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  • Crítica | Trolls – World Tour

    Crítica | Trolls – World Tour

    Sequência da animação de 2016 da DreamWorks, “Trolls: World Tour” oferece uma segunda rodada de cantos contagiosos e muita energia em uma aventura colorida sobre o universo e o poder da música.

    Na continuação da história das criaturas mais felizes do mundo, Anna Kendrick e Justin Timberlake retornam à franquia para dar novamente vida aos seus personagens em uma trama que expande o universo Troll previamente estabelecido. Nesse novo episódio, muito além do que conhecem, Poppy (Kendrick) e Branch (Timberlake) descobrem que são apenas uma de outras várias tribos de Trolls espalhadas pelo continente. Dedicadas cada uma a um tipo específico de música (Pop, Rock, Funk, Country Clássica e Techno), o mundo perfeito dos monstrinhos coloridos vira de ponta cabeça quando a rainha do Hard Rock, Queen Barb (Rachel Bloom), embarca em uma missão para eliminar todos os gêneros musicais existentes e converter todos os seres unicamente ao Rock.

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    Trolls: World Tour / Universal Pictures Brasil

    “Trolls: World Tour” aprofunda consideravelmente a história das criaturas dançantes e imerge o espectador na mitologia do mundo mágico. Servindo como gatilho para o desenrolar da trama, tomamos conhecimento de que, em tempos longínquos, todos os povos e todos os gêneros musicais, que hoje vivem em completo isolamento e sem contato uns com os outros, viviam em harmonia em uma mesma grande comunidade. Guiados pela existência de seis cordas mágicas que, a princípio, continham a fonte de toda a música conhecida, os Trolls acabam por se separar e seguir caminhos opostos, cada qual com sua Corda mística.

    Isso, contudo, até Queen Barb decidir roubar todas elas e subjugar todos os seres de sua espécie.

    O filme é definitivamente doce e ainda mais colorido e feliz do que o seu antecessor, se isso é possível, e carrega uma importante mensagem acerca da inclusão, da diversidade e do respeito – tanto em termos musicais quanto culturais. Se ele não chega ao nível do seu antecessor (como é o caso da maioria das sequências), ainda consegue fazer públicos de todas as idades sorrirem, principalmente por todo o seu visual e por todos os seus covers viciantes e suas músicas originais que são brilhantemente interpretadas pelos nomes de peso que compõem o elenco.

    Trolls
    Trolls: World Tour / Universal Pictures Brasil

    Previamente programado para a estreia nos cinemas, o contexto do lançamento do filme foi afetado graças à pandemia do novo Coronavírus. A quarentena e o fechamento das salas de cinema levaram os acionistas da Universal a repensarem a forma de apresentar seus filmes e, assim, acabaram por priorizar o lançamento digital da sequência de “Trolls”. Disponibilizado via streaming e VOD (Video On Demand), a animação já é considerado um sucesso, batendo diversos recordes e superando, em mais de dez vezes, as vendas de “Jurassic World: Reino Ameaçado”, por exemplo.

    Entregando uma aventura familiar bonita e cheia de significado em tempos em que a união e a força são mais do que necessários, a animação protagonizada por Anna Kendrick e Justin Timberlake tem brilho e energia mais do que suficientes para nos colocar um sorriso no rosto e nos fazer dançar. Feliz em excesso e pecando, por vezes, na hiperatividade da obra, que apresenta tantos povos felizes e distintos em tão pouco tempo (enquanto tenta desenvolver uma trama por detrás de todo o glitter e de toda a purpurina), “Trolls: World Tour” é o que se espera de uma animação sobre seres musicais e não deixa nada a desejar para os fãs das criaturas.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Hollywood – Minissérie mostra os bastidores da 7ª Arte

    Crítica | Hollywood – Minissérie mostra os bastidores da 7ª Arte

    Não existem caminhos iguais, mas a estrada rumo ao estrelato não é fácil. A busca árdua pela fama é um pano de fundo recorrente em filmes e séries, que enxergam na metalinguagem uma oportunidade de transmitir a paixão em contar histórias. No cinema, longas como La La Land: Cantando Estações, A Invenção de Hugo Cabret e O Artista apresentaram uma visão sobre o mundo atrás das câmeras. Mas, por trás do luxo, dinheiro e notoriedade, existe uma infame sombra que a minissérie Hollywood se propõe a discutir.

    Mesclando ficção e realidade, a força dessa série, sem sombra de dúvida, está na composição dos personagens. Cada um deles traz uma discussão diferente para nós, espectadores.

    Sinopse da minissérie Hollywood:

    Aspirantes a atores e cineastas em Hollywood, após a Segunda Guerra Mundial, lutam para conquistar o tão sonhado espaço na indústria do cinema. Entre disputas de papéis, roteiros, estúdios e muito ensaio, o destino de um grupo de desconhecidos é transformado, quando um filme, inicialmente intitulado “Peg”, ganha sinal verde para ser produzido no Ace Studios. Mas, alguns obstáculos como sistemas injustos, preconceito de raça, gênero e sexualidade surgem. Com isso, a pré-produção do longa precisa lutar para que o filme ganhe as telas dos cinemas do país.

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    Hollywood / Netflix

    Ryan Murphy é uma das grandes personalidades do mundo audiovisual. Seu nome está relacionado a grandes produções, tanto para o cinema, quanto para a TV. Ele já dirigiu as séries Glee, Pose, O assassinato de Gianni Versace – American Crime Story, a lista é enorme. Nos cinemas, ele já roteirizou longas como Comer, rezar e amar e Casamento sangrento. Recentemente, foi anunciado que Murphy firmou parceria com a Netflix, o que resultará em excelentes projetos; um deles é a minissérie Hollywood, que estreou no início desse mês.

    Narrar uma história sobre contar histórias não é uma tarefa fácil, mas Hollywood faz isso com êxito. A forma como o roteiro apresenta cada personagem, desenvolvendo-os em jornadas individuais, que mais tarde se cruzam, transformam o show num espetáculo dos bastidores. Ver a câmera pela câmera, assistir a leitura de um roteiro em uma minissérie e torcer por um personagem que arrisca tudo num teste de elenco, tornam a série uma grande homenagem aos sonhadores da 7ª arte.

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    Hollywood / Netflix

    Mas, não é somente os sonhos que alimentam essa história. Podemos ver isso com os personagens que simbolizam o preço cruel que muitos pagam para ter seu nome nos créditos finais de um filme. Existe o outro lado; um lado mais ‘podre‘! Qual o preço da fama? A minha ideia, vale mais que o meu reconhecimento? Quanto custa produzir um filme que quebra os padrões da indústria cinematográfica, durante os anos de 1940? São estas e muitas outras indagações que o enredo vai destrinchando, enquanto os “monstros” que habitam esse meio aparecem.

    A primeira grande sacada da produção está em sua abertura. Colocando os personagens para “escalar”, literalmente, o letreiro de Hollywood. Observamos como é difícil chegar ao topo e ganhar um espaço a luz do sol. É aqui que temos o primeiro contato com o otimismo, que mais tarde ganhará um peso maior no decorrer da temporada.

    Com um elenco de peso, que destrói a cada cena, com certeza eu passaria horas e horas elogiando um por um!

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    Hollywood / Netflix

    David Corenswet (que interpreta o personagem Jack Castello) é o primeiro rosto, dentre os protagonistas, a ganhar nossa atenção. O ator carrega um carisma grande, que oscila entre o drama e o humor. Darren Criss (lembrado até hoje por fazer o Blaine em Glee) sempre mergulha fundo em seus trabalhos, e aqui não é diferente; ele consegue fazer os holofotes se direcionarem para os bastidores, dando vida ao diretor Raymond Ainsley. A atriz Samara Weaving constrói sua Claire Wood com naturalidade; ambiciosa, a princípio, ela vai ganhando novas nuances, mostrando um lado humano nos episódios finais.

    O time de veteranos é um show à parte! Patti LuPone, Joe Mantello e Holland Taylor mostram como são feras da atuação. Mesmo em papéis coadjuvantes, eles roubam a cena toda vez que aparecem. É genuíno quando um roteiro sabe aproveitar ao máximo seu elenco, e extrair atuações a altura da carreira de cada um. E isso, Hollywood faz com maestria.

    Viola Davis, ao receber um Emmy por seu excepcional papel na série How to get away with murder, disse o seguinte: “A única coisa que diferencia as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade“. Esse poderoso discurso retornou a minha mente, enquanto assistia Hollywood. Se em 2015, tais palavras precisavam ser proclamadas, imagina na década de 40.

    Hollywood minissérie
    Hollywood / Netflix

    Os personagens Archie Coleman (interpretado pelo ator Jeremy Pope) e Camille Washington (vivida pela Laura Harrier) se tornam figuras centrais, quando a série aborda o racismo enraizado no mundo do cinema.

    Para Archie, a cor de sua pele é transformada em justificativa para que ele não receba os créditos por seu trabalho. Já Camille, mesmo sendo a melhor atriz em um teste, descobre que sua raça a impede de ser ‘protagonista de um filme‘. É no desenvolvimento destes personagens que Hollywood mostra como o racismo atua na frente das câmeras e nos bastidores. O que eleva ainda mais esse debate são as atuações de ambos os atores. Jeremy, com sua naturalidade que transborda, e Laura, cujo olhar transmite muito sobre o lado emocional de sua personagem.

    Na composição técnica, a minissérie acerta e muito! Os figurinos sempre se destacam, assim como o cabelo e a maquiagem, situando nosso olhar para o período em que se passa narrativa. A fotografia, nas cenas que mostram os bastidores, tem o dever de filmar aquilo que está sendo filmado; e isso é feito com muito beleza; uma cena em especial, que envolve a letra ‘H’ do letreiro de Hollywood, expõe na tela a magia do cinema, perante os olhos dos espectadores. A trilha é como um ser onipresente, pontuando momentos chaves da história, inclusive nas cenas que mostram as “cenas gravadas“.

    Hollywood minissérie
    Hollywood / Netflix

    No fim, Hollywood abraça mais a ficção, do que a realidade, criando finais que não aconteceram no mundo real. Essa liberdade criativa, que pinta uma Hollywood como um quadro cheio de cores, apenas mostra que no olhar de Ryan Murphy existe um filtro chamado “positividade”. Está lá, ao longa de 7 episódios, o racismo, o assédio, a homofobia, a xenofobia e o machismo que imperou o mundo da fama. Acontece que a minissérie apresenta resoluções quiméricas para alguns conflitos.

    O conjunto da obra, para alguns, pode soar como “fantasioso ao extremo”. Para outros, soará como uma representação de um “passado ideal” para o mundo da sétima arte. Não é pecado fantasiar uma estrada de tijolos amarelos para aqueles que lutaram por um espaço sob os holofotes e alcançaram a fama.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Disque Amiga Para Matar – 2ª Temporada.

  • Crítica | Beastars: O lobo bom — 1ª Temporada desconstrói o principal vilão das fábulas

    Crítica | Beastars: O lobo bom — 1ª Temporada desconstrói o principal vilão das fábulas

    Desde pequenos, consumimos histórias, sejam elas no formato literário, audiovisual ou até mesmo através do famoso “conta uma história para mim?“. A grande maioria teve uma infância recheada de fábulas (histórias curtas protagonizadas por animais com comportamento humano). Em muitas delas, o ‘mau‘ ganhou um rosto animalesco: o animal peludo que sempre uiva para a lua cheia. É com essa premissa que o anime Beastars – O lobo bom reinventa a fábula do ‘Lobo Mau‘ em sua 1ª temporada.

    Sinopse de Beastars – O Lobo bom:

    Em um mundo povoado por animais antropomórficos, herbívoros e carnívoros coexistem. Para os adolescentes da Escola Cherryton, a vida escolar é cheia de esperança, romance, desconfiança e incertezas. O personagem principal é Legoshi, um lobo, membro do clube de teatro. Apesar de sua aparência assustadora, ele tem um coração bem gentil. Por boa parte de sua vida, ele sempre foi objeto de medo e ódio dos outros animais, e já se acostumou com esse estilo de vida.

    Mas logo ele acaba se envolvendo mais com seus colegas de classe, que tem suas próprias porções de inseguranças, e vê sua vida escolar mudar lentamente.

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    Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

    Com toques filosóficos e uma narrativa madura, a 1ª temporada do anime Beastars – O lobo bom está disponível no catálogo da Netflix. E vale cada episódio. Com um enredo que humaniza o comportamento animal e animaliza o comportamento humano, a trama submerge mil e uma analogias sociais.

    Produzido pelo estúdio Orange, o anime é baseado no manga ilustrado e roteirizado por Paru Itagaki. A história está fazendo muito barulho do outro lado mundo. E agora, no ocidente, o anime está conquistando a atenção de muitos.

    Sabe-se que a principal função de uma fábula é educar as crianças, conscientizando-as através da moral, que sempre possui um paralelo com a nossa realidade. Acontece que o anime Beastars desconstrói o estigma que sempre acompanhou o lobo. E não são poucas as histórias que transformaram esse personagem no antagonista.

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    Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

    Sabe aquela famosa cena do filme Shrek 2, em que a Fada Madrinha cita diversas obras que não possuem ‘Ogros’? O mesmo vale para as histórias com “lobos bons”. Pois bem, vamos para uma análise à lá Fada Madrinha. Chapeuzinho Vermelho? Nenhum lobo bom! Os Três Porquinhos? Nenhum lobo bom! O Lobo e os Sete Cabritinhos? Nenhum lobo bom! O Lobo e o Cordeiro? Nenhum lobo bom!

    As fábulas de Esopo construíram esse personagem como um ser maléfico, feroz, impiedoso, rancoroso e faminto. E como será contar uma narrativa que reinterpreta esse personagem sem tais características?

    Dizer que Beastars é um “Zootopia para adultos” é minimizar toda a originalidade que o roteiro entrega! Com uma trama densa e repleta de camadas, o texto fictício usa e explana os fatos sociais, ao simular situações reais do nosso cotidiano dentro da narrativa.

    No primeiro episódio, ocorre um assassinato de um aluno herbívoro. Logo, os olhares acusatórios recaem sobre todos os alunos carnívoros, como se todos eles fossem capazes de sucumbir ao instinto. Só nesse ponto, podemos ver como o anime faz uma releitura sobre os estereótipos, o preconceito e o racismo. O plot ainda consegue tempo para contar uma história de amor e uma história de suspense. E, em alguns momentos, flerta com o humor e o drama.

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    Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

    Cada personagem caminha um longo trajeto durante os doze episódios da 1ª temporada. Legoshi, o protagonista de Beastars, caminha no sentido contrário. Lutando dia e noite contra o seu instinto, ele desafia a ordem natural de sua existência como predador. Tímido, pensativo e gentil, ele é um membro do teatro da escola que prefere ficar nos bastidores, deixando, literalmente, os holofotes para os outros.

