidrados na tela. Um filme fora da curva para Sandler, mas é uma ótima surpresa poder ver novamente o ator escolhendo papéis de tanto destaque, desde que trabalhou com Paul Thomas Anderson em Embriagado de Amor, é possível ver essa fagulha que o direciona para projetos mais interessantes, momentos assim não acontecem com frequência, e devem ser apreciados, assim como Joias Brutas, que já está disponível na Netflix, para ser visto e revisto.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=IOSP5uEbTUc
  • Crítica | Elite – 3ª temporada repete a fórmula e acerta mais uma vez!

    Crítica | Elite – 3ª temporada repete a fórmula e acerta mais uma vez!

    Muitas comparações pairam sobre Elite, a série espanhola da Netflix sobre assassinatos e tramas escolares. Já disseram que a produção é uma mistura de How to get away with murder com Gossip Girl. Até escreveram que a narrativa é uma versão mais adulta de Malhação. Claro, tudo faz sentido quando se olha com atenção para o contexto em que tais comparações estão inseridas. Mas, o que precisa ser reforçado é o seguinte: Elite é uma série com sua própria originalidade e sua 3ª temporada é a prova disso.

    Sobre a 3ª temporada de Elite:

    Depois da segunda temporada, que colocou os personagens em uma busca desenfreada por Samuel, todos pensaram que o assassino de Marina finalmente pagaria por seu crime. Porém, isso não aconteceu. Um novo ano está começando no colégio Las Encinas e os alunos gostariam apenas que tudo voltasse ao normal. Mas, um acontecimento inesperado os levará a tomar decisões que mudarão a vida de todos para sempre.

    A sagacidade de um Showrunner é dosar os mistérios de sua obra e consequentemente aprisionar nossa atenção na trama. E isso é uma coisa que os criadores de Elite fazem com muita classe. Carlos Montero e Dario Madrona, as mentes impiedosas e criativas por trás do roteiro, conhecem e entendem seu público-alvo e apelam para os ganchos e reviravoltas. Tudo, é claro, condizente com a proposta já estabelecida desde os minutos iniciais da primeira temporada.

    A primeira cena desse 3º ano da série começa segundos antes do fatídico desfecho da temporada anterior. Polo está solto e de volta ao colégio, seguindo sua vida como se nada tivesse acontecido. Enquanto Guzmán luta contra sua ira em ver o assassino de sua irmã seguir a vida, um novo mistério surge no enredo; algo à lá “Quem matou Odete Roitman?“.

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    Elite / Netflix

    A TV mostrou que diversas séries seguem uma estrutura narrativa de sucesso. Algo que consolida a história e constrói um rosto para o público diferenciar uma produção de outra. Isso acontece com as grandes audiências como CSI, Criminal Minds, Law & Order e tantas outras. O roteiro de Elite possui uma estrutura, como podemos ver nas temporadas passadas. Se deu certo duas vezes, por que não repetir? É um risco, claro! Todavia, os roteiristas sabem brincar muito bem com as possibilidades que a história oferece.

    Vamos a estrutura: um (novo) assassino, um (novo) objeto usada como a arma do crime e os velhos (e novos) suspeitos com justificativas duvidosas que os colocam na mira da investigação. A fórmula se repete, a diferença é que tudo ganha um peso maior. Desde o primeiro episódio, assistimos as consequências caírem como uma tempestade sobre os personagens. Somos jogados num caos controlado, numa linha de tempo que utiliza flashfowards que alimentam nossa ansiedade. E ao mesmo tempo, as reviravoltas destroem as teorias que nossa mente “maníaca por séries” vai traçando no decorrer dos episódios.

    Cada escolha, cada passo e cada respiro. Todas as ações dos personagens refletem em consequências, que a curto ou longo prazo, afetam o futuro de cada um. Dilemas surgem a cada episódio, mas nem tudo significa vida ou morte. O roteiro trás para a superfície os sonhos e os medos de cada um, utilizando isso como manivela para evoluir o arco de cada personagem. Ao longo da temporada, os protagonista enfrentam seus demônios (de modo metafórico, é claro!).

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    Carla (Ester Expósito) é a primeira, descobrindo que a verdade tem um custo muito alto. Está nas mãos da garota escolher entre uma consciência limpa ou manter o status de sua família rica. Não bastando isso, cai sobre os ombros dela o destino de Polo. A atriz é excepcional, mergulhando de cabeça em seu papel. Uma escolha de ouro abrir a temporada focando na personagem.

    Nadia (Mina El Hammani) não está muito diferente de sua versão da temporada anterior, assim como Samuel (Itzan Escamilla) e Guzmán (Miguel Bernardeau). Os grandes destaques desta temporada são os personagens Ander (interpretado pelo ator Arón Piper) e Lucrecia (Danna Paola, a eterna Maria Belém).

