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  • CRÍTICA | Fantasmas Ainda Se Divertem é como uma locomotiva acelerando lentamente até seu ponto máximo

    CRÍTICA | Fantasmas Ainda Se Divertem é como uma locomotiva acelerando lentamente até seu ponto máximo

    Apesar de problemas com tom, “Os Fantasmas ainda se divertem” é uma sucessor digno do clássico de 1988.

    Se conseguimos ver Beetlejuice novamente na tela grande, devemos agradecer à Netflix. A partir da série Wandinha, Tim Burton se reconectou ao prazer de trabalhar após ter considerado a aposentadoria depois do fracasso de Dumbo (2019). Segundo entrevista dada no 81º Festival de Veneza, “Os Fantasmas ainda se divertem” é um recomeço para o cineasta.

    A sequência se inicia da mesma maneira que o clássico de 1988, com um voo rasante pela cidade e terminando na casa que conhecemos tão bem. Danny Elfman, compositor carteirinha de Tim Burton, engrandece o tema original em diversos momentos do filme.

    A partir disto, somos reintroduzidos à velhos personagens: Lydia Deetz continua gótica e atormentada por fantasmas do passado, Delia Deetz continua fazendo arte e roubando o filme para si, e por fim Beetlejuice, o demônio que continua o mesmo após todos estes anos.

    CRÍTICA | Fantasmas Ainda Se Divertem é como uma locomotiva acelerando lentamente até seu ponto máximo

    Os Fantasmas Ainda Se Divertem”- Divulgação Warner Bros

    A premissa inicial é simples: Três gerações da família Deetz: Lydia, Delia e Astrid, filha de Lydia, se reúnem novamente em Winter River. Lydia tenta se aproximar da filha, porém, a relação das duas é frágil após a morte do pai de Astrid. Quando a menina é sequestrada e levada ao submundo, Lydia não tem opção a não ser chamar Beetlejuice para auxiliá-la.

    O primeiro ato e meio desta jornada aparenta ser uma busca por tom, na medida que contextualiza os problemas e as relações, o filme aparenta esquecer a simplicidade que fez o primeiro um clássico para inicio de conversa, fazendo o público esperar o momento que as peças acabam de ser arrumadas, para finalmente o jogo começar no segundo ato e principalmente no terceiro.

    Diferente do primeiro filme, a sequência apresenta um arco dramático ao focar na relação das três mulheres Deetz, porém, saídas fáceis de roteiro fazem a produção perder a força. Sejam personagens interessantes como Wolf Jackson, interpretado por um certeiro Willem Dafoe, e Delores, interpretada por uma estonteante Monica Bellucci, mas que não acrescentam nada no grande escopo da narrativa, ou momentos de virada que conseguimos ver desde o primeiro segundo, a paixonite de Astrid e seu “segredo”, por exemplo, mesmo a relação de Astrid e Lydia não foge da clássica mãe e filha do gênero Blockbuster.

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    “Os Fantasmas Ainda Se Divertem”- Divulgação Warner Bros

    Os melhores momentos da sequência ocorrem quando Tim Burton se solta dentro de seu universo, seja uma sequência em preto e branco e narrada em italiano, uma Monica Belluci sendo reconstruída ao som de Bee Gees, uma sequência em stop motion que mostra a morte de Charlie Deetz, ou um terceiro ato que remete aos bons tempos de Looney Tunes.

    Ao longo da produção, Michael Keaton prova mais uma vez como é perfeito para este papel, seja realmente assumindo a posição de demônio possessor em uma cena musical ao som de MacArthur Park de Donna Summer, ou com um charme canastrão presente em todos os momentos que aparece na tela.

    Toda a construção de mundo gira em torno de seu personagem, mesmo na sua ausência. Tim Burton amplia este mundo inicialmente criado 36 anos atrás, utilizando do conhecimento pre existente do público perante o mundo apresentado, a direção de arte apresentou uma forte liberdade para colori-lo e planeja-lo da maneira que quiser, assim, se tornando um dos pontos fortes da produção. Além disto, a produção, não usa efeitos visuais à todo momento, preferenciando efeitos práticos que favorece a estética Burtoniana e evita erros como os de Dumbo e de Alice no País das Maravilhas (2010).

    No grande escopo, “Os Fantasmas ainda se divertem” apresenta erros principalmente nos dois primeiros atos, no qual a produção ainda está tentando encontrar o caminho, mas, ao final, é eficiente como a sequência de um clássico consagrado, trazendo momentos cômicos, personagens carismáticos, cenas marcantes e uma diversão garantida para os fãs do original.

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  • CRÍTICA | Hellboy e o Homem Torto é um filme que você esquece logo após a sessão

    CRÍTICA | Hellboy e o Homem Torto é um filme que você esquece logo após a sessão

    Hellboy e o Homem Torto parece um episódio de um projeto independente que conseguiu vazar.

    Durante a viagem de retorno, um ser capturado escapa, levando ao Hellboy e sua parceira seguirem por um percurso improvisado, do qual entrega nas mãos da dupla um novo problema para resolver. O tal Homem Torto que dá título para a obra e vai bagunçar com a cabeça de quem procurar entrar em seu perverso caminho.

    Partindo de uma sinopse simples, igualmente simplório acaba sendo a forma que a narrativa do filme é construída, explorada e finalizada, já que a direção de Brian Taylor soa vazia ao tratar seus personagens como a caricatura que provavelmente os representa nos quadrinhos, contudo, o faz sem dar um tom divertido para amenizar a parte galhofa (algo que a trilogia Deadpool soube fazer) e sem apresentar um real sentido para a realização deste projeto.

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    Hellboy e o Homem Torto | Millennium Media

    Hellboy e o Homem Torto soa amador conforme se passe mais tempo dentro de seu universo. A trilha sonora se mantém em uma mesma estrofe para marcar, mas acaba soando irritante pela repetição. A fotografia está sempre buscando trazer um plano ou visão diferenciada das situações, funcionando em algumas ocasiões. A maquiagem prática ajuda para trazer credibilidade, mas não impede de tornar visível os efeitos visuais para com a aranha ou o descarrilamento de vagões.

    A trama episódica do filme, falha em mostrar uma relevância para com um momento diferente da vida do protagonista, na qual poderia apresentar uma situação que mudou sua forma de agir ou ver algumas coisas, para trazer um Hellboy qualquer, que não conquista quem não o conhece e nem necessariamente agrade os fãs de suas versões anteriores no cinema, podendo apenas dar gosto para quem conhece o quadrinho que está adaptando, intitulado “The Crooked Man”.

    Sendo este, um fator que atrapalha, porque ainda que certos comentários feitos no começo ganhem resposta ao final, deixando a trama coesa. O terror proposto não alcança a resposta que gostaria de causar, onde mesmo com uma saturação mais pesada ou a utilização de efeitos sonoros bruscos para assustar, suas escolhas técnicas soam perdidas pela imersão não vir já que tudo soa tão banal, como um personagem surgir aleatoriamente pra entregar as informações que vai auxiliar, que dificulta a vontade do espectador de continuar nessa tal aventura.

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    Hellboy e o Homem Torto | Millennium Media

    Muito pior do que a sensação frustrante pelos erros de um filme ou a expectativa criada não ter sido alcançada, é a sensação apática, indiferente, que se sente para com uma obra, onde ela falhou em minimamente capturar quem assiste para se apaixonar pelos seus personagens ou sair querendo falar sobre. O caso de Hellboy e o Homem Torto é de que no momento que os créditos subiram, parecia que um comercial longo tinha sido visto e a próxima etapa era ir na bilheteria comprar ingresso para finalmente ver um filme.

    E vale dizer, o problema não está de modo algum na obra parecer independente ou ter pouco orçamento para fazer algo que Hollywood gostaria, pois a produtora A24 já entregou diversos filmes com um orçamento menor que 50 milhões e uma qualidade superior à vista aqui. Por tudo que gostaria de causar, entretenimento ou terror numa narrativa episódica, fica mais fácil recomendar um episódio aleatório da série Supernatural, que vai facilmente agradar mais, do que um conto que podia ter continuado no papel.

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  • CRITICA | Os Fantasmas Se Divertem fica mais divertido a cada vez que assiste

    CRITICA | Os Fantasmas Se Divertem fica mais divertido a cada vez que assiste

    Lançado em 1988, Os Fantasmas Se Divertem continua um dos melhores trabalhos de Tim Burton.

    É assustador pensar que Os Fantasmas Se Divertem foi um dos primeiros longas metragem de Tim Burton pro cinema. Uma produção que não apresenta aprofundamento dramático nenhum, porém, apresenta um trabalho exemplar de construção de mundo, uma história simples e o principal: uma forma de entretenimento para as massas que é somente isto, diversão.

    O filme se tornou um clássico, entre diversos motivos, por conta de sua história despretensiosa, um casal falece e para conseguir um pouco de paz, deve achar uma maneira de expulsar os novos moradores de sua casa, sem sucesso, tentam contratar um bio exorcista para auxiliar, com consequências desastrosas.

    CRITICA| Os Fantasmas Se Divertem fica mais divertido a cada vez que assiste

    Michael Keaton e Winona Ryder em Beetlejuice- Warner Bros

    A premissa é banal, na mão de qualquer pessoa o filme poderia ser facilmente esquecível, porém, é a mão forte da direção de Burton, algo perdido em seus últimos trabalhos como Dumbo (2019) e O Lar das Crianças Peculiares (2016), que o jogou para clássico. Aos 30 anos de idade, Burton sabia exatamente o que gostaria de alcançar na produção, ao mesmo tempo que estava construindo a figura pública que iria se tornar, um homem deslocado, apaixonado pela estética gótica, pelo grotesco, pelo sobrenatural, pelo fantástico e pelos desajustados sociais.

    Beetlejuice não é a exceção à regra, possivelmente trilhando o caminho que Burton seguiria no futuro. O filme é composto por personagens amáveis e cenas marcantes, além de uma das representações mais divertidas sobre a vida após a morte que já foi filmada, e continua sendo 36 anos depois, no ano que será lançado sua sequência.

    A época em que foi produzido auxiliou o sucesso do filme, uma produção que transborda paixão e amor pelo trabalho de todos os envolvidos a todo momento, desde a direção de arte até as escolhas pontuais das músicas, somado a um roteiro rápido e simples, uma trilha sonora de Danny Elfman, músicas de Harry Belafonte e o próprio Beetlejuice sendo um dos personagens mais memoráveis do cinema.

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    Os Fantasmas Se Divertem – Warner Bros. Pictures

    Tim Burton e Michael Keaton não estavam preocupados em fazer um clássico, eles queriam fazer um filme em que ambos se divertissem, assim, transmitindo este sentimento para a audiência. A direção é cuidadosa para transmitir um sentimento do bizarro, sem escapar do senso de realidade. Mesmo no além, os fantasmas apresentam traços humanos e cada vez que se assiste o filme, percebe-se algo novo, no meu caso foi a divisão final da casa entre metade para os Deetz e metade para os Maitland, exemplificado pelo papel de parede.

    Beetlejuice não é um filme perfeito, mas, gerou uma legião de produtos, fãs, e até mesmo um musical na Broadway com uma história semi original , porém, respeitando os traços e o cuidado que Burton apresentou na construção de um mundo com fortes referências ao movimento expressionista alemão.

    Burton falou em uma entrevista no 81º Festival de Veneza, que apresentou a estreia mundial de Beetlejuice Beetlejuice, a sequência do filme original, que nunca entendeu o sucesso do filme. Talvez seu sucesso tenha sido a soma do contexto da época, de uma produção bem cuidada, uma história simples e fácil de acompanhar, atores marcantes e um senso de diversão que traz risos à jovens e adultos há 36 anos, afinal, quem não abre pelo menos um sorriso até hoje ao escutar “Day-O”?

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  • CRITICA| Faltando o épico, Kaos é típica série NETFLIX

    CRITICA| Faltando o épico, Kaos é típica série NETFLIX

    Ao retratar mitos gregos, Kaos tropeça na falta de rimo e coerência

    De Charlie Covell, o mesmo criador de The End of The F***ing World, Kaos é uma série que reimagina mitos e personagens gregos para o século XXI de forma criativa, porém, em retrato tumultuado e inorgânico.

    A série pega mitos gregos clássicos e os adapta para o século XXI. Histórias como Orfeu e Euridice, Ariadne e os 5 deuses do panteão grego que foram reservados para a primeira temporada: Hera, Poseidon, Hades, Dionisio e Zeus, são intercalados com outros personagens e histórias que vão de Ovidio à Homero.

    CRITICA| Faltando o épico, Kaos é típica série NETFLIX

    Enquanto acompanhamos estes núcleos, conhecemos diversos outros personagens que são jogados de escanteio após fazerem uma coisa que auxilia no andar da narrativa, as Fúrias são o maior exemplo, juntamente com Caronte. Ao final, os fãs de mitologia grega conseguem relacionar personagens que leram tantas vezes em livros, porém, tirando Euridice, Caenus , Ariadne e os deuses, poucos recebem destaquem ou valor por si só.

    A mitologia grega é algo presente no imaginário popular e que atrai diferentes públicos, reimaginar isso para os dias atuais é uma mina de ouro, em alguns aspectos a série acerta: a representação de Zeus como um homem inseguro e frágil é o ponto forte da produção, porém, a partir de um problema de tom, a série se perde, e se perde muito.