    Como protagonista, seu arco de personagem ganha nossa atenção de imediato. O carisma que emana dele é sutilmente alavancado pelas narrações em off do mesmo. Pensando muito e falando pouco, somos os únicos que sabem o que realmente se passa na cabeça do Lobo Bom. Seus dilemas, escolhas, medos e desejos despertam nossa admiração.

    Haru, a coelha charmosa e de olhar sereno, é a responsável por sacudir o mundo de Legoshi. Imediatamente, o texto usa a nossa falsa percepção a respeito da personagem, para cutucar nosso “pré-conceito”, pois idealizamos uma imagem imediata dela, que é quebrada logo no final do 2º episódio.

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    Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

    Stephenie Meyer, autora de Crepúsculo, uma vez escreveu em seus livros “e então o leão se apaixonou pelo cordeiro“. Substituindo os animais, e abandonando a metáfora, a 1ª temporada de Beastars nos encanta com uma história de um lobo que se apaixona por uma coelha.

    Com uma trilha impecável e um roteiro brilhante, o anime mantêm sua qualidade no quesito estético. Muitas pessoas torcem o nariz quando escutam o termo “computação gráfica” e “animes” na mesma frase. Mas, Beastars é uma prova viva de que animações orientais conseguem extrair o melhor da tecnologia computadorizada, para assim elevar o visual de uma obra. Você pode perceber o excelente resultado nos mínimos detalhes, como os olhos e as movimentações dos personagens. Assim como as cenas que mesclam a silhueta de Legoshi com os cenários e outros personagens, enquanto escutamos sua voz off.

    Outra coisa muito importante! Eu sei que a Netflix oferece o botão “pular a abertura“. No entanto, não faça isso! É um pecado não assistir a abertura em stop-motion do anime, que encanta toda vez que é assistida.

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    Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

    Quem matou Tem, a alpaca?” é essa a principal indagação que catapulta os personagens na direção dos principais conflitos. O assassinato do herbívoro persiste por um longo tempo, mas em algum momento perde força, caindo no esquecimento, mesmo citado vez aqui, vez acolá.

    Um pensamento popularmente propagado diz o seguinte: “O lobo sempre será mau, se você continuar a ouvir só a versão da Chapeuzinho Vermelho“. Essa frase representa muito bem o brilhantismo que Beastars possui, ao tornar o lobo um protagonista, enquanto discuti a eterna dicotomia sobre “bem e mal“; e como reconhecemos e definimos cada um deles.

    Construindo uma história de amor, cujo alicerce são elementos fantásticos e sombrios, esse é um dos poucos animes que abraça a criatividade e pensa fora da caixinha. Audacioso, divertido e diferente. Belo, tanto no visual, quanto no roteiro, Beastars é capaz de agradar (quase) todos.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer da 1ª Temporada:

    https://www.youtube.com/watch?v=Dlcr3ZXalFA

    Veja também: Crítica | Jack Ryan – 1ª Temporada.

  • Crítica | Jack Ryan – 1ª Temporada

    Crítica | Jack Ryan – 1ª Temporada

    Produção original da Amazon Prime, “Jack Ryan” marca a quinta aparição audiovisual do famoso analista da CIA – criado por Tom Clancy – e entrega John Krasinski sob o manto de um herói realista que supera todas as convenções do gênero e se mantém crível durante toda a sua jornada.

    Após ser vivido nas telas do cinema por Alec Baldwin, Harrison Ford, Ben Affleck e Chris Pine, a quinta abordagem do personagem seguiu por um caminho diferente das demais e, agora, a nova versão foi adaptada para o serviço de streaming da Amazon. Protagonizado por John Krasinski, (“Um Lugar Silencioso”), “Jack Ryan” aposta na reformulação do famoso agente e em uma trama viciante que conjura todos os elementos de uma grande ação para se firmar entre as grandes produções de 2018.  

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    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    Na primeira temporada de “Jack Ryan”, a série de TV criada por Carlton Cuse e Graham Roland assume uma narrativa ousada e cativante. Na trama, quando o promissor analista da CIA começa a seguir uma série de transações bancárias do Oriente Médio e analisar padrões de comunicação suspeitos, grandes pistas sobre uma organização terrorista e suas estratégias intrincadas de ataque são reveladas. Buscando respostas e planos de ação, Ryan deixa o escritório e é atirado em campo para seguir e desvendar os rastros da perigosa e crescente cúpula extremista.

    Feito para o streaming em uma narrativa de 8 episódios, o desenvolvimento da série ocorre de maneira tão instigante quanto o de seus personagens. Respondendo à altura ao plano da Amazon para o resgate do personagem de Tom Clancy, o elenco extremamente qualificado entrega performances memoráveis e em sintonia com toda a produção. A dualidade da série é caracterizada pelo embate entre a dupla heroica de Jack Ryan e James Greer (Wendell Pierce) e o antagonista Bin Suleiman (Ali Suliman), que protagonizam um verdadeiro e mortal jogo de xadrez.

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    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    A premissa da nova série de ação da Amazon Prime é conhecida e se aventura em um tema delicado para se desenvolver. Abordando o terrorismo religioso como foco central e uma ameaça global em potencial desenvolvimento, “Jack Ryan” foge das abordagens prévias feitas à história de Tom Clancy – mesmo que, para isso, tenha que se ater à diversos clichês do gênero. Feitos para impulsionar o roteiro na direção certa e encaminhar o telespectador na jornada do agente secreto, todos os estereótipos da ação são bem executados e coesos, de modo que a série, como um todo, funcione grandiosamente.

    Contudo, é seu protagonista quem deve levar os maiores créditos.

    Desde a sua criação – em meados dos anos 80 -, Jack Ryan sempre foi atrativo e se destacou em meio a tantos outros personagens no mundo da espionagem. O fato é que ele não é um típico agente secreto, mas um analista que deve e quer trabalhar atrás de uma mesa – apesar de seu extenso treinamento militar. A porção certeira de “humanidade” injetada no personagem o faz ser mais realista e crível do que todos os outros aos quais estamos acostumados, rendendo-lhe uma boa dose de engajamento e identificação com grande parte do público espectador. Jack é mais cérebro do que músculos e tem tantos medos e problemas quanto nós.

    Jack Ryan
    Jack Ryan / Amazon Prime Video

    Citado anteriormente, o antagonista de Jack Ryan, Bin Suleiman, é responsável por dar o toque final a tudo que foi construído por Carlton Cuse e Graham Roland. Vilão de muitas camadas, ele é o personagem necessário para elevar todas as dimensões da trajetória narrativa da série. Intenso intelectualmente e radical em suas ações, a jornada do antagonista é tão bem desenvolvida quanto a do próprio analista da CIA e forma um personagem perigoso e que realmente dá ao espectador a sensação de um verdadeiro perigo iminente.

    “Jack Ryan” é o resgate do personagem clássico de Tom Clancy. Reinventado para o público moderno, a série da Amazon Prime foi uma aposta alta que deu certo. Sucesso em diversos aspectos, os oito episódios sobre o famoso analista da CIA estão disponíveis na plataforma de streaming e garantem uma maratona mais do que satisfatória.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Frozen 2

    Crítica | Frozen 2

    Frozen 2 inova mais uma vez no conceito da não existência de um vilão e um par romântico para uma das protagonistas como um dos elementos principais da trama.

    Pode-se dizer que é uma história de amizade, coragem, companheirismo e amor. Não tão aguardado quanto o primeiro filme, mas a sequência mostra as irmãs em lados opostos (não como inimigas), mas cada qual buscando pela sua própria luta.

    Voltamos primeiro ao passado delas, a sinopse já deixa claro que não é uma viagem ao futuro, a uma trama nova, mas sim, uma viagem ao passado e ao conhecimento dos poderes de Elsa e dos seus ancestrais: “De volta à infância de Elsa e Anna, as duas garotas descobrem uma história do pai, quando ainda era príncipe de Arendelle. Ele conta às meninas a história de uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajuda Elsa a compreender a origem de seus poderes.”

    Crítica | Frozen 2
    Frozen 2 | Walt Disney Pictures

    E é isso mesmo. Desde os primeiros minutos, com a primeira canção “All Is Found” a rainha Iduna (Evan Rachel Wood) mostra que Anna e Elsa (Kristen Bell e Idina Menzel) teriam um caminho a trilhar. Já adultas e vivendo bem em Arendelle, Elsa ouve um chamado e temos a performance da música mais famosa da sequência “Into the Unknown” – pela Idina Menzel e a cantora Aurora – a música não é uma “Let It Go”, o grande sucesso do primeiro filme, mas entrega o que promete o título da canção. Elsa não sabia que estava perdida. Que precisava encontrar algo. Ela tinha um chamado. Um chamado para o desconhecido.

    É aí que começa a jornada das duas irmãs. Ambas tinham feito uma promessa de fazerem tudo juntas e é isso que elas decidem fazer: irem em busca de suas origens juntas, ao lado delas, vão Kristoff (Jonathan Groff) – completamente apaixonado por Anna – o boneco de neve Olaf (Josh Gad) em sua fase de amadurecimento mas sem perder o humor e a rena Sven, partem em busca de descobrirem o mistério que as cerca.

    Temos uma neblina, uma floresta em que os habitantes não vêem o céu há anos e a introdução de novos personagens: as pessoas da tribo Northuldra, entre elas, Yelena, a líder e protetora da tribo, Ryder, um dos habitantes que tenta ajudar Kristoff em uma missão quase impossível, Honeymaren, uma das habitantes que será amiga de Anna e uma salamandra pra lá de especial. Além da tribo dos Northuldra, ficaram na floresta o tenente Mattias e boa parte dos seus soldados, todos de Arendelle.

    Crítica | Frozen 2
    Frozen 2 | Walt Disney Pictures

    Todos esses personagens são importantes para a história, mas sem desviar o foco de Anna e Elsa.
    Os números musicais são importantes, como “When I Am Older” em que Olaf fala sobre o amadurecimento e o medo de crescer e Kristoff “Lost In The Woods” sobre o seu amor por Anna, mas não são o foco principal da história, custa-se dizer que foram necessários para mostrar a linha que se seguiria para os coadjuvantes.

    Já avançando na história, quando as duas irmãs e Olaf estão num impasse em que Elsa entendeu o seu real propósito e onde teria que ir, Anna decide que seu dever é ir com a irmã por causa da promessa que fizeram, mas Elsa vê que ela tem que fazer aquilo sozinha e que o momento de Anna chegaria e não seria com ela. É quando as duas se separam e Elsa segue sozinha para o seu destino que envolve encontrar o quinto elemento.

    Enfrentando ondas gigantes, cavalos marinhos e memórias do passado, Elsa entendeu que tudo estava relacionado aos seus poderes e como ela os usaria a partir de então. Por outro lado, Anna entendeu que sua missão era seguir sozinha sem a irmã para enfrentar seus próprios medos e é o que ela faz, sem Olaf, porque ele está interligado com Elsa e depois de a irmã sofrer um grave acidente com seus poderes, Anna segue sozinha e performa “The Next Right Thing”, uma canção sobre si mesma e enfrentar tudo o que vier.

    Crítica | Frozen 2
    Frozen 2 | Walt Disney Pictures

    Separadas e quase no fim do filme, mesmo longe, as irmãs Elsa e Anna estão ligadas e precisam usar o elo que as une para libertar o povo da escuridão da floresta encantada e entenderem o seu passado. Quando finalmente elas entendem o que aconteceu e o porquê, o povo de Arendelle e até elas próprias podem viver em paz, porque o que estava escondido lhes foi mostrado.

    Não tão empolgante quanto o primeiro, mas com uma boa história e bom desenvolvimento, Frozen 2 é um prato cheio sobre confiança e dar o primeiro passo para sua auto-descoberta.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Disque Amiga Para Matar – 2ª Temporada

    Crítica | Disque Amiga Para Matar – 2ª Temporada

    Disque Amiga Para Matar é uma produção da Netflix que junta perfeitamente o drama com a comédia ácida e atuações impecáveis, além de ter uma história pra lá de interessante. A 2ª temporada estreou hoje e você definitivamente precisa assistir.

    Disque Amiga Para Matar teve a sua primeira temporada em maio de 2019, e apresentou a história de amizade entre Jen Harding ( Christina Applegate), uma corretora de imóveis e Judy  Hale ( Linda Cardellini), professora de oficina de artes em um asilo, que se conheceram em um grupo de apoio a pessoas que estão enfrentando o luto. Jen, que ficou viúva após o marido Ted ser atropelado  por um motorista que nem sequer prestou socorro, vive agora obcecada em encontrar o assassino de seu marido, e vê em Judy um ombro amigo, já que ela em primeiro momento se identifica como viúva também, fato que é desmentido logo no primeiro episódio quando conhecemos o seu ex-noivo Steve Wood (James Marsden).

    O mistério envolvendo a aproximação e o interesse que Judy tem por Jen e seus dois filhos são apresentados em flashbacks durante o decorrer da série, e não demora muito para percebemos que há algo de errado nisso. Mesmo com a amizade sendo nova, Judy acaba indo morar na casa da piscina e antigo estúdio do marido de Jen,  e a série segue se desenvolvendo ao mostrar o crescimento da amizade entre as duas, falando sobre o luto de uma forma diferente, e apresentando Judy como a assassina de Ted, tendo como cúmplice Steve.

    Disque Amiga Para Matar
    Disque Amiga Para Matar | Netflix

    Deixando os filhos de Jen em segundo plano durante a primeira temporada, a série se construiu bem ao apresentar a personagem como mãe e profissional. Contendo bastante ironia durante a season finale, não faltou motivos para o publico pedir uma segunda temporada. O roteiro bem escrito e a  ótima atuação das protagonistas são um show a parte, tendo até indicação da Christina Applegate ao Emmy, a forma como o suspense aumenta e a comédia é deixada de lado em alguns episódios nos deixa ainda mais curiosos e aliviados por terem dado continuidade a história.

    O que esperar da segunda temporada?  Sem tantos spoilers, Eu diria que como a primeira, a segunda vai te fazer pedir por mais e mais, é o tipo de série que nunca vence, e que nos prende de uma maneira que nos envolve na história, desejando que ela nunca acabe. O crescimento dos personagens é visto perante seus atos, trazendo a tona o amadurecimento tanto na relação quanto no individual de cada um.