    Na season finale da 2ª temporada, Ander deu indícios do que estava por vir. Sofrendo uma mudança radical, tanto física, quanto comportamental, podemos ver como isso se reflete no personagem e naqueles que estão ao seu redor. Lidando com as perdas, algumas involuntárias, outras por escolha dele, podemos ver o amadurecimento do personagem ao longo da história.

    O mesmo vale para Lucrecia (Danna Paola), conhecida como “a sem coração da série“. Ela é ambiciosa, inescrupulosa e vaidosa, mas quando perde tudo o que sempre fez questão de esbanjar, precisará encontrar um novo rumo. Ela não é má, mas também não é uma santa. São as falhas da personagem que movimentam sua evolução. A grande surpresa da temporada é a interação dela com a personagem Nadia. Se pudéssemos separar os personagens em duplas, as duas ganhariam. Danna Paola faz um trabalho excelente, ao dar tudo de si para construir a carga dramática de Lucrecia; somado a isso estão suas cenas bem humoradas (um humor bem ácido, claro!). Tudo isso a tornam A Grande protagonista da 3ª temporada.

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    Danna Paola (a personagem Lucrecia) / Netflix

    Dois novos rostos entram no meio desse frenesi colegial. Maliki (interpretado por Leiti Sene) levantará uma discussão densa sobre racismo, xenofobia e mais um tema polêmico, que prefiro não especificar pois seria um baita Spoiler! O mesmo vale para o ator Sergio Momo que dá vida ao milionário Yeray, um personagem que não diz muito ao que veio, ficando muitos episódios na sombra de Carla; todavia sua apresentação na trama é um tapa aos preconceitos que envolvem o típico “padrão de beleza”.

    O roteiro também discute um preconceito antigo, através de Rebeca (Claudia Salas). Uma frase que sintetiza fielmente o obstáculo da personagem é “o pobre que se torna rico, sempre será visto como podre”. E ainda sobra tempo para ela lutar contra o legado de sua mãe, que é uma traficante. Com sua língua afiada e suas gírias bem 2019, Rebeca deverá escolher em quem confiar e quem realmente ela quer ser.

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    Elite / Netflix

    O único erro da série é que em todos os episódios tem alguma festividade, colocando os personagens no mesmo ambiente. Às vezes, isso soa como uma “muleta no roteiro“, ou seja, uma saída fácil para simplificar as resoluções de alguns conflitos. Apelando para a linguagem dos memes, o que quero dizer é basicamente o seguinte: “Qualquer episódio de Elite: a. Os criadores: vamos colocar uma festa!”. Mas, o perdão por essa falha é imediato, pois as reviravoltas da série sempre acompanham as comemorações festivas.

    Em suma, trata-se de uma temporada com grande carga emocional. Cicatrizando algumas feridas, o roteiro encerra alguns arcos e inicia outros de forma sutil. Sem favoritismos, o enredo é uma montanha-russa de emoções, tirando todos os personagens da zona de conforto, entregando para o espectador uma história densa, dramática e cheia de suspense. Alcançando seu ápice narrativo, fica uma sombra de medo, pois as novas temporadas precisam honrar esta terceira.

    Uma das perguntas é “quem morreu nesta temporada?“. O trailer responde, portanto, assista por sua conta e risco:

    Veja também: Crítica | O Oficial e o Espião – Obra de Polanski retrata os sacrifícios para o “bem da Pátria”.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=RyLMD7veWBI
  • Crítica | Aprendiz de Espiã

    Crítica | Aprendiz de Espiã

    Dirigido por Peter Segal e roteirizado por Erich e Jon Hoeber, os Irmãos Hoeber (RED: Aposentados e Perigosos), a comédia “My Spy”, no original, traz uma fórmula conhecida do cinema ao unir um agente valentão e uma garota perspicaz em uma carismática aventura de ação familiar.

    “Aprendiz de Espiã” segue JJ (Dave Bautista), um conhecido e enrijecido agente da CIA que, após ser rebaixado na agência, é designado para uma missão secreta com o objetivo de monitorar uma família. Surpreendido pela precoce menina de 9 anos do apartamento vigiado, JJ tem seu disfarce descoberto e fica à mercê de Sophie (Chloe Coleman), que usa seus conhecimentos sobre a operação e sobre a identidade do agente federal para convencê-lo a passar um tempo com ela e para ensiná-la a ser uma espiã.

    Aprendiz de Espiã

    Aprendiz de Espiã / Diamond Films

    Astros de ação contracenando com crianças é uma receita há muito utilizada no cinema. Desde que filmes como “Um Tira no Jardim de Infância” (1990), com Arnold Schwarzenegger, deram certo, a possibilidade de exploração de um subgênero da comédia tal como esses tornou-se real. O desenvolvimento desses tipos de trama rendeu produções interessantes, como foi o caso de Vin Diesel em “Operação Babá” (2005) e de Dwayne Johnson em “O Fada do Dente” (2010). E, desta vez, é Dave Bautista, de Guardiões da Galáxia, que se envolve em uma aventura com uma menina de 9 anos que descobriu sua identidade secreta.