    A partir de uma desconstrução de mitos, deduzidos por Covell que seu público já tem ciência, é criado todo um universo que remete à The Boys e Deuses Americanos, mas, sem o carisma ou a força narrativa apresentada por estas séries, ao tentar adaptar muitas histórias de uma só vez, a série se perde dentro de uma narrativa inflada que se segura pelo carisma de um excelente Jeff Goldblum.

    Por conta de uma fotografia e direção de arte típica de série da NETFLIX, ou seja, econômica e sem muitos destaques, momentos épicos se tornam pequenos. Durante toda a série acompanhamos o arco de Euridice no submundo, um lugar inteiramente em preto e branco, porém, a impressão em certos momentos é que somente colocaram um filtro de Photoshop e deixou por isso.

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    Aurora Perrineu em Kaos- Foto divulgada pela NETFLIX

    O forte das séries do streaming acaba sendo as músicas, tendo sido responsável por ressuscitar Kate Bush na 4º temporada de Strager Things , e nisto a série não decepciona, porém, sua maior potência, vira seu maior problema em alguns momentos. Kaos usa a música para determinar sentimentos, seja ABBA como introdução para Dionisio, ou David Bowie para Zeus, porém, diversas vezes a música não bate com a cena e fica tosco, quase cômico, como se a narrativa servisse a trilha, e não o contrário.

    Esquecível em sua grande parte, com um gancho para uma segunda temporada ainda maior, que talvez jamais ocorra, Kaos tem seu valor por conta da adaptação de histórias tão preciosas quanto os mitos gregos, porém, ao tentar se tornar algo épico, cai na mesmice e em algo genérico dentro de um serviço de streaming recheado de séries assim.

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  • CRÍTICA | Vovó Ninja marca por ter elenco estrelado, mas com trama que não corresponde a altura

    CRÍTICA | Vovó Ninja marca por ter elenco estrelado, mas com trama que não corresponde a altura

    Vovó Ninja é um filme que, apesar de seu elenco conhecido e talentoso, acaba entregando uma experiência mediana e, em muitos aspectos, pouco memorável.

    Com a direção de Bruno Barreto, Vovó Ninja traz Glória Pires em um papel que parece ser um alívio para sua carreira de atriz de renome, oferecendo uma atuação que, embora confortável, não é particularmente desafiadora para a mesma. O enredo, que gira em torno de uma avó zen com habilidades surpreendentes em kung fu e a tentativa de seus netos de descobrir seus segredos, promete um misto de comédia, drama e aventura, mas acaba sendo mais uma fórmula conhecida do que uma inovação cinematográfica.

    O roteiro se esforça para trazer uma sensação de nostalgia e explorar dinâmicas familiares, mas frequentemente recorre a clichês que não conseguem evoluir para algo mais profundo. A ideia de uma avó reclusa que revela habilidades especiais após um evento inesperado é intrigante na teoria, mas na prática, o filme parece se arrastar por uma trama previsível e totalmente jogada na tela. A tentativa de roubo dos vizinhos ao sítio da vovó e a subsequente descoberta das habilidades de kung fu de Arlete (Gloria Pires) introduzem um elemento de mistério, mas esse aspecto é rapidamente resolvido de maneira simplista e sem grandes surpresas.

    A dinâmica entre Arlete e seus netos — João, Elis e Davi — é um dos pontos que poderia ter sido mais explorado. A avó, que não tem muita afinidade com as crianças e é retratada com uma indiferença inicial, acaba se envolvendo com elas de uma maneira que parece forçada. O desenvolvimento dos personagens é superficial e não oferece uma conexão tão profunda com o público quanto deveria. O filme não consegue criar uma empatia genuína pelos personagens, o que é uma grande perda, especialmente quando se tem atores talentosos como Glória Pires e Cleo Pires em cena.

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    Vovó Ninja | Galeria Distribuidora

    Glória Pires, apesar de sua vasta experiência, está claramente em um papel que não desafia suas habilidades. Sua atuação como Arlete é descontraída, mas falta a ela a profundidade necessária para tornar o personagem verdadeiramente cativante. Cleo Pires, como Marina, também contribui com uma atuação que, embora sincera, não consegue resgatar o filme do marasmo narrativo.

    O uso de kung fu, embora seja uma tentativa de adicionar dinamismo ao enredo, se torna um elemento mais pitoresco do que uma parte integral da narrativa. As cenas de ação são divertidas e engraçadas, mas não são suficientes para compensar a falta de profundidade na história e nos personagens.

    O clímax do filme, que aborda a reconciliação entre Arlete e Marina, é previsível e clichê. A revelação de que Arlete teve que abandonar Marina para aprender kung fu na China é uma reviravolta que, embora tente trazer uma camada de complexidade à relação mãe e filha, se revela mais como um recurso dramático superficial do que uma exploração real dos conflitos emocionais. A resolução é rápida e pouco satisfatória, fazendo com que a jornada emocional pareça apressada e rasa.

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    Vovó Ninja | Galeria Distribuidora

    Vovó Ninja” é um filme que não consegue ir além do básico. Apesar das boas intenções de capturar a essência da nostalgia e explorar temas familiares, a execução deixa a desejar. Com um enredo previsível e um desenvolvimento de personagens que não consegue criar uma conexão real com o público, o filme se torna uma experiência que rapidamente se dissolve na memória de quem o assistiu.

  • CRÍTICA | Longlegs – Vínculo Mortal, um terror agonizantemente bom

    CRÍTICA | Longlegs – Vínculo Mortal, um terror agonizantemente bom

    Chega aos cinemas nesta quinta-feira, 29 de agosto, Longlegs – Vínculo Mortal, o tão aguardado terror que vem causando alarde ao redor do mundo.

    Longlegs – Vínculo Mortal é um filme de suspense e terror de Osgood Perkins (A Bela Criatura que Mora Nesta Casa Sou Eu) que traz o vencedor do Oscar Nicolas Cage como o principal antagonista. Ele acompanha a história da agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe, de Corrente do Mal), que está tentando rastrear o serial killer Longlegs. O caso toma outro rumo quando a detetive descobre uma conexão pessoal macabra com o assassino e tenta pará-lo antes que ele faça mais vítimas.

    O elenco ainda conta com Blair Underwood (Impacto Profundo), Alicia Witt (Lenda Urbana), Michelle Choi-Lee (Loucas em Apuros) e Kiernan Shipka (O Mundo Sombrio de Sabrina).

    Do visual sinistro a performances incríveis, Longlegs é de fato o melhor filme de terror do ano até aqui. Perkins trouxe o pesadelo sobrenatural em alguns detalhes bem elaborados e alguns momentos brutais de perversidade. O diretor soube extrair até a última gota para tirar o melhor de seus personagens, reforçado pelas boas atuações de todo o seu elenco, com destaque para Maika Monroe e Nicolas Cage que de fato está irreconhecível no papel, todos os demais tiveram um alto impacto nos personagens principais e eventos que desenrolam o longa.

    Longlegs - Vínculo Mortal

    Longlegs – Vínculo Mortal | Diamond Films

    A primeira metade do longa é estática, completamente tensa e marcante. O diretor trabalha muito bem a mística do suspense de Serial Killers e agentes do FBI, trazendo toques sobrenaturais, diálogos cafonas, sem graça e por alguns momentos maçante, ele está sempre no limiar entre o que é paranormal e o que não é e por isso funciona tão bem.

    Quando Longlegs chega a sua parte final, seu ritmo alucinante vem a tona, fazendo com que seus 100 minutos de duração pareçam pouco, rapidamente alternando de sua forma mais abstrata para o palpável. Respostas claras com pouco espaço para diferentes interpretações, usando um discurso como um disfarce para metáfora onde não há nenhuma.

    Maika Monroe é absolutamente incrível, o público estava vivendo o mesmo que ela, bem como dentro de sua cabeça, seu desespero, sua falta de ar, sua melancolia crescente ao longo do filme, o que o torna tudo muito mais assustador. Um ótimo trabalho de personagem, que lembra Clarice Starling de O Silêncio dos Inocentes, bem escrito e profundamente distorcido. 

    Longlegs - Vínculo Mortal

    Longlegs – Vínculo Mortal | Diamond Films

    Nicolas Cage apresenta uma das atuações mais memoráveis, arrepiantes e enigmáticas como o herege serial killer Longlegs. Conforme o filme avança, começamos a descobrir o mundo estranho de Longlegs através de Lee Harker, alguns episódios psicodélicos, as emoções perturbadoras do limbo em que vive, o ritmo imaculado e a conexão das evidências, o diretor sabia como fazer um filme que pudesse levar o público para caminhar lado a lado com seus personagens. 

    O semblante caótico e quase derretido do assassino de Cage, ficará gravado em muitas mentes, algumas cenas específicas das quais eu legitimamente não consigo esquecer. Embora ele seja apresentado com moderação, sua onipresença permanece. A decisão de omitir sua aparição de todo o marketing foi brilhante, porque a primeira revelação de seu rosto é de fato horripilante.

    Em entrevista ao Entertainment Weekly, Cage revelou que sua inspiração para este papel foi sua mãe, que sofreu com esquizofrenia. “Foi um tipo de performance profundamente pessoal para mim porque eu cresci tentando lidar com o que ela estava passando. Ela falava em termos que eram uma espécie de poesia. Eu não sabia como descrever de outra forma. Tentei colocar isso no personagem Longlegs porque ele é realmente uma entidade trágica. Ele está à mercê dessas vozes que estão falando com ele e fazendo-o fazer essas coisas”, disse o ator.

    Nicolas Cage apresenta uma das atuações mais memoráveis, arrepiantes e enigmáticas como o herege serial killer Longlegs. Conforme o filme avança, começamos a descobrir o mundo estranho de Longlegs através de Lee Harker, alguns episódios psicodélicos, as emoções perturbadoras do limbo em que vive, o ritmo imaculado e a conexão das evidências, o diretor sabia como fazer um filme que pudesse levar o público para caminhar lado a lado com seus personagens. 

O semblante caótico e quase derretido do assassino de Cage, ficará gravado em muitas mentes, algumas cenas específicas das quais eu legitimamente não consigo esquecer. Embora ele seja apresentado com moderação, sua onipresença permanece. A decisão de omitir sua aparição de todo o marketing foi brilhante, porque a primeira revelação de seu rosto é de fato horripilante.

Em entrevista ao Entertainment Weekly, Cage revelou que sua inspiração para este papel foi sua mãe, que sofreu com esquizofrenia. “Foi um tipo de performance profundamente pessoal para mim porque eu cresci tentando lidar com o que ela estava passando. Ela falava em termos que eram uma espécie de poesia. Eu não sabia como descrever de outra forma. Tentei colocar isso no personagem Longlegs porque ele é realmente uma entidade trágica. Ele está à mercê dessas vozes que estão falando com ele e fazendo-o fazer essas coisas”, disse o ator.

    Longlegs – Vínculo Mortal | Diamond Films

    Apesar das atuações, nada neste filme é como O Silêncio dos Inocentes, muitos o comparavam a ele, além de alguns conceitos superficiais. Apesar dos comportamentos semelhantes de Clarice Starling e Lee Harker, em Longlegs seu relacionamento com o assassino é muito menos íntimo, dificilmente vemos o assassino nisso, sua falta de presença é o que torna o caso mais aterrorizante.

    A cinematografia de Andrés Arochi foi excelente, arrastando os elementos assustadores e perturbadores em cada quadro. Ao lado do diretor eles inundam quase a tela com um desconforto arrepiante, empregando os zooms lentos dos anos 70, as proporções de aspecto 4:3 para aumentar o pavor e claro o filme de 35mm é a cereja do bolo. 

    O design de som é único, não depende de jumpscares, mas usa de maneira inteligente o silêncio e a música, o que elevou a narrativa ao topo. Gosto da edição por vezes fantasiosa, de como cada cena parece vinhetada, mas ainda assim conectada, flui extremamente bem. O design de produção e os locais eram tão assustadores e caóticos quanto a própria narrativa. 

    Longlegs - Vínculo Mortal

    Longlegs – Vínculo Mortal | Diamond Films

    Longlegs traz o horror que se esconde à vista de todos, exibindo a terrível indiferença em sua representação abafada do nosso mundo, ele brinca muito brilhantemente com a mistura de elementos básicos do gênero para não tentar algo novo. Ao contrário dos mistérios de detetive que ele visualmente reproduz, não há mistério para resolver, nenhuma verdade para deduzir, as perguntas são respondidas nas cenas em que são propostas.

    O longa tem muitos pontos positivos, mas apesar de toda a sua atmosfera soberbamente comercializada e trabalhada pelo forte investimento no marketing que investiu os mesmos 10 milhões que foram gastos para realizar o filme, no final das contas não corresponde completamente às suas inspirações e aspirações. Eu realmente amei, no entanto, embora nem de longe o quanto eu queria ou esperava, o que claro é culpa minha, mas ainda assim fiquei completamente envolvido por sua terrível utopia.

    Conheça outros trabalhos do diretor aqui e aqui.

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  • CRÍTICA | 2° ano de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder se desdobra entre a sombra de Sauron e o brilho de um potencial perdido

    CRÍTICA | 2° ano de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder se desdobra entre a sombra de Sauron e o brilho de um potencial perdido

    O Senhor dos anéis: Os anéis de poder ainda se mostra tímida em explorar o pleno potencial da Terra média.

    A segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder traz um mergulho mais profundo na escuridão que permeia a Terra Média, destacando a jornada de Sauron e sua transformação em Annatar, o Senhor dos Presentes. Com a direção de Charlotte Brändström, ao lado de Sanaa Hamri e Louise Hooper, demonstra uma ambição em expandir o universo da série e deixar nas mãos de quem já possui experiência no assunto, trazendo mais sombras, traições e manipulações.