    A segunda temporada mostra as duas amigas enfrentando os desafios e se envolvendo em mais escândalos após o incidente sangrento do ultimo episódio da primeira temporada, apresentando Judy e Jen fortalecendo seus laços, sem conseguir fugir das confusões e tendo que lidar com mais mentiras envolvendo suas vidas. Além disso, podemos ver Jen lidando bem com o papel de mãe, dando mais atenção aos seus filhos, que ganharam mais espaço na nova temporada e que não conseguiram ficar de fora de toda essa bagunça.

    Disque Amiga Para Matar
    Disque Amiga Para Matar | Netflix

    Com a aparição de novos personagens, as duas lutam ainda mais para manter a verdade dos acontecimentos só entre elas, o que parece difícil tendo a policia e curiosos interessados em desvendar todos os mistérios.

    Não é atoa que Disque Amiga para Matar tem sido bem recebida pelos críticos, é uma abordagem diferente para o assunto, impecável nas reviravoltas e no seu desenvolvimento. A atuação é ímpar, o profissionalismo das atrizes é impressionante, o que não é novidade vindo da Christina Applegate  e Linda Cardellini. Agora, o que nos resta é esperar ansiosamente por uma continuação á altura, sem perder a essência e a acidez.

    A segunda temporada já está disponível na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Resgate

    Resgate, nova produção de ação da Netflix garante mais um filme de sucesso no currículo do astro Chris Hemsworth, que já é conhecido pelo grande público por ser o Deus do Trovão no Universo Marvel. Com o roteiro escrito por Joe Russo , que por sua vez também é figurinha carimbada dos filmes de heróis.

    Ovi Mahajan mesmo trancado em um presídio continua sendo o maior traficante da Índia, e quando seu filho é sequestrado, por Amir Asif, um poderoso rival de Bangladesh, o mercenário Tyler Rake (Hemsworth) é contratado para realizar o resgate. Tarefa essa que não será fácil, já que Amir tem uma grande influência  na cidade de Dhaka, controlando a polícia e o exército local, promovendo um verdadeira caçada cujo único objetivo é eliminar os alvos de qualquer maneira.

    A trama se complica ainda mais quando a equipe de Rake percebe que não receberam o pagamento pelo serviço, e que Saju, um membro da organização criminosa de Ovi está envolvido diretamente nesse esquema, pretendendo eliminar os mercenários e resgatar o refém sozinho. Após um conflito com o capanga, e inúmeros membros das forças policiais, Rake se encontra sozinho em uma cidade fechada e cercada de inimigos por todos os lados.

    Crítica | Resgate
    Resgate | Netflix

    A estética do filme, segue o padrão estereotipado norte-americano de retratar lugares que julgam ser quentes e subdesenvolvidos com uma fotografia que exagera na saturação de suas cores. Isso infelizmente é um clichê comum, países como México sofrem com essa padronização, sendo representados em cenas onde o ambiente tem a predominância da cor amarela ou laranja.

    Comandado pelo diretor de primeira viagem Sam Hargrave, que anteriormente trabalhou como dublê, e mais recentemente, como coordenador de dublês em diversos filmes da Marvel. Toda essa experiência é o que faz a diferença na realização do projeto, quem tem como ponto principal as sequências de ação, que são muito bem coreografadas e filmadas com planos abertos, onde nenhum movimento se perde e toda ação é entregue ao espectador. Cenas essas que não seriam tão precisamente executadas se não partissem de alguém com habilidades e um olhar técnico, possível de enxergar além de cenas padrões.

    Essa tendência de filmes, que nos contam uma história de um matador imparável não é nenhuma novidade, mas com toda certeza a franquia de filmes John Wick, estrelada por Keanu Reeves, em especial o primeiro filme da franquia, lançado em 2014 é a fonte de onde o longa de Hargrave mais se inspira. Em ambos os projetos os diretores fizeram sua estreia na direção, e anteriormente trabalharam na indústria como dublês e coordenando outras equipes, até mesmo o começo de ambos os filmes são idênticos, onde o protagonista é apresentado pela primeira vez, completamente ensanguentado e machucado, se lembrando de tudo o que aconteceu até chegar em sua situação atual.

    Crítica | Resgate
    Resgate | Netflix

    O longa ainda consegue remeter a outro filme quando aborda o assunto da criminalidade infantil, é impossível não fazer uma associação com o Cidade de Deus, filme dirigido por Fernando Meirelles que faz um retrato do submundo do crime organizado, elemento esse que é bem trabalhado com o grupo de crianças que também sofre com a influência  de Amir em suas vidas, já que o traficante consegue manipular todas as esferas da sociedade. No fechamento das contas, Resgate consegue se consolidar como uma produção de alto nível, com excelentes aspectos técnicos e o desenvolvimento cada vez mais inventivo e aprimorado de maneiras de se filmar cenas de ação, esse gênero do cinema fica cada vez mais forte, na medida que diretores com experiência em realizar cenas complexas ganham cada vez mais destaque, e assumindo a frente de grandes produções.

    Nota 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Ricos de Amor

    Crítica | Ricos de Amor

    A Netflix é expert em produzir comédias românticas e isso não é novidade pra ninguém, em maio ela trouxe a produção nacional Ricos de Amor para o seu catálogo, uma comédia romântica com abordagens curiosas e que não foge dos clichês que adoramos assistir.

    Ricos de Amor conta a história de Teto ( Danilo Mesquita), filho de um rico empresário do ramo de tomates chamado Teodoro ( Ernani Moraes), mais conhecido como o “Rei do Tomate”. Teto, acostumado com farras e mulheres que ele consegue por ter o título de “Príncipe do Tomate”, vê a sua vida se transformar quando conhece Paula ( Giovanna Lancelloti), uma jovem residente de medicina que está totalmente focada nos estudos. Apaixonado, Teto decide esconder as suas raízes, fingindo ter uma origem humilde e, aproveitando a mentira, ele troca de lugar com o seu melhor amigo Igor ( Jaffar Bambirra), para tentar uma vaga na empresa de seu pai, sem a interferência de seu sobrenome.

    A história se desenrola com a jornada do protagonista ao tentar demonstrar que consegue sim se passar por alguém humilde, mas que não tem conhecimento nenhum na área de marketing, pela qual ele concorre na empresa do pai, e que mal sabe usar uma impressora.

    Ricos de Amor
    Ricos de amor | Netflix

    Apesar do começo do filme nos apresentar a ideia de mudança nos valores internos do protagonista,  essas questões são deixadas de lado na maior parte do filme, onde vemos o seu desenrolar como casal ao lado de Paula, e o seu envolvimento com outros personagens, dando a entender que ele só é um cara de bom coração, e que o dinheiro que ele tem não o tornava uma pessoa ruim.

    O filme aborda assuntos como assédio no trabalho, nos fazendo acreditar que alguma medida sobre isso fosse tomada, porém, apresenta cenas com tom de comédia em cima do assunto, dando um final tosco para o assediador, sem nenhuma lição de moral.

    Uma coisa que chama a atenção é o desenrolar da vida de Igor, melhor amigo do Teto e filho do caseiro da fazenda da família Teodoro , que sonhava em entrar numa faculdade do Rio de Janeiro, e acaba se passando pelo melhor amigo dentro da empresa e tendo um caso com a recrutadora Alana ( Fernanda Paes Leme), que aborda Igor (como Teto), e aproveita da boa vontade do rapaz do interior com interesse pelo seu dinheiro e fama de pegador, mas que no final acaba se apaixonando por ele mesmo sabendo que tudo não passava de uma mentira.

    Ricos de Amor
    Ricos de Amor | Netflix

    Mesmo sendo uma comédia romântica e tendo alguns clichês, parece que a comédia toma conta da trama, tendo algumas tiradas em meio aos diálogos e contendo  atuações um tanto quanto toscas. O final é extremamente fraco baseado na história que poderia ter sido desenvolvida de uma maneira completamente diferente, não souberam aproveitar bem o carisma que o casal principal tinha, e não soube levar a história que foi apresentada nos primeiros 30 minutos de filme.

    Ricos de Amor apesar de não ser uma obra prima, é uma comédia romântica boa, ela funciona bem ao lado da trilha sonora composta só por músicas do dj Alok, e por conter uma história que chama bastante a atenção do público jovem, lembrando até filmes como Hannah Montana – O filme. É  um filme que contem brasilidades, uma ótima opção pra assistir no fim da tarde com a família, o tom de comédia que acompanha a trama inteira deixa o filme leve e fácil de assistir, mesmo com pontos não tão bons.

    Ricos de Amor está disponível no catálogo da Netflix.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer :

  • Crítica | Manifest – 1ª Temporada

    Crítica | Manifest – 1ª Temporada

    Estreando  em 2019 no Brasil com exclusividade pelo Globoplay,  Manifest vem chamando a atenção do público na sua primeira temporada por se assemelhar a Lost no número de mistérios que rondam a trama.

    Manifest ( ou Manifesto: O mistério do voo 828) produzida por Jeff Rake e Robert Zemeckis, agira em torno de um mistério que envolve o desaparecimento de um avião por cinco anos e meio, e acaba reaparecendo com todos os passageiros intactos e com nenhum sinal de envelhecimento aparente. Apesar de passados cinco anos, aqueles que estavam no avião não sentiram essa passagem de tempo, tampouco se deram conta do que havia acontecido, ao contrário das pessoas que viviam aqui embaixo.

    Em primeiro momento somos apresentados á família Stone, Michaela Stone (Melissa Roxburgh) é uma jovem policial, que estava de férias na Jamaica com a família afim de espairecer sobre os recentes acontecimentos envolvendo a morte da sua melhor amiga e o pedido de casamento proposto por seu namorado. Enquanto esperavam o voo para casa, os Stones foram informados de que haviam vagas para o voo 828 com destino a Nova York, e como recompensa os passageiros receberiam 400 dólares. Michaela então decidiu aceitar a proposta, e seguiu acompanhada pelo seu irmão Ben Stone (Josh Dallas)  e seu sobrinho Cal ( Jack Messina), deixando para trás seus pais, sua cunhada Grace ( Athena Karkanis) e sua sobrinha Olive (Luna Blaine).

    Manifest
    Manifest | Globoplay

    Independente do voo durar somente quatro horas e de não ter acontecido nada fora do normal durante a viagem além de uma turbulência, os pilotos acabam encontrando uma certa dificuldade em pousar a nave, e ao tentar foram informados de que seriam recebidos pelos policiais, e é ai que o mistério começa. Ao desembarcarem, os passageiros e a tripulação foram recebidos com a informação de que o voo teria desaparecido do mapa, e que cinco anos haviam passado desde a decolagem. Apesar do enorme susto, os encontros com os familiares aconteceram rapidamente, e junto dele o baque pelos anos perdidos, testes foram feitos e logo os passageiros foram liberados para retomarem as suas vidas.

    Apesar de todo o mistério envolvendo o sumiço do avião, o que mais chama atenção na trama da série é a ligação que os 191 ocupantes do voo desenvolveram entre eles, fazendo com que tivessem chamados estranhos vindo de vozes dentro de suas cabeças, além de aparições de imagens estranhas. Esses fatos acabam levando os personagens a desvendarem mistérios uns sobre os outros, além de terem que lidar com uma realidade diferente da qual estavam acostumados.

    Manifest
    Manifest | Globoplay

    Seria Manifest o novo Lost? Apesar da trama chamar bastante atenção dos fãs de Lost por tratar de assuntos que vai além do conhecimento humano, a falta de aprofundamento em alguns assuntos e o mal desenvolvimento e esquecimento de alguns personagens acabam deixando a série um tanto quanto desgastante e confusa. A quantidade de plot twiste e uma bagunça nos acontecimentos acabam fazendo a série se perder no final da primeira temporada. Mesmo não tendo sido lançada ainda no Brasil, a segunda temporada tem arrancado elogios da crítica por finalmente responder algumas questões que ficaram em aberto na primeira, e logo no começo do ano foi confirmada a terceira temporada, então podemos esperar ainda mais muitos mistérios envolvendo esse voo.

     Manifest, apesar dos pesares, é sim uma série boa, dando aquela sensação de blowmind no decorrer dos episódios,  que nos prende ainda mais nos acontecimentos e mistérios a ponto de nos fazer questionar sobre o desconhecido e sobre a ligação que temos uns com os outros, além de todo o drama envolvendo os protagonistas.

    A primeira temporada completa está disponível no catálogo do Globoplay.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Todas as Mulheres do Mundo – 1ª Temporada

    Crítica | Todas as Mulheres do Mundo – 1ª Temporada

    O Globoplay vem recheando o seu catálogo com produções brasileiras e séries originais. Todas as Mulheres do Mundo é uma série intensa como a vida, apaixonante e inspiradora.

    Todas as Mulheres do Mundo estreou dia 24/3 no Globoplay, a série foi baseada na obra do dramaturgo e cineasta Domingos Oliveira (1936-2019), que dirigiu o filme em 1966, tornando-o um grande clássico do cinema brasileiro.  Já a série foi escrita pelo autor Jorge Furtado, que fez uma releitura adaptada aos dias atuais, com direção artística de Patricia Pedrosa, segunda parceria entre o autor e a diretora de arte, que  já haviam trabalhado juntos na série Mister Brau.

    Todas as Mulheres do Mundo
    Todas as Mulheres do Mundo | Globoplay

    Cada episódio conta uma história de amor diferente. Apesar da trama simples, ela junta Paulo com mulheres livres, talentosas, inteligentes, autênticas e que estão além do padrão estético de beleza impostos pela sociedade, e ele se apaixona por todas elas. A diversidade do mundo feminino acaba se tornando a proposta central do seriado, o que nos chama ainda mais atenção nos dias de hoje, onde questões como a quebra dos padrões são discussões frequentes. O elenco é de dar inveja a qualquer diretor, contando com nomes como Martha Nowill, Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres, Lilia Cabral, Maria Ribeiro, Fabio Assunção, Felipe Camargo, Maeve Jinkings, Naruna Costa, Verônica Debom,Ícaro Silva, Priscila Rozembaum entre outros.

    Além de toda a história que é apaixonante por si só , a fotografia maravilhosa quase que monocromática acompanhada da excelente trilha sonora nos deixa ainda mais fascinados pela série. Somos levados por cada detalhe que acaba nos hipnotizando, apresentando a poesia que é o cotidiano, o amor, a vida e a morte, além do humor inteligente.

    Assim como cada episódio nos apresenta uma mulher diferente, há uma mudança na abetura. Com trilha sonora exclusivamente feminina, a abertura conta com 11 intérpretes para a canção “Carinhoso” de Pixanguinha, sendo interpretada por Marisa Monte no primeiro episódio. A sugestão de trazer outras cantoras – aclamadas e novos talentos- partiu da própria Marisa, ideia que trouxe uma beleza a mais para a série.