    “Aprendiz de Espiã” é nada mais, nada menos do que simples. Com um roteiro que não foge do comum e que entrega basicamente o que promete, temos uma história que mistura clichês do gênero e dosa bem as ações dos protagonistas, criando um grande carisma entre a dupla de atores, que correspondem com uma ótima química em cena, e divertindo na medida certa a todos que assistem. Contudo, apesar da simplicidade oferecida, todos os seus elementos são constantemente voltados para relembrar o espectador de que o filme deve ser visto como uma sessão familiar despretensiosa, de modo a tirar o peso de suas escolhas e de entreter sem mais sérios compromissos.

    Aprendiz de Espiã

    Aprendiz de Espiã / Diamond Films

    Certamente bem produzido, a história não se arrisca em momento algum e caminha apenas sobre o “seguro”, de modo que o sentimento de falta de um “algo a mais” é constante. Porém, exigências em cima de um filme como esses chegam a ser incoerentes. Feito exatamente para ser o que é, “Aprendiz de Espiã” é uma experiência passageira que arranca risadas na mesma medida que corresponde às baixas expectativas que criou.

    “My Spy” vai fazer a alegria das crianças e divertir os mais velhos com essa história carismática. A fórmula do valentão que contracena com uma menina funciona neste longa. Porém, é certo dizer que Dwayne Johnson, por exemplo, não tem nada com o que se preocupar. Pelo menos por enquanto.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=RA8D_MzSmCQ
  • Crítica | Jexi – Um Celular Sem Filtro

    Crítica | Jexi – Um Celular Sem Filtro

    Comédia irreverente da conhecida dupla de roteiristas responsáveis pela trilogia “Se Beber, Não Case”, Jon Lucas e Scott Moore, “Jexi – Um Celular Sem Filtro” chega aos cinemas sob fortes comparações com o conhecido “Her” (2013), porém, com o status de uma quase paródia.

    Obsessivamente dependente de seu telefone celular, Phil (Adam Devine) é um jovem adulto não realizado profissionalmente que não tem amigos ou qualquer tipo de relação amorosa. “Privado” do mundo real por sua relação com seu aparelho móvel, ele vê sua vida tomar um rumo completamente inesperado quando é forçado a atualizar o seu telefone. Apresentado a um inovador recurso de inteligência artificial, “Jexi” (Rose Byrne) torna-se uma espécie de coach e assistente de Phil ao tentar ajudá-lo a melhorar sua vida. Contudo, defeituosa desde o início, a nova companheira virtual dele se transforma em um real pesadelo tecnológico ao ficar obcecada pelo protagonista.

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    Jexi – Um Celular Sem Filtro / Diamond Filmes

    O objetivo primordial do longa de Jon Lucas e Scott Moore é claro e bem definido desde o início. Utilizando-se de um tom satírico e constantemente atrevido, a crítica social direcionada à comunidade contemporânea e ao vício das novas tecnologias é clara e bem feita. O exagero constante nas situações da trama e sua extremista “fuga da realidade” são o meio encontrado pela produção do filme de atingir o tom pretendido e transmitir ao espectador a realidade absurda que a sociedade de consumo tem se tornado. O fundamento da ideia de “Jexi” é inteligente e bem-intencionado, ainda que o filme tente se passar, nada sorrateiramente, por uma comédia bruta e sem propósito para alcançar a sua finalidade.

    Inicialmente interessante, o filme perde seu ritmo e sua construção torna-se um problema. A previsibilidade do roteiro e a incômoda simplicidade dos acontecimentos fílmicos que servem apenas para dar algum rumo aceitável para os absurdos em tela incomodam. O potencial da história é perdido e assistimos apenas um software defeituoso que fica obcecado pelo protagonista. Sem peso dramático algum ou sem qualquer linha básica e aceitável de raciocínio para dar fluidez à trama, encaramos o filme por 84 minutos esperando que ele se torne algo que simplesmente não consegue.

    No conhecido filme de Spike Jonze, “Her”, somos apresentados à Samantha (Scarlett Johansson) e Theodore (Joaquin Phoenix) em uma cativante história ficcional de amor entre um humano e um software. A proximidade com a trama apresentada em “Jexi” é inegável. Contudo, tecer comparações entre essas duas produções chega a ser inadmissível. Apesar de “Her” ser claramente uma história dramática e romantizada, enquanto o filme estrelado por Adam Devine um claro e eterno pastelão, a construção dos dois filmes está em caminhos extremamente opostos e o segundo não consegue agradar completamente o espectador, nem em seus melhores momentos.