    A introdução da temporada, ao explorar o passado de Sauron pouco antes de se tornar Halbrand (Charlie Vickers), é uma escolha acertada para aprofundar a complexidade do personagem e fazer com que fosse matada a nossa dúvida referente ao que Halbrand estava fazendo naquela embarcação momentos antes de encontrar Galadriel. Vê-lo se tornar Annatar, seduzindo Celebrimbor (Charles Edwards) com palavras encantadoras, traz uma camada fascinante à narrativa. O tom sombrio da temporada, com mortes brutais e a violência dos orcs sob o comando de Adar, ajuda a criar uma atmosfera mais densa e madura.

    A presença do idioma Sindarin nesta temporada corrige uma das falhas da primeira onde não foi tão bem explorado, trazendo mais autenticidade e fluidez ao mundo dos elfos. Ouvir Elrond (Robert Aramayo) e Galadriel (Morfydd Clark) se comunicando na língua de seus ancestrais é um toque sutil, mas poderoso, que aprofunda a imersão na Terra Média e agrada aos fãs que sentiram falta desse elemento estar mais natural na temporada anterior.

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    Senhor dos Anéis | Prime Vídeo

    No entanto, Essa série possui diversos problemas. O desenvolvimento entre o Estranho (Daniel Weyman) e Nori Brandyfoot (Markella Kavenagh), apesar de ser uma tentativa de trazer alívio à narrativa, acaba quebrando o ritmo sombrio e denso da série no momento errado. Esse núcleo narrativo, infelizmente, peca por ser maçante e por não trazer algo original para a trama, apesar do Estranho ser um personagem interessante, mas totalmente mal explorado.

    Por outro lado, a introdução de Tom Bombadil, apesar do pouco tempo de tela, é um sopro de ar fresco no momento certo. O mago carismático e enigmático, que nunca havia sido visto em live action, traz mistério e carisma para a trama. Seu envolvimento na jornada do Estranho é um dos pontos altos, mostrando que a série ainda tem a capacidade de surpreender e inovar.

    O envolvimento dos “anãos” de Khazad-dûm com os anéis de poder feitos por Sauron adiciona uma nova camada de tensão e tragédia à narrativa. A série retrata como os anéis corrompem suas mentes, levando-os a uma busca insaciável por poder e fazendo-os perder completamente o senso de razão, principalmente na mente de Durin III. Essa trama é crucial para mostrar o alcance da manipulação de Sauron, ampliando o impacto do vilão não apenas entre os elfos, mas também entre os habitantes de Khazad-dûm, uma raça conhecida por sua resistência e orgulho.

    Infelizmente, Galadriel, que na primeira temporada já demonstrava certa falta de propósito, continua a parecer uma personagem perdida, correndo em círculos em sua busca incessante por Sauron. Sua relação com Elrond ganha mais profundidade devido aos anéis de poder dos elfos, mas sua trajetória ainda carece de direção clara, o que enfraquece seu impacto na história.

    Um dos momentos mais aguardados, a batalha do cerco de Eregion, infelizmente, não consegue entregar o épico que se espera de uma produção com o nome Senhor dos Anéis. A batalha entre orcs e elfos carece de grandiosidade, deixando uma sensação de frustração em um momento que deveria ser de pura emoção e clímax.

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    Senhor dos Anéis | Prime Vídeo

    Entretanto, a trilha sonora de Bear McCreary continua impecável, captando a essência da Terra Média de forma magistral. A música, mais uma vez, eleva a narrativa e conecta o espectador ao universo da série de maneira brilhante, principalmente na música “Old Tom Bombadil” na voz do cantor Rufus Wainwright.

    Resumindo, a segunda temporada de Os Anéis de Poder tem um potencial imenso, especialmente com o foco em Sauron como Annatar e sua interação com Celebrimbor. Esses momentos sombrios e tensos são o que realmente fazem a temporada brilhar. No entanto, algumas escolhas narrativas, como o desenvolvimento de personagens secundários e a execução de cenas épicas, acabam tornando a experiência menos empolgante do que poderia ser. Ao final, vemos Sauron saindo de seu isolamento em relação ao final da primeira temporada e começando a formar seu exército, o que promete um futuro ainda mais sombrio para a série.

    Essa temporada solidifica o caminho para algo maior, mas ainda sim precisa de ajustes para alcançar todo o potencial que o universo de Tolkien oferece.

  • CRÍTICA I O Corvo (2024) é uma tentativa de reinvenção que não alcança as sombras do passado

    CRÍTICA I O Corvo (2024) é uma tentativa de reinvenção que não alcança as sombras do passado

    Releitura do clássico de 1994, o novo O Corvo busca se conectar com a geração Z, mas falha em capturar a essência do original.

    Lançado em 1994, o filme “O Corvo” rapidamente se tornou um ícone do cinema gótico dos anos 90. Dirigido por Alex Proyas (“Cidade das Sombras”), o longa destacou-se não apenas por sua estética sombria e trilha sonora marcante, mas também pela trágica morte de Brandon Lee (“Rajada de Fogo”), filho do lendário Bruce Lee (“Operação Dragão”), durante as filmagens.

    Esse triste incidente elevou o filme ao status de cult, gerando uma legião de fãs que se conectaram profundamente com sua narrativa de vingança sobrenatural, em um cenário urbano decadente. A combinação de escuridão visual, melancolia e a performance inesquecível de Lee criou uma atmosfera única, que permanece viva na memória do público até hoje.

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    O Corvo (2024) I Imagem Filmes

    Agora, em 2024, a nova adaptação de “O Corvo”, dirigida por Rupert Sanders (“Branca de Neve e o Caçador”), tenta revitalizar essa história para a geração Z. Sanders enfrenta o desafio de modernizar uma narrativa atemporal, tentando adaptar a estética gótica do original para um público contemporâneo.

    A proposta deste novo “O Corvo” é reimaginar o visual e o tom do clássico, incorporando elementos modernos que reflitam o contexto do século XXI. O longa da vez busca capturar o espírito rebelde e melancólico que fez do original um sucesso, enquanto tenta se alinhar com os gostos e sensibilidades de uma geração que cresceu em um mundo dominado por redes sociais, tecnologia e uma cultura pop cada vez mais fragmentada.

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    O Corvo (2024) I Imagem Filmes

    Na trama, Eric Draven (Bill Skarsgård) e Shelly Webster (FKA twigs) são almas gêmeas ligadas por um passado sombrio. Após o brutal assassinato do casal, Eric é trazido de volta à vida com a chance de salvar seu verdadeiro amor, embarcando em uma implacável jornada de vingança.

    Bill Skarsgård (“It – A Coisa”) oferece uma interpretação que, embora não atinja a intensidade e o impacto deixados por Brandon Lee, traz autenticidade ao personagem. Ele confere ao novo Eric Draven uma presença própria, evitando imitar Lee, mas sem inovar significativamente. Sua performance captura a dor e a determinação de Draven, mas também carece da energia visceral que tornou Lee tão memorável. O desafio de interpretar um personagem icônico como Draven é grande, e Skarsgård, apesar de seu esforço, parece sempre à sombra de seu predecessor.

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    O Corvo (2024) I Imagem Filmes


    O antagonista da história, Vicent Roeg, é vivido por Danny Huston (“O Jardineiro Fiel”). Embora Huston seja um ator talentoso, seu personagem carece do desenvolvimento necessário para se tornar um vilão memorável. A falta de profundidade e motivação enfraquece o conflito central do filme, diminuindo o impacto da jornada de vingança de Eric. Sem um antagonista bem construído, a narrativa perde força, deixando a impressão de que o longa não explorou todo o seu potencial dramático.

    Nisso, o roteiro, assinado por Zach Baylin (“Creed III”), apresenta uma complexidade desnecessária. A história de “O Corvo” é, em essência, uma narrativa de vingança simples e direta, mas Baylin complica o enredo com subtramas e elementos adicionais que acabam ofuscando a trama principal. Em vez de aprofundar a jornada emocional de Eric ou explorar de forma significativa o mundo sombrio em que ele se encontra, o texto se perde em detalhes que não agregam valor à história. A simplicidade poderia ter sido a chave para capturar a essência do original, mas a escolha por uma abordagem mais complicada resulta em uma narrativa truncada e, por vezes, confusa.

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    O Corvo (2024) I Imagem Filmes


    A trilha sonora também tem seus pecados. Tentando resgatar a atmosfera dos anos 80 e 90, a música se limita a uma imitação do estilo da época, sem conseguir criar uma identidade própria para esta nova versão. Embora tente homenagear o original, ela falha em trazer algo novo e relevante, parecendo mais uma cópia do que uma reinvenção. Se no filme de 1994 ela era central para a construção da atmosfera, aqui parece deslocada e incapaz de proporcionar a mesma intensidade e conexão emocional.

    Em última análise, “O Corvo” (2024) é uma tentativa de atualizar um clássico do cinema gótico para uma nova geração, mas que não consegue se destacar como o original. O longa não é uma completa decepção e tem seus momentos, especialmente nas atuações de Skarsgård e Huston, mas, considerando o material rico do qual se origina, o resultado final é insatisfatório. A nova versão tinha potencial para alcançar voos mais altos, mas acaba ficando aquém, sem capturar a essência que tornou o original tão especial.

  • CRÍTICA| Pisque Duas Vezes é um thriller que explora o impacto da masculinidade tóxica

    CRÍTICA| Pisque Duas Vezes é um thriller que explora o impacto da masculinidade tóxica

    Pisque Duas Vezes – Um surpreendente thriller de estreia de Zoë Kravitz

    Ao longo de sua uma hora e 40 de filme, Pisque Duas Vezes apresenta uma tensão da primeira cena à última, o público, como um ser onisciente e atento ao contexto social, consegue perceber diversas vezes antes mesmo da protagonista, ocasionando uma agonia que não some fácil.

    Zoë Kravitz iniciou o processo de escrita de Pisque Duas Vezes no ano de 2017, na época, o filme se chamava Pussy Island, um nome que reflete sobre o período inicial que o thriller nasceu.

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    No fim do ano de 2017, a indústria cinematográfica passou por um forte movimento contra o assédio sexual em locais de trabalho. O movimento #Metoo levou a destituição de Harvey Weinstein de sua própria produtora, The Weinstein Company, após dezenas de mulheres acusarem o produtor de assédio sexual durante um período de 30 anos. Tendo inicialmente negado todas as acusações, em 2020 foi condenado a até 25 anos de prisão, porém, em 2024 sua sentença foi anulada.

    Weinstein não foi o único, o movimento #Metoo levou diversos homens a serem destituídos de seus respectivos cargos, sejam produtores, jornalistas ou atores como Jo Min-Ki, um ator sul-coreano, acusado de assédio por diversas mulheres que participavam do seu curso de atuação, Jo Min-Ki se suicidou um mês depois e em sua carta de suicídio ele pedia desculpas pelo seus atos.

    Apesar da importância do movimento dentro de diversas camadas sociais, ainda vivemos em uma sociedade machista na qual muitos homens se enxergam na posição de usufruírem de uma espécie de anel de Giges, como Platão discute em seu livro A República, assim, podendo cometer atos odiosos de diversos tipos, porém, saindo imunes por conta do poder ou anonimato.

    “Pisque Duas Vezes” é o primeiro trabalho de Zoë Kravitz na direção, apesar de apresentar algumas falhas, uma coisa inegável é a força de sua fotografia na composição de uma tensão que compõem o thriller em sua totalidade.

    O filme gira em torno de Frida, Naomi Ackle, uma garçonete apaixonada por Slater King, um milionário interpretado por Channing Tatum, e que recebe a oportunidade de passar um tempo em uma ilha deserta, junto com ele e outros desconhecidos. Apesar de premissa clichê e o sentimento que o público apresenta, desde as primeiras cenas, que algo estava errado, o mistério e os horrores finais somente são desvendados ao final do filme.

    Todo o elenco apresenta seu momento de brilhar, porém, o destaque é de Channing Tatum, no melhor papel de sua carreira, Adria Arjona e Naomi Ackie em um papel agonizante, passando por todas as emoções possíveis ao longo da produção.

    O roteiro apresenta nítidos paralelos com outras produções do gênero, incluindo o thriller Corra de Jordan Peele, porém, isto não tira o valor que o filme apresenta, seja em seu valor estético ou em sua capacidade de chocar e deixar o espectador agoniado, em cenas com um close de uma personagem que muda sua expressão de blaze para raiva em um intervalo de 30 segundos.

    Ao longo da produção, Zoë Kravitz não economiza metáforas para explorar a angústia feminina da sociedade atual, algo presente, constante em diferentes camadas sociais, porém, que continua existindo mesmo com esta consciência, seja uma síndrome de Cassandra em que por mais que elas gritem, ninguém acredita, ou os diversos assédios e liberdades que homens se enxergam no direito de tomar, somente por serem homens. O movimento #metoo foi importante justamente pelo seu impacto mundial em demonstrar isto.

    Todas as camadas sociais envolvidas no movimento estão presentes no filme de Kravitz, aqueles que praticavam atos de abusos, aqueles que apresentavam consciência destes atos, porém, não agiam para impedi-los, e em uma chocante cena ao final do filme: aqueles que pedem desculpas na vida pública e mesmo assim continuam com os mesmos costumes em sua vida privada.