    Todas as Mulheres do Mundo
    Todas as Mulheres do Mundo | Globoplay

    São 12 capítulos de puro amor, delicadeza e beleza. A poesia está presente em todas as musicas, cenários, diálogos, e na forma em que a história se constrói e se desenvolve. A série nada mais é do que uma homenagem á essência de Domingos, trazendo as questões feministas que já eram levantadas por ele em plena década de 60. Antes de morrer, Domingos foi consultado e pôde ajudar no desenvolvimento do roteiro da série.

    Todas as Mulheres do Mundo é emocionante, acolhedora, bonita, gostosa de assistir, verdadeira em várias questões sobre relacionamentos e sexualidade, mostra o poder e a variedade feminina, a infantilidade do homem “maduro”, trás reflexões filosóficas sobre a vida e o amor, além de ser uma ótima pedida em dias de confinamento como esses que estamos vivendo. Ainda não temos informações sobre uma continuação, mas com uma história tão completa como essa, não tem como não se sentir satisfeito com o que é apresentado,

    A primeira temporada completa está disponível no Globoplay.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Ilha de Ferro – 2ª Temporada eleva o drama dos protagonistas

    Crítica | Ilha de Ferro – 2ª Temporada eleva o drama dos protagonistas

    Lá em 2018, uma série brasileira chamou atenção pela qualidade dos efeitos especiais e uma história ambientada numa plataforma petrolífera. Com rostos conhecidos, como Klebber Toledo, Cauã Reymond e Sophie Charlotte, Ilha de Ferro encerrou seu primeiro ano firmando sua narrativa nos conflitos emergentes e traumas de seus personagens. Dessa vez, a 2ª temporada, logo de cara, é uma explosão de ação, personagens novos e passados obscuros.

    Esse texto pode conter spoilers sobre a primeira temporada da série.

    Sobre a 2ª temporada de Ilha de Ferro:

    Depois da prisão de Bruno (Klebber Toledo), Dante se tornou chefe da plataforma PLT-137, só que as pressões da vida o transformam numa pessoa controladora. Num ambiente isolado como seu local de trabalho, não demora muito para o clima de bomba relógio explodir, onde um incidente faz seu caminho cruzar com a psiquiatra Olivia (Mariana Ximenes), determinada a fazê-lo enfrentar os problemas. Para completar, Júlia (Maria Casadevall) retorna para balançar seus sentimentos e atrapalhar as ambições do irmão, Diogo (Eriberto Leão), presidente da Federativa.

    Ilha de Ferro 2ª temporada
    Ilha de Ferro / Globoplay

    Sempre será um grande desafio criar um novo ciclo de uma série. É preciso dar continuidade aos dramas dos personagens, evoluí-los e movimentar a trama de forma coerente. Disponível no serviço de streaming do Globoplay, a 2ª temporada de Ilha de Ferro conta com 10 episódios.

    O novo capítulo de uma história é refém da expectativa dos fãs, assim como detém a obrigação de apresentar algo diferente. Mas, o que acontece quando o “novo” é apenas uma reformulação daquilo que já foi apresentado? Repetir fórmulas narrativas, em muitos casos, pode dar certo, claro! Mas, às vezes, pode ser um tiro no pé.

    A todo custo, Ilha de Ferro briga para evidenciar tramas inéditas, quando na verdade elas acabam sendo uma releitura daquilo que já assistimos.

    Começando com picos de ação, o primeiro contato com a nova temporada é a descoberta da passagem do tempo. Séries, filmes e novelas já utilizaram esse recurso, ora para engrandecer o roteiro, ora para criar desfechos sem propriamente “mostrá-los”. Portanto, uma passagem de tempo pode ser uma via de mão dupla, beneficiando ou prejudicando o enredo.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Em Ilha de Ferro, passaram-se, aproximadamente, três anos desde que a plataforma PLT-137 foi sequestrada e salva por Dante e os demais petroleiros. Paradoxalmente, tal passagem de tempo torna-se algo positivo e negativo para a trama.

    Os anos decorridos acabam apagando os “porquês” de alguns personagens estarem em determinado ponto. Tentam até usar isso como forma de despertar nossa curiosidade, acerca de como eles foram do ponto A ao ponto B. No entanto, tudo soa como uma desculpa para criar uma falsa “evolução de personagem”. Mais uma vez, os coadjuvantes ficam à mercê dos protagonistas para terem importância. Outro ponto, é que a passagem de tempo não afetou em nada as coisas na plataforma, que está sob a direção de um Dante mais truculento que o “normal”.

    Leona (interpretada por Sophie Charlotte) foi o grande destaque da 1ª temporada. Cheia de camadas, a atriz foi até o fim para entregar uma performance digna de aplausos. E o que acontece? O roteiro se desfaz da única personagem em terra firme que conseguia se destacar até mais que as figuras presas na plataforma de petróleo. Encerrando o arco dela com o cliché da “carta de adeus“, a trama continua, sem nem ao menos apresentar como isso se sucedeu.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Por outro lado, o salto de três anos apresenta uma nova face de Bruno, vivido pelo ator Klebber Toledo. A vida do ex-piloto de helicóptero, se resume a uma cela de prisão. Encarcerado e vestindo o “manto do arrependimento“, Bruno se torna um homem religioso. Deixando a ganância, a inveja e a sede por dinheiro para trás, o que alimenta sua esperança, além da fé, é conseguir o perdão de seu irmão Dante (que criou a própria sobrinha como filha). Mais uma vez, Klebber entrega uma atuação forte, mesmo com pouco tempo em tela.

    O protagonista Dante, vivido por Cauã Reymond é domado por sua “agressividade”, transformando-se num líder antiético e violento; se é que podemos chamá-lo de “líder”! Vivendo sua vida no piloto automático, o personagem fica estagnado na linha do “macho alfa”. O pecado do roteiro é sempre colocá-lo para “salvar o dia”, rotulando-o como o herói da plataforma, mas suas ações se mostram tão tóxicas como uma porção de petróleo que cai no mar e afeta a natureza. A impressão que fica é que a essência do protagonista se perdeu no caos da narrativa.

    O texto utiliza alguns momentos para pincelar discussões políticas, como a polêmica ao redor da privatização das empresas estatais. Com personagens berrando aos quatros ventos “O PETRÓLEO É NOSSO!“, fica claro a cutucada nas entrelinhas. A temática teve uma breve passagem na primeira temporada, a diferença é que desta vez ela ganha mais espaço através de Diogo (Eriberto Leão).

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Destrinchando o pensamento de que “nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio“, frase do filósofo John Donne, o diretor Afonso Poyart (cineasta responsável pelo longa Dois Coelhos) reforça na interação entre os personagens que, mesmo no isolamento, os seres humanos necessitam da convívio social. Até mesmo os moradores que utilizam a Ilha de Ferro como “refúgio”, dependem um do outro. No fim, são os traumas e as falhas que criam laços entre eles.

    Novos personagens precisam ser exatamente o que eles são: novos personagens! Precisam vir acompanhados de novos arcos, conflitos e backgrounds. Por mais que existam diferenças entre algumas figuras da trama, o que se percebe é que o roteiro fez uma “substituição”. Olivia (Mariana Ximenes) está para Júlia (Maria Casadevall), assim como Playboy (Erom Cordeiro) está para Bruno (Klebber Toledo).

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    A previsibilidade é tão grande, que antes mesmo da Olivia conhecer o personagem de Cauã Reymond, fica nítido que os dois terão um relacionamento; sendo ela a nova “Júlia” na vida do estressado Dante.

    Ilha de Ferro encerra sua 2ª temporada de forma cansativa. A impressão que fica é que as ideias chegaram ao fim perante a regra de ambientá-las na plataforma petrolífera. O segundo ano da produção entrega mais ação, mais dramas e conflitos, mas o custo disso é um desgaste na história.

    Com um enredo que divide o tempo de tela entre a frenética e hostil plataforma de petróleo e a terra firme, focando em alguns poucos personagens, a nova temporada busca usar novos elementos, mas que no fundo são apenas uma “reciclagem” daquilo que já assistimos na temporada anterior. O que suaviza esse tropeço são as principais atuações, que salvam a história do começo ao fim.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    Confira a crítica da 1ª temporada clicando aqui.

    Veja também: Crítica | O Poço – A Apoteose do Comportamento Humano.

  • Crítica | Castlevania

    Crítica | Castlevania

    Série da Netflix é uma das raras adaptações de games bem-sucedidas!

    Em 2017, a Netflix nos brindou com o seu novo projeto: uma adaptação em formato de série do game Castlevania. Logo, a notícia tomou conta das redes sociais, despertando uma expectativa, tanto positiva, quanto negativa.

    “Coragem” é a primeira palavra que vem a minha mente, quando descubro que uma franquia de jogos ganhará vida no cinema ou na TV; os idealizadores de uma adaptação precisam ser corajosos, antes de qualquer coisa! Nos últimos anos, tivemos experiências traumáticas (desculpa abrir essa ferida!), mas preciso relembrar os terríveis Warcraft – O primeiro encontro de dois mundos, Street Fighter – A última batalha e o bizarro Super Mario Bros.

    Em contrapartida, Sonic – O filme, Terror em Silent Hill e Príncipe da Pérsia: As areias do tempo são exemplos das poucas adaptações que conseguiram se sobressair, entregando algo aceitável.

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    Castlevania / Netflix

    A mais nova produção a ocupar espaço no rol das “boas adaptações” é Castlevania. Mesclando fantasia e horror, a história narra como o último membro de um clã de caçadores de monstros, Trevor Belmont, une forças com Alucard e Sypha para impedir que o temível Conde Drácula cause a extinção da humanidade.

    O Roteiro

    Warren Ellis, escritor de quadrinhos (já trabalhou para DC e Marvel), conduz o
    roteiro com muita originalidade. Nada de vampiros superficiais, heróis bondosos
    e tramas fáceis. A medida que a história avança, o cenário torna-se mais
    caótico, com profundas reviravoltas e diálogos filosóficos.

    A ambientação medieval eleva o enredo, com cenários que não são apenas um “pano de fundo” na série. O comportamento dos civis, em um período sombrio, representa o lado mais obscuro do homem. Indo além, o texto coloca em evidência a hipocrisia religiosa e seu domínio cruel, como determinar que algumas mulheres eram “bruxas” e a repulsa pela ciência, resumida a bruxaria.

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    Castlevania / Netflix

    Não é apenas o misterioso castelo de Drácula que possui suas particularidades, Valáquia, muitas vezes, é mais sombria que as criaturas demoníacas que invadem o local.

    Sem medo de abraçar o lado “gore“, Warren consegue representar a fome vampiresca na sua forma mais bruta: sangue, vísceras, mutilações e qualquer outra coisa que possa embrulhar o estômago.

    O grande triunfo do roteirista é valorizar as subtramas, através de personagens coadjuvantes que crescem ao longo da história. Isso é visto nos primeiros episódios, quando Lisa, a mulher de Drácula, ganha mais tempo em tela, do que nos jogos. Ela não é apenas a “motivação do vilão”, ela é uma personagem que sintetiza a esperança humana, mostrando que até nos monstros mais poderosos existe “bondade“.

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    Castlevania / Netflix

    As temporadas de Castlevania

    Quando terminei a primeira temporada, o sentimento que dominou minha mente foi “revolta”. Isso serve como uma insatisfação e um elogio. Com apenas 4 episódios, a temporada inaugural de Castlevania é uma apresentação dos personagens centrais da trama; em outra palavras, é como se o primeiro ano da animação fosse em prólogo. Sem pressa, cada episódio se concentra em mostrar os protagonistas e O Grande Antagonista.

    No final, fica aquela sensação
    de “como assim, já acabou?!“. É nítido o perfil introdutório
    da temporada 1, motivando nossa ânsia em descobrir os rumos que a história
    tomará. Na mesma proporção, a impressão que fica é que a animação foi “cortada”
    pela metade, e que os episódios foram remanejados para a temporada seguinte.

    Sem mais delongas, a 2ª
    temporada de Castlevania é a mais promissora. Isso se deve ao excelente
    desenvolvimento da mitologia daquele mundo sombrio, enquanto o roteiro adiciona
    personagens secundários interessantes, como Carmilla e os dois humanos: Isaac
    e Hector. Surgem, também, os generais de Drácula, apesar de
    alguns ficarem nas sombras e nem sequer falar um “a“.

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    Castlevania / Netflix

    Enquanto o trio Alucard,
    Trevor e Sypha arquitetam um plano para derrotar o vilão, a
    história ganha mais forma do outro lado, com alianças, traições e manipulações
    políticas. A evolução de Drácula é regida pelo Luto; esse é o pior
    inimigo dele, afinal, lidar com a morte de sua mulher e enfrentar o “seguir
    adiante
    ” não são tarefas fáceis para um imortal.

    Com incríveis batalhas, o segundo ano da animação detém os melhores arcos narrativos. O desfecho, no entanto, deixa algumas pontas soltas, que nos catapultam para o terceiro ano da série.

    Dando mais tempo de tela para personagens secundários, e assumindo as rédeas criativas, ao criar conteúdo além do material original, a 3ª temporada da série possui um ritmo mais lento, com pouca ação e mais dramas. Acompanhamos o novo capítulo dos protagonistas, agora separados, enquanto vampiros e humanos ganham força para desafiar a ordem natural das coisas. E o término deixará você sedento por uma 4ª temporada, que aliás, foi confirmada recentemente pela Netflix!

    Os personagens

    Sem frases de efeitos, sem gargalhadas ou grandes demonstrações de poderes, Drácula é um antagonista complexo, que foge de uma releitura clichê do personagem. Conhecemos, primeiramente, como o amor dele por Lisa se transformou em uma jornada de ódio e vingança contra a raça humana.

    Quando o foco muda para Trevor, o enredo utiliza os diálogos entre personagens secundários para sutilmente nos entregar o passado da último caçador de monstros do clã Belmont. Todo o carisma dele é construído sobre uma personalidade irresponsável, ranzinza e destemida.

    Netflix: Castlevania

    Castlevania / Netflix

    Sypha
    aparece pouco na primeira temporada, mas suas habilidades de magia enchem
    nossos olhos. Com movimentos de mãos a lá Doutor Estranho, enxergamos
    nela a típica maga de um RPG. Somente na 2ª temporada que ela obtém uma melhor
    desenvoltura, tanto na ação, quanto no drama.

    Alucard (nome “espelhado” em seu pai) chega nos 45 do segundo tempo, mostrando que classe e etiqueta podem ser visíveis em um combate! Ele é um ser híbrido, filho de Drácula e Lisa. Preso nas amarras dramáticas do roteiro, ele é o personagem que mais agrega peso na história, ao tomar escolhas que envolvem vida e morte.

    série Castlevania

    Castlevania / Netflix

    Talvez, a Netflix se torne a nova precursora de adaptações de games em formatos de séries, um mero palpite baseado no vindouro projeto da franquia de jogos de Resident Evil e na futura série de Devil May Cry.