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    Jexi – Um Celular Sem Filtro / Diamond Filmes

    Comparações à parte, um tópico interessante sobre “Jexi” é a escalação de Adam Devine como protagonista. Personagem recorrente no circuito de comédias de Hollywood, o ator é comumente visto em papéis secundários e bastante interessantes, de maneira que vinha conquistando o seu espaço e se destacando neste tipo de produção. A visibilidade do mesmo lhe rendeu esse protagonismo no filme de Jon Lucas e Scott Moore e o resultado é, infelizmente, um pouco decepcionante. A culpa, contudo, não é inteiramente de Adam, mas também da dupla de roteiristas que realmente não o ajudaram nessa difícil missão de encontrar o seu destaque e demonstrar todo o seu talento, apesar de o ator, mesmo nessa situação, ser um bom e despretensioso comediante.

    O elenco de Jexi conta, também, com Michael Peña, que rende certos momentos engraçados, e com Alexandra Shipp, que desenvolve uma boa química com Adam Devine e oferece uma história inocente e leve entre os dois personagens.

    “Jexi: Um Celular Sem Filtro” é inesperado. Definitivamente uma comédia sem ambições, a trama abordada carrega uma mensagem importante e uma crítica necessária para a sociedade contemporânea. Desperdiçando grande parte de seu potencial, o filme não deixa de ser um entretenimento interessante, mas ficará marcado por sua falta de estrutura e por sua construção preguiçosa e insuficiente para constituir uma obra um pouco mais do que passageira e esquecível.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=MoFnanuRu_A&feature=emb_title
  • Crítica | O Oficial e o Espião – Obra de Polanski retrata os sacrifícios para o “bem da Pátria”

    Crítica | O Oficial e o Espião – Obra de Polanski retrata os sacrifícios para o “bem da Pátria”

    A grandiosidade do trabalho de um diretor é vista de muitas formas como prêmios, bilheterias e novos projetos oferecidos ao cineasta. Assim como, o comportamento do público, em usar uma figura de linguagem que substitui a obra pelo nome do criador. É isso que acontece com o filme O oficial e o espião; que na boca dos telespectadores é chamado de “o novo filme do Polanski“.

    Sinopse O oficial e o espião:

    Paris, final do século 19. O capitão francês Alfred Dreyfus é um dos poucos judeus que faz parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884, seus inimigos alcançam seu objetivo: conseguem fazer com que Dreyfus seja acusado de alta traição. Pelo crime, julgado à portas fechadas, o capitão é sentenciado à prisão perpétua no exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart decide seguir as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus.

    O oficial e o espião

    Roman Polanski é um artista da indústria cinematográfica capaz de transformar a experiência audiovisual em um
    marco pessoal para cada pessoa que assiste aos seus filmes. Responsável pelos sucessos O Pianista (filme que o consagrou com o Oscar de melhor diretor em 2003) e pelo clássico do terror O Bebê de Rosemary (longa de 1968), Polanski, mais uma vez, consegue mostrar que seu repertório é vasto, ao apostar numa história minimalista, que cresce progressivamente, roubando nossa atenção como um ilusionista num show de mágica.

    O diretor sabe como causar na gente o sentimento de “impotência”. É isso que nos sufoca perante as injustiças expostas em O oficial e o espião.

    Na primeira cena, o personagem Dreyfus está cercado por todo o batalhão francês e mesmo com tantas pessoas ao seu redor, é palpável a solidão que o cerca naquele momento (um presságio de seu futuro). Todos ali o enxergam apenas como um traidor. Aliado a isso, o céu com nuvens escuras simboliza a tempestade prestes a eclodir dentro daquele personagem injustiçado. Ao ser destituído de seu cargo, em uma cena humilhante, Dreyfus se mantem firme, de cabeça erguida, enquanto grita aos seu companheiros “sou inocente“. Um momento iniciado de forma simplória, que repentinamente é engolido por uma atmosfera densa.

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    O oficial e o espião / California filmes

    A partir disso, o filme mostra todas as artimanhas que os homens fardados são capazes de fazer para que a injustiça seja feita. A mensagem é clara, quase escrita na tela. Para um bem maior, tudo é permitido. Chantagear, mentir, matar e acusar um inocente. Tais abominações transformam-se em pilares da justiça, para que os homens de farda mantenham o status de heróis da nação. A que custo? Bom, é aí que o filme se torna um soco no estômago, esmiuçando o processo para o “bem maior“.

    O roteiro, também assinado por Polanski, é eficaz ao ir fundo nos detalhes que envolvem o novo cargo de Picquart (interpretado pelo ator Jean Dujardin), que se torna o novo responsável de um gabinete que intercepta cartas e telegramas, desrespeitando o sigilo das correspondências, em prol da “segurança da Pátria“.