    O filme é um thriller agonizante e uma montanha russa de emoções, trazendo reflexões, uma metódica fotografia, momentos cômicos pontuais que não destoam da tensão original da produção, um design de som arrebatador e uma direção inicial que nos fará ficar muito atento em futuros projetos de Zoë Kravitz.

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  • CRÍTICA | “Saideira” é uma dramédia brasileira que acerta na narrativa, mas escorrega nas piadas

    CRÍTICA | “Saideira” é uma dramédia brasileira que acerta na narrativa, mas escorrega nas piadas

    “Saideira” tropeça ao tentar ser “dramédia”, mas surpreende pela temática repleta de brasilidade e aconchego

    Em contato com o seu respectivo pôster, o longa “Saideira”, lançamento da Elo Studios, co-dirigido por Pedro Arantes e Júlio Taubkin e estrelado por Thati Lopes e Luciana Paes, pode passar uma primeira impressão de reproduzir algumas fórmulas do cinema brasileiro de comédia recente.

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    “Saideira” | Elo Studios

      A colorização vibrante, título de caráter popular e escolha de atrizes para protagonistas davam indícios de que a produção poderia tentar reeditar as comédia de estereótipos adicionando rostos conhecidos mas de diferentes nichos , como é o caso de filmes recentes como “Os Parças” (2017) e “Farofeiros” (2018). 

    Este tipo de produção pode ocorrer na intenção de reviver a tradição de sucesso da comédia no cinema brasileiro aliado a uma tentativa de renovação do público, unindo o nicho de cinéfilos mais assíduos (neste caso, através de Luciana Paes) com a nova geração  de consumidores da cultura digital (com Thati Lopes, conhecida inicialmente por seus papéis hilários em esquetes curtos do canal “Porta dos Fundos”).

    Mas, para surpresa dos espectadores mais desavisado, a expectativa por mais uma sessão de piadas no estilo pastelão, diálogos em alto tom de voz e personagens com forte representação de estereótipos logo dá lugar à uma narrativa com temática e brasilidades sólidas, mesmo que tropece em alguns momentos entre o drama e a comédia.

    O filme, bom exemplo de “dramédia”, conta a história de duas irmãs que, com a morte do avô, se reúnem novamente para embarcar em uma jornada de autodescobrimento e acerto de contas: uma viagem de carro pelo interior do Estado de Minas Gerais em busca do alambique  responsável por produzir a lendária cachaça que apenas seu avô possuía, a cachaça “Saideira”.

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    “Saideira” | Elo Studios

    E aqui reside justamente a principal valência desta produção: a temática que mistura relações familiares, história do Brasil e ode à mais brasileira das bebidas alcoólicas, a cachaça. Além, é claro, da deslumbrante ambientação em cidades icônicas como São Tomé das Letras e Ouro Preto, representantes mineiras da rota que ficou historicamente conhecida como Estrada Real. 

    O filme assume um caráter de roadmovie em grande parte de sua duração, e o espectador é transportado pelas estradas mineiras de maneira aconchegante (e também nauseante e cheia de ressaca). Destaque para o ótimo trabalho de cenografia, caracterização e direção de trilha sonora, que são fundamentais para desenrolar a trajetória das protagonistas de maneira leve, construindo uma narrativa agradável e divertida, principalmente, na chave do melodrama familiar.

    Na chave da comédia, o filme não tem o mesmo êxito e leveza que em sua contrapartida. As piadas, apesar de em alguns momentos acertarem no tom, arrancando algumas risadas, sofre com uma falta de consistência e frequência, não sendo tão marcantes para a experiência quanto o mistério em torno do passado das personagens ou outros elementos narrativos mais conectados à chave do drama, sub aproveitando o potencial cômico e artístico de ambas as atrizes protagonistas.

    Os diálogos também não contribuem para que o elenco entregue atuações mais condizentes com seus talentos, trazendo falas muitas vezes óbvias, que acabam por destoar do suspense criado em torno da origem da cachaça “Saideira” e da história dos familiares de Jo e Penélope, as irmãs protagonistas da trama.

    Ainda assim, o filme opta por escolhas criativas de direção para que seu ritmo se mantenha firme ao percorrer este caminho de oscilação entre o humor e o melodrama, característica típica de outras “dramédias” de grande destaque entre o público, como a série norte-americana vencedora do Emmy, “The Bear” (2022) do canal norte-americano FX. 

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    “Saideira” | Elo Studios

    Vale aqui o destaque para algumas cenas muito criativas e de bom humor do longa, como a hilária cena de abertura, estrelada pelo gênio Tonico Pereira em ótima forma; a divertida cena em que Penélope, cachaçóloga de sucesso e herdeira de copo de seu avô, dá uma aula sobre a origem e a produção de cachaça no Brasil de maneira animada e dinâmica; e, talvez a melhor de todo o filme, a cena em que Penélope e Jo encontram o personagem do icônico Jackson Antunes para uma longa noite de intensa bebedeira em uma birosca esquecida no remoto interior mineiro, relembrando os melhores momentos de insanidade alcoólica do clássico australiano “Wake in Fright” (1971) do diretor Ted Kotcheff.

    Portanto, apesar de tropeçar na alternância típica das dramédias, “Saideira” afasta os estereótipos da comédia pastelão e abraça a brasilidade de sua narrativa, convidando o espectador para uma divertida viagem pelo interior mineiro, propondo debates sobre familiaridade e regionalismo, apresentando muito do potencial criativo da parceria entre seus jovens diretores e deixando boas expectativas para futuras produções assinadas pela dupla.

    É uma boa recomendação para o filme de domingo com amigos ou família, principalmente se for acompanhado de uma boa dose de pinga.

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  • CRÍTICA I ‘Mais Pesado é o Céu’ é uma Jornada Sem Esperança

    CRÍTICA I ‘Mais Pesado é o Céu’ é uma Jornada Sem Esperança

    Mais Pesado é o Céu transmite uma intensa sensação de desespero e sobrevivência, no meio do interior do Brasil

    A luta pela sobrevivência, em meio ao desespero e à falta de esperança, é um tema poderoso e universal no cinema. Quando a narrativa se desenrola em um cenário de caos e adversidade, o espectador é convidado a mergulhar profundamente nas emoções dos personagens, sentindo suas angústias e medos. Esse mergulho é crucial para criar uma conexão intensa entre a trama e quem a assiste, fazendo com que cada cena de sofrimento e cada tentativa de superação se tornem experiências viscerais para o público.

    Dirigido por Petrus Cariry (“O Barco”), “Mais Pesado é o Céu” segue essa linha, impressionando pela montagem cuidadosa e atmosfera densa. O relato pesado e angustiante, situado no interior do Brasil, cativa e imerge o espectador, em uma história que explora temas de desespero e sobrevivência, de forma intensa e profunda. Cariry utiliza uma abordagem visual, que é ao mesmo tempo poética e brutal, enfatizando a beleza crua da paisagem brasileira, enquanto destaca a dureza da vida dos personagens.

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    Mais Pesado é o Céu I Iluminura Filmes


    A trama segue Antonio (Matheus Nachtergaele) e Teresa (Ana Luiza Rios), que se encontram e iniciam uma jornada pelas estradas, compartilhando lembranças de uma cidade submersa no fundo de uma represa. Este encontro casual, entre duas almas perdidas, cria um vínculo forte e melancólico, onde ambos buscam um sentido para suas existências em um mundo que parece constantemente desmoronar ao seu redor. A narrativa se desenvolve, portanto, como uma metáfora para a perda e a busca de redenção, com a cidade submersa simbolizando os sonhos e esperanças, afogados pelo tempo e pela realidade cruel.

    A sensação de fuga é palpável, com a fotografia de Cariry alternando entre tomadas amplas e claustrofóbicas, transmitindo a falta de rumo dos personagens e aumentando a tensão. Essa escolha estilística não apenas retrata a vastidão do desespero, mas também o enclausuramento emocional, que os personagens enfrentam. Cada plano é cuidadosamente composto para refletir o estado interno de Antonio e Teresa, criando uma simbiose entre o ambiente e a ficção.

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    Mais Pesado é o Céu I Iluminura Filmes


    O longa funciona como um road movie, com uma ambientação que brinca com a fuga do espectador, mantendo-o preso à narrativa, enquanto deseja escapar dela. A ausência de esperança é o tema central, especialmente em cenas desconfortantes, como quando Teresa se submete à violência para sobreviver. Essas cenas são particularmente impactantes, mostrando o extremo a que os seres humanos podem ser levados, quando todas as opções parecem esgotadas. O choro de um bebê ainda intensifica tal desespero, simbolizando tanto a fragilidade quanto o milagre da vida, em meio ao caos. Tal elemento adiciona uma camada de vulnerabilidade e inocência à trama, contrastando fortemente com a brutalidade do mundo adulto que os cerca.

    As atuações de Nachtergaele e Rios são extremamente fortes, trazendo profundidade emocional que sustenta o filme. Nachtergaele, conhecido por sua capacidade de incorporar personagens complexos e atormentados, entrega uma performance que é ao mesmo tempo poderosa e sutil, capturando as nuances da dor e da esperança. Rios, por sua vez, oferece uma interpretação comovente, de uma mulher que luta contra a desintegração de sua humanidade, mostrando resiliência em face de adversidades insuperáveis.

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    Mais Pesado é o Céu I Iluminura Filmes

    No entanto, também há problemas. No meio do longa, a sensação de andar em círculos reflete a confusão e o desespero dos protagonistas, deixando o espectador incerto se isso é proposital ou resultado dos personagens estarem perdidos. Esse aspecto pode ser interpretado como uma crítica à falta de direção na vida de muitos, um espelho da própria busca dos personagens por um propósito. Apesar de isso poder causar tédio, a última cena oferece uma catarse recompensatória, que amarra a explanação de forma magnífica, proporcionando uma resolução emocional que, embora não seja convencionalmente feliz, oferece um senso de fechamento.

    Ao fim, “Mais Pesado é o Céu” representa o lado mais sombrio da natureza humana, mostrando como é difícil acreditar na bondade gratuita, em tempos de crise. Através de uma narrativa envolvente, direção sólida e atuações poderosas, o filme entrega uma experiência cinematográfica profunda e perturbadora. A obra desafia o espectador a confrontar seus próprios conceitos de desespero e esperança, deixando uma marca que ressoa muito depois dos créditos finais.

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  • CRÍTICA | Meu Filho, Nosso Mundo valoriza ter um filho especial

    CRÍTICA | Meu Filho, Nosso Mundo valoriza ter um filho especial

    Meu Filho, Nosso Mundo debate a forma que uma pessoa com autismo é tratada pela sociedade.

    Depois que um comentário sarcástico apavora uma criança com autismo a ponto de fugir e ser atropelada, seu pai decide fugir com ela para uma aventura, em prol de mostrar como aquilo que a torna diferente, também a torna especial, mas não a ponto de precisar ser tratada como tal. O mundo é duro, e é melhor aprender com ele do que viver fora, a ponto de não estar preparado com o que o futuro reservar.

    Sendo assim, “Meu Filho, Nosso Mundo” traz um entretenimento familiar de pai e filho se conhecendo, entendendo e crescendo juntos. Lembrando muito aquela obra que rendeu um Oscar para Dustin Hoffman chamado “Rain Man“, onde entre percalços e situações cômicas, o espectador se comove com uma relação conturbada que fica mais poderosa ao final de sua duração.

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    Meu Filho, Nosso Mundo | Diamond Films

    Ainda que não traga uma verdadeira conclusão para alguns tópicos como a amiga que parecia ser mais do que isso e o adulto que falou algo pecaminoso, desencadeando no acidente da criança, o assunto principal envolvendo a família, o motivo do avô trabalhar com algo, a ausência de uma mãe, o problema que o filho tem com certas coisas e a força do pai em se provar perante o que julgam sobre ele. Tudo isso é trabalhado e concluído de modo agradável.

    A firmeza no chão apresentada pelo longa é algo que o fortalece ainda mais perante as possíveis facilitações que poderia seguir caindo pro clichê, seja diálogos inspirados demais ou momentos onde a trilha sonora impulsiona o espectador a chorar. Aqui, tudo soa muito… honesto. As conversas transparecem veracidade, algumas ações sofrem consequências e quando menos espera, surgem as cenas que podem comover o público.

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    Meu Filho, Nosso Mundo | Diamond Films

    A forma escolhida para retratar o autismo foi ótima pela visão de quem tem pouca familiaridade com o assunto, pois ainda que seja notável as dificuldades que as pessoas podem passar com alguém que tenha esse transtorno, sabiamente a obra escolhe clarear a visão pessimista com a beleza disso, o que acontece ali que realmente a torna especial, incluindo até mesmo as evoluções encontradas para com certos níveis habituais sendo alcançados ou a inteligência demonstrada com algo que a grande maioria teria maior dificuldade em pensar ou responder.

    Vale dizer, acredito que a obra se sair tão bem ao retratar o assunto, vai tanto da interpretação dos atores, no modo como cada um retrata um jeito de tratar um autista, tal qual a presença de William Fitzgerald’s que dá vida ao protagonista e também tem transtorno do espectro autista, mostrando não só a preocupação da produção em falar sobre o assunto, como encontrar uma forma de conversar com cada um que conhece alguém ou sofre do mesmo transtorno.