    Expandindo o mundo além do material original e mantendo a qualidade, Castlevania é uma porta aberta para as adaptações de games, que muitas vezes ficam à mercê de filmes que decepcionaram. Se você ainda não conhece esse mundo sombrio, cercado de criaturas infernais, ainda dá tempo de “maratonar” as três primeiras temporadas e aquecer para a quarta.

    Castlevania é muito mais que uma história de vampiros, é uma representação da linha tênue que separa homens e monstros.

    Nota: 4/5

     

    Assista ao trailer:

    Veja também: O Poço | Diretor explica final do filme.

  • Crítica | Um Amor, Mil Casamentos

    Crítica | Um Amor, Mil Casamentos

    Partindo da ideia de que uma festa de casamento pode acabar de muitas maneiras, Um  Amor, Mil Casamentos é a nova aposta da Netflix, uma comédia romântica cheia de reviravoltas e um tanto quanto tragicômica.

    Um Amor, Mil Casamentos é uma das novidades do catálogo da Netflix no mês de abril, e se tornou uma das produções mais assistidas na última semana, estando no Top 4 da plataforma no Brasil. Dirigida e escrita por Dean Craig, o romance apresenta uma história um tanto quanto conhecida.

    O romance é um remake do filme francês Plan de Table (2012), e conta a história de Jack (Sam Claflin) e Dina (Olivia Munn), que se conhecem durante uma viagem á Europa, onde ambos foram visitar a irmã de Jack, Hailey (Eleanor Tomlinson). Por um acaso do destino, os dois acabam não engatando um romance logo de cara.

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    Um Amor, Mil Casamentos | Netflix

    Vemos um salto de três anos, e os dois se encontram como se o universo tivesse dado mais uma chance para o amor. O evento que juntou os dois novamente no mesmo lugar foi o casamento de Hailey, em Roma. Ainda apaixonado, Jack decide que irá fazer de tudo para conquistar Dina, porém, como um bom irmão da noiva, ele acaba tendo que assumir algumas responsabilidades, o que acaba impossibilitando a sua presença constante ao lado de sua pretendente.

    O acaso, bastante presente nessa história, acaba desenrolando uma série de fatores em que, ao mudar a disposição da mesa do jantar da cerimônia, as coisas começam a dar errado na vida do nosso protagonista. E quando tudo parece perdido, o tempo volta, mostrando todos os caminhos que a história poderia tomar de acordo com as disposições diferentes que a mesa poderia ter.

    sam claflin e olivia munn em cena de um amor mil casamentos arquivo blasting news 2438577

    Um Amor, Mil Casamentos | Netflix

    Apesar da história em si chamar a atenção, somos quase que carregados por 1h40 de filme, que as vezes parecem uma eternidade. Algumas comédias românticas não funcionam e com certeza essa é uma delas. Vemos atores que atuaram maravilhosamente bem em outros papéis, e que neste filme são nada mais que protagonistas mal desenvolvidos e com histórias rasas. Sam Claflin é um ótimo exemplo disso, causando um desconforto ao tentar trazer carisma para um personagem quase que vazio, mesmo sendo o protagonista. A falta de química entre o casal é tão séria que quando eles finalmente se beijam, não sentimos emoção nenhuma.

     Com piadas muitas vezes  sem graça e puxando pra um tom sexual desnecessário, Um Amor, Mil Casamentos pode se tornar um tanto quanto chato de assistir, mas a mensagem final pode até ser levada em consideração: não se pode deixar uma oportunidade passar.

    Nota: 1/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Kakegurui – 1ª Temporada é uma aposta psicodélica para os fãs de anime

    Crítica | Kakegurui – 1ª Temporada é uma aposta psicodélica para os fãs de anime

    O universo dos animes vai muito além das lutas épicas, robôs gigantes ou a sina do protagonista que é o “Escolhido“. Diversas produções que fugiram destas fórmulas tornaram-se grandes sucessos, como Death Note, que mostrava lutas de estratégias e embates psicológicos. Seguindo a mesma linha, mas acrescentando toques de humor, suspense e loucura, a 1ª temporada de Kakegurui é uma viagem frenética e bizarra ao “mundo das apostas“. A grande sacada do anime é que a ambientação acontece numa escola de elite regida por um ranking de ganhadores e perdedores.

    Sinopse 1ª temporada de Kakegurui:

    Hyakkaou Private Academy é uma escola de elite que garante preparar os filhos das pessoas mais ricas do mundo para a vida real. De dia, ela é como qualquer outra instituição de ensino, mas à noite se transforma em uma casa de jogos e é aí que os jovens estudantes aprendem a importância de manipular as pessoas e o poder do dinheiro. Entre os alunos está a novata Yumeko Jabami, que diferentes dos outros, joga por diversão.

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    Kakegurui / Netflix

    Impossível existir uma única pessoa nesse mundo que não tenha assistido um anime sequer. Nos últimos anos, a indústria das animações orientais cresceu muito; basta relembrar as grandes produções, como Dragon BallNarutoOne Piece e Cavaleiros do Zodíaco. Indo contra uma estrutura já batida, Kakegurui é um anime baseado no manga escrito por Homura Kawamoto e ilustrado por Tōru Naomura. Com apenas 12 episódios, a 1ª temporada dublada está disponível na Netflix.

    Se a cidade de Las Vegas tivesse uma escola de apostas, com certeza seria a Hyakkaou Private Academy. Tornar o ambiente escolar o background narrativo é uma escolha criativa, ainda mais quando se utiliza a famosa “pirâmide de popularidade” de um jeito nada convencional.

    Nada de patricinhas ou garotos populares! O enredo mostra como os alunos (você pode trocar alunos por “apostadores viciados“) precisam manter seus status, para não se tornarem “bichinhos de estimação“, termo usado para se referir àqueles que perderam tudo e devem muito dinheiro. Uma alusão singular as classes superiores que controlam as classes inferiores.

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    Kakegurui / Netflix

    A pressão não são os trabalhos escolares, muito menos as notas. O foco do anime é nos fisgar para uma trama recheada de reviravoltas, esquemas de jogos de azar e seus infames “macetes”. Para tornar as coisas insanas, a quantia de dinheiro apostada nas partidas são absurdas, levando muitos estudantes a perderam tudo em segundos.

    Yumeko Jabami é o nome da protagonista, que de repente chega à escola e precisa se enturmar. A princípio, ela parece apenas uma novata que demonstra uma certa “curiosidade” sobre o sistema escolar movido por “jogatinas“. Seu novo colega, Suzui, se encarrega de mostrar como as coisas funcionam, alertando-a sobre os riscos. O que ele não esperava é que a estudante recém-chegada é uma jogadora compulsiva, capaz de ir até o fim numa partida.

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    Kakegurui / Netflix

    Com olhos de águia, Yumeko mostrará sua destreza ao enxergar as manobras ilícitas (as famosas “tramoias”) por trás de cada jogo. O roteiro possui um ritmo dinâmico, colocando a protagonista para enfrentar um desafio mais dificultoso que o anterior. É como se ela fosse a personagem badass de um jogo de vídeo game e em cada episódio tivesse um “Boss” para derrotar.

    Imediatamente, a escola passa a falar sobre a nova aluna e suas vitórias impossíveis. Todo esse burburinho chama a atenção do Grêmio Estudantil, formado por alunos que estão no topo da pirâmide escolar.

    O que eles não esperavam é que a novata não tem medo das consequências, e sua fome por apostas insanas é insaciável. Não existem vilões, tampouco mocinhos. Todos os personagens em Kakegurui falam apenas uma língua; a língua das apostas. Portanto, não se espante com alianças improváveis e os desafios incomuns nesta temporada.

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    Kakegurui / Netflix

    Algo importante precisa ser frisado: Kakegurui não é apenas um anime sobre jogos, cartas e dinheiro. Logo, você perceberá que o rumo da narrativa é a insanidade! Dinheiro não é tudo o que se pode colocar numa aposta, às vezes, pode ser um olho (literalmente!). A vida, o futuro e os sonhos são exemplos de moedas usadas na mesa de jogo.

    Os personagens vão sofrendo drásticas evoluções no decorrer das partidas. Yumeko é uma protagonista que sempre rouba a atenção para si. Infelizmente, a trama revela pouco sobre o passado dela, deixando alguns vestígios de um drama pessoal que desperta nossa curiosidade. Suzui é o que mais demora para ganhar destaque, mas algumas partidas colocará em sua mão o destino de muitos!

    Agora, a coadjuvante que se destaca é Mary Saotome, uma personagem movida pela raiva. No começo, nossa percepção é enxergar nela uma possível “antagonista”, mas a desconstrução que o enredo impõe sobre Saotome, sempre nos faz questionar a quem pertence sua lealdade.

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    Kakegurui / Netflix

    Um estudo chamado “psicologia das cores” afirma que a cor vermelha está associada a desejo, excitabilidade, dominação e sexualidade. Todos estes fatores estão presentes no enredo da 1ª temporada, que adota um visual predominado pelo vermelho. Isso faz de Kakegurui uma jornada psicodélica; uma visita a insanidade presente na mente dos apostadores.

    Expressões distorcidas e exageradas, olhos esbugalhados ou dominados por cores neons. Todos os alunos sofrem tal “mudança visual”, servindo ao propósito de expor a camada emocional com uma pegada mais “surreal”.

    Simbolizando o mundo das apostas como um banquete, a abertura é uma “viagem de ácido” que representa bem esse tom alucinógeno que a animação assume. Aumentando nossa tensão e brincando com o nosso lado Sherlock Holmes, a trilha sonora também abraça a excentricidade.

    A única falha do roteiro é que a maioria dos personagens parecem desequilibrados mentalmente. Algumas vezes, me perguntei se a escola, na verdade, não era um hospício! Algo que pode incomodar são alguns diálogos mais “didáticos”, afim de explicar as regras dos jogos. Todavia, tais infrações no enredo não atrapalham nossa sede em desvendar as artimanhas dos jogadores. É genuíno como o roteiro consegue nos prender no decorrer dessa 1ª temporada, episódio após episódio!

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    Kakegurui / Netflix

    Sabe-se que, atualmente, a atenção dos otakus está voltada para as animações que explodiram de audiência, e tornaram-se hits diante desse público. Yakusoku no Neverland, Dr. Stone e Kimetsu no Yaiba são referências de animes que estão fazendo muito sucesso. Mas, não é somente as grandes produções que merecem todo o destaque. Existem muitas histórias novas, como Kakegurui, que fazem do simples algo grandioso.

    Uma vez, a personagem Alice, enquanto estava perdida no país das Maravilhas, disse para o Chapeleiro que as melhores pessoas que existem são as loucas. Será? Para a protagonista de Kakeguruia loucura é essência da aposta“.

    Indo além do combate de egos, dinheiro e poder, Kakegurui é um anime ousado e diferente, mostrando que a insanidade de seu criador sempre é capaz de ir além. A grande ironia é que você ficará viciado na trama, assistindo os episódios sem pensar em parar. Com um enredo que parece uma sessão de hipnose, somos manipulados para jamais desgrudarmos nossos olhos da tela.

    E então, vamos apostar até a loucura?

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=HtaX4ejba-o

    Veja também: Crítica | Eu, a Vó e a Boi.

  • Crítica | Atração de Risco

    Crítica | Atração de Risco

    Longa independente realizado em uma co-produção entre Encripta e Perocini Filmes, “Atração de Risco”, novo suspense nacional, estreará no Brasil via streaming no dia 16 de abril e estará disponível em diversas plataformas digitais.

    Assinado pela dupla Renato Siqueira e Beto Perocini, responsáveis também por “Diário de um Exorcista”, o vindouro thriller psicológico “Atração de Risco” leva o telespectador em uma jornada na vida de Carlos, um publicitário bem-sucedido. Casado com Fabiana e à espera de um filho, eventos em sua empresa o levam a se relacionar com Jéssica, uma mulher misteriosa. Sem memórias do ocorrido, o protagonista se vê em uma situação sem saída quando sua família passa a ser atormentada pelo caso misterioso de Carlos e por seu marido, o ex-presidiário Rômulo, que desenvolvem uma obsessão doentia pelo casal e colocam a vida de todos ao redor em risco.

    Atração de Risco

    Atração de Risco / Perocini Filmes

    Realizado com investimentos privados, “Atração de Risco” foi produzido de forma 100% independente. Sem contar com qualquer tipo de incentivo de órgãos públicos, a dupla que assinou a direção do filme tem como marca registrada a produção de longas de qualidade feitos com recursos mínimos. Grandes defensores do cenário independente no Brasil, os dois ostentam a bandeira da constante e interminável luta pela conquista do espaço desse tipo de produção no território nacional.

    Com a proposta bem clara do plano de produção de suas obras, a ideia do vindouro filme surgiu após o sucesso de sua parceria prévia no terror da Netflix “Diário de um Exorcista”, cujo lançamento mundial alcançou 86 países e firmou a premissa da dupla e seu modo de trabalho, além de ter servido como inspiração para diversos produtores brasileiros e estrangeiros.

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    Atração de Risco / Perocini Filmes

    “Atração de Risco” é mais atraente por sua falta de recursos, assim como tantas outras obras feitas de forma independente. Sem poder contar com grandes efeitos especiais, com câmeras caras ou com cenários elaborados, o filme não tem onde se esconder e precisa desenvolver todos os seus aspectos técnicos com mais dificuldade, de forma que o resultado final demonstre realmente a qualidade de todos que trabalham na obra. A dedicação ao roteiro que irá a público faz com que a história contada se aproxime do cerne do que realmente é o cinema e transforma um arco “simples” em uma verdadeira obra cinematográfica.

    Muito mais do que apenas um filme independente, “Atração de Risco” é uma fuga do cinema contemporâneo realizado com grandes investimentos e da facilidade imposta por toda a tecnologia envolvida nesses processos. É um filme cru que se atira no abismo para entregar ao espectador o máximo feito com o mínimo e que se revela como um símbolo na luta diária dos produtores menores por reconhecimento e na dificuldade imposta pelo sistema para a realização de sua arte.

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    Atração de Risco / Perocini Filmes

    Apesar de não ser livre de defeitos, “Atração de Risco” é uma boa pedida para quem deseja conhecer um pouco mais do cenário cinematográfico independente e se afastar um pouco das grandes produções que dominam o mercado, tais quais Hollywood e a própria Globo. Interessante do início ao fim, o filme é uma faceta do cinema atualmente pouco conhecida pelo grande público que consume cada vez mais dos grandes estúdios.