    Nomeado como o novo Chefe do Serviço de Inteligência, o personagem Picquart é usado pelo enredo como se fosse os “os olhos do público”, pois será pela visão desse personagem que veremos as etapas da espionagem feita pelo Departamento de Inteligência.

    Usufruindo da camada visual, o filme expõe o poder e a fraqueza da comunicação, e como a manipulação desta é capaz de criar verdades mentirosas (desculpa o paradoxo). Indo além, o filme ainda tem tempo de narrar como a opinião pública reverencia tais “verdades”.

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    O oficial e o espião / California filmes

    Carregando a trama por longos minutos de projeção, o ator Jean Dujardin é dono de uma interpretação poderosa e envolvente. No primeiro ato do filme, o personagem escancara seu preconceito; mais precisamente seu antissemitismo o que nos faz torcer o nariz para ele. Logo, assumindo as rédeas de seu novo trabalho, o militar Picquart descobre uma prova que contesta o acusamento do Dreyfus. Obstinado a brigar pela verdade, é nesse ponto que o personagem começa sua metamorfose. O ator vai muito além; sua raiva, sua desconfiança e sua força de querer provar a inocência de seu ex-aluno é como um quadro pintado bem na nossa frente: é perceptível, é convincente. Em outras palavras, é uma atuação deslumbrante.

    Louis Garrel (que interpreta o injustiçado Dreyfus) é fadado a um grande desafio de interpretação. Mergulhando fundo nos fantasmas de seu personagem, ele transmite muitos sentimentos usando somente o silêncio. Preso e exilado em uma ilha, o ator conjura em seu papel um olhar que fisga o nosso. É como se ele gritasse com os olhos, com o corpo e com a expressão neutra. Mas, sempre mantendo a postura do militar. Não é fácil atuar com tamanho contraste, mas Louis faz isso muito bem.

    A época que se passa o filme é retratada com maestria pela fotografia. O focinho das câmeras abusam dos planos abertos, utilizando os prédios históricos e os comércios antigos para evidênciar o período da narrativa. A interação entre personagens e elementos cenográficos, captados por um enquadramento inteligente, conduz o olhar espectador para os objetos de cena, que por sua vez movimentam o andar da história.

    A cena inicial, por exemplo, quando a câmera foca nas insígnias jogadas no chão ao lado dos pés de Dreyfus, quando acusado, nos conta muito sobre o momento; é a honra de um militar sendo destruída. Isso se repete muitas vezes, quando os personagens interagem com as cartas, jornais e telegramas. Somado a isso está o figurino impecável e a trilha sonora, que combinados fazem um trabalho em grupo excelente.

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    O oficial e o espião / California filmes

    O segundo ato é feito de cenas mais intimistas, às vezes silenciosas, outras vezes sustentadas por uma troca de olhares. E, é nesse ponto que podemos enxergar o brilho da narrativa.

    O clímax do filme é regido por um tribunal com julgamentos, testemunhas e muitas reviravoltas. Nada que diverge dos outros filmes que retratam a corte marcial. É o momento mais importante do filme, mas a essência e a força estão no segundo ato. O desfecho de O oficial e o espião segue com lentidão. Mas, nos minutos finais surge uma pressa em contar os fatos, atropelando uma evolução que estava se construindo com calma.

    O título da obra em português merece elogios, também. Ao longo da projeção os dois personagens centrais vestem o manto de “oficial e espião”. Enquanto um é acusado injustamente de ser o espião, o outro usa a espionagem como procedimento legal em seu novo cargo.

    Em suma, O oficial e o espião é um filme que possui força, mas não equipara-se as demais obras do diretor. Uma história que merecia ser contada, da forma que somente o cinema de Polanski é capaz de contar.

    No Brasil o filme será distribuído pela Califórnia Filmes.

    Veja também: “The Last of Us” | Buscas no Google aumentam após anúncio de série.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=OFXJELNxz2w
  • Crítica | O Chamado Da Floresta

    Crítica | O Chamado Da Floresta

    Baseado no livro homônimo de Jack London, lançado em 1903, “O Chamado da Floresta”, dirigido por Chris Sanders e estrelado por Harrison Ford, chega aos cinemas no início de 2020 como uma diversão para a toda família e como uma das várias adaptações para as telas do conhecido clássico literário.

    Em “The Call of the Wild”, nome original do longa, a 20th Century Studios traz novamente à vida a história de Buck, um cachorro que, depois de anos vivendo como um animal de estimação na casa de um prefeito da Califórnia, vê sua vida virar do avesso quando, em uma noite, é subitamente levado de sua casa para uma exótica e selvagem comunidade no Alasca. No meio da corrida do ouro de 1890 e tendo que sobreviver à hostilidade do ambiente e de seus moradores, o protagonista vira um puxador de trenó e, mais tarde, o líder de sua matilha. Descobrindo seu próprio caminho e seu local de pertencimento, Buck, com a ajuda de grandes amigos feitos no caminho, vive a aventura de uma vida em uma jornada para se tornar o seu próprio mestre.