    Meu Filho, Nosso Mundo é um filme adorável, que tem pitadas de comédia, mas que ao trabalhar com um tema deveras complicado, nunca se deixa ficar dramático ou pesado demais. Cada assunto é abordado de um jeito que você se conecte, se identifique e possa conhecer o mundo que seria só deles. A mensagem do longa-metragem é trabalhada com sabedoria, ao destacar que os autistas não podem ser excluídos do nosso mundo e mesmo com o jeito diferente de ver o mundo, devem receber respeito e carinho, sendo recebidos como se fossem seu próprio filho.

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  • CRÍTICA | 2° Temporada de A Casa do Dragão se torna uma promessa de um futuro brilhante, mas arrastado

    CRÍTICA | 2° Temporada de A Casa do Dragão se torna uma promessa de um futuro brilhante, mas arrastado

    A Casa do Dragão parece um trailer longo, preparando o terreno para os momentos épicos que estão por vir.

    A segunda temporada de “A Casa do Dragão” é como um prato gourmet com uma apresentação impecável, mas que deixa a desejar no sabor. Cada episódio parece mais um trailer longo e provocante para o que está por vir, prometendo um banquete de emoções futuras, mas nos servindo apenas aperitivos.

    Após a saída de Miguel Sapochnik. A série seguiu nas mãos do showrunner Ryan J. Condal, que parece ter perdido um pouco a mão ao decorrer da série, fazendo falta alguém que pudesse ter o auxiliado melhor em certas decisões na trama. Mesmo com com o autor George R.R. Martin envolvido na construção da trama, acaba passando a impressão que ele não está interferindo em nada nas decisões de A Casa do Dragão.

    CRÍTICA | 2° Temporada de A Casa do Dragão se torna uma promessa de um futuro brilhante, mas arrastado

    A Casa do Dragão | HBO | Max

    Daemon Targaryen (Matt Smith), é uma joia rara, mas nesta temporada, ele parece mais uma peça decorativa esquecida em Harrenhal. Suas alucinações, embora intrigantes, soam como um recurso para preencher o vazio da trama, subutilizando tanto o personagem quanto o talento de Smith. É como ter um diamante bruto e usá-lo como peso de papel. Os produtores perderam a chance de explorar a complexidade de Daemon, deixando os espectadores ávidos por mais do que meras aparições sem sentido.

    Alicent Hightower (Olivia Cooke) é um exemplo clássico de um personagem mal desenvolvido. Na trama, ela mais parece uma barata tonta, correndo de um lado para o outro sem propósito claro, vitimizada por circunstâncias que nunca a deixam brilhar. A falta de profundidade em sua construção deixa um vazio que nem as melhores atuações podem preencher. Ela precisava de um roteiro que permitisse sua evolução, mostrando não apenas suas fraquezas, mas também sua força e resiliência.

    Rhaenyra (Emma D’Arcy) é uma protagonista poderosa, mas nesta temporada, ela parece estar presa em um loop interminável, andando em círculos para preencher o tempo de tela. Nos poucos episódios em que realmente brilha, ela nos lembra do seu potencial, mas esses momentos são escassos. É frustrante ver uma personagem com tanto a oferecer ser totalmente nerfada em diversas ocasiões, servindo apenas para manter a narrativa em movimento, sem realmente avançar. Mesmo com o potencial da personagem desperdiçado, Emma D’Arcy tira leite de pedra e nos entrega mais uma vez uma atuação de excelência, assim como foi feito na 1° temporada.

    A trilha sonora de Ramin Djawadi eleva a série a outro patamar novamente. Sua música é uma constante, uma certeza de qualidade em meio à incerteza narrativa. Cada nota é cuidadosamente composta para evocar emoções profundas, lembrando-nos das glórias passadas de “Game of Thrones” e criando uma ligação emocional de calmaria em meio ao caos, que nos faz continuar assistindo, apesar dos tropeços.

    CRÍTICA | 2° Temporada de A Casa do Dragão se torna uma promessa de um futuro brilhante, mas arrastado

    A Casa do Dragão | HBO | Max

    Não há dúvidas de que “A Casa do Dragão” mantém o altíssimo padrão de produção pelo qual a HBO é conhecida. Cada episódio é um espetáculo visual, com cenários deslumbrantes, efeitos especiais de última geração, e uma atenção aos detalhes que beira a perfeição. Desde os grandiosos castelos de Westeros até as majestosas batalhas aéreas entre dragões, a série nunca decepciona em termos de qualidade técnica. O design de produção, a cinematografia e a direção de arte são impecáveis, mostrando que, independentemente dos desafios narrativos, a série entrega uma experiência visual de tirar o fôlego.

    A primeira temporada de “A Casa do Dragão” se destacou pelas atuações intensas e pela capacidade de extrair o melhor da selvageria de cada personagem. Na segunda temporada, essa exigência parece ter sido atenuada, resultando em performances que, embora competentes, carecem do mesmo brilho. A cautela excessiva na trama pode ter impedido que os atores também alcançassem seu pleno potencial, deixando-nos com a sensação de que algo está faltando.

    A segunda temporada de “A Casa do Dragão” se torna uma obra de arte visual e auditiva, que peca pela falta de objetividade e desenvolvimento de personagens. Com atuações padrões e uma narrativa que parece andar em círculos, ela deixa os espectadores ansiosos por um futuro que promete ser brilhante, mas que ainda não chegou. A esperança é que os produtores aprendam com esses deslizes e nos entreguem uma terceira temporada que faça jus ao potencial imenso da série. Mesmo com esses pontos de melhoria, é inegável que a produção da HBO continua a nos proporcionar uma experiência cinematográfica de altíssimo nível, que nos faz acreditar em um futuro extremamente promissor para a série.

    Os 8 episódios de A Casa do Dragão já se encontram disponíveis na Max.

  • CRÍTICA | 1° Temporada de Batman: Cruzado Encapuzado chega como Uma Imersão Sombria e Nostálgica no Universo do Cavaleiro das Trevas

    CRÍTICA | 1° Temporada de Batman: Cruzado Encapuzado chega como Uma Imersão Sombria e Nostálgica no Universo do Cavaleiro das Trevas

    Batman: Cruzado Encapuzado – De Quase Cancelada a Um Colírio para os Fãs do Cavaleiro das Trevas

    Batman: Cruzado Encapuzado inicialmente descartada por David Zaslav – CEO da Warner Bros. Discovery e produzida por Bruce Timm (Batman: A Série Animada) , J.J. Abrams e Matt Reeves nos oferece uma nova e empolgante visão do universo de Batman, agora no Prime Vídeo misturando o charme clássico dos personagens com uma estética noir aprimorada. A série consegue capturar a essência das histórias tradicionais do personagem, mas agora em um ambiente mais sombrio e atmosférico, o que a torna irresistível por conta de toda a ambientação e novos detalhes em cada personagem. Além disso, a cada episódio, a nova serie do Batman nos faz relembrar da icônica série animada do Batman, trazendo uma sensação de nostalgia para os fãs de longa data.

    Uma das características mais notáveis da serie é a forte conexão entre os diversos personagens do universo de Batman. Isso não apenas cria uma trama envolvente e coesa, mas também desperta a curiosidade e a animação do público para ver como cada arco de personagem se desenrolará. Essa interconexão é um ponto crucial para manter a coesão narrativa e garantir que os espectadores permaneçam investidos na história.

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    Batman: Cruzado Encapuzado | Amazon Prime Vídeo

    Outro aspecto que destaca a série é sua coragem em explorar os aspectos mais sombrios do mundo de Batman. A violência é retratada de maneira a adicionar profundidade e realismo, sem parecer gratuita. Esse equilíbrio é essencial para manter a seriedade e a gravidade do universo de Batman, ao mesmo tempo em que se evita a banalização da violência. Essa combinação de narrativa clássica com um toque moderno eleva a serie a outro nível, atraindo tanto os fãs de longa data quanto os novos admiradores do Cavaleiro das Trevas.

    Diversos vilões conhecidos retornam em Batman: Cruzado Encapuzado, e o que mais destaca isso é a ousadia de nos mostrar uma nova visão mais fiel a respeito desses personagens. Um exemplo disso é o vilão Cara de Barro, que está menos fantasioso e mais realista para a estética da série.

    A estética noir da série é uma característica que merece destaque. Esse estilo visual não apenas homenageia as raízes investigativas do Batman, mas também proporciona uma atmosfera única que diferencia essa animação de outras adaptações. A paleta de cores sombrias, a iluminação dramática e os cenários meticulosamente detalhados contribuem para criar um ambiente envolvente e imersivo.

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    A narrativa interconectada é fundamental para o sucesso da série. Embora cada episódio seja independente um do outro, a animação garante que nenhum momento seja desperdiçado o desenvolvimento do Batman e dos personagens em volta dele. Essa abordagem narrativa mantém os espectadores engajados e ansiosos por mais, enquanto permite uma exploração mais profunda dos personagens e de seus relacionamentos.

    Além disso, a série faz um excelente trabalho ao abordar questões sociais contemporâneas através das suas tramas. Ao explorar temas como corrupção, principalmente em questões políticas, violência e moralidade, Batman: Cruzado Encapuzado não apenas entretém, mas também provoca reflexão sobre dilemas éticos que ressoam na sociedade atual. Essa abordagem madura é um dos aspectos que diferencia a animação das versões anteriores e a torna relevante para o público moderno.

    Em resumo, Batman: Cruzado Encapuzado é uma série imperdível para qualquer fã do Cavaleiro das Trevas. A maneira como ela revisita os contos clássicos em um estilo noir, com uma narrativa interconectada e uma violência bem dosada, faz com que a série se destaque e honre o legado de Batman de uma maneira nova e cativante. Com uma estética única e uma abordagem corajosa, a animação do cavaleiro das trevas promete ser uma adição memorável ao universo de Batman, agradando tanto os fãs de longa data quanto os novos espectadores.

    Os 10 episódios de Batman: Cruzado Encapuzado, já se encontram disponíveis no Prime Vídeo.

  • CRÍTICA | Deadpool e Wolverine: filme do ano ou álbum de figurinhas da Marvel?

    CRÍTICA | Deadpool e Wolverine: filme do ano ou álbum de figurinhas da Marvel?

    Deadpool e Wolverine” acerta na metalinguagem e descontração, mas peca na irrelevância de seus acontecimentos.

    Deadpool e Wolverine é, sem dúvida nenhuma, o filme mais aguardado do MCU desde “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021)”. Com a mesma temática sobre o multiverso, o novo filme do Mercenário Tagarela, além de introduzir o personagem no universo cinematográfico dos maiores heróis da Terra, também tinha a missão de reviver (literalmente) um de seus personagens mais populares: o Wolverine de Hugh Jackman. Mas será que o longa corresponde à expectativa criada por seus dois protagonistas ou seria apenas mais um álbum de figurinhas da Marvel?

    CRÍTICA | Deadpool e Wolverine: filme do ano ou álbum de figurinhas da Marvel?

    “Deadpool e Wolverine” | Disney

    Explicando, um álbum de figurinhas (como o da Copa do Mundo) tem um formato padrão há décadas: suas páginas são preenchidas pelas seleções que disputarão o torneio e os jogadores convocados. Apesar da impressão e qualidade gráfica ter avançado significativamente ao longo dos anos, a expectativa não está exatamente na inovação de seu formato, mas sim nas figurinhas que o colecionador receberá em cada pacotinho.

    E essa vem sendo a tonalidade dos filmes de multiverso da Marvel. Roteiros com pouca profundidade, eventos épicos mas sem grandes consequências no universo criado… Mantinha-se apenas a expectativa de descobrir quais heróis iriam aparecer em tela para agraciar a sede dos fãs (mesmo que seus papéis e trajetórias fossem descartáveis).

    Mas filmes não são álbuns de figurinhas, e quando o espectador, mesmo o mais marvete, vê seus heróis favoritos com tempo de tela mínimo e relevância reduzida, suas expectativas são frustradas, deixando um sentimento de assistir apenas mais um blockbuster comercial, ausente do toque artístico característico da Casa das Ideias.

    O exemplo mais recente disso foi o filme “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”(2023), que falha na tentativa de introduzir velhos conhecidos personagens ao MCU, reduzindo drasticamente seu tempo de tela e a abrangência de seus superpoderes, além de criar uma narrativa que consegue ser ao mesmo tempo épica mas irrelevante para o universo cinematográfico dos heróis. Mas será que o novo longa do Mercenário Tagarela sofre da mesma falta de profundidade da sequência do Mago Supremo?

    Enquanto continuação dos outros dois filmes do Deadpool, a nova produção funciona muito bem. Suas referências metalinguísticas e temáticas irreverentes fazem jus aos anteriores, adicionando uma pitada à mais de acidez ao personagem ao brincar diretamente com a infantilização típica da Disney e o fim de seu estúdio anterior, a 20th Century Fox.

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    “Deadpool e Wolverine” | Disney

    Falando em Fox, o filme funciona muito bem também como uma grande homenagem ao controverso estúdio que, apesar das escolhas artísticas questionadas, foi responsável por clássicos do gênero, como “X-men” (2000) e “Quarteto Fantástico” (2005), e ainda guarda um lugar nostálgico no coração dos fãs. A metalinguagem, nesse caso, também ajuda e muito para emular a relação de amor e ódio estabelecida entre o ex estúdio e seu público.

    É, com certeza, uma carta aberta de despedida dos personagens da 20th Century Fox aos seus espectadores que cresceram vendo suas histórias, independente da qualidade de suas produções.

    Agora fazendo parte definitiva do MCU, os heróis da Fox deveriam ser introduzidos ao Universo, criando a sinergia entre os diferentes filmes que marcaram as produções da Marvel desde o “Homem de Ferro” (2008). Neste ponto está talvez a sua principal falha, comum em filmes sobre multiverso.