    Feito para lançamento via streaming, o filme de Renato Siqueira e Beto Perocini tem estreia programada para o dia 16 de abril e estará disponível nas seguintes plataformas digitais: NOW, Looke, Google Play, iTunes, Vivo Play e Microsoft Store.

    Nota: 3/5

    Assista o trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=YolLYoxnPzw&feature=youtu.be
  • Crítica | O Poço é a apoteose do comportamento humano

    Crítica | O Poço é a apoteose do comportamento humano

    Produção espanhola original da Netflix, “O Poço” – dirigido pelo estreante Galder Gaztelu-Urrutia – surge como uma crítica social oportuna e arrasta questões filosóficas e socioculturais em uma trama fictícia que, na verdade, não foge muito à realidade.

    O Poço” conta a história de uma grande prisão em um futuro distópico. Distribuídos em uma torre, os reclusos são mantidos em um cárcere vertical onde vivem dois por andar. Conectados por um grande buraco central, os presos são alimentados por meio de uma plataforma que desce gradualmente os níveis da instalação. O sistema, na teoria justo, revela grandes problemas da vida na sociedade. Oferecendo, inicialmente, comida suficiente para alimentar todos os detentos da prisão, uma luta por sobrevivência tende a se iniciar quando os níveis superiores começam a levar muito mais comida do que o realmente necessário.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    No filme, os olhos do espectador são os olhos de Goreng (Ivan Massagué), o protagonista que, voluntariamente, entrou na prisão. Dentro do Poço, Goreng tem contato com o seu primeiro companheiro de cela e, assim, passa a conhecer a rotina do Centro Vertical de Autogestão – como definido pela administração local. Isolados do mundo e confinados em uma cela quadrangular, a rotina dos detentos – além de tentar sobreviver a contratempos impostos por outros presos – é esperar pela plataforma de comida a fim de realizar a única refeição do dia.

    Destroçada pelos indivíduos dos níveis superiores, a Plataforma costuma chegar quase sem mantimentos para os andares mais baixos e vazia para os últimos. Quanto mais baixo, mais próximo da morte e da insanidade. Contudo, a mística da estrutura da prisão possibilita a mudança mensal dos presos de andar, redistribuindo-os aleatoriamente. Dessa forma, todos os prisioneiros são testados nas mais diversas situações – condenados do nível 200 podem ser realocados para o nível 5, por exemplo – e, assim, podem gozar do acesso prévio à comida que lhes foi anteriormente negada.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    Sem nenhum beneficiado pela lógica da prisão vertical, a experiência do Poço é clara e objetiva ao demonstrar que os detentos de andares inferiores, ao serem realocados para cima, perpetuam o comportamento egoísta dos presos da instalação e procuram manter tudo para si – de forma a sempre faltar alimento para grande parte da população da estrutura. Ninguém é beneficiado, mas todos resistem às mudanças e se determinam a ter o máximo que podem enquanto têm o acesso prévio à Plataforma. Quem tem em abundância quer sempre mais, enquanto os que nada têm recorrem, muitas vezes, ao canibalismo. E, mesmo quando Goreng, o protagonista, se determina a mudar o modo de funcionamento do Poço, as “forças socioculturais” em ação tratam de constantemente derrubá-lo.

    Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”. A pirâmide social desenhada pelo Poço é bastante conhecida e a metáfora utilizada para representar os tempos atuais é forte. O filme disseca a estrutura socioeconômica do capitalismo e utiliza uma narrativa categórica para permear as características do sistema vigente – no qual os indivíduos do topo forçam as camadas mais baixas a, literalmente, se matarem por qualquer pedaço de comida ou fio de esperança. A condição humana e as relações de poder são desnudadas e colocadas à prova em um verdadeiro abismo social que faz aflorar o estado de natureza do homem e que bestializa cada ação do ser que se mostra egoísta frente às adversidades.

    Crítica | O Poço é a Apoteose do Comportamento Humano

    O Poço / Netflix

    “O Poço” é uma produção escapista, ficcional e simbólica, de modo que procurar sentido em cada ação do filme é uma tarefa incoerente. O surrealismo da trama, por conseguinte, é completamente horripilante quando o espectador, sob uma avalanche de emoções, consegue enxergar a própria realidade no cotidiano do Centro Vertical de Autogestão. Os devaneios presentes no filme são consideravelmente parecidos com a sociedade contemporânea e é por isso que o filme é um sucesso. A forma como tudo é contado é eficaz e implacável, de forma que um soco no estômago doeria menos.

    Nada em O Poço” é sutil. Porém, os tempos modernos também não o são. O pesadelo minimalista e imprevisível não hesita em mostrar a pior faceta do ser humano e mergulha fundo na tarefa de abordar as relações atuais. O horror é constante na produção de Galder Gaztelu-Urrutia e o ensinamento geral é evidente. Porém, assim como no final emblemático e metafórico do filme, a mensagem subliminar para o Poço e toda a sociedade é clara: esperança.

    Leia também:

    CRITICA | Sem a tensão do primeiro, O Poço 2 falha em conceitos básicos

  • Crítica | Ilha de Ferro – 1ª Temporada

    Crítica | Ilha de Ferro – 1ª Temporada

    A guerra de streamings foi declarada quando grandes nomes entraram na acirrada disputa. Disney+, Telecine Play e Amazon Prime são exemplos de empresas que observaram o sucesso que a Netflix alcançou, e decidiram investir nesse meio. Com a finalidade de abocanhar uma fatia desse mercado, a Globo entrou nessa disputa com o Globoplay, apostando, inclusive, em conteúdo original como a 1ª temporada da série Ilha de Ferro.

    O homem é capaz de se tornar uma ilha quando não encontra uma cura para as feridas emocionais. O filósofo Nietzsche escreveu “não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca”, tal frase sintetiza muito bem os dramas dos personagens de Ilha de Ferro. Os protagonistas Dante e Júlia, acostumam-se com a solidão, todavia a convivência colocará ambos em conflito.

    Sinopse 1ª Temporada de Ilha de Ferro:

    Dante é o coordenador de produção da PLT-137, uma plataforma petrolífera recordista de acidentes. Ele sonha em se tornar gerente do local, mas fica revoltado quando percebe que precisa competir com a recém-chegada Júlia pelo cargo. No entanto, é no meio dessa disputa que acaba surgindo uma paixão entre os dois capaz de mudar o rumo de suas vidas.

    1ª temporada Ilha de Ferro

    Ilha de Ferro / Globoplay

    O roteiro da série aproveita o cenário isolado e hostil para criar tramas que oscilam entre o drama e a ação. A produção é resultado das mentes criativas de Max Mallmann (criador da obra literária As mil mortes de César) e Adriana Lunardi (autora do livro A longa estrada dos ossos). Ambos fazem um trabalho convincente, mas alguns deslizes no enredo vão surgindo no decorrer dos 12 episódios da 1ª temporada. Uma edição mais rígida, com certeza, compactaria a série em 8 capítulos, tirando alguns excesso narrativos que não movimentam o plot.

    Não há problema algum quando uma história finca suas bases em dois gêneros. Quando bem feito, torna-se um recurso de saltar os olhos. O erro de Ilha de Ferro é fazer isso de forma desequilibrada. No início da série podemos ver com clareza a desigualdade da balança narrativa, que não sabe aprofundar algumas situações. Somente nos minutos finais que o drama ganha força e um cliffhanger nos catapulta para o próximo episódio.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Ilha de Ferro cria a todo momento novos conflitos. A pergunta é a seguinte: todos eles são necessários? Enquanto os personagens principais enfrentam guerras internas, os coadjuvantes recebem conflitos que não apresentam nenhuma consequência e são resolvidos de forma pífia. Um exemplo é o casamento organizado às pressas, mas desfeito por uma traição, para segundos depois a deslealdade ser perdoada. Tudo acontece em um único episódio sem relevância alguma. Veja, o problema não são os personagens; o grande defeito é o desenvolvimento superficial que colocam sobre eles.

    Há uma simbologia representada pelo roteiro, que merece todos os elogios. No decorrer da 1ª temporada fica nítida para o espectador que a plataforma petrolífera funciona como um refúgio para que alguns personagens fujam de seus fantasmas. Em outras palavras, é como se eles fossem náufragos por vontade própria. Sutilmente, o roteiro vai apresentando os monstros que habitam a terra firme e obrigam os personagens a tornar a Ilha de Ferro um abrigo.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    Quatro nomes se destacam na produção. Cauã Reymond assume muito bem sua função de protagonista. O ator tem um bom desempenho ao dar vida para o carrancudo e amargurado Dante; um líder nato que conquista nossa admiração através da química com as demais figuras da trama. Seu arco é recheado de traições, perdas e escolhas de vida ou morte. Está no olhar de Cauã a preocupação de seu personagem. Não podemos ver ou ouvir os gritos internos dele, mas podemos sentir.

    Maria Casadevall faz Júlia Bravo, a nova gerente da plataforma petrolífera. Um dos pilares da série, ela possui o melhor pano de fundo, despertando de cara nossa curiosidade para entender o que de fato aconteceu no seu misterioso passado. Às vezes, fria e rígida, outras vezes, corajosa e humana, sua personagem se reveste em uma casca de proteção e graças à atuação excelente da atriz, essa casca vai se quebrando e podemos visualizar as nuances de Júlia. O roteiro aproveita a força da personagem para discutir o machismo de forma nua e crua.

    Logo de cara, Sophie Charlotte usurpa todos os holofotes para si. A atriz faz um trabalho excelente na composição de Leona. Tudo é feito naturalmente: seu olhar, seu modo de falar e andar. Esse conjunto de detalhes fazem a atuação de Sophie se destacar. Ela nem precisa colocar seus pés na Ilha de ferro, uma vez que a câmera faz questão de evidenciar que o apartamento dela é “sua ilha”. Cada cômodo mostra como a personagem está confortável em seu eterno desconforto, presa com seus demônios, na companhia de seus gatos e seu amante que está em coma. É genial como as cores neons contribuem para ressaltar perturbação mental da personagem.

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    Sophie Charlotte como Leona em Ilha de Ferro / Globoplay

    Outra grande surpresa da 1ª temporada é o personagem de Klebber Toledo. Encenando como o imprevisível Bruno, ele passa metade da história de lado, mas a sua presença e atitudes passadas geram consequências para os demais. Não vou me estender muito sobre ele, pois estragaria a experiência. O que devo ressaltar é que sua atuação é tão impecável quanto a de Sophie Charlotte.

    A equipe de efeitos visuais ganham pontos a cada vez que visitamos a Ilha de Ferro, feita com muito esmero. Também é interessante como eles usam uma linguagem abstrata para representar os medos, anseios e desejos que estão na cabeça de cada personagem. O uso das cores e a performance dos atores submerge o passado de cada um.

    Um ponto negativo é que não existe um apelo visual que crie contraste entre a plataforma de petróleo e o continente. Uma pena, pois ambos os locais deveriam ganhar mais personalidade pelas mãos da fotografia.

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    Ilha de Ferro / Globoplay

    A missão da trilha sonora é cumprida. Tudo o que está na camada emocional da história chega até os nossos ouvidos de forma “agressiva”. A composição sonora remete a todo momento o sentimento mais predominante na série: a raiva. E além disso, as músicas com letras mais “corajosas” contam um pouco mais daquilo que está nas entrelinhas. A música de abertura “Heroes, kings and gods“, por exemplo, diz muito sobre os protagonistas: “Você achou o que você precisava? Ou era apenas uma busca interminável?“.

    Acertando e errando na mesma proporção, Ilha de Ferro é uma história que se arrisca nas guerras internas de seus protagonistas, mas que peca por utilizar o mesmo caminho de forma superficial com os personagens secundários. Algumas viradas de roteiro até parecem interessantes, mas se tornam cansativas minutos depois. Infelizmente os dois últimos e incríveis episódios não anulam as falhas que tanto incomodam. Uma coisa é certa: boas histórias precisam dar importância aos seus coadjuvantes, assim como para seus protagonistas. Veremos se tal falha será corrigida na 2ª temporada.

    Veja também: Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=b-UZrTCgcy8
  • Crítica | Eu, a Vó e a Boi

    Crítica | Eu, a Vó e a Boi

    Produção original da Globoplay, “Eu, a Vó e a Boi”, comédia dramática baseada em fatos reais e escrita por Miguel Falabella aposta em roteiro excêntrico e no peso de seus protagonistas para entregar uma obra com a assinatura clara de seu autor.

    Em junho de 2017, a história que posteriormente viria a ser adaptada para o streaming, chegou, primeiro, às redes sociais. Eduardo Moreira, programador conhecido como “Hanzo” pelos seus web seguidores, enquanto estava entediado em uma fila de padaria decidiu postar no Twitter uma thread sobre a peculiar história da relação de rivalidade entre sua avó e sua vizinha, apelidada de “Boi” pela primeira.

    Antagonismo de mais de 60 anos, o incomum relacionamento entre as duas e os relatos postados chamaram atenção no mundo virtual e atraíram os mais diversos olhares. Dentre eles, o de Glória Pérez, que, na época, trabalhava na seleção de projetos dramatúrgicos para a Globo.

    Sugerido pela novelista que primeiro teve contato com a sequência original de 56 tuítes, Miguel Falabella tomou a frente do projeto e se responsabilizou por transformar a história compartilhada por Hanzo em um roteiro de série. Autor de programas como “Pé na Cova”, “Sai de Baixo” e “Toma Lá, Dá Cá”, o humor de Falabella é bastante específico e foi uma escolha unânime da Globo para a adaptação dessa história um tanto peculiar.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Em “Eu, a Vó e a Boi”, o espectador é apresentado à um microcosmo social e às relações que o compõem. Com um foco especial na relação entre Turandot (Arlete Salles) e Yolanda, a Boi (Vera Holtz), a trama se desenvolve, em sua maior parte, com base nos efeitos que a convivência quase destrutiva das avós de Roblou (Daniel Rangel) trazem para a pequena comunidade. Tentando sobreviver em meio ao caos, o protagonista, neto em comum das duas arqui-inimigas, resiste ao ambiente hostil e, quebrando por vezes a quarta parede, envolve quem assiste no cenário conturbado e fantasioso que Miguel Falabella criou.

    Explicitamente uma crítica social, a série é classificada por Miguel Falabella como uma metáfora da situação atual de “um mundo polarizado e dividido pelo rancor”. Nesse sentido, a maneira descomedida com a qual a história é levada e tratada é satisfatória. Marcada pelos exageros e pelas situações quase surrealistas entre as personagens, o espectador não consegue imaginar qual rumo que a trama vai tomar e se surpreende a cada minuto de cada episódio. “Eu, a Vó e a Boi” é uma caixa de surpresas e realmente foge do comum ao se tratar de tantos lançamentos recentes via streaming.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Dividida em 6 episódios com cerca de 30 minutos cada, a série é um excesso extravagante. Trajando características comuns das outras produções do autor envolvido, “Eu, a Vó e a Boi” tem um texto ágil, interessante e pode facilmente ser maratonada. Tratando de temas como preconceito, intolerância, homossexualidade e política, por exemplo, a série disfarça assuntos sérios no meio de tanta comédia escrachada, criando uma narrativa leve ao mesmo tempo que não esquece do cerne das questões e das pautas que recorrentemente entram em discussão.