    O Chamado da Floresta
    O Chamado da Floresta / 20th Century Studios Brasil

    O ano é 1903 e, após a publicação da história de Buck por Jack London, o instantâneo clássico tornou-se alvo de diversas adaptações ao longo dos anos. Treze, para ser exato, incluindo live-actions, animações, programas televisivos e até quadrinhos. A primeira, por sua vez, remonta a uma versão silenciosa, feita em 1923. Em seguida, estrelando Clark Gable e Loretta Young, o cachorro teve, em 1930, sua aventura mais uma vez adaptada para as telas. Posteriormente, diversas outras versões, das quais uma inclui o lendário Charlton Heston, foram produzidas. O romance sempre saltou aos olhos do público e da indústria cinematográfica e, hoje, ainda é assim. Contudo, todas as versões anteriores tiveram algo em comum que o longa de Chris Sanders não tem: estrelaram um cachorro de verdade.

    Interpretado por Terry Notary, ex-artista do Cirque du Soleil, Buck é um cachorro de CGI feito através da captura de movimentos. Assim como os outros cães e os outros animais mostrados em tela, igualmente criados pela tecnologia, “O Chamado da Floresta” nos dá a sensação de um filme de animação fotorrealista, tais como “ Mogli: O Menino Lobo” e “O Rei Leão”. O resultado da técnica neste live-action é, no mínimo, duvidoso. Buck nunca parece real e a interação dele com os atores humanos do filme apenas tornam gritantes essa diferença. Contudo, esse detalhe do longa não é surpresa, uma vez que Chris Sanders tem no próprio “The Call of the Wild” a sua estreia em filmes live-action e coleciona em seu currículo as animações “Lilo & Stitch”, “Como Treinar o Seu Dragão” e “Os Croods”.

    Tratando-se de um filme infanto-juvenil, no entanto, a abordagem do filme e do visual do protagonista realmente não prejudicam por completo a produção. Decididamente um conto para toda a família, “O Chamado da Floresta” tem muitos pontos positivos e consegue agradar em várias ocasiões. O diretor de fotografia, Janusz Kaminski (Lista de Schindler), duas vezes vencedor do Oscar, por exemplo, luta para dar ao filme um tom grandioso com sua cinematografia categórica e, por muitas vezes, consegue. Presenciamos certos momentos visualmente impressionantes e nos contentamos com o visto, ou não ligamos o suficiente para criticar algo muito a fundo, uma vez que também vemos aproximações não muito convincentes de algumas paisagens. Além disso, a escolha do roteiro de engrandecer os eventos do livro original para aproximar a história da realidade atual é muito importante para a definição de tom adotado pela produção do filme e para a conexão com os mais variados espectadores.

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    O Chamado da Floresta / 20th Century Studios Brasil

    Embora o filme seja aberto também ao público infantil e isso servir como desculpa para as decisões da produção, um Buck animado é difícil de engolir ou assistir. Contudo, “O Chamado da Floresta” tem mais a oferecer do que animais de CGI e paisagens bonitas, ficando nas mãos dos protagonistas humanos de trazer o peso dramático necessário para a obra se desenrolar. Harrison Ford, no seu melhor estilo velho rabugento, é o grande ponto positivo e realmente deixa um gostinho de “quero mais”, uma vez que sua presença plena em tela se dá apenas a partir do final do segundo terço de filme.

    Primeira produção a ser lançada com a logo 20th Century Studios, após a compra da Disney, “O Chamado da Floresta” deixa bem claro seu objetivo de ser um filme familiar, e consegue. Seu tom sutil emociona e acerta na dose ao se tratar da adaptação de um clássico literário famoso. Porém, apesar de infanto-juvenil, a artificialidade do longa incomoda, seja ao se tratar do próprio protagonista Buck, seja ao analisar alguns cenários que, apesar de constituírem uma bela cinematografia, ainda não atingem a realidade necessária e não convencem por completo.

    “The Call of the Wild” é um misto de sensações e acerta tanto quanto erra. Desigual e artificial tanto quanto emocionante e envolvente, a adaptação da história de Jack London apostou na tecnologia para inovar e conseguiu apenas se afastar cada vez mais da organicidade do real. Clássico “sessão da tarde”, Buck não chega aos pés de cachorros como Lassie ou Marley, mas é o suficiente para agradar minimamente o público com uma trama inocente e animada de muitas maneiras distintas.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Maria E João – O Conto Das Bruxas

    Crítica | Maria E João – O Conto Das Bruxas

    Nova adaptação de um dos maiores clássicos dos Irmãos Grimm, “Maria e João – O Conto das Bruxas” (“Gretel & Hansel“, no original) é dirigido por Osgood Perkings (Oz Perkins) e, na misteriosa visão do conhecido conto de fadas, resgata a história dos dois irmãos que encontram comida e feitiçaria no coração da floresta, porém, de uma maneira mais sombria.