    O filme aposta em uma narrativa muito mais voltada para a metalinguagem do que para o “épico”, decisão acertada que cria uma atmosfera de empolgação no retorno do astro Hugh Jackman à  franquia e a participação dos protagonistas em futuras produções como os próximos Vingadores. Mas seus eventos não parecem ter muitos efeitos práticos no Universo como um todo, diminuindo a potência de sua narrativa e revivendo um problema crônico do multiverso da Marvel.

    Se os Universos são infinitos, acaba sendo um pouco difícil se apegar à uma linha do tempo apenas. De que vale o esforço para salvar o mundo se existem inúmeros outros iguais ou até melhores para se descobrir?

    Esta falta de relevância de um único Universo frente à tantos outros cria um problema de identificação do público para com seus personagens. Tudo parece descartável e qualquer morte pode ser revertida como num passe de mágica (ou uma grande quantia de dinheiro) em produções futuras.

    Mesmo assim, “Deadpool e Wolverine” encontra uma pequena brecha para este empecilho justamente ao aprofundar a metalinguagem de seu personagem principal. Os eventos podem ser infinitos, mas de alguma forma Deadpool parece saber de tudo que acontece fora das telinhas e esta interação cria uma narrativa divertida e única, ainda que não muito profunda.

    O retorno de Wolverine após sua emblemática despedida no filme “Logan” (2017) é um retrato dessa dicotomia e Deadpool trata de lidar com isso logo na cena inicial, com muito sangue, piadas de duplo sentido e referências cinematográficas. Aliás, as referências são outro ponto alto do longa (como já era de se esperar). Sempre irreverentes e astutas, conseguem resgatar elementos clássicos do cinema, consolidando novamente o nome da Marvel como ícone da cultura pop. Em especial, as referências à “Furiosa: Uma saga Mad Max” (2024) e “Star Trek: A Ira de Khan” (1982) são as cerejas do bolo para o marvete mais cinéfilo.

    As aparições, neste caso, também funcionam muito bem. Tanto no sentido de introduzir ótimos personagens ao MCU quanto de honrar o legado de suas histórias e filmes. Parece que os produtores aprenderam com os erros de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” (2022), fazendo jus às aparições dos personagens e surpreendendo (e muito) em alguns dos casos. Os personagens (e atores escolhidos) possuem arcos específicos tanto na ficção quanto na vida real e a metalinguagem de Deadpool trabalha bem estas representações junto à expectativa do público.

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    Mas afinal, “Deadpool e Wolverine” é o filme do ano ou apenas mais um pacote de figurinhas da Marvel? A resposta é: nem um, nem outro. Seu roteiro muito conveniente em certos pontos e falta de consequências reais diminui a potência de seus personagens, mas o filme acerta na despretensão ao épico, criando uma narrativa divertida, engraçada, sangrenta e cheia de ação. Os personagens principais funcionam muito bem juntos, resgatando os bons momentos da parceria dos quadrinhos e revivendo (neste caso, literalmente) o Wolverine dos cinemas, ainda é ótima forma. Quase 20 anos depois, finalmente tivemos a interação Deadpool e Wolverine que os fãs tanto aguardaram e, principalmente neste sentido, o filme vai muito bem, obrigado.

    “Deadpool e Wolverine” está longe de ser o melhor filme da Marvel, mas tem potencial para ser talvez o melhor até aqui sobre Multiverso, dando um gás no estúdio, que vivia seu momento mais baixo desde a criação do MCU e empolgando novamente as expectativas para os próximos Vingadores. 

    Independente de seus erros, a possibilidade de ver Ryan Reynolds como Deadpool, Hugh Jackman como Wolverine, Tobey Maguire como Homem-Aranha e tantas outras possibilidades marcantes de representações dos heróis mais poderosos da terra, reunidos  é muito animadora. Mesmo sem a sinergia e relevância de eventos canônicos como estalar de dedos de Thanos, o longa foge da mesmice das últimas produções da Marvel e dá ainda uma sobrevida para o Universo, prendendo seus fãs novamente até o próximo filme dos Vingadores, pelo menos.

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  • CRÍTICA | The Boys perde SUTILEZA em sua 4º Temporada e só empolga ao final

    CRÍTICA | The Boys perde SUTILEZA em sua 4º Temporada e só empolga ao final

    The Boys transmite desgaste ao trazer mais tramas pro seu universo sem que consiga desabrochá-las de modo harmonioso.

    Após descobrirem que existem um vírus com a capacidade de matar um super, o grupo que intitula o seriado age para encontrar um modo de atingir o Capitão Pátria com isso, além de precisarem se preocupar com o fato do integrante Billy Butcher estar morrendo e seu afilhado, Ryan, a beira de virar casaca, podendo ser um novo problema. Entretanto, o que cada um dos personagens não espera é que uma sombra de seus passados surgirá para incomodá-los.

    Partindo disso, a temporada falha em desenvolver o time como poderia, já que mesmo apresentando frescor no quesito da inventividade encontrada para apresentar novas camadas que poderiam ser exploradas com cada um, poucas são as que conseguem tirar algo de valor de acordo com isso, passando a sensação que aquela pessoa mudou, passou por conflitos internos que a levarão para outro rumo. Sendo bem trabalhado e não ficando apenas na superfície, o que acaba sendo o caso do Trem-Bala, Ryan e do verdadeiro antagonista da produção.

    Fazendo-se necessário destacar a força que Antony Starr transmite no papel de Capitão Pátria, seja por cada vez mais notarnos nuances divergentes que são apresentadas a cada temporada sobre o que sente ou por mesmo sendo o foco desde a primeira temporada, continuar trazendo a sensação do espectador estar vendo algo inédito, algo que o episódio ”Wisdom of the Ages” destrincha sabendo impactar sem exagerar. Além da oportunidade dada pela série para ver como um vilão educa o próprio filho.

    The Boys Season 4 Homelander

    The Boys | Prime Video

    The Boys sempre apresentou críticas sutis e inteligentes sobre como enxergava o mundo, de modo que pudesse servir de piada, parodiando heróis famosos dentro da cultura pop ou acontecimentos que o público presenciou nos últimos anos. Ainda que algumas pessoas pudessem achar expositivo, a obra sempre encontrou uma forma de conectar o que estava debochando com a trama abordada pela temporada. Nessa temporada, parece que tudo foi jogado no ventilador.

    Há uma clara condenação por um ponto de vista político que, mesmo podendo querer cutucar o caminho extremo que algumas pessoas decidem seguir, acaba parecendo resumir um ideal a um povo completo, como se não existissem pensamentos divergentes sobre os assuntos ou partidos tomados, sem contar a aparente falta de interesse em falar do lado negativo que o outro ideal pode ter também, o que desconversa com a imagem cinza que a série propagou para cada personagem durante seus anos e que ganha ainda mais fôlego neste. Ainda que não se aproveite disso.

    É possível dizer que todos os integrantes da equipe protagonista tiveram a oportunidade de ganharem um foco para encaminhar quem assiste para um rumo fora do esperado, encontrando novas peças que leve a compreensão do motivo de serem quem são e o que podem construir em si próprios agora para tomar um rumo divergente. Acontece que tirando o Huguie, que passa por uma trama até a parte do resto e o leva a uma nova direção, os problemas dos outros parecem ser resolvidos só de conversar.

    The Boys | Prime Video

    The Boys | Prime Video

    Sendo assim, mesmo que existam muitas tramas e nem todas possam ser abordadas com o tempo apropriado, ao notar que não serão trabalhadas com o devido respeito, podendo ficar para serem concluídas em outra temporada ao invés de serem finalizadas superficialmente na mesma, a sensação de estar perdendo tempo ao acompanhar uma jornada sem um rumo claro com seus personagens ganha força e mesmo que as cenas chocantes continuem surgindo de um jeito criativo, estas não serão poderosas o suficiente para prender quem assiste.

    Contudo, ainda que tenham momentos obscenos desnecessários em prol de chamar atenção e em detritemento da evolução na história, é válido destacar como cada episódio consegue de um jeito diferenciado apresentar um novo conceito a ser explorado no universo, seja por algo que um novo personagem proporcione ou uma consequência das ações realizadas em um episódio antecessor, levando a manter ligado o interesse pela surpresa que o futuro aguarda.

    A nova temporada de The Boys esclarece que muitos potenciais podem ser alcançados, tal como a ideia de que ainda existem jeitos novos de continuar sua história sem parecer repetitivo, mas de nada adianta acender essa chama quando não apresenta capacidade de mantê-la forte até seu fim, soando mais como aquela vela que finge ter apagado para retornar querendo dar esperenças supérfluas do que como a fogueira que dura tempo suficiente para apagar depois de ter realizado o desejo de quem à estimulou.

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  • CRÍTICA | The Acolyte tem boas ideias, mas perdidas na galáxia

    CRÍTICA | The Acolyte tem boas ideias, mas perdidas na galáxia

    Prometendo inovação, a The Acolyte tropeça em execuções pobres, conveniências na história e falta de originalidade.

    “The Acolyte” tinha todos os elementos para revitalizar a franquia Star Wars, algo pedido há tempos. Situada em um período até então inexplorado na saga, com um bom elenco e uma criadora competente, a série prometia ser um novo grande acerto, semelhante ao sucesso de “Andor” (2022). No entanto, boas intenções não garantem nada, e o resultado é mais uma nova decepção, na já tumultuada jornada do Universo criado por George Lucas, em 1977, e nesse momento nas mãos da Disney.

    Ambientada séculos antes dos eventos do filme “Episódio I – A Ameaça Fantasma” (1999), a trama da vez explora a Alta República, quando os Jedi estão no auge de seu poder e os Sith, supostamente, extintos há milênios.

    A história segue a jovem Osha (Amandla Stenberg), uma descendente de um clã de poderosas bruxas da Força, que acaba se envolvendo em um conflito delicado, quando sua irmã gêmea, Mae (também interpretada por Stenberg) a impede de seguir sua jornada. Ao mesmo tempo, se inicia uma nova onda de assassinatos contra Mestres Jedi, pela galáxia.

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    The Acolyte I Disney+

    Distante da Família Skywalker, dos Mandalorianos e das Estrelas da Morte, a criadora e roteirista Leslye Headland (“Boneca Russa”) adota inicialmente um tom detetivesco, semelhante a um “CSI: Investigação Criminal”, só que no espaço.

    Porém, a narrativa, apesar de uma promessa interessante, logo se torna morna e irregular, expondo as fragilidades de um projeto mal adaptado para o formato seriado. A pobreza técnica, visto desde o cenário até as bizarras coreografias das lutas, num roteiro cheio de falhas comprometem ainda mais a produção.

    O uso dos poderes da Força, por exemplo, é recheado de conveniências, tornando a trama bem previsível e sem emoção alguma. A série também sofre com a reciclagem de elementos, já visto em produções anteriores de Star Wars, tirando qualquer originalidade, que poderia existir, da narrativa.

    A execução arrastada de “The Acolyte”, mesmo com uma trama, aparentemente, objetiva, deixa a impressão de que tudo poderia ter sido resolvido em um filme de duas horas. Com, ao todo, oito episódios, a série parece muito mais longa do que realmente é, evidenciando uma grande perturbação na Força. Amanda Stenberg (“Jogos Vorazes”) se desdobra nos papéis das gêmeas protagonistas Osha e Mae, mas não convence plenamente nem como heroína nem como vilã.

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    The Acolyte I Disney+

    Ao menos, as empolgantes batalhas e duelos de sabre de luz trazem uma sensação de combate real à série, inspiradas por filmes de artes marciais orientais, algo já característico em Star Wars. No entanto, isso não é suficiente para salvar o projeto.

    Além disso, a trilha sonora, apesar de competente, não consegue elevar as cenas mais importantes, resultando em momentos que deveriam ser emocionantes, mas acabam sendo apenas medianos. Os efeitos especiais, em algumas sequências, são impressionantes, mas em outras deixam a desejar, destacando a inconsistência na qualidade da produção.

    Outro ponto fraco é o desenvolvimento dos personagens secundários, que são pouco explorados e não conseguem criar uma conexão significativa com o público.

    Mesmo com a tentativa de introduzir novos elementos e expandir o universo de Star Wars, “The Acolyte” acaba por falhar em entregar uma narrativa coesa e envolvente. O potencial estava lá, mas a execução deixou muito a desejar, fazendo com que a série fosse apenas mais uma tentativa frustrada de reviver a magia da franquia.

    No final, “The Acolyte” é mais um exemplo para Disney/Star Wars de que, na galáxia, boas intenções não são suficientes para criar uma produção memorável.

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  • CRÍTICA | O Sequestro do Papa é um relato infeliz sobre o poder da igreja

    CRÍTICA | O Sequestro do Papa é um relato infeliz sobre o poder da igreja

    O Sequestro do Papa é baseado em fatos reais e por isso acaba sendo tão assustador.

    Após ser secretamente batizado por sua babá, Edgardo Mortara é levado pelos soldados do Papa para viver a crença católica, sendo distanciado a força de seus pais que são judeus. Em 1858, não era permitido que pessoas católicas vivessem em comunhão com pessoas que tinham outras crenças, levando à uma disputa da família com a igreja para trazer o menino de volta pra casa.