    Contudo, apesar dos diversos aspectos positivos de “Eu, a Vó e a Boi”, o equilíbrio da trama não é alcançado em momento algum. Para compor a história adaptada dos tuítes em uma série de 6 episódios, Falabella teve que criar uma gama de personagens secundários para ajudar no desenvolvimento de todos os eventos. De fato, esses personagens secundários têm importância na trama e, para o objetivo que o autor quis alcançar, são essenciais no desenrolar dos acontecimentos. Porém, na maior parte das vezes eles se resumem a papéis surrealistas e caricatos, o que pode ser ainda pior quando levado em consideração que o local onde a série se passa é uma simples rua de um bairro isolado, sem um alicerce para justificar tamanha estranheza e bizarrice. “Pé na Cova”, por exemplo, se apoiava no cenário de uma funerária para legitimar os episódios excêntricos e esquisitos.

    Eu, a Vó e a Boi

    Eu, a Vó e a Boi / GloboPlay

    Definitivamente um conteúdo com um grande potencial, Miguel Falabella tenta transformar uma história real de ódio entre duas vizinhas em uma comédia exagerada. Arrancando algumas risadas dos espectadores, a obra, infelizmente, não vai muito além e consegue se perder no surrealismo de seu roteiro, ainda que esse tenha sido o objetivo da produção.

    Praticamente descartada pela Globo, uma vez que a primeira temporada foi mal recebida pela cúpula interna, a produção de uma segunda temporada está cada vez mais distante e já vem sendo esquecida por boa parte do público.

    “Eu, a Vó e a Boi” é uma série inconsistente. Entretenimento passageiro, os 6 episódios acarretarão uma montanha-russa de emoções. Na mesma medida que trará risadas, também fixará o espectador em um certo tédio e em muitas dúvidas sobre em qual universo paralelo tudo aquilo pode estar acontecendo.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=5sfu0ZeB0ic
  • Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada deixará você obcecado pela série!

    A fórmula do “mocinho tentando a todo custo prender o vilão” já foi contada várias vezes na TV e no cinema. Dois exemplos são os filmes Prenda-me se for Capaz de Steven Spielberg e o longa O Fugitivo, estrelado por Harrison Ford. Estas histórias possuem um ponto em comum: todas são protagonizadas por homens. O que não acontece em Killing Eve, pois são as mulheres que movimentam a frenética caçada.

    Sinopse 1ª temporada de Killing Eve:

    Eve trabalha como guarda de proteção em uma agência de inteligência britânica, mas seu emprego estável e dentro de quatro paredes não sucumbe o desejo dela de se tornar uma espiã. É por isso que quando a primeira oportunidade surge, ela não pensa duas vezes e mergulha em uma caçada incansável contra uma assassina. Agora, seu alvo é Villanelle, uma criminosa tão elegante quanto perspicaz.

    1ª temporada Killing Eve

    Killing Eve / BBC America

    Killing Eve é uma série proveniente das páginas do livro “Codename Villanelle“, do autor Luke Jennings. A adaptação televisiva foi feito pela brilhante e talentosa Phoebe Waller-Bridge, responsável pelo sucesso Fleabag.

    Preciso confessar, antes de tudo, que esbarrei por acidente nessa série e eu nunca agradeci tanto ao acaso. São poucas as produções da atualidade que pensam fora da caixinha e entregam algo novo para o público. A primeira vista, pensei que Killing Eve fosse retratar em cada episódio um “vilão do dia“; e com grande felicidade eu digo “foi o melhor equívoco da minha vida de serimaníaco!“. Em um dia, assisti toda a 1ª temporada, que está disponível no serviço de streaming do Globoplay. São apenas 8 episódios.

    Nada de mocinho heróico combatendo um vilão caricato. O roteiro de Phoebe Waller é contrário a essa fórmula ao representar as protagonistas de forma realista, humanizando-as com o auxílio do cotidiano de cada uma e desconstruindo clichês do gênero. Com um ar mais contemporâneo, o enredo nos coloca na mente das personagens que desenvolvem uma obsessão recíproca, que foge para além da tela e nos contagia; acredite você ficará obcecado por Killing Eve.

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    Killing Eve / BBC America

    De um lado temos Eve Polastri, inteligente, entediada profissionalmente e presa a uma rotina burocrática que jamais desafia sua mente. Na outra ponta temos Villanelle, uma assassina de aluguel fria, carismática, com um senso de moda único e seu charme bizarro e intrigante. Duas personagens separadas pelo “bem” e pelo “mal“. Mas, o que de fato define tais aspectos? É isso que a série usa como pontapé, colocando Eve e Villanelle uma no caminho da outra, criando um laço entre elas, aguçando nossa ansiedade por um confronto.

    Killing Eve não é uma série que recorre aos embates físicos. A grande sacada do roteiro são os confrontos de inteligência, são as lutas de escolhas e consequências. A cada episódio, o enredo brinca com a nossa percepção, usando nossa ansiedade e curiosidade para prender nossa atenção. Quando a gente pensa que sabe o rumo que o barco está tomando, nossas teorias são esbofeteadas com as reviravoltas.

    Tudo o que queremos é ver um encontro entre protagonista e antagonista. E cá entre nós, o encontro delas é a combinação perfeita entre bons diálogos e atuações magnificas. Juntas possuem muita química, mesmo que a interação entre elas signifique vida ou morte. Assisti-las assumindo e perdendo o controle torna a caçada muito mais interessante.

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    Killing Eve / BBC America

    Conhecida pelo seu papel na série Grey’s Anatomy, Sandra Oh nos brinda com a melhor performance de sua carreira. A atriz incorpora a protagonista Eve de forma tão carismática, que nos rendemos a ela em sua primeira aparição. Qualquer espectador consegue enxergar como Sandra Oh se diverte nesse papel. É impossível não se apegar a personagem, com o seu jeito “gente como a gente” de ser. Astuta, corajosa e completamente audaciosa, abraçamos os desejos dela ao longo dos episódios.

    Se as palavras “deboche” e “maldade” pudessem ser combinadas como substâncias químicas, a junção delas criariam a misteriosa Villanelle. A talentosa Jodie Comer não mede esforços ao construir sua personagem. Despretensiosa, estilosa, dona de um sarcasmo mortal e uma criminosa de elite, ela é um ponto de interrogação, nos desafiando a buscar uma explicação para sua personalidade. A genialidade do roteiro é tão grande, que logo de cara entendemos os motivos da personagem Eve ficar tão obcecada nela. Queremos saber o que Villanelle está fazendo, o que ela está comendo e vestindo. Queremos ficar próximos de uma assassina para saber qual será seu próximo passo!

    A veterana Fiona Shaw (conhecida por interpretar a tia Petúnia Dursley na saga Harry Potter) dá vida a Carolyn Martens, o cérebro que lidera a caçada por Villanelle. Não é qualquer ator que consegue despertar tamanho temor com uma interpretação sutil e contida. Infelizmente, a 1ª temporada não revela muito sobre o passado ou os segredos da personagem. Nos resta aguardar pelo 2º ano da produção.

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    Ver duas personagens mulheres conduzirem um thriller de espionagem repleto de suspense vai contra tudo aquilo que já assistimos. Se existisse um dicionário que classificaria as séries em apenas uma palavra, a definição de Killing Eve seria “surpreendente”. Desde a primeira cena, não há outra coisa que a trama faça, que não seja te surpreender através dos imprevisíveis personagens (aqui, me refiro a todos eles!). Todos os que amam mistério precisam assistir. E aqueles que não são amantes do gênero, não se preocupem, a série é capaz de fisgar você através das demais subtramas.

    Com altas doses de suspense, humor, drama e ação a série é uma versão moderna e ousada de “um jogo de gato e rato“. Não existe nenhuma outra expressão que define tão bem Killing Eve. E o melhor de tudo é que o “gato” e o “rato” trocam de papéis, destruindo nossas expectativas e nos chocando a cada segundo!

    Veja também: Crítica | Hunters – 1ª Temporada.

    Nota: 5/5

    Confira o trailer da 1ª temporada:

    https://www.youtube.com/watch?v=mPnn7vgw3zY
  • Crítica | Hunters – 1ª Temporada

    Adaptar fatos ocorridos na Segunda Guerra Mundial pode se tratar de um assunto batido no cinema e na televisão, seja em forma dramática, heroica ou traumática. Então fica a pergunta: Como inovar?

    “Hunters”, nova série do Amazon Prime Video, tenta juntar um pouco de cada elemento já citado, mesmo que, a princípio, eles não combinem.

    A história se foca em Jonah (Logan Lerman) que acaba descobrindo que houve uma conspiração, em torno do assassinato de seu avô. Isso, porque, o jovem, de família judia, se depara com células nazistas infiltradas no território americano. Assim, ele decide se unir a um antigo amigo da família, Meyer Offerman (Al Pacino), e corre em busca de caçar esses soldados alemães que tentam retornar com seu regime totalitário.

    Por mais estranho que possa parece estranho, o plot embarca nessa aventura, com orgulho, e se mostrando algo digno do caminho das produções dos anos 70, onde se reinava aquilo que era mais barato, mas que apelava para o excesso do absurdo. Nisso, lembra um pouco o que o diretor Quentin Tarantino mostra em “Bastardos Inglórios” (2009) e “Era uma Vez em Hollywood” (2019).

    Crítica | Hunters - 1ª Temporada

    Hunters/Amazon Prime Video

    Apesar do bom plot e do excelente visual, “Hunters” também comete falhas, principalmente, quando exagera em seu sensacionalismo. Um exemplo disso é no uso da violência, que é acertadamente utilizada em alguns momentos, especialmente, contra os nazistas, mas que se perde, quando os personagens precisam enfatizar o tempo todo por que aquilo está acontecendo. 

    Mas seu maior pecado, sem dúvida, é no tom sem unidade. No início, parece que teremos algo mais relacionado a aventura e comédia, mas há um corte na segunda metade da temporada, que a história parte em investir no lado dramático. É como se a série mirasse em “Bastardos Inglórios”, no apelo divertido, mas mudasse o caminho, no meio, para algo mais tradicional, como “A Lista de Schindler”. O tema é o mesmo, mas a execução é completamente diferente.

    Se o objetivo do espectador for ver uma visão divertida, sem pretensão alguma, de um fato real trágico, vale a pena, mas se forem procurar algo mais realista e documental, passe bem longe de “Hunters”.

    Série disponível no Amazon Prime Video.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=HBGkjmfIzAw
  • Crítica | Fleabag

    Crítica | Fleabag

    Produzida, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge, Fleabag conquistou o espaço nas mais variadas premiações e nos nossos corações. Produzida pela Amazon Prime Video em parceria com a BBC, a série nos apresenta o humor britânico de uma forma ácida, falando sobre sexo e diferentes formas de relacionamentos, contendo altas doses de deboche.

    Fleabag é uma adaptação de uma peça de teatro, que conta a história de uma mulher (Phoebe Waller-Bridge) que lida com diversos problemas em sua vida, indo desde o luto após a morte de sua mãe e o suicídio acidental de sua melhor amiga e sócia, frustrações em seus relacionamentos e conflitos familiares, até o estado de falência do café em Londres, no qual é proprietária.

    No desenrolar da primeira temporada somos apresentados aos personagens que cercam a vida da nossa querida
    protagonista, a que se faz mais presente é a sua irmã complexa e muito bem de vida Claire (Sian Clifford), o seu cunhado Martin ( Brett Gelman) que é  um cara um tanto quanto escroto e mau-caráter, seu pai (Bill Paterson) e sua madrasta brilhantemente interpretada pela atriz Olivia Colman, que faz jus ás palavras má e aproveitadora.

    Crítica | Fleabag

    Fleabag | Amazon Prime Video

    Mostrando a vida de um ponto de vista feminino, Fleabag trata de assuntos considerados tabus, o desejo sexual da protagonista é extremamente explorado, tendo como pauta de um dos episódios o fato de seu namorado Harry (Hugh Skinner) não aceitar  o consumo de pornografia e a automasturbação, terminando o relacionamento.

    No decorrer da primeira temporada, a fachada alegre de Fleabag entra em conflito com a realidade, tendo seus segredos revelados no episódio final e se distanciando de sua família, temos um salto de um ano e alguns dias, onde na segunda temporada vimos a protagonista um tanto quanto madura, com o seu café indo bem e pensando em relacionamentos duradouros.

    Impossível falar sobre essa série sem citar a quebra da quarta parede no qual somos pegos de surpresa logo no primeiro episódio da primeira temporada, e quando menos se espera somos envolvidos na história, passando a assumir o papel de confidente da protagonista, visto que, além de sua família e seus relacionamentos fracassados, Fleabag não tem um melhor amigo com quem possa conversar sobre seus desejos sexuais e até mesmo sobre a sua louca paixão por um Padre extremamente gato (Andrew Scott).

    Crítica | Fleabag

    Fleabag | Amazon Prime Video

    No ultimo episódio interagimos pouco e podemos perceber a carga dramática que os diálogos carregam, assistimos com dor no coração a  mais uma desilusão amorosa da nossa querida protagonista, que se despede dando um tchauzinho de até logo. Mas será mesmo?  Pelo o que tudo indica, não teremos uma continuação dessa história tragicômica.

    Phoebe Waller-Bridge, criadora da série, deixou bem claro após vencer o Globo de Ouro que não tem interesse em continuar com a série, e que a decisão parece cada vez mais certa.  Mas não precisa ficar triste, Phoebe está trabalhando em novas produções da Amazon, sendo assim,  não ficaremos órfãos de seu talento.

    Atenção:  você corre sérios riscos de se apaixonar e querer mais.

    Fleabag tem sua duas temporadas disponíveis na Amazon Prime Video

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    “1968: O Ano que mudou o Mundo”, o ano das revoltas estudantis pelo globo, o ano dos descontentes. A mudança é a marca desse icônico ano, que por sua vez, é a data em que se passa “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” (2019), terror ausente de qualquer mudança significativa entre o gênero.

    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” só adota a data como meio de inserir uma ambientação histórica muito bem feita e imersiva, mas as inovações passam longe de sua trama e estruturas narrativas. A nostalgia é o que reina.