    Na recente versão de “João e Maria” as migalhas do clássico nos guiarão por um caminho muito mais sinistro e perturbador. Durante um período de escassez, em um campo distante, após serem expulsos de casa pela própria mãe, Maria (Sophia Hills) e seu irmão mais novo João (Sammy Leakey) saem de casa e adentram a floresta em busca desesperada por comida e sobrevivência. Na jornada, além de vários perigos precoces, os irmãos encontram uma casa atraente e sua dona, Holda (Alice Krige), uma idosa misteriosa cujas intenções podem não ser tão inocentes quanto parecem, e descobrem que nem todo conto de fadas tem um final feliz.

    Maria e João
    Maria e João – O Conto das Bruxas / Imagem Filmes

    Em “Maria e João – O Conto das Bruxas”, o usual “Hansel & Gretel” vira “Gretel & Hensel”. A ordem dos nomes titulares do clássico conto de fadas é propositalmente invertido por um motivo. Nesta recontagem, Maria tem 16 anos e é encarregada de cuidar de João, seu irmão mais novo de 8 anos. A esticada da produção para novas direções é decidida e interessante, inovando dentro de uma história há muito conhecida pelo público. No longa, é Maria que, dessa vez, toma as rédeas da situação e se encarrega de comandar as ações da narrativa e de deixar João como um coadjuvante, por vezes, esquecível. Essa abordagem inédita é muito bem representada pelo talento de Sophia Hills (“It: A Coisa”) e complementada pela experiência de uma perturbadora Alice Krige (Ghost Story), que contribuem para os melhores momentos de suspense do longa que serve como uma história de origem para as duas personagens.

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    Maria e João – O Conto das Bruxas / Imagem Filmes

    Oz Perkins, diretor do filme, traz para essa produção parte da sua experiência com o gênero do horror. Após o seu “O Último Capítulo” (2016) e o seu “A Filha de Blackcoat” (2017), Oz chega para deixar sua marca em “Maria e João”. Apostando em um processo assustador e em uma elegância visual incomum, o trabalho em conjunto com o diretor de fotografia Galo Olivares (Roma) rende imagens impressionantes e composições muito atraentes, enfatizando enquadramentos simétricos e o uso de amarelos e azuis, evocando um terror subconsciente. Nesse sentido, parecido, por vezes, com “A Bruxa”, de Robert Eggers, a atmosfera do filme é um dos pontos mais importantes do longa e contribui para um ritmo agradável e tenso que dispensa jumpscares e investe no horror.

    Igualmente impressionante, os elementos de design também se destacam na construção do filme. Desde os figurinos de cada personagem que conversam com suas especificidades até o design de produção de Jeremy Reed que, por sua vez, permeia por uma versão arquitetônica espessa, amadeirada e até modernista, “Maria e João” tem uma técnica admirável e aposta nessa questão para seu diferencial. E até certo ponto consegue.

    Contudo, a investida aguda na criação de tal atmosfera e na construção do tom do filme tornou insuficiente a narrativa apresentada. Em contrapartida a suas qualidades técnicas realmente impressionantes, “Maria e João – O Conto das Bruxas” é sinistro, porém, é subdesenvolvido demais para que realmente tenha um impacto assustador. O design de produção de Jeremy Reed e a fotografia de Galo Olivares são, progressivamente, minados pela opacidade narrativa do filme.

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    Maria e João – O Conto das Bruxas / Imagem Filmes

    “Maria e João”, desde o começo, alça a expectativa do espectador nas alturas. O inédito tom adotado pela produção do filme e suas marcantes qualidades técnicas foram suficientes para atrair atenções. Porém, essas características funcionam mais para mascarar os seus defeitos do que para lhe atribuir o status de um bom filme, afinal, nada se sustenta apenas com um bom visual. Preso em uma frustrante e constante zona de conforto, Oz Perkins perde a oportunidade de transformar o longa em algo magnífico ao se contentar em trabalhar apenas com o superficial.

    Estranhamente hipnotizante em certos momentos, “Maria e João” não será para todos os gostos. Original e com uma identidade própria bem definida, o filme peca em excesso na narrativa que adota, mas traz frescor ao gênero por fugir de convenções e apresentar um horror completamente atmosférico. Contos de fadas sombrios são, definitivamente, uma boa ideia, apesar de este, em específico, ser um pouco decepcionante.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | O Preço Da Verdade

    Crítica | O Preço Da Verdade

    Em tempos de caos político e de crescentes problemas ambientais, “O Preço da Verdade” (“Dark Waters”, no original), co-produzido por Mark Ruffalo e dirigido por Todd Haynes, chega aos cinemas em um momento crítico da sociedade como um alerta traduzido em imagens e traz ao espectador a luta entre um advogado ambiental e uma das maiores multinacionais de produtos químicos da época.