    Sendo uma história real, o filme de Marco Bellocchio vai direto ao ponto com o ocorrido que choca qualquer um que assiste, pois não só apresenta um lado viceral no ponto de poder ser sentido a dor de cada parente do garoto, como ele prórprio, e o quanto isso vai alterar seu modo de ver as coisas, mas pela frieza com que a direção lida com isso. Havendo pouca trilha sonora ou detalhamento na parte visual para deixar a experiência agradável. O acontecimento não foi agradável, por qual motivo o público deveria ser acarinhado nesse ponto?

    O Sequestro do Papa | Pandora Filmes

    O Sequestro do Papa | Pandora Filmes

    De forma alguma buscando criticar ou vilanizar a fé religiosa, O Sequestro do Papa destrincha o modo como pessoas e igrejas criaram uma força a ser temida e respeitada, havendo poucas suspeitas de atitudes errôneas. Tal qual filmes como Spotlight (2015) revelam, sempre terão pessoas se aproveitando do posto confiável em que foram colocadas, sendo um perigo ainda maior para crianças inocentes que as enxergam como um exemplo, obedecendo o que for dito à elas.

    Por ser uma situação de extremo perigo e receio pelo que pode vir, o que aparenta ser apenas uma obra dramática acaba ganhando traços fortes de suspense, deixando pairar no ar a sensação agonizante de que a situação pode ficar pior e quando parece que a família vai conseguir resgatar seu filho, a trama segue para um direcionamento que cria ainda mais dúvidas sobre qual encerramento a obra vai entregar.

    O Sequestro do Papa | Pandora Filmes

    O Sequestro do Papa | Pandora Filmes

    Durante esse percurso até o fim, anos vão se passando e guerras vão acontecendo, indicando ser um problema que a população e o governo estão mais preocupados em resolver do que esta situação religiosa. Com isso, muitas cenas de ação surgem para referenciar certos momentos históricos, todavia, são cenas que soam aleatórias, não recebendo tanta explicação para que o espectador se situe no que está acontecendo.

    Além disso, há um leve problema na montagem do filme que apresenta textos para explicar superficialmente em que momento o espectador se situa e esses parágrafos chegam tão rápido quanto vão embora, tendo sido poucas as vezes em que houve a oportunidade de ler tudo. Trazendo um sentimento de frustração por não poder pausar ou pela ideia de algo passar batido.

    Tirando isso, O Sequestro do Papa é um filme pesado, que leva a refletir sobre o autoritarismo da igreja e o quanto ela pode influenciar nas atitudes mais perversas como se houvesse alguma justificativa que as tornaria mais aceitáveis. Na medida, os atores preenchem a tela com as emoções que transmitem, principalmente com as mudanças pelas quais passam e expressam, deixando uma atenção sobre até que ponto deve-se continuar lutando por uma causa quando aquele olhar conhecido já se perdeu.

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  • CRÍTICA | Em roteiro inconstante, MaXXXine traz o encanto e o horror dos anos 80

    CRÍTICA | Em roteiro inconstante, MaXXXine traz o encanto e o horror dos anos 80

    Um dos lançamentos mais aguardados de 2024, senão o maior deles, MaXXXine chega aos cinemas brasileiros como o último longa da trilogia que já conta com os títulos “X – A Marca da Morte” e “Pearl”, todos os três dirigidos por Ti West. Ambientado na sombria e sinistra Los Angeles nos anos 80, o filme é a sequência direta de “X A Marca do Mal” e acompanha a tentativa da ambiciosa atriz pornô Maxine Minx (Mia Goth) em se tornar finalmente uma estrela de Hollywood. Após ter sido a única sobrevivente de um massacre ocorrido anos atrás, sua nova jornada não é fácil, convivendo com traumas do passado. Para fechar seu cenário, a artista ainda convive ameaças de um serial killer que ronda as ruas da cidade perseguindo e matando jovens. 

    Entre alguns banhos de sangue, as ruas de Hollywood com a estética da década, as roupas e maquiagens proporcionam à narrativa um charme retrô digno dos filmes de terror clássico, mesclando tragédia e comédia em seus frames. As referências aos filmes dos anos 70 e 80 são felizes ao remeterem à nostalgia para o gênero noir. A câmera, bem trabalhada, passeia por cenas impactantes, que alteram entre o gore e o belo, com fotografia atrativa e envolvente, prendendo o público na tela em seus 101 minutos de exibição. 

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    O ponto alto de MaXXXine é, com certeza, a atuação de Mia Goth que, embora esperada, ainda surpreende encarnando os trejeitos de uma verdadeira estrela dos anos 80. Com a arrogância necessária e um toque blasé, ela ainda entrega toda a personificação de uma atriz do século passado em cenas dramáticas, psicóticas, todo o seu talento para protagonizar qualquer filme de terror, se consolidando com uma scream queen moderna.

    Mas em meio à narrativa vibrante, o roteiro começa a se perder. Talvez a sede por inovar tenha levado a trama a caminhos incertos e non-sense. Um pouco menos de narrativas mirabolantes e mais sangue teriam feito mais sentido na trama, que se esvazia em meio a tantos contextos desnecessários. De fato, MaXXXine faz boa referência ao gênero slasher,  mas lhe falta a intensidade sangrenta de “X” e a profundidade psicológica de “Pearl”, que pingam na tela, mas não gravam seu espaço. 

    Outro ponto delicado na trama é a falta de espaço para outros atores se destacarem e mostrarem seu talento. De fato, Mia Goth é a estrela em MaXXXine, mas o pouco tempo de tela para artistas como Lily Collins e Elizabeth Debicki, foi um falha, já que esses poderiam render personagens profundos e instigantes. 

    MaXXXine chega aos cinemas brasileiros

    Além disso, o filme peca pela previsibilidade. As mortes, cenas de ação e drama, e o desfecho não surpreendem como deveriam. O plot twist, embora inesperado, não causa o impacto necessário devido à confusão narrativa que o precede. Como o mainstream estava em cena, talvez uma abordagem mais segura e menos experimental tivesse um resultado mais coeso. 

    É triste assumir que MaXXXine, junto com a trilogia, tinha o potencial para ser uma obra-prima do terror moderno, mas se perdeu em sua própria ambição e ficou no “quase”, quiçá se escorando um tanto no talento dos outros filmes. Mia Goth entrega uma performance memorável, mas o roteiro e a direção falham em explorar todo o potencial da história e do elenco. É uma experiência interessante, especialmente para os nostálgicos do terror dos anos 80, mas que deixa a sensação de que poderia ter sido mais.

    Talvez seja o mais fraco da trilogia, mas, apesar dos deslizes, MaXXXine não deixa de ser uma experiência válida para os fãs de terror e, claro, de um bom trabalho artístico.

  • CRÍTICA | Entrevista com o Demônio é o filme de terror mais DIFERENTE do ano

    CRÍTICA | Entrevista com o Demônio é o filme de terror mais DIFERENTE do ano

    Entrevista com o Demônio segue um percurso totalmente divergente do que Hollywood nos acostumou e é isso que o engrandece.

    Entrevista com o Demônio apresenta um momento histórico e decisivo dentro de um programa de televisão que se via em constante decadência graças à vida pessoal do apresentador estar interferindo em suas ações no trabalho. Em época de Halloween, a ideia de aproveitar o lançamento de um livro que trouxe uma conversa com o satã parece vir na hora certa, porém, a busca pela volta por cima pode ser exatamente o que fará afundar tudo de uma vez.

    Com isso, os diretores Cameron e Colin Cairnes trazem um conceito bem interessante que é colocar o espectador no papel dos verdadeiros espectadores que teriam visto aquilo acontecer ao vivo. Podendo ser sentido não só a viagem em direção à uma época ultrapassada, mas o suspense trabalhado aos poucos pensando como seria na televisão, vindo os comerciais em momentos instigantes, tal qual a divisão certeira de três atos com acontecimentos que vão ficando piores. O que leva este filme pra um caminho distante do que o cinema de terror acostumou seu público.

    Entrevista com o Demônio | AGC Studios

    Entrevista com o Demônio | AGC Studios

    Entrevista com o Demônio não é um filme pra assustar ou necessariamente te deixar preso na cadeira desde o primeiro segundo como Um Lugar Silencioso (2018) faz. Ele quer te instigar aos poucos, como se você realmente tivesse ligado a televisão para ver mais um episódio divertido do programa que gosta e aos poucos, fosse percebendo que as rodas estão escapando dos trilhos. E isso, fica ainda melhor com as poucas vezes que saimos do programa e acompanhamos os bastidores, porque não quebra a ideia de ainda ser um telespectador.

    A câmera, durante todos os momentos em que o programa foi para os comerciais, se locomove como uma pessoa que está de perto acompanhando tudo aquilo, mas de vez em quando precisa se esconder para não ser pega no flagra. Deixando a sensação de não só estarmos no olhar do público que estava vendo o programa ser gravado, como de uma pessoa da produção que está andando pelo estúdio buscando compreender o que tá acontecendo. E conforme a situação acentue, o enquadramento vai se fechando ainda mais nos personagens indicando a claustrofobia que cada vez mais sentem.

    Além disso, a obra demonstra sabedoria em trabalhar não apenas o núcleo das pessoas que estão sendo entrevistadas, como a forma que vão reagir de acordo com a época em que se encontram. Ou seja, ao pensar que algumas coisas fora do normal podem acontecer, é inserido uma pessoa cínica que a todo momento estará levando a acreditar que pode ser mentira o que está sendo assistido. Da mesma forma, que as mulheres receberão menor credibilidade pelo que dizem ou fazem, como se não tivessem o mesmo direito de fala que os homens. Tudo isso auxilia para que o filme soe crível.

    Entrevista com o Demônio | AGC Studios

    Entrevista com o Demônio | AGC Studios

    Em seu final, um exagero é demonstrado para com a parte assombrosa do longa-metragem, de tal modo que possa soar destoante do que estava sendo visto e tirar um pouco da imersão, entretanto, desde o começo certos acontecimentos passam a impressão de uma energia incomum pairar sobre o ar, então quando a energia vem com tudo, é preciso destacar que haviam dicas. Isso, porém, não significa precisar gostar do que foi visto. E felizmente, não desfaz o que foi construído, pois o clímax acaba se direcionando para algo mais introspectivo de um jeito que faça sua experiência soar completa.

    Olhando pelo ponto técnico da obra, é preciso destacar o quão assertivo foi não só a escolha de elenco, priorizando atores menos conhecidos para passar ainda mais a sensação de estar vendo algo não-fictício, como pelo figurino, os penteados, a abertura do programa, o uso da trilha sonora vindo apenas da banda que movimenta o show, como se estivesse assistindo o Jô Soares, e a cenografia que te induz a respirar aquele ambiente, como se pudesse estar lá.

    Sendo assim, Entrevista com o Demônio prova que ainda existem diversas formas interessantes de se contar uma história amedrontadora sem precisar cair para o banal, fazendo seus personagens soarem compreensíveis mesmo com as decisões mais bobas, tal qual deixando um ritmo tão preciso que nunca canse e deixe um gostinho de querer ver mais.

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  • CRÍTICA | A Grande Fuga é uma despedida emocionante de duas lendas do cinema

    CRÍTICA | A Grande Fuga é uma despedida emocionante de duas lendas do cinema

    Michael Caine e Glenda Jackson brilham em suas últimas performances, tornando A Grande Fuga uma história de amor e humanidade, em meio ao cenário da II Guerra Mundial.

    “A Grande Fuga” se apresenta como uma grata surpresa, oferecendo um final honroso e emocionante para a carreira do icônico ator Michael Caine (“A Origem”). Aos 90 anos de idade, Caine mostra uma vitalidade impressionante, tendo recentemente publicado um romance e atualmente trabalhando em seu segundo. Este filme marca sua última aparição nas telonas, um adeus que é ao mesmo tempo melancólico e celebrante. Compartilhando essa despedida está Glenda Jackson (“Delírio de Amor”), vencedora de dois Oscars, que também dá seu último adeus ao público, após falecer em junho de 2023.

    Dirigido por Oliver Parker (“Um Marido Ideal”) e baseado na história real de Bernie Jordan, “A Grande Fuga” narra a escapada de Jordan de uma casa de repouso, em 2014. Seu objetivo? Encontrar-se com outros veteranos da II Guerra Mundial, na Normandia, para comemorar os 70 anos do Dia D.

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    A Grande Fuga I Diamond Films

    O papel de Bernie é magistralmente interpretado por Caine, trazendo à vida um personagem repleto de determinação e nostalgia. A trama, embora simples, é carregada de um coração puro e genuíno, refletindo a verdadeira essência de uma história de amor e camaradagem.


    Glenda Jackson, retratando a companheira de Bernie, oferece uma performance tocante e autêntica, complementando perfeitamente a atuação de Caine. A química entre os dois veteranos do cinema é palpável, tornando suas interações incrivelmente emocionantes e verdadeiras. A dupla principal, sem dúvida, carrega o filme nas costas, elevando-o de um simples drama biográfico a uma obra de arte cinematográfica.

    A narrativa de “A Grande Fuga” é intercalada com flashbacks, onde Will Fletcher (“Tom Jones”) e Laura Marcus (“Bad Education”) interpretam Bernie e sua esposa em suas juventudes. Embora suas performances sejam competentes, é evidente que a força do filme reside nas atuações de Caine e Jackson. A diferença de nível é perceptível, mas compreensível, dada a experiência e talento dos protagonistas.

    O filme é, acima de tudo, uma jornada sobre a humanidade, a dificuldade de envelhecer e a reconciliação com o passado. Parker dirige com sensibilidade, capturando a essência de uma geração que sacrificou muito durante a guerra. A história, apesar de sua simplicidade, é elevada pelas nuances emocionais trazidas à tona pelas performances dos atores principais.

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    A Grande Fuga I Diamond Films

    Um dos pontos altos do filme é seu senso de humor sucinto, mas eficaz, que alivia a tensão emocional em momentos cruciais. No entanto, são os momentos de profunda emoção que realmente definem “A Grande Fuga”. A visita de Bernie a um cemitério militar e seu encontro com soldados alemães em um bar são cenas particularmente comoventes, que encapsulam a profundidade e complexidade dos sentimentos dos veteranos de guerra.

    Apesar de poder parecer, à primeira vista, apenas mais um drama biográfico de guerra, “A Grande Fuga” é muito mais do que isso. É uma celebração da vida, do amor e da memória, uma homenagem sincera a uma geração de heróis. A última aparição de Michael Caine e Glenda Jackson é um tributo brilhante ao talento e à humanidade de ambos, tornando este longa uma obra imperdível.

    Em resumo, “A Grande Fuga” é um filme que, embora simples em sua premissa, é grandioso em sua execução. As atuações de Caine e Jackson são memoráveis, proporcionando um adeus digno a duas lendas do cinema. Com um equilíbrio perfeito entre humor e emoção, ganhamos uma celebração da vida e do legado daqueles que nos precederam.

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  • CRÍTICA I Um Lugar Silencioso: Dia Um – Uma boa adição, mas inferior aos originais

    CRÍTICA I Um Lugar Silencioso: Dia Um – Uma boa adição, mas inferior aos originais

    Um Lugar Silencioso: Dia Um é um prelúdio impactante, mas que não alcança a excelência dos anteriores.

    Em 2018, John Krasinski (“Jack Ryan”) surpreendeu o mundo do suspense e terror com “Um Lugar Silencioso”. Nessa obra, o ator e diretor utilizou o horror sensorial para contar a história de uma humanidade que se torna alvo de criaturas com audição superdesenvolvida, precisando viver em silêncio para sobreviver. Com uma premissa inovadora, o filme conquistou tanto a crítica quanto o público, solidificando-se como um novo clássico do gênero.

    Ao longo de dois filmes, exploramos mais sobre essas criaturas sanguinárias e a luta incessante dos personagens pela sobrevivência em um mundo onde o silêncio é a única forma de proteção. Agora, com “Um Lugar Silencioso – Dia Um”, estamos prestes a assistir ao primeiro encontro entre os humanos e essas aterrorizantes criaturas, trazendo novas perspectivas para a saga. Dirigido por Michael Sarnoski (“Pig”), o prelúdio é estrelado por Joseph Quinn e Lupita Nyong’o, prometendo uma nova camada de tensão e drama.

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    Um Lugar Silencioso: Dia Um/Paramount Pictures

    A trama de “Um Lugar Silencioso – Dia Um” começa acompanhando Samira (Lupita Nyong’o), uma mulher que vivencia os primeiros momentos de uma invasão alienígena em Nova York. O início do filme é impactante, com o “Momento D” revelando uma carnificina de monstros grandes, barulhentos e assustadores. No entanto, à medida que o filme avança, o impacto inicial se dissipa, pois a premissa já havia sido explorada no longa anterior.

    O diferencial deste filme está na ênfase na jornada pessoal de Samira. Além de enfrentar o apocalipse, ela luta contra um câncer terminal, adicionando uma camada emocional profunda à narrativa. Nyong’o entrega uma atuação comovente, trazendo peso e humanidade ao seu papel. Sua performance é um dos pontos altos do filme, capturando a resiliência e o desespero de sua personagem de maneira convincente.

    Ao lado de Nyong’o, Joseph Quinn oferece um alívio cômico adequado, equilibrando o tom sombrio do filme com momentos de leveza. Embora sua atuação não seja particularmente memorável, ele não compromete a narrativa. A química entre Quinn e Nyong’o é convincente e adiciona uma dinâmica interessante à história.

    Apesar desses pontos positivos, “Um Lugar Silencioso – Dia Um” sofre com um ritmo truncado no segundo ato. A repetição de cenas de “pessoas fugindo sem poder fazer barulho” se torna cansativa, mesmo que faça sentido dentro do universo criado. A narrativa perde força à medida que avança, falhando em manter a tensão e a originalidade que marcaram os filmes anteriores.

    A grande construção narrativa leva à sequência final, que, embora satisfatória, não proporciona a carnificina esperada. Essa falta de clímax deixa um gosto de “quero mais”, não cumprindo completamente as expectativas geradas ao longo do filme. Tecnicamente, a trilha sonora de suspense é eficaz, mas em alguns momentos, exagerada. Esse exagero prejudica o uso dos sons ambientes, um elemento que foi essencial nos capítulos anteriores para criar a atmosfera de terror.

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    Um Lugar Silencioso: Dia Um/Paramount Pictures

    Visualmente, o filme mantém o padrão de qualidade da franquia. A direção de Michael Sarnoski é competente, conseguindo capturar a tensão e o desespero dos personagens. No entanto, o roteiro, também assinado por Sarnoski, não se destaca. Ele cumpre sua função de contar a história, mas está longe de reinventar a roda. A falta de originalidade e surpresa, características marcantes do primeiro filme, é decepcionante.

    No final, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” é um filme competente. Rápido e até divertido em certos momentos, mas incapaz de replicar a altíssima tensão dos primeiros filmes da franquia. É uma adição válida, oferecendo uma nova perspectiva sobre o início da invasão, mas não é imprescindível. A sensação que fica é a de nostalgia pelos momentos mais originais e tensos dos filmes anteriores.

    Em suma, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” é um bom prelúdio que oferece novos insights e momentos emocionantes, mas que não atinge o mesmo nível de excelência de seus antecessores. Para os fãs da franquia, vale a pena assistir, mas sem expectativas de ser tão marcante quanto os primeiros capítulos da saga.

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  • CRÍTICA | Assassino por Acaso é o “pipocão bem feito” desse ano

    CRÍTICA | Assassino por Acaso é o “pipocão bem feito” desse ano

    Todo ano tem aquele filme que passa uma sensação gostosa, que transmite carinho por parte da produção e agrada a maior parte do público. Assassino por Acaso é esse filme!

    De cara, o filme Assassino por Acaso já fala para seu espectador como ele vai ser, com Gary Johnson, interpretado por Glen Powell (Top Gun: Maverick), apresentando quem é, o que faz e o momento que vai mudar a sua vida. Tudo isso, com uma trilha sonora de fundo bacana, uma pitada de humor nos comentários e uma montagem que apresenta uma boa dinâmica para com o que está vendo.

    Sendo assim, a história claramente se entrega como uma comédia diferenciada, onde o protagonista vai se disfarçar de assassino de aluguel para capturar as pessoas que estão pagando para que uma morte seja realizada, entretanto, ao esbarrar com uma mulher que não demonstra psicopatia, opta por deixá-la escapar e fazer outro uso do próprio dinheiro. Mal sabendo que essa atitude vai bagunçar a sua cabeça, incluindo sua própria personalidade.

    Assassino por Acaso | Diamond Films

    Assassino por Acaso | Diamond Films

    Caso não saiba, Assassino por Acaso é baseado em fatos reais, especialmente por conta a história desse homem que fingiu tão bem ser alguém que não era, mas assume a parte ficcional de acordo com a ideia dele não obedecer as ordens que recebe e sua ação desencadear em paixão, morte e várias revelações. Isso permite que o longa-metragem viaje e brinque com as possibilidades daquele jeito exagerado só o cinema pode proporcionar.

    A profissão de Gary está relacionada com psicologia e filosofia, do qual permite que utilize seu segundo trabalho como um estudo para com o modo que as pessoas permitem ser influenciadas, seja pelo que querem acreditar ou pelo que gostariam de ser, o que começa a interligar com suas próprias atitudes, onde ao fingir tanto uma personalidade, acaba permitindo uma transformação que não só chamará a atenção daqueles ao redor, como o levará a tomar medidas questionáveis que seu eu inicial jamais permitiria.

    Não a toa, quem ajuda o protagonista a seguir esse caminho é a Maddy Masters, interpretada pela Adria Arjona (Andor), seguindo por uma mentira que desconhece, mas que leva a descobrir certas curiosidades das quais um cidadão comum que já demonstrou interesse por assassinato deveria não saber, e assim, o entrelaçamento do casal acaba seguindo um caminho inesperado, mas que por um motivo inexplicável, te leva a torcer pelos dois, seja pela ótima química ou pelo apego criado durante o andamento do filme.

    Assassino por Acaso | Diamond Films

    Assassino por Acaso | Diamond Films

    Contudo, é preciso dizer que mesmo soando plausível, o final do filme se deixa levar por um caminho superficial e inconsequente de um jeito que perde a verossimilhança para com o que estava sendo mostrado, onde o principal conflito é resolvido de uma forma simples, em que mesmo o espectador supondo o que foi feito e que caminho os personagens seguiram, a sensação estranha é a que domina com o salto temporal aleatório que não permite sentir um gosto prazeroso de ver sua conclusão.

    Ainda assim, é válido dizer que a falta de tempo para os personagens lidarem com tantos acontecimentos em sua jornada não compromete todo o desenrolar incitante, que entende o motivo de estar pontuando certas ações dos personagens para ao final criar uma cena mais tensa ou divertida que a outra, onde perdura o questionamento de “como sair dessa?”, o que torna a experiência bem divertida e prazerosa de se acompanhar.

    Assassino por Acaso é um filme que sabe o que quer entregar e como fazer isso, trazendo uma voz não diegética de Gary para que se comunique com o público e o leve a compreender rapidamente o universo em que está sendo posto, mas sem atrapalhar sua narrativa de um jeito que soe explicativa demais, pois ao determinar o básico, o encaminhamento da produção segue de maneira fluída para que nos desliguemos da realidade e embarquemos no que de melhor o cinema pode entregar com tão pouco.

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  • CRÍTICA | Imaculada pode dar susto, mas seu triunfo é outro

    CRÍTICA | Imaculada pode dar susto, mas seu triunfo é outro

    Imaculada deixa o terror de lado para presentear o espectador com uma luta pela sobrevivência.

    Cecilia é uma jovem que busca se tornar freira e vai para uma igreja que atraiu sua atenção pela oportunidade proposta, indicando um ambiente seguro e acolhedor, contudo, conforme a moça observa com atento ao local que se encontra, mais ela se aproxima de perceber que nunca deveria ter pisado nesse convento.

    Dessa forma, a direção de Michael Mohan demonstra preocupação ao contar essa história de um jeito que fuja das conveniências do gênero de terror e adentre no universo que a protagonista se encontra de uma forma atraente, onde várias suposições podem ser feitas imaginando o que vai acontecer, quando a ideia pode se mostrar mais simples do que parece.

    Imaculada | Black Bear Pictures

    Imaculada | Black Bear Pictures

    Todo filme de terror tem o monstro e a protagonista indefesa que deve se fortalecer para enfrentar o inesperado. Essa obra não foge disso, entretanto a graça dela se encontra exatamente em tentar entender que tipo de monstro está amedrontando a jovem, visto que o artifício de maquiagem feia e ocorrências sobrenaturais são postas de lado.

    Dito isso, o longa-metragem se saí bem ao entender que está lidando com um público veterano e aposta por seguir um caminho psicológico, indicando que o susto virá pelo que a câmera está dando atenção e ferozmente surpreendendo ao imprimi-lo pelo lado que nada indicava. Sem contar a calmaria dada às cenas, deixando de lado o corte seco e abrupto, para amedrontar com planos longos que levam a clamar para enxergar o que não pode ser visto.

    Mesmo que não pareça, Cecilia vai descobrir que ser imaculada pode não representar uma qualidade e as ameaças enfrentadas serão inevitáveis, seja pelo abuso psicológico que sofrerá de religiosas radicais que invejam sua situação ou pelo que lhe é proposto a fazer como se não soasse anormal, o que a leva a cometer alguns pecados perdoáveis para fugir desse lugar aterrorizante.

    Imaculada | Black Bear Pictures

    Imaculada | Black Bear Pictures

    Por isso, dificilmente dá pra escapar de falar sobre a atuação de Sydney Sweeney, já que esta prende o filme para si, o carregando sem sentir peso ao apresentar veracidade em seu olhar e seus trejeitos, indicando os picos de dúvida, de ingenuidade, de fingir felicidade pela decisão que tomou e de terror absoluto com a situação em que foi posta, deixando pro final um momento que pode não render uma indicação nas premiações, mas que entrega perfeitamente o que a cena exigia.

    No mais, os detalhes técnicos do filme se mostram competentes em contar essa luta pela sobrevivência sem tirar a sua força, mas sem entregar algo que leve ao brilho nos olhos de quem assiste. Trazendo uma única cena desnecessária no prólogo que ocorre para mostrar a perversidade dessa igreja, sendo que teria sido mais interessante descobrir isso junto com a protagonista. Mesmo que obviamente, boa parte do público já vá assistir esperando algo assustador.

    Imaculada é um desses filmes que mostra como o gênero de terror/suspense ainda tem algo a dizer e causar mesmo com uma trama que soe tão batida, mostrando que a força não está em quantos sustos pode dar no seu público, mas no quão bem trabalhado pode ser sua personagem para que uma empatia seja formada e o decorrer da narrativa dê conta de não viajar demais, finalizando de modo preciso, de acordo com o que foi estabelecido desde seu primeiro ato.

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