    Mas antes, a sinopse oficial: “A cidade de Mill Valley é assombrada há décadas pelos mistérios envolvendo o casarão da família Bellows. Em 1968, a jovem Sarah Bellows, uma garota problemática que mantinha um mau relacionamento com os pais, foi ao porão para escrever um livro repleto de histórias macabras. Décadas mais tarde, um grupo de adolescentes descobre o livro e começa a investigar o passado de Sarah. No entanto, as histórias do livro começam a se tornar reais.“.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Imagem promocional. “CBS Filmes”.

    Dito isto, voltemos ao assunto principal:

    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” não é ruim, claro que não. Mas, falta um elemento novo, aquele negócio que te faz pular da cadeira (muito mais do que um sustinho básico e um gritinho ali em outra cena). O terror e o medo devem ser induzidos de outras formas e surpreender o espectador.

    Nós adoramos relembrar o passado, mas no caso de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”, a lembrança impede o novo e o ousado. Os clichês estão todos lá: adolescentes (excluidos/”estranhos”) enfrentando uma ameaça do além, policiais ausentes e idiotas, cidadezinha pequena e uma astuta protagonista.

    Os personagens não se destacam muito, parecem paródias de um conto de Stephen King. Um “Stranger Things” sem muito tempo de tela, se posso exagerar. São, no geral, mais do mesmo do que já foi explorado dentro do gênero.

    Os clichês novamente são exagerados e usados de maneira errônea pelos inúmeros roteiristas, incluindo o magnífico Guilhermo Del Toro (“Hellboy“). A história se desenvolve bem, apesar de alguns momentos arrastados e tediosos.

    O final poderia ter se apoiado em decisões fortes tomadas ao redor da trama, mas acaba escolhendo um caminho mais fácil (sem spoilers), novamente, menos inovador e até covarde, se me permitem.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. “CBS Films”.

    Os dois pontos altos são: a fotografia e a protagonista Stella. Comecemos pela primeira, a maioria das cenas é linda, com belos cenários, com destaque para a incrível sequência da “sala vermelha”. De tirar o fôlego até!

    Um sopro de novidade em meio à um mar de nostalgia, representado pelos inúmeros pôsteres de filmes de terror no quarto de Stella. Sem contar, o cinema drive-in passando o clássico “A Noite dos Mortos Vivos” (1968).

    Influenciado pelos clássicos do gênero, esteticamente, o diretor André Øvredal acerta em cheio, mas lhe falta coração. O único personagem com emoções acima da média é a protagonista Stella (Zoe Margaret Colletti), marcada por um excelente arco evolutivo e uma boa ligação com o desenrolar da história.

    Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. “CBS Films”.

    O resultado não é um filme inovador e incrível, mas uma boa forma de entretenimento. Você pode se emocionar e gostar das situações, afinal, este é o objetivo final do cinema. Não é horrível, mas podia pelo menos tentar ser mais.

    A produção e a ambientação são os aspectos mais notáveis e inovadores de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro“. Em alguns momentos, a câmera parece procurar ângulos e situações inovadoras. A perspectiva da nostalgia empobrece o filme, mas bons elementos ainda estão lá.

    Ps: O filme está disponível no Prime Video. Em tempos de quarentena, recomendo.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao Trailer:

    https://youtu.be/u-y3Z34YkiY
  • Crítica | Joias Brutas

    Crítica | Joias Brutas

    Escrito e dirigido pelos irmãos Josh e Benny Safdie, Joias brutas, produção feita da parceria entre Netflix e o estúdio A24, traz Adam Sandler em uma de suas melhores performances, junto a uma trama que prende do começo ao fim.

    Howard Ratner (Sandler) é um joalheiro na cidade de Nova York, que acaba de adquirir uma pedra extremamente valiosa, capaz de causar um efeito único e poderoso. A posse desta nova joia é uma grande oportunidade para lucrar e ter sucesso em seu negócio, algo que Howard precisa com urgência, já que ele está sendo cobrado por dívidas passadas, das quais faz de tudo para adiar, e nesse cenário onde ele insiste em continuar prolongando o inevitável, ameaças cada vez mais violentas se tornam parte do seu cotidiano.

    Quando a estrela do basquete Kevin Garnett (interpretando ele mesmo) aparece em sua loja, e desperta uma repentina obsessão pela nova joia, que será leiloada em breve, impossibilitando a tentativa do atleta de compra-la. Howard decide fazer um acordo, a pedra ficará com o astro apenas para o jogo da noite, servindo como uma espécie de amuleto da sorte, porém a situação do joalheiro se complica ainda mais, quando Garnett não cumpri sua parte do acordo e não demostra sinais que pretende realmente devolver a joia, desencadeado uma série de eventos e tornando a vida de Howard ainda mais caótica.

    Adam Sandlers ‘Uncut Gems is a gloriously ugly film — The Undefeated

    Joias Brutas | Netflix

    Bom comportamento, projeto anterior dos irmãos Safdie estrelado por Robert Pattison, já se mostrava como um trabalho promissor, e revelava a habilidade dos irmãos de desenvolver roteiros intrigantes e uma alta capacidade na direção dos longas metragens. Em Joias Brutas todo esse talento é aproveitado ao máximo, o desenrolar da trama segue de maneira precisa para deixar o espectador inquieto para descobrir o que a próxima cena pode trazer, o resultado disso fica evidente na tela, enquanto observamos o protagonista se perder cada vez mais em seus atos gananciosos, transformando sua já complicada situação em uma bola de neve ainda maior, e cada vez mais fora de controle.

    Todo esse mérito deve ser dividido também com Adam Sandler, que carrega a responsabilidade sozinho de fazer com que o público sinta empatia por Howard, que por sua vez não é um personagem que poderia ser interpretado por qualquer um, na medida em que passamos o filme inteiro assistindo o protagonista cometer erros atrás de erros. Se fosse qualquer outro ator na pele de Howard, essas falhas logo se tornariam um motivo para questionar como o personagem pode agir de uma maneira tão estupida, o que prejudicaria o ritmo do longa, quebrando sua imersão.

    Sandler tem carisma de sobra para o personagem, e é exatamente este carisma que faz com que a audiência não desista do protagonista, torcendo para que as coisas melhorem para ele, e que exista a possibilidade, mesmo que pequena, de contornar toda está situação. Provando que quando bem dirigido, o ator que muitas vezes é apenas lembrado por seus péssimos desempenhos, tem a chance de mostrar todo seu potencial.

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    Joias Brutas | Netflix

    Um ótimo início de carreira para a dupla de diretores, que tiveram êxito em sua estreia, e foram capazes o suficiente para produzir mais uma obra de qualidade, e aos poucos estão construindo um carreira sólida, com chances de se tornarem referências quando se trata de filmes que te deixam com os olhos vidrados na tela. Um filme fora da curva para Sandler, mas é uma ótima surpresa poder ver novamente o ator escolhendo papéis de tanto destaque, desde que trabalhou com Paul Thomas Anderson em Embriagado de Amor, é possível ver essa fagulha que o direciona para projetos mais interessantes, momentos assim não acontecem com frequência, e devem ser apreciados, assim como Joias Brutas, que já está disponível na Netflix, para ser visto e revisto.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=IOSP5uEbTUc
  • Crítica | Elite – 3ª temporada repete a fórmula e acerta mais uma vez!

    Crítica | Elite – 3ª temporada repete a fórmula e acerta mais uma vez!

    Muitas comparações pairam sobre Elite, a série espanhola da Netflix sobre assassinatos e tramas escolares. Já disseram que a produção é uma mistura de How to get away with murder com Gossip Girl. Até escreveram que a narrativa é uma versão mais adulta de Malhação. Claro, tudo faz sentido quando se olha com atenção para o contexto em que tais comparações estão inseridas. Mas, o que precisa ser reforçado é o seguinte: Elite é uma série com sua própria originalidade e sua 3ª temporada é a prova disso.

    Sobre a 3ª temporada de Elite:

    Depois da segunda temporada, que colocou os personagens em uma busca desenfreada por Samuel, todos pensaram que o assassino de Marina finalmente pagaria por seu crime. Porém, isso não aconteceu. Um novo ano está começando no colégio Las Encinas e os alunos gostariam apenas que tudo voltasse ao normal. Mas, um acontecimento inesperado os levará a tomar decisões que mudarão a vida de todos para sempre.

    A sagacidade de um Showrunner é dosar os mistérios de sua obra e consequentemente aprisionar nossa atenção na trama. E isso é uma coisa que os criadores de Elite fazem com muita classe. Carlos Montero e Dario Madrona, as mentes impiedosas e criativas por trás do roteiro, conhecem e entendem seu público-alvo e apelam para os ganchos e reviravoltas. Tudo, é claro, condizente com a proposta já estabelecida desde os minutos iniciais da primeira temporada.

    A primeira cena desse 3º ano da série começa segundos antes do fatídico desfecho da temporada anterior. Polo está solto e de volta ao colégio, seguindo sua vida como se nada tivesse acontecido. Enquanto Guzmán luta contra sua ira em ver o assassino de sua irmã seguir a vida, um novo mistério surge no enredo; algo à lá “Quem matou Odete Roitman?“.

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    Elite / Netflix

    A TV mostrou que diversas séries seguem uma estrutura narrativa de sucesso. Algo que consolida a história e constrói um rosto para o público diferenciar uma produção de outra. Isso acontece com as grandes audiências como CSI, Criminal Minds, Law & Order e tantas outras. O roteiro de Elite possui uma estrutura, como podemos ver nas temporadas passadas. Se deu certo duas vezes, por que não repetir? É um risco, claro! Todavia, os roteiristas sabem brincar muito bem com as possibilidades que a história oferece.

    Vamos a estrutura: um (novo) assassino, um (novo) objeto usada como a arma do crime e os velhos (e novos) suspeitos com justificativas duvidosas que os colocam na mira da investigação. A fórmula se repete, a diferença é que tudo ganha um peso maior. Desde o primeiro episódio, assistimos as consequências caírem como uma tempestade sobre os personagens. Somos jogados num caos controlado, numa linha de tempo que utiliza flashfowards que alimentam nossa ansiedade. E ao mesmo tempo, as reviravoltas destroem as teorias que nossa mente “maníaca por séries” vai traçando no decorrer dos episódios.

    Cada escolha, cada passo e cada respiro. Todas as ações dos personagens refletem em consequências, que a curto ou longo prazo, afetam o futuro de cada um. Dilemas surgem a cada episódio, mas nem tudo significa vida ou morte. O roteiro trás para a superfície os sonhos e os medos de cada um, utilizando isso como manivela para evoluir o arco de cada personagem. Ao longo da temporada, os protagonista enfrentam seus demônios (de modo metafórico, é claro!).

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    Carla (Ester Expósito) é a primeira, descobrindo que a verdade tem um custo muito alto. Está nas mãos da garota escolher entre uma consciência limpa ou manter o status de sua família rica. Não bastando isso, cai sobre os ombros dela o destino de Polo. A atriz é excepcional, mergulhando de cabeça em seu papel. Uma escolha de ouro abrir a temporada focando na personagem.

    Nadia (Mina El Hammani) não está muito diferente de sua versão da temporada anterior, assim como Samuel (Itzan Escamilla) e Guzmán (Miguel Bernardeau). Os grandes destaques desta temporada são os personagens Ander (interpretado pelo ator Arón Piper) e Lucrecia (Danna Paola, a eterna Maria Belém).

    Na season finale da 2ª temporada, Ander deu indícios do que estava por vir. Sofrendo uma mudança radical, tanto física, quanto comportamental, podemos ver como isso se reflete no personagem e naqueles que estão ao seu redor. Lidando com as perdas, algumas involuntárias, outras por escolha dele, podemos ver o amadurecimento do personagem ao longo da história.

    O mesmo vale para Lucrecia (Danna Paola), conhecida como “a sem coração da série“. Ela é ambiciosa, inescrupulosa e vaidosa, mas quando perde tudo o que sempre fez questão de esbanjar, precisará encontrar um novo rumo. Ela não é má, mas também não é uma santa. São as falhas da personagem que movimentam sua evolução. A grande surpresa da temporada é a interação dela com a personagem Nadia. Se pudéssemos separar os personagens em duplas, as duas ganhariam. Danna Paola faz um trabalho excelente, ao dar tudo de si para construir a carga dramática de Lucrecia; somado a isso estão suas cenas bem humoradas (um humor bem ácido, claro!). Tudo isso a tornam A Grande protagonista da 3ª temporada.

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    Danna Paola (a personagem Lucrecia) / Netflix

    Dois novos rostos entram no meio desse frenesi colegial. Maliki (interpretado por Leiti Sene) levantará uma discussão densa sobre racismo, xenofobia e mais um tema polêmico, que prefiro não especificar pois seria um baita Spoiler! O mesmo vale para o ator Sergio Momo que dá vida ao milionário Yeray, um personagem que não diz muito ao que veio, ficando muitos episódios na sombra de Carla; todavia sua apresentação na trama é um tapa aos preconceitos que envolvem o típico “padrão de beleza”.

    O roteiro também discute um preconceito antigo, através de Rebeca (Claudia Salas). Uma frase que sintetiza fielmente o obstáculo da personagem é “o pobre que se torna rico, sempre será visto como podre”. E ainda sobra tempo para ela lutar contra o legado de sua mãe, que é uma traficante. Com sua língua afiada e suas gírias bem 2019, Rebeca deverá escolher em quem confiar e quem realmente ela quer ser.

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    Elite / Netflix

    O único erro da série é que em todos os episódios tem alguma festividade, colocando os personagens no mesmo ambiente. Às vezes, isso soa como uma “muleta no roteiro“, ou seja, uma saída fácil para simplificar as resoluções de alguns conflitos. Apelando para a linguagem dos memes, o que quero dizer é basicamente o seguinte: “Qualquer episódio de Elite: a. Os criadores: vamos colocar uma festa!”. Mas, o perdão por essa falha é imediato, pois as reviravoltas da série sempre acompanham as comemorações festivas.

    Em suma, trata-se de uma temporada com grande carga emocional. Cicatrizando algumas feridas, o roteiro encerra alguns arcos e inicia outros de forma sutil. Sem favoritismos, o enredo é uma montanha-russa de emoções, tirando todos os personagens da zona de conforto, entregando para o espectador uma história densa, dramática e cheia de suspense. Alcançando seu ápice narrativo, fica uma sombra de medo, pois as novas temporadas precisam honrar esta terceira.

    Uma das perguntas é “quem morreu nesta temporada?“. O trailer responde, portanto, assista por sua conta e risco:

    Veja também: Crítica | O Oficial e o Espião – Obra de Polanski retrata os sacrifícios para o “bem da Pátria”.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    https://www.youtube.com/watch?v=RyLMD7veWBI