    Baseado no artigo da New York Times Magazine, intitulado de “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare” (“O Advogado Que Se Tornou o Pior Pesadelo da DuPont”), o roteiro, assinado por Matthew Carnahan e por Mario Correa, traz a história real de um advogado de defesa corporativo (Mark Ruffalo) que, após ser requisitado por fazendeiros de sua terra natal, descobre um segredo obscuro e se depara com uma teia de enigmas e crimes que conectam o crescente número de mortes inexplicáveis e os acentuados efeitos ambientais com uma das maiores e mais poderosas companhias do mundo. Para expor a verdade, ele embarca em um processo judicial que perdura por anos e ameaça tudo em sua vida, incluindo seu futuro, sua família e sua própria segurança.

    O Preço da Verdade
    O Preço da Verdade / Paris Filmes

    “O Preço da Verdade” apresenta em sua narrativa um grande tom expositivo, podendo, facilmente, ter sido um grande documentário. A abordagem narrativa ficcional, no entanto, escolhida pela dupla de roteiristas e por seu diretor, foi crucial para o impacto que a equipe gostaria de alcançar. E consegue. A história sobre um advogado que enfrentou a multinacional que servia grande parte da população mundial e que, conscientemente, envenenava todos os seus consumidores por meio de um subproduto químico conhecido como PFOA (Teflon, encontrado em panelas antiaderentes e em diversos outros produtos) é horripilante. Porém, mais do que tudo, a forma com a qual a narrativa é conduzida é imprescindível para o tom de denúncia e de alarme para a situação atual do meio ambiente e, sobretudo, do meio corporativo.

    O filme é, em seu início, propositalmente lento e procura, de maneira cuidadosa, introduzir o espectador à realidade retratada e à complexa história prestes a ser desenvolvida. Envolvente, o filme se transforma e cresce exponencialmente até se tornar um grande drama político. Acompanhando esse tom definido pela direção do longa e o tema tratado pelo roteiro, Edward Lachman, fotógrafo do filme e também de outras produções de Todd Haynes, cria, a partir de uma cinematografia categórica, paisagens urbanas desumanizadas embebidas em cinza e cenários campestres cheios de sombras e intocados pelo Sol. O diálogo entre o roteiro, a direção e a fotografia de “Dark Waters”, nesse sentido, é impecável e imerge o espectador na tela de maneira surpreendente. A correlação entre o que é narrado e o que é mostrado é um deleite visual. Tudo parece natural e se desenrola de maneira fluida e orgânica.

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    O Preço da Verdade / Paris Filmes

    Com nomes importantes no elenco para acompanhar o protagonismo de Mark Ruffalo, a produção conta com a vencedora do Oscar Anne Hathaway (Os Miseráveis), com o vencedor do Oscar Tim Robbins (Mystic River), com Victor Garber (Titanic) e com Bill Pullman (The Sinner, Netflix). Contudo, apesar da qualidade em mãos, os mesmos são notoriamente desperdiçados. Por culpa do roteiro, que prioriza datas e manobras políticas e jurídicas em detrimento do desenvolvimento de cada personagem, nenhum coadjuvante em cena se sobrepõe ou consegue escapar do retrato a ele imposto. Temos como exemplo o personagem de Bill Pulman, que é apresentado e subitamente esquecido na trama, e o de Anne Hathaway, que é completamente mal aproveitado.

    A narrativa fílmica de “O Preço da Verdade” encaminha o espectador para uma jornada de anos e uma luta na justiça alucinante de um caso que parece perdido. O advogado que processa a DuPont por conscientes danos ao meio ambiente e à saúde humana em uma perseguição que simplesmente não tem fim. Os sinais de desesperança frente a descarada corrupção que ocorre todos os dias nos Estados Unidos e em todo o mundo. Contudo, a narrativa é, também, o sinal da necessidade de uma incessante luta pelo que é certo e pelas virtudes que deveriam guiar a sociedade. “Dark Waters” expõe o que há de pior por detrás das grandes companhias e das multinacionais e os efeitos globais das ações cotidianas dessas corporações que perduram até os dias de hoje.

    Segundo estatísticas da própria produção do longa, hoje, 99% de toda a população mundial carrega em seu corpo a substância tóxica retratada no filme.

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    O Preço da Verdade / Paris Filmes

    “O Preço da Verdade” nos coloca a par de uma história horripilante e de uma realidade suja. Quase como um chamado ao ativismo político e ambiental e funcionando como um filme denúncia, ele é o suficiente para fazer você querer arremessar fora todos os seus produtos antiaderentes e à prova d’água depois de assisti-lo.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer: