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  • CRÍTICA | Back to Black é uma cinebiografia de uma das maiores artistas dessa geração e consegue ser o menos biográfica possível

    CRÍTICA | Back to Black é uma cinebiografia de uma das maiores artistas dessa geração e consegue ser o menos biográfica possível

    Back to Black, longa chegou às telonas na semana passada e conta a história de vida e morte de Amy Winehouse.

    Quando Back to Black foi anunciado animou muita gente, uma das maiores cantoras do mundo, que teve uma vida conturbada e uma ascensão meteórica, todos os ingredientes para o sucesso certo? Errado.

    Nos últimos anos vimos chegar nas telonas cinebiografias boas, medianas, mas que sempre focavam na história do artista e as pessoas ao seu redor, vide Bohemian Raphsody, Elvis, Rocketman, Straight Outta Compton: A História do N.W.A., os exemplos são muitos, que por mais que sejam falhos, apresentam um pouco mais de coerência narrativa e bons personagens para sustentar o protagonista.

    Back to Black consegue juntar todos os clichês presentes em cinebiografias, mas extrapola ao não apresentar uma história coerente ao público, transforma a história de Amy Winehouse que é uma história repleta de momentos mágicos em apenas álcool, drogas e dependência emocional.

    Back to Black | Universal Pictures

    Back to Black | Universal Pictures

    Sam Taylor-Johnson (50 Tons de Cinza) assina a direção e realmente a esta altura, estou totalmente convencido de que hoje em dia os estúdios estão fabricando essas cinebiografias para dar aos diretores egocêntricos a oportunidade de recontar a história de outra pessoa em seu próprio estilo masturbatório, bem como permitir que atores desesperados façam um cosplay barato e neste caso, zombam indiretamente de suas celebridades favoritas.

    Marisa Abela interpreta Amy Jade Winehouse, que foi uma cantora, compositora e multi-instrumentista britânica. Se tornou mundialmente conhecida por seu poderoso e profundo tom de voz e também por sua mistura eclética de gêneros musicais.

    No primeiro ato de Back to Black, vemos o seu início como compositora e seus pequenos shows em pubs ingleses, até ai temos bons momentos, um bom humor, boa atuação e vemos os personagens que irão conosco até o fim do longa. Daí pra frente o filme se torna uma alegoria de acontecimentos, sem a menor explicaçao e fundamento de uma vida tão conturbada e problemática quanto foi a de Amy.

    Back to Black | Universal Pictures

    Back to Black | Universal Pictures

    Tudo no filme é raso, não nos aprofundamos em nada, o que impede a imersão do público devido a narrativa fraca e baseada em quanto a Amy bebia, fumava e se drogava e o pior de tudo, o filme da a entender que ela era completamente dependente de seu ex-marido, Blake Fielder, que todos os problemas dela eram por causa dele.

    Se salva apenas o bom humor em certos pontos do filme e alguns momentos em que a empatia para com as relações familiares causam uma leve emoção.  As cenas superprocessadas em que a personagem de Abela canta em um estúdio de gravação ou em uma sala são todas caricaturas inaudíveis e banais da genialidade de Amy.

    Não tenho ideia de como foi o processo de produção de Back to Black, mas se você for abordado com um roteiro como este e ainda decidir que quer fazer este filme, você não o fará. Ao pelo menos tentar imortalizar Amy Winehouse em uma dessas cinebiografias romantizadas e estereotipadas da última década, você corre o risco de enganar o público em uma narrativa falsa.

    Back to Black | Universal Pictures

    Back to Black | Universal Pictures

    Ver a imensa beleza da vida, do legado e da carreira lendária de Amy Winehouse ser mais uma vez insultada dessa forma é simplesmente trágico. Além de tudo isso, também é terrível do ponto de vista cinematográfico.

    Amy também era tão imperfeita quanto o resto de nós, perseguida pelo vício, pelos “fãs” tóxicos, pelos abutres dos tablóides e por um círculo interno abusivo que se importava mais com sua fama do que com seu bem-estar. Apesar das dificuldades que suportou, ela conseguiu o que só grandes artistas conseguiram, ela transformou sua dor em obras de arte, uma tapeçaria de canções e melodias que retratam os altos e baixos de sua vida.

    Back to Black é um retrato horrível, explorador ,ofensivo e um insulto a arte e a memória de Winehouse, uma representação pesada e cruel do vício e uma vitrine irritantemente superficial para uma atuação e narrativa biográfica, muito pouco para uma das maiores artistas do século.

    Conheça outros trabalhos da diretora aqui e aqui.

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  • CRÍTICA | Furiosa: Uma Saga Mad Max é um longa verdadeiramente espetacular e apenas a um passo de ser tão perfeita quanto Estrada da Fúria

    CRÍTICA | Furiosa: Uma Saga Mad Max é um longa verdadeiramente espetacular e apenas a um passo de ser tão perfeita quanto Estrada da Fúria

    Estreou nesta quinta (23) Furiosa: Uma Saga Mad Max, traz muita ação, carros, explosões e uma história de vingança como nenhuma que já vimos antes.

    Depois de trazer Happy Feet em 2006 e Happy Feet 2 em 2011, todos imaginavam que era o fim do diretor australiano George Miller que entre o final da década de 70 e início da de 80 apresentou os 3 primeiro filmes da saga Mad Max, muitos achavam que ali ele teve o seu auge, mal sabiam eles que aos 79 anos ele estaria vivendo seu auge. 

    Primeiro com Mad Max: Estrada da Fúria que em 2016 levou 10 estatuetas da academia pra casa, perdendo o posto de melhor filme pra Spotlight: Segredos Revelados, o que na minha visão foi uma calúnia, o filme levar 10 prêmios e um filme que levou apenas uma levar a de melhor filme, é no mínimo bizarro. 

    Agora, Miller traz ao público sua mais nova obra de arte, Furiosa: Uma Saga Mad Max, chega as telonas com um hype altíssimo, seja pelo último trabalho do diretor, pelo seu elenco estrelado, mas o ponto forte é a história que ele conta e como ele o faz ao longo de 149 minutos onde você não percebe o tempo passar de maneira alguma.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    O longa conta a história de vida da Imperatriz Furiosa, que nos foi apresentada em Estrada da Fúria e lá o público já ficou intrigado com a personagem, que é densa, sofrida e espetacularmente a melhor naquilo que faz. Vivida por Charlize Theron em Estrada da Fúria, em Furiosa, Anya Taylor-Joy interpreta sua versão mais jovem no longa e apresenta todos os detalhes que tornaram uma menininha que desde cedo teve que aprender a se virar sozinha e lutar pela própria vida dia após dia.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max é o tipo de prequel que não apenas aprimora seu antecessor, mas também consegue se sustentar por seus próprios méritos. É mais lento, mais sombrio, mais grotesco e anticlimático por natureza. Mais espetacular estética e técnicamente do que quase tudo que foi lançado desde Fury Road.  

    O que podemos dizer é que este filme tem de longe a história mais pessoal, abrangente, expansiva e envolvente de qualquer filme Mad Max. O filme realmente leva tempo para dar uma boa profundidade aos seus personagens, ao mesmo tempo que constrói um mundo espontâneo.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    Extremamente benéfico para Anya Taylor-Joy, que tem que transmitir a maior parte de suas emoções por meio de expressões faciais com tão poucos diálogos, ela dá um show cena após cena, Chris Hemsworth o vilão do longa, também rouba a cena com um papel intimidante, mas divertido, que pode ser o seu melhor.até o momento, a apresentação é requintada com uma cinematografia deslumbrante e um uso sublime de cores saturadas.

    Furiosa e o vilão se complementam, ela traz à tona o que há de pior nele, e com razão. Miller consegue unir o relacionamento distante dos dois com suas próprias formas claras de vingança, alinhando seus caminhos até que eles se cruzem em mais uma perseguição extraordinária que precisa ser testemunhada para acreditar.

    O visual do filme é impecável, a Austrália nunca pareceu tão árida, sua vastidão é avassaladora, mergulhando o público no mundo pós-apocalíptico enquanto apresenta a população restante através da miséria ambiental. A construção do mundo de Miller continua a ser o seu forte, simplesmente transbordando de frescor, sua visão não tem limites. 

    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    Isso permite que o filme tenha dezenas de cenas impressionantes que combinam perfeitamente com a trilha sonora bombástica. As sequências de ação nesta produção são tão impressionantes quanto as de Estrada da Fúria e, embora não sejam tantas, quase sempre servem a um propósito para a história. 

    É incrível ver o diretor George Miller continuar a trazer uma energia tão explosiva para esta franquia, mesmo com quase 80 anos. Diálogos e CGI entram como pontos fracos do filme, existem várias conversas que se prolongam indefinidamente, enquanto segmentos íntimos mais importantes são abruptamente apressados, irregulares no filme para uma caracterização adequada. O CGI às vezes incomoda por parecer extremamente artificial, mas nada que atrapalhe sua experiência.

    É uma tremenda injustiça comparar Furiosa com Estrada da Fúria, que é uma das verdadeiras obras-primas do século, mas acho que uma grande vantagem desse filme é a sua duração de duas horas e o quanto nos aprofundamos em suas diversas histórias. Mas quando a Furiosa está na tela, é aí que ele vive seu apogeu.

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    Furiosa: Uma Saga Mad Max | Warner Bros.

    George Miller é um Deus da ação caminhando entre os homens. Expandindo ainda mais a crônica de Mad Max, Furiosa dobra a glória implacável ao mesmo tempo em que não se aproxima nem um pouco do excesso de indulgência.

    Conheça outros trabalhos do diretor aqui e aqui.

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  • CRÍTICA | Fúria Primitiva: Onde a Ação e Vingança se Entrelaçam em uma Jornada Explosiva

    CRÍTICA | Fúria Primitiva: Onde a Ação e Vingança se Entrelaçam em uma Jornada Explosiva

    Fúria Primitiva marca a estreia de Dev Patel como diretor, nos surpreende e revela um futuro promissor.

    “Fúria Primitiva” distribuído mundialmente pela Diamond Films marca a impressionante estreia de Dev Patel na direção, além de sua atuação cativante, consolidando-o como um talento multifacetado no mundo do cinema. Patel nos entrega uma performance intensa e emocionalmente carregada, retratando com maestria a jornada de Kid, um jovem lutador preso nas engrenagens cruéis de um clube de luta underground. A narrativa, repleta de ação frenética, lembra as melhores cenas de “John Wick”, mas com uma profundidade emocional única e um toque cultural distinto.

    Inspirado pela lenda hindu de Hanuman, símbolo de força e coragem, “Fúria Primitiva” não só apresenta sequências de luta eletrizantes, mas também mergulha na rica tapeçaria cultural da Índia. Através dos olhos de Kid, o filme oferece uma janela para aspectos profundos e autênticos da cultura indiana, desde suas tradições mitológicas até a vibrante vida urbana, algo raramente visto em produções de ação ocidentais.

    A presença de Jordan Peele, renomado por obras como “Corra!” e “Não! Não olhe!”, na produção do filme adiciona uma camada de credibilidade e expectativa. Peele, conhecido por sua habilidade em combinar tensão narrativa com comentários sociais incisivos, parece ter encontrado em “Fúria Primitiva” um projeto que ressoa com sua visão artística.

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    Fúria Primitiva | Diamond Films

    A trama segue Kid, um lutador que, sob uma máscara de gorila, enfrenta brutalidade noite após noite. No entanto, é a transformação de Kid, alimentada por anos de repressão e um trauma de infância, que conduz a narrativa. As marcas misteriosas em suas mãos tornam-se símbolos de justiça em sua busca implacável por vingança contra aqueles que arruinaram sua vida. Este arco de vingança e redenção é conduzido com uma intensidade que mantém o público à beira do assento.

    Dev Patel, com sua atuação poderosa e direção visionária, entrega uma história que é ao mesmo tempo um thriller de ação e uma exploração profunda da resiliência humana. “Fúria Primitiva” não apenas eleva Patel como um artista digno de maior reconhecimento no cinema global, mas também celebra a cultura indiana de uma maneira que enriquece a narrativa e oferece uma experiência cinematográfica única.

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    Fúria Primitiva | Diamond Films

    Embora algumas cenas se alonguem um pouco, os momentos de humor bem colocados conseguem nos envolver e manter nossa atenção. Esses toques de leveza equilibram a intensidade do filme, tornando a experiência ainda mais cativante e agradável para quem está assistindo.

    Em suma, “Fúria Primitiva” é uma montanha-russa emocional que promete capturar e envolver o público do início ao fim. A jornada de Kid, em busca de justiça e paz interior, é uma poderosa narrativa de superação e força, fazendo deste filme uma obra indispensável para os fãs de ação e para aqueles que apreciam histórias de profunda humanidade e resiliência. Dev Patel merece todos os elogios por sua contribuição notável, e sua visão audaciosa certamente o posiciona como uma força a ser reconhecida no cinema contemporâneo.

  • CRÍTICA | X-Men ’97 equilibra nostalgia e modernidade

    CRÍTICA | X-Men ’97 equilibra nostalgia e modernidade

    Mesmo com alguns tropeços, X-Men ’97 torna-se uma bela resposta para uma Marvel desacreditada

    X-Men ’97” chega em um momento delicado para o Marvel Studios, já que o estúdio enfrenta críticas negativas e descontentamento do público, com seus recentes lançamentos, tanto nos cinemas, quanto nas séries. Com toda essa pressão em cima de Kevin Feige e sua equipe, será que a animação da vez foi satisfatória?

    A história, aqui, se passa logo após os eventos de “X-Men: The Animated Series” (1992-1997), com o Professor Xavier supostamente morto e Magneto assumindo o controle dos X-Men, conforme o testamento deixado.

    CRÍTICA | X-Men '97 equilibra nostalgia e modernidade

    X-Men ’97 I Marvel Studios

    Uma nova formação é logo apresentada, com a participação de muitos personagens conhecidos, embora também seja notável a ausência de membros importantes para a trama (o que não significa que eles não aparecerão posteriormente).

    Beau DeMayo (The Witcher: Lenda do Lobo) é o responsável pela criação, desde o roteiro até o desenho e as cenas de ação de “X-Men ’97”. Mesmo sendo demitido após o lançamento, a produção já estava pronta e nesse sentido, a animação acerta em todos os aspectos. Embora nunca seja 100% fiel às HQs, o que não é garantia de sucesso algum, é definitivamente uma das melhores adaptações dos mutantes, já feita.

    O nível de respeito ao material original é alto, e a forma como as histórias se conectam, para introduzir novos personagens, tramas e abordagens, é muito coerente. Além disso, vemos a verdadeira extensão dos poderes de cada um dos heróis.

    X-Men '97 I Marvel Studios

    X-Men ’97 I Marvel Studios

    Se você for assistir à animação original dos X-Men, vai perceber que, em muitos momentos, ela é impressionante, mesmo que pareça estranha em algum ponto. Em X-Men ’97, por outro lado, tudo é, visualmente, deslumbrante o tempo todo.

    A música clássica da abertura, de Haim Saban (“Power Rangers”) e Shuki Levy (“He-Man”), foi refeita, e temos uma trilha sonora, adaptada de forma completa e emocionante, ao longo de todos os episódios. Isso se combina com um excelente trabalho de dublagem da equipe brasileira, que proporciona uma imersão total.

    Quanto às cenas de ação, a forma como os poderes de cada personagem são expressos é emocionante, desde os telepatas até o magnetismo de Magneto (Matthew Waterson/Charles Dalla), as transformações de Morfo (JP Karliak/Fernando Mendonça) e a telecinesia de Jean Grey (Jennifer Hale/Sylvia Salustti), entre outros. Tudo é uma homenagem à série clássica, mas está de acordo com o que esperamos de uma animação moderna.

    X-Men '97 I Marvel Studios

    X-Men ’97 I Marvel Studios

    Cada episódio de “X-Men ’97” é envolvente por si só e possui momentos emocionantes. Além disso, o roteiro dá vida e personalidade a cada um dos personagens. A trama é bem desenvolvida e condiz com a animação original, preparando terreno para o futuro. Tanto os vilões que retornam quanto os novos que chegam conseguem seu espaço sem contradições.

    A adaptação das sagas das HQs é feita de forma competente, mesmo que não seja extremamente fiel. Ainda assim, alguns momentos, como o julgamento de Magneto (Matthew Waterson/Charles Dalla) ou a remoção dos ossos de Wolverine (Cathal J. Dodd/Luiz Feier Motta), são quase idênticos aos quadrinhos.

    Em resumo, a Marvel acertou ao focar nos mutantes para sua nova fase. “X-Men ’97” é perfeita, tanto para os fãs antigos quanto para os novatos que não conhecem muito dos X-Men. Um belo pontapé, para uma nova fase do estúdio.

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  • CRÍTICA | Contra o Mundo vai hipnotizar os fãs do gênero de ação

    CRÍTICA | Contra o Mundo vai hipnotizar os fãs do gênero de ação

    Contra o Mundo exagera, no melhor sentido, como se fosse baseado numa história em quadrinhos.

    Boy é um homem mudo e surdo que perdeu familiares importantes na infância por uma mulher poderosa. Diante de tanta tragédia, felizmente conheceu um homem determinado a treiná-lo para que quando estivesse pronto, pudesse obter sua vingança. Assim sendo, acreditando estar pronto, ele coloca sua missão em prática.

    Partindo de uma premissa simples como essa, o diretor estreante Moritz Mohr diverte o espectador com uma trama que não dá tempo de respirar e trás uma cena de luta eletrizante atrás da outra, deixando claro o intuito de apenas empolgar o público com a ação na medida certa, sem dar tempo pra respirar e com a presença de um humor inesperado, mas ainda interessante.

    Graças a deficiência do protagonista, o longa-metragem encontra como alternativa entregar um narrador personagem, termo dado àqueles personagens que dialogam com o público contando sua própria história (como acontece em “Como Treinar o Seu Dragão” ou “Eu, Tonya”), do qual se extraí boa parte do lado cômico da obra, com o lutador se expressando perante tudo que acontece, quase passando a sensação de conversar com alguém dentro de si, como o filme “Venom” fez recentemente.

    Contra o Mundo

    Contra o Mundo | Lionsgate

    Entretanto, não dá pra dizer que a ideia funciona sempre, pois mesmo que Contra o Mundo te coloque nessa perspectiva desde o começo, existe uma sensação estranha pairando no ar como se simplesmente não encaixasse, dando quebras nos momentos de tensão ou seriedade. Contudo encaixa perfeitamente com os coadjuvantes que interagem com o Boy e conseguem compreender o que o mesmo diz por expressões, que o espectador só compreende graças a voz fora de cena.

    Sendo detalhes como esse que passam a forte sensação de estar assistindo uma adaptação de quadrinhos, onde a história não é o grande foco, mas sim a ação, os vários planos que soam quadros de ilustração ganhando vida, as revelações feitas ao final e a própria voz acima dos diálogos, dando uma perspectiva maior de imersão para compreender o que se passa na cabeça do protagonista, são fatores que podem incomodar pessoas desacostumadas com a leitura de mangás e quadrinhos.

    Os habituados com esse tipo de história, tanto pro gênero de ação quanto pelo lado quadrinesco, facilmente vão embarcar na ideia proposta, além de até o final ser conquistado pela interpretação de Bill Skarsgård que entrega puro carisma com um olhar ingênuo, perdido, mas maduro o suficiente em preparação aos perigos que sua jornada o levarão a enfrentar. Ainda que por vezes pareça necessitar da voz esclarecendo o que pensa, a sua fisicalidade pro combate compensa.

    Contra o Mundo

    Contra o Mundo | Lionsgate

    Dito isso, as cenas de luta são insanas de boas, não necessariamente chegando a superar o que a franquia “John Wick” fez, mas sabendo muito bem entregar aquela dinâmica frenética que deixa o espectador com os olhos vidrados compreendendo o que está acontecendo e se empolgando com os exageros críveis realizados. O nível de cada combate é elevado conforme o filme desenrole e pro seu grande clímax, surpreende ao não fazer algo grandioso, mas pessoal e bem coordenado, deixando a coreografia fluir sem um alto número de cortes na montagem para estragar.

    Contra o Mundo é o típico filme de ação que todo ano aparece para surpreender o público, vem de fininho como quem não quer nada, parecendo ser mais um entre tantos, mas apresenta originalidade, características que o destaque e não permita que caia no comodismo cujo fã do gênero já se acostumou em ver.

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  • CRÍTICA | O Dublê mostra ação de primeira linha por trás das câmeras

    CRÍTICA | O Dublê mostra ação de primeira linha por trás das câmeras

    Ação e romance em O Dublê, do diretor de “Trem-Bala”, demora pra empolgar, mas diverte com um olhar por trás das câmeras.

    Dublês são extremamente importantes durante a filmagem de filmes, principalmente nos de ação. “O Dublê” do diretor David Leitch fala sobre isso na primeira cena, mostrando momentos de outros filmes em que teve algum envolvimento. Seja para serem jogados para fora de carros, pegarem fogo ou caírem de altíssimas alturas, eles sempre estão lá para dar vida às perigosas cenas que atores não conseguem fazer. Porém, esse sacrifício não é considerado por muitas pessoas da indústria, mesmo que essa cenário esteja melhorando ao longo dos anos. O longa estrelado por Ryan Gosling e Emily Blunt utiliza isso através de uma lente irônica e cômica, que é divertido quando não foca muito em seu lado romântico.

    O dublê Colt Seavers, retorna à ativa 18 meses após um acidente durante uma fatídica filmagem o fazer sumir do mapa. Ele começa a trabalhar na ultra produção “Metalstorm”, dirigida por sua habilidosa e furiosa ex-namorada Jody, que não ficou muito empolgada com o sumiço de Colt. Tudo muda quando a produtora do filme o arrasta para uma conspiração, o desaparecimento da estrela principal. Porém, o que uma simples investigação logo se torna uma perigosa rede de informações que podem acabar com as filmagens, e com a vida do dublê azarado.

    O Dublê

    O Dublê | Universal Studios

    Ryan Gosling fez sucesso em seu último trabalho, Barbie, como o boneco Ken. Agora vive um simples e cansado dublê, que sempre dá um ok com os polegares após concluir uma acrobacia. O ator vende muito bem seu papel e faz muitas das cenas perigosas que seu personagem vive. Além disso, muito de seu talento cômico é compartilhado com sua coadjuvante, Emily Blunt, com quem têm bastante química. Porém, mesmo que as motivações do protagonista dependam de sua relação romântica com a personagem de Blunt, o longa tem seus melhores momentos quando extrai o humor do absurdo, um vendaval caótico onde o protagonista vive um filme de ação na vida real.

    Ao mesmo tempo, cutuca outras super produções desse gênero, através das incontáveis explosões e capotes de carro, até fazendo uma paródia hilária de um famoso filme lançado recentemente. Além disso, Aaron Taylor-Johnson é muito bem utilizado como um ator ricaço e excêntrico. Faz piadas do fato de seu personagem não ter habilidades para atuar em cenas de ação, sendo extremamente exagerado, quando comparado ao experiente Colt Seavers de Gosling.

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    O Dublê | Universal Studios

    Por se tratar de dublês, as cenas de ação são extremamente autênticas. Uma perseguição frenética pela cidade, envolvendo um caminhão e uma caçamba, se torna o destaque do filme, especialmente pela integração com o cenário, história e trilha sonora. Nesse momento, diversas coisas acontecem ao mesmo tempo. A luta ocorre enquanto a diretora do filme fictício canta uma emocionante música no karaokê, criando um caos intenso e hilário.

    Porém as melhores cenas de ação e partes estão presentes na segunda metade, tornando a primeira um pouco arrastada. Além disso, por mais que a dupla principal de atores tenham química juntos, seu relacionamento é criado através de uma rápida montagem de momentos, tornando seu desenvolvimento bem limitado. Também não ajuda a história ser um tanto previsível, replicando diversos clichês do gênero.

    Mas mesmo não tendo uma história com tantas reviravoltas imprevisíveis quanto o filme anterior de seu diretor, “O Dublê” é um olhar apaixonado e satírico do mundo dos dublês. Ryan Gosling novamente mostra seu talento cômico com Colt Seavers. Não apenas ele, como todo elenco dá tudo de si e empolgantes cenas de ação culminam em um confronto final épico, cheio de explosões e acrobacias.

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  • CRÍTICA | Xógum – A Gloriosa Saga do Japão é muito mais do que apenas uma “nova” Game of Thrones oriental.

    CRÍTICA | Xógum – A Gloriosa Saga do Japão é muito mais do que apenas uma “nova” Game of Thrones oriental.

    Xógum – A Gloriosa Saga do Japão é o mais rico exemplo de uma série que não prometeu nada e entregou tudo.

    “Xógum: A Gloriosa Saga do Japão” é uma obra que transcende o tempo, imergindo o espectador em uma narrativa rica e fiel ao contexto do Japão antigo. A frase emblemática contida na série “Vivemos e morremos. Não controlamos nada além disso.” ressoa profundamente, nos mostrando a essência da existência humana em meio às reviravoltas da trama.

    Este remake da minissérie original de 1980 é uma obra-prima que se equipara às maiores produções televisivas, como Game of Thrones, em termos de qualidade e impacto. A cada episódio, somos agraciados com uma montanha-russa de eventos emocionantes e intrigantes, mantendo-nos grudados na frente da TV e ansiosos pelos próximos capítulos da trama.

    Xógum não decepciona quando se trata de reviravoltas; pelo contrário, é seu ponto forte. Traições e assassinatos são elementos intrínsecos à trama, tecendo uma teia complexa de intriga e suspense que cativa e surpreende até o mais astuto dos espectadores.

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    “Xógum: A Gloriosa Saga do Japão” segue a jornada épica do marinheiro britânico Jack Blackthrone (interpretado por Cosmo Jarvis). Após sobreviver a um naufrágio nas costas japonesas, ele se vê imerso em um turbilhão de intrigas políticas e conflitos armados durante os primórdios de uma guerra civil no Japão.

    Navegando em território desconhecido, Jack é manipulado como peça-chave pelo astuto líder japonês, Lord Toranaga (interpretado por Hiroyuki Sanada), em sua busca pelo poder supremo como o Shogun. Ambientada em um Japão dividido por crenças religiosas e agendas políticas, a série mergulha no fascinante universo dos samurais e das gueixas, enquanto explora os complexos desdobramentos das grandes navegações e a influência das nações estrangeiras na ilha.

    Em meio às conspirações e conflitos, a série não perde de vista a humanidade de seus personagens. Cada ato é impulsionado por motivações profundamente enraizadas, explorando temas universais como amor, lealdade e ambição. Os protagonistas são multifacetados e complexos, tornando-se figuras com as quais podemos nos identificar e compreender, mesmo em um contexto histórico tão distante. E é isso nos faz gostar da trama, apesar de alguns momentos não serem tão desenvolvidos quanto deveria.

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    Como nem tudo são flores na trama, em meu ponto de vista, Jack Blackthrone (Cosmo Jarvis) é um desses fatores que deixam a desejar, pois em diversos momentos se mostra um personagem totalmente perdido durante a série, mesmo sendo um dos personagens principais. Até mesmo a atuação por parte do ator não me agrada na maior parte das cenas em que ele se mostra presente.

    Ao contrário de atuações duvidosas como a de Cosmo Jarvis, temos um destaque extremamente importante, como a atuação impecável da atriz Anna Sawai que interpreta a personagem Toda Mariko na série. Anna se mantém impecável a cada episódio da trama e dificilmente não vencerá algum prêmio pela atuação apresentada em Xógum.

    Apesar de cometer alguns erros específicos por conta de atuação e desenvolvimento de personagens, Xógum é mais do que uma simples série de televisão; é uma jornada emocionante e edificante através da história e da condição humana, deixando uma marca indelével no coração e na mente de quem a assiste.

  • CRÍTICA | Na competição de Rivais, Zendaya e seu triângulo amoroso é o match point perfeito

    CRÍTICA | Na competição de Rivais, Zendaya e seu triângulo amoroso é o match point perfeito

    Luca Guadagnino dirige Rivais com energia sem igual.

    As vezes é difícil ver um filme ou série sobre esportes que seja envolvente. Por exemplo, “O Gambito da Rainha”, da Netflix, vem à mente. Quando feito certo, essas obras podem ser fascinantes, seja pelo uso dos personagens ou por uma história intrigante. E “Rivais”, do diretor Luca Guadagnino, oferece exatamente isso.

    Em uma acirrada competição de tênis, Taishi, uma veterana aposentada do esporte devido a um acidente, vê seu marido, Art, ir contra seu ex-namorado, Patrick, em uma tensa partida, em que todos tem algo a perder. E o mais trágico é que no passado, todos eram mais que amigos.

    O que inicialmente parece um simples confronto, logo se revela uma complicada rede de sentimentos e compulsões esportivas. Como uma bola de tênis navegando rapidamente entre os dois lados de uma quadra, o espectador observa o passado e presente dessas pessoas. Cada cena adiciona uma camada aos personagens e contextualiza eventos no presente, fazendo com quem assiste, tenha uma visão cada vez mais completa desse quebra cabeça picante e engraçado.

    Rivais

    Rivais | Warner Bros | MGM

    E para trazer essa história a vida, não erraram a mão no quesito de elenco. Porquê os atores que compõem o trio principal são simplesmente irresistíveis. Cada um cria seu próprio personagem com nuances únicas. Zendaya nos entrega em “Rivais” algo muito especial, que pode ser sua melhor atuação até agora. Em toda cena ela exalta profissionalismo, presença e controle. Isso é conquistado não só por como é escrita, mas pelos seus olhares profundos e sutis expressões faciais. Além disso, por ser sobre tênis, vemos a fisicalidade muito bem construída, presente nas cenas das competições, que é compartilhada por outros personagens.

    Sobre os outros membros do elenco, eles compartilham dessa presença. Josh O’Connor e Mike Faist tem uma química eletrizante. Eles fazem um bom trabalho em demonstrar a mudança no comportamento, aparência e na relação deles de uma maneira coerente. Assim como faz isso ser apresentado de uma maneira dinâmica.

    Por mais que esse ritmo tenha dinamismo e energia, fazendo com que o esporte se torne atrativo até para aqueles que não acompanham o assunto, fica um pouco repetitivo em certas partes. Isso se torna mais perceptível no final, quando a partida de tênis no presente está no ápice de tensão, porém o filme mostra algo no passado. Isso causa uma leve quebra de foco e estranhamento.

    Rivais

    Rivais | Warner Bros | MGM

    Mas a cena final é muito bem executada, e utiliza as informações dadas nos flashbacks de uma maneira emocionante, devido a um roteiro inteligente em um dos primeiros trabalhos do roteirista Jason Kuritzkes, a direção de Luca Guadagnino, e uma excelente trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, criando algo incrivelmente memorável. Por exemplo, nessa mesma cena, o personagem de O’Connor passa uma informação importante para o personagem de Faist, utilizando apenas um gesto com a sua raquete e a bola de tênis. O diretor utiliza close-ups extremos durante as cenas na quadra, os rostos suados e olhares focados dizem mais do que qualquer diálogo.

    A história faz um bom trabalho em demonstrar o tipo de relação desse trisal, ao mesmo tempo frisa como esses relacionamentos são complicados. Além disso, há diversos momentos íntimos compartilhados entre os personagens, que é feito de maneira respeitosa e crível, mas é igualmente divertido. Por exemplo, em uma cena filmada em uma tomada, os três personagens principais compartilham um beijo, e o modo como é executado diz tudo sobre suas personalidades, além de criar questionamentos intrigantes para o resto da trama.

    Rivais” é extremamente bem dirigido, com ótimas atuações de todo o elenco. Além disso, uma história fascinante sobre amor, esporte e obsessões, contada através de uma competição acirrada de tênis, tornam esse longa uma surpresa bem vinda, mesmo que o ritmo se afogue um pouco antes dos momentos finais.

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  • CRÍTICA | Guerra Civil apresenta o outro lado da guerra

    CRÍTICA | Guerra Civil apresenta o outro lado da guerra

    Guerra Civil mostra como o fotojornalismo pode ser uma área importante e problemática no meio que se encontra.

    Guerra Civil apresenta a história de dois jornalistas que precisam chegar na capital dos Estados Unidos antes que o presidente seja assassinado devido às atitudes que tomou durante seu terceiro mandato. Então, em meio ao caos que se alastrou, unir o senso de urgência ao risco de sobreviver encaminha a obra para uma direção que fica difícil prever até onde vai.

    Sendo assim, o destaque principal fica em acompanhar o grupo de viagem formado que precisa chegar em determinado local numa época de guerra, mas também em um futuro meio apocalíptico, que não seria exagero dizer que lembra algumas produções recentes como “1917” e ”The Last of Us”, onde haverão momentos de conforto para em seguida causar impacto no espectador, apresentará perspectivas divergentes das pessoas perante o que está acontecendo e desenvolverá a relação dos protagonistas de um jeito natural, do qual leva a uma preocupação com o risco de vida que todos estão passando.

    Guerra Civil

    Guerra Civil | A24

    E se os personagens funcionam tanto em um curto período de exibição, é porque o elenco completo demonstra estar confortável nos papéis em que se encontram. Kirsten Dunst rouba a atenção ao dizer pouco enquanto sua fisicalidade diz tanto, sua personagem mostra alguém que cansou do trabalho que exerce e precisa lidar com uma nova geração a caminho nesse ramo, do qual o desconforto é enorme, mas tentará não transparecer isso. Wagner Moura por sua vez, já apresenta uma tranquilidade referente a vida que leva, como se gostasse da adrenalina que a guerra entrega, entretanto esconde os receios de tal maneira que só fica perceptível quando a situação piora.

    Enquanto isso, Stephen Henderson traz um tom leve com alguém que parece representar um peso morto para a equipe de jornalistas, mas pode trazer a resposta certa para dúvidas intrigantes e momentos desesperadores. Por fim, Cailee Spaeny pode representar um novo chamariz no ramo de Hollywood, visto que ano passado chamou muita atenção por sua interpretação em ”Priscilla” e ainda que precise lidar, com os pesos pesados a sua volta, se sustenta o suficiente para ser notável o progresso que sua personagem civil transcorre durante o longa-metragem, conseguindo ganhar o espectador a ponto de causar os momentos de maior aflição.

    Guerra Civil

    Guerra Civil | A24

    Com isso, a direção de Alex Garland se mostra precisa no que decide aprofundar, escolhendo muito bem o quanto determinado personagem vai mostrar o que sente ou como vai aprofundar os temas que o filme aborda, onde muito deles são debatidos de modo superficial para que a audiência determine de onde aquilo surgiu, seja um pensamento ou uma situação. No fim, o fotojornalismo acaba sendo a pauta mais destrinchada, de tal modo que não busque explicações do porquê alguém escolheu essa profissão, mas apresente os percalços e decisões difíceis que terá de fazer para continuar no ramo, sendo um deles preocupante, ainda que infelizmente não se aprofunde nisso.

    Nesse aspecto, a parte fotográfica da obra gruda sua atenção por todas as alternativas que escolhe durante suas quase 2 horas, pois além do efeito colocado na foto registrada pelos trabalhadores, que vem no momento certo para mostrar o lado artístico disso, o nível que cada um busca alcançar e o poder que isso causa em quem vê. A direção nesse aspecto do filme permite criar momentos fotográficos do público desejar uma foto do que está vendo, deixando até mesmo se viajar com isso ao produzir quase um videoclipe de um helicóptero seguindo rumo em direção ao nascer do Sol.

    Todavia, são raros esses momentos que soam enrolados e a presença da câmera consegue ser sentida na ação, levando a quem assiste se encontrar no meio daquela guerra, conseguindo transpor a sensação horripilante de estar ali e angustiante de ver gente querendo gravar como se fosse uma situação segura pra isso.

    Guerra Civil é um momento episódio dentro do fotojornalismo que não necessariamente precisa ser visto como algo fictício em um futuro distópico, já que o tipo de trabalho abordado aqui acontece diariamente e apenas não é visto, ou até valorizado como deveria. É uma situação incomum de se acompanhar e por isso tão interessante de ver, levando a refletir sobre como a guerra pode mudar até mesmo aqueles que não estão lutando dentro dela, mas lutando para que o mundo veja o que a mídia pode querer esconder. A maior luta pode não ser em fotografar as mortes que vislumbra, mas aquela que pode te dilacerar por dentro aos poucos.

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  • CRÍTICA | 1° Temporada de Fallout desbanca a desconfiança inicial do público e nos entrega uma trama mais do que fiel aos jogos.

    CRÍTICA | 1° Temporada de Fallout desbanca a desconfiança inicial do público e nos entrega uma trama mais do que fiel aos jogos.

    Fallout nos mostra mais uma vez que o casamento entre jogos e séries de TV é verdadeiramente bem-sucedido.

    A tendência de adaptar jogos de videogame para séries de TV está cada vez mais presente, após o estrondoso sucesso de “The Last of Us” e de filmes como “Mario Bros”. Agora é a vez de Fallout entrar em cena com determinação, conquistando completamente a audiência do Prime Vídeo e chamando a atenção de todos nas redes sociais.

    “Fallout” é comandada e dirigida pelos mesmos responsáveis da excelente série “WestWorld”: Jonathan Nolan, sim! Ele é irmão da lenda Christopher Nolan, e Lisa Joy. Ao me deparar com os dois na produção da série, tive a certeza de que a qualidade seria a melhor possível.

    Diferentemente de “The Last of Us”, a série optou por contar uma história totalmente inédita comparado aos jogos. Esta foi uma jogada ousada, decidindo não seguir pelo caminho mais fácil, que seria apenas reproduzir a história iniciada no primeiro jogo. E essa decisão se mostrou acertada, pois a história da série e a forma como foi contada ao longo dos episódios beira a perfeição.

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    Fallout | Amazon Prime Vídeo

    Num mundo pós-apocalíptico devastado pela guerra nuclear, a série Fallout nos transporta para uma realidade alternativa onde a humanidade luta pela sobrevivência em meio a ruínas radioativas e facções em conflito. A história segue três protagonistas distintos: Lucy (Ella Purnell), uma habitante de um abrigo subterrâneo de elite forçada a encarar o mundo exterior; Maximus (Aaron Moten), um soldado da poderosa Irmandade de Aço, determinado a impor ordem no caos; e The Ghoul (Walton Goggins), um misterioso caçador de recompensas, cujo passado enigmático o impulsiona através do deserto hostil. Juntos, eles enfrentam não apenas os perigos da radiação, mas também os desafios morais e éticos de um mundo despedaçado.

    A ambientação da série foi adaptada de forma maestral, dando fidelidade ao universo dos jogos. E o figurino dos personagens não passa despercebido, mostrando o cuidado dos produtores em manter a qualidade original do jogo criado pela Bethesda.

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    Fallout | Amazon Prime Vídeo

    O ponto mais alto na trama envolve os protagonistas, mesmo que a história de ambos seja distinta, há uma certa ligação entre eles perante a todo caos que foi causado pela humanidade, levando ao encontro dos mesmos em busca da verdade.

    A série também nos apresenta até onde vão os ideais humanos em busca de poder absoluto, chegando ao ápice da ignorância e dos pensamentos individualistas, cujas consequências tendem a ser e são catastróficas. Os flashbacks ao decorrer dos episódios nos mostram como o caos é instaurado no mundo de Fallout, gerando consequências irreversíveis para a vida humana.

    “feo fuerte y formal” é uma das frases ditas na série que mais define do que Fallout se trata, uma trama que beira ao ridículo, mas que faz isso com plena perfeição e nos mostra que até mesmo nos lugares onde só a guerra, também pode haver pessoas com determinação em busca da verdade e lutar por um mundo justo, longe de toda a selvageria e caos.

  • CRÍTICA | Música entrega uma melodia de deliciosos clichês com acordes brasileiros

    CRÍTICA | Música entrega uma melodia de deliciosos clichês com acordes brasileiros

    As comédias românticas centradas na vida de jovens adultos normalmente caem na mesma armadilha dos clichês, se tornando mais um em meio a uma prateleira cheia de previsibilidades, especialmente se pensarmos nos lançamento dos últimos anos. Mas quando falamos do novo longa “Música”, estrelado e dirigido por Rudy Mancuso, temos uma surpresa diferente ao nos depararmos com um clichê bem feito e muito gostoso de assistir. 

    O filme, inspirado na vida real do diretor, narra a história de Rudy, um jovem estadunidense filho de mãe brasileira, que enfrenta uma rara condição chamada sinestesia. Tal condição faz com que as pessoas afetadas percebam múltiplos sentidos humanos simultaneamente, como tato, visão e audição, por vezes resultando em ansiedade e confusão. Durante o longa, Rudy, que é um talentoso artista apaixonado por música, vê sua vida tomar um novo rumo após o término de um relacionamento de longa data e o encontro com Isabella (interpretada por Camila Mendes), outra jovem estadunidense com ascendência brasileira por parte de mãe.

    música

    Música | Prime Video

    A partir desse encontro, Rudy passa a enxergar a vida de forma mais harmoniosa, mas se vê diante do dilema de escolher romanticamente entre duas pessoas e decidir sobre seu futuro profissional, seguir sua paixão pela arte e pela música ou buscar uma carreira mais segura e estável, tudo isso enquanto lida com o típico controle da mãe brasileira em sua vida, dando palpites a todo momento.

    Durante toda a narrativa, “Música” nos traz uma produção com narrativa e atributos técnicos norte-americanos, mas com um sangue brasileiro, presente na trilha sonora, nas falas e expressões em português muito bem trabalhadas no roteiros, na estética e nas críticas sutis à xenofobia que os imigrantes latinos enfrentam ao se mudarem para os Estados Unidos. Toda essa mistura tem um belo resultado, envolvendo o público em uma melodia e trazendo um humor que resgata a essência de algumas comédias brasileiras, como “Minha mãe é uma peça”, com boas referências ao Brasil e ao seu povo. 

    Em “Música”, talvez o maior problema sejam as atuações, que deixam um pouco a desejar, em especial com uma certa falta de química no casal principal que, por estarem juntos na vida real, esperava-se um entrosamento melhor. Além disso, toda a obra corre por caminhos previsíveis, de forma que faltam algumas surpresas no desenrolar da trama. Alguns outros pontos, como as críticas ao racismo enfrentado pelos latinos, poderiam ter sido mais elaborados, já que, como produção estadunidense, essa era uma chance de dar voz à causa. 

    Em linhas gerais, “Música” não é um filme que trará uma grande reviravolta ou será uma obra revolucionária, porém, mesmo com suas previsibilidades e clichês, o longa consegue nos dar agradáveis surpresas nos seus 92 minutos, se mostrando leve e divertido. Com leveza, honestidade e muito coração, a obra nos dá uma pequena, mas deliciosa, fuga da realidade, além de ser um acalento para o público do Brasil, que teve uma linda, e justíssima, representação por parte daqueles que o conhecem. 

    Música está disponível na plataforma de streaming Prime Video.

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  • CRÍTICA | O Lado Sombrio da TV Infantil é difícil de assistir

    CRÍTICA | O Lado Sombrio da TV Infantil é difícil de assistir

    O Lado Sombrio da TV Infantil aborda as polêmicas envolvendo o canal Nickelodeon em sua era de ouro.

    “O Lado Sombrio da TV Infantil” é uma série documental produzida em busca de expor trabalhadores do canal de televisão Nickelodeon que transformaram um ambiente cheio de atores mirins, e principalmente atrizes, em um verdadeiro filme de terror condicionando as crianças a fazerem cenas com um infeliz duplo sentido, além de algumas sofrerem assédio ou racismo. Trazendo algumas pessoas que fizeram parte desse caos para falar sobre como foi e quanto disso repercutiu em suas vidas até hoje.

    Dessa forma, sem enrolação, a obra nos primeiros minutos já deixa claro sobre o que ela vai falar, de que forma vai abordar e retratar seu assunto, instigando rapidamente o espectador, ao mesmo tempo em que já mostra como não vai ser uma experiência fácil. Então, em cinco episódios, é colocada uma divisão de tramas para cada um, onde serão aprofundadas as ações de adultos divergentes nos bastidores de seriados famosos protagonizados por artistas que estavam na faixa etária entre 8 a 15 anos.

    Sendo assim, os primeiros episódios conseguem ser torturantes e rápidos de assistir, havendo uma dinâmica boa entre os fatos, a opinião de quem foi chamado para o projeto e até as pausas precisas para demonstrar a opinião daquele que está sofrendo tamanhas acusações. Existe uma crescente em cada capítulo que passa uma noção mais concreta do assunto que procura debater, tornando episódico cada ocorrido, dando a possibilidade de assistir em dias diferentes, sem a necessidade de maratonar, e alcançando seu auge na metade da temporada quando o ator Drake Bell decide contar sua tragédia.

    CRÍTICA | O Lado Sombrio da TV Infantil é difícil de assistir

    O Lado Sombrio da TV Infantil | Max

    A precisa condução que O Lado Sombrio da TV Infantil permite dar para o intérprete contar sua própria história, sem apelar pra uma música melancólica ou uma montagem que corte seu silêncio, leva a um clímax fácil de comover o espectador mais durão e esclarece a forma delicada com a que a produção está repercutindo cada assunto. Isso até chegar ao final da série.

    O grande problema vem quando nos capítulos finais fica a sensação de não haver uma conclusão para o tema debatido, deixando a sensação de o programa ter vindo para revelar o que acontece em locais de trabalho com crianças para atentar os pais e alterar leis que ainda dão direitos para pedófilos ou assediadores. Entretanto, questões são deixadas em aberto como onde se encontra atualmente as pessoas que causaram mal para tantos e uma breve noção de quantos outros foram afetados pelo que houve.

    Diversas vezes é citada a relação forte que o criador de famosos seriados tinha com atriz Amanda Bynes, porém em nenhum momento o assunto volta à tona para fechar a lacuna deixada em aberto. Veja bem, não exijo uma participação da mesma, até porque cada um lida com seus problemas de um jeito diferente e não deve obrigação nenhuma de dialogar sobre, mas as investigadoras que ditavam o rumo dos ocorridos durante os episódios poderiam ter nos situado sobre certos fatores.

    CRÍTICA | O Lado Sombrio da TV Infantil é difícil de assistir

    O Lado Sombrio da TV Infantil | Max

    O último episódio traz apenas uma entrevista com os participantes do documentário que em parte resolvem questões com outros e respondem aos comentários daquele que foi acusado durante o projeto, sendo notável a segurança de poderem falar o que pensam, o que é ótimo, mas por outro lado, soa bem repetitivo ao trazer cenas vistas nos capítulos anteriores, tal como ocorre mínimas vezes nos outros ao reforçar com imagens o rosto dos acusados, levando a uma angústia de quem assiste que poderia ser evitada. Ao terminar de assistir, a sensação de insatisfação pode vir pelo fim que toda essa história levou como também pela condução narrativa que perdeu força, indo aquém do que havia sido visto no começo.

    Ver o lado obscuro dos bastidores na Nickelodeon é alarmante e avassalador, necessário para se atentar com futuros artistas menor de idade que estão chegando nesse mundo, tanto quanto para o modo que se enxerga quem trabalha na área, trazendo uma visão amarga pra essa realidade que sempre soou tão glamorosa e benéfica, mas que infelizmente se revela tão destrutiva como qualquer outro emprego que possa lhe fazer mal, seja psicologicamente ou fisicamente.

    O Lado Sombrio da TV Infantil já está disponível no Max e conta com apenas uma temporada.

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  • CRÍTICA | Abigail empolga e diverte em uma renovação de um gênero já saturado desde os primórdios

    CRÍTICA | Abigail empolga e diverte em uma renovação de um gênero já saturado desde os primórdios

    Chega aos cinemas nesta quinta feira (18), Abigail, um dos filmes de terror mais aguardados do ano e que traz as telas uma nova roupagem para os filmes de vampiro.

    Desde Georges Méliès e O Solar do Diabo em 1896, Nosferatu de 1922 até Blade em 1998 e porque não citar Crepúsculo em 2008, não é de hoje que vemos os vampiros presentes nas telonas. Essas criaturas geram fascínio no público seja pela sua mítica, seja pela história contada na tela, podemos observar que as histórias se modificam com o passar dos tempos. Os vampiros surgiram como seres de puro mal, sedutores e misteriosos. Hoje ao invés de assustar eles têm a simpatia do público, sendo personagens com muitos conflitos internos e que sabem amar.

    É aí que entram Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, diretores que renovaram a franquia Pânico e que sabem lidar com algo que é cânone para muitos. Mais um trabalho consistente da dupla de diretores que consegue trazer para as telas um filme que é sim uma mistura de muitas produções recentes, de Casamento Sangrento ( que também foi feito pela dupla) até M3GAN!, mas que renova um gênero já saturado com tantos filmes ruins sobre vampiros.

    Abigail | Universal Pictures

    Abigail | Universal Pictures

    Abigail conta a história de como 6 criminosos vão sobreviver 24h presos dentro de uma mansão com uma criaturinha sanguessuga. Em seus personagens temos todos os clichês possíveis, a mãe ausente, ex-viciada Joey (Melissa Barrera, Pânico V), o ex-policial Frank (Dan Stevens, A Bela e a Fera), o brutamontes Peter (Kevin Durand, X-Men Origens: Wolverine), o ex-militar  Rickles (William Catlet, Constelação), o piadista sem noção Dean (Angus Cloud, Euphoria) e a adolescente hacker Sammy (Kathryn Newton, O Mundo Sombrio de Sabrina). 

    Esse é o grupo designado para sequestrar a pequena Abigail (Alisha Weir, Matilda), que vem de uma família abastada e os criminosos esperam um resgate de 50 milhões de dólares, mas para que isso aconteça eles tem que ficar 24h com a garota a espera de um suposto contato do pai da garota. Mal sabem eles o que os espera escondido atrás de um rostinho inocente de uma criança.

    Abigail | Universal Pictures

    Abigail | Universal Pictures

    Abigail demora um pouco antes de passar de um thriller policial a um filme de vampiro encharcado de sangue. O longa é uma bagunça sangrenta. Os efeitos práticos são bons e a cinematografia também é muito boa.  Bettinelli-Olpin e Gillet repetem muitas ideias, elementos visuais e narrativos de toda a sua filmografia, portanto a originalidade é inexistente. O enredo se baseia em muito humor macabro e litros de sangue.

    Destaque para a direção de arte e de como ela conversa com a narrativa o tempo todo, a cena que abre o filme com Abigail dançando Cisne Negro no momento em que ele mostra seu lado obscuro é genial e já dita o que veremos ao longo do filme. Além da parte técnica, vale ressaltar a atuação de Alisha Weir, sua formação como dançarina a ajuda a dar elegância aos seus movimentos, mas também a ser muito assustadora quando quer. A jovem de 14 anos é capaz de transmitir tanto a inocência quanto o medo de uma garota sequestrada, bem como dar a imagem aterrorizante de um vampiro centenário. 

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    Abigail | Universal Pictures

    A repetição de ideias é um ponto fraco do filme, assim como seus personagens pouco estruturados, fazem bem o papel, mas não geram empatia, fica muito claro desde o início quem é o protagonista. Uma típica garota bonita dos filmes de terror, porém mais durona, em sintonia com os tempos atuais, não me parece que será uma personagem memorável. No final das contas, o mais notável é a jovem Alisha, que devora o filme e seus colegas de elenco, literal e figurativamente.

    Abigail é um filme de terror simples, extremamente divertido e interessante, com um elenco simpático, nada mais e nada menos. 

    Conheça outros trabalhos dos diretores aqui e aqui.

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  • CRÍTICA | Parasyte: The Grey – Parasitas alienígenas violentos dominam essa série de ação grotesca da Netflix

    CRÍTICA | Parasyte: The Grey – Parasitas alienígenas violentos dominam essa série de ação grotesca da Netflix

    Parasyte: The Grey é uma série de ação frenética em seis episódio intensos.

    Filmes como “O Enigma de Outro Mundo” são obras que exploram o medo da desconfiança e do desconhecido. O sentimento de não estar seguro perto de alguém que pode apresentar uma ameaça inimaginável. Comparações à parte, “Parasyte: The Grey” é semelhante ao clássico de John Carpenter. Porém, essa nova adaptação de mangá disponível na Netflix, apresenta cenas de ação frenética e uma história intrigante, mesmo que demore um pouco para cativar.

    Na história, parasitas invadem e mudam corpos humanos, especialmente a cabeça, que se transformam em tentáculos e lâminas afiadas. Na cidade de Namil, uma conspiração se forma após estranhos desaparecimentos e assassinatos. Uma equipe de elite especialista em caçar as criaturas, luta para eliminar essa ameaça parasítica, que pode se disfarçar como qualquer pessoa.

    A produção tem bons efeitos gráficos, mesmo não sendo realista, combina com a fantasia do proposto. Há uma integração interessante dos efeitos com os ambientes e personagens. Por exemplo, os tentáculos dos monstros se alongam e esbarram por onde passam. E os diferentes visuais para essas monstruosidades são nojentos e criativos. Com isso, as cenas de luta são os destaques. Como um intenso combate em uma ponte enquanto uma onda de criaturas luta contra soldados.

    parasyte the grey

    Parasyte: The Grey | Netflix

    No quesito de atuação, personagens secundários têm papéis maiores e mais intrigantes. Principalmente para Koo Kyo-hwan, como um membro de gangue que aprende a não ser mais covarde e ajudar os outros.

    Por mais que tenha muita ação, demora para ganhar fôlego e informações são repassadas repetidamente para diferentes personagens, o que torna a experiência chata. Esses elementos contribuem para um desenrolar de eventos chatos, principalmente nas primeiras partes.

    Porém, a partir do quarto episódio, os conflitos principais são estabelecidos, reviravoltas e acontecimentos mais chocantes espantam em diversas ocasiões. Devido a mortes inesperadas de maneiras violentas, além de um desenvolvimento mais profundo e contemplativo das ideias propostas. “Parasyte: The Grey” tem seu próprio sabor e méritos dentre histórias com premissas parecidas, mesmo que seja lenta, como uma larva de parasita, para chegar em pontos mais importantes.

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  • CRÍTICA | Evidências do Amor: Chega de mentiras, não tem como negar as evidências dessa hilária comédia

    CRÍTICA | Evidências do Amor: Chega de mentiras, não tem como negar as evidências dessa hilária comédia

    Em “Evidências do Amor”, Marco, um desenvolvedor de aplicativos, e Laura, uma médica aspirante a cantora, se conhecem durante um fatídico dueto da canção “Evidências”. Um romance perfeito mostra rachaduras, quando ela decide não se casar. Após um ano lamentando o ocorrido, ele ainda não entende o que errou. Porém, tudo muda quando a música que os juntaram, se torna seu pior pesadelo. Agora, sempre que ouve a composição de Chitãozinho e Xororó, ele é transportado para horríveis memórias do seu último relacionamento.

    O filme lembra premissas semelhantes, como “Feitiço do Tempo” ou “A Morte Te Dá Parabéns”, produções em que um protagonista percebe seus erros ao reviver eventos de sua vida. Mas o longa brasileiro tem seu charme, mantendo um ritmo constante de momentos cômicos com personagens carismáticos, mesmo com poucos buracos ao longo da jornada.

    Marco Antônio, interpretado hilariamente com uma energia única por Fábio Porchat, não entende o quanto egoísta e irritante que é, mesmo sendo uma pessoa boa. Não tem jeito, nega qualquer possibilidade de que tenha cometido erros durante sua relação com Laura, interpretada por Sandy Leah, que entrega uma boa atuação, principalmente em momentos mais sérios. Ambos os artistas têm uma química interessante, mostrando seus lados cômicos e dramáticos.

    CRÍTICA | Evidências do Amor: Chega de mentiras, não tem como negar as evidências dessa hilária comédia

    Evidências do Amor | Warner Bros. Pictures

    Mesmo que a trama apresente irregularidades, principalmente após uma revelação nas partes finais, mesmo se tornando um pouco repetitiva em sua conclusão, a experiência é satisfatória. O longa lida com passado e futuro de maneira coerente, além de ter uma boa fotografia e efeitos gráficos, que são bem utilizados na comédia. Por exemplo, quando paredes invisíveis forçam o protagonista a ficar em uma memória.

    Além disso, bastante humor é extraído de Marco tentando evitar a qualquer custo ouvir “Evidências”. E não só isso, quando tenta descobrir o porquê desse fenômeno, pede ajuda à sua síndica, interpretada pela igualmente talentosa Evelyn Castro. “Evidências do Amor” é tanto hilário quanto emocionante, trazendo um bom arco de desenvolvimento do personagem principal, que aprende a não pensar mais em si só. Com esse filme, não tem como negar a risada, talvez até para os públicos mais sérios.

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  • CRÍTICA | Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é um fracasso nostálgico na busca pelo sucesso

    CRÍTICA | Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é um fracasso nostálgico na busca pelo sucesso

    “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”, dirigido por Gil Kenan (“A Casa Monstro”) e corroteirizado por Jason Reitman (“Juno”), é a aguardada sequência de “Ghostbusters – Mais Além” (2021), que alcançou sucesso relativo, tanto de crítica quanto financeiro, especialmente durante a pandemia. Com novos personagens já estabelecidos na franquia, as expectativas para essa continuação eram altas. No entanto, o resultado final decepciona, revelando-se uma produção centrada apenas na nostalgia.

    Na trama, a descoberta de um artefato antigo desencadeia uma força do mal, levando os Caça-Fantasmas originais e os novos a unirem forças para proteger Nova York e salvar o mundo de uma segunda Era do Gelo.

    CRÍTICA I Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é um fracasso nostálgico na busca pelo sucesso

    Ghostbusters: Apocalipse de Gelo | Sony Pictures

    “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” tenta, então, sustentar-se na nostalgia, mas falha ao não desenvolver adequadamente os novos personagens introduzidos no filme anterior, perdendo-se em uma tentativa barata de remeter-se ao passado. Isso é exemplificado na presença de Bill Murray (“Feitiço do Tempo”), que, apesar de carismático, não consegue salvar o longa.

    Embora Nova York seja um elemento crucial desde o início da franquia, o filme não aproveita bem o cenário, com sequências externas mal realizadas e uma predominância excessiva de locações internas, resultando em uma sensação artificial nas imagens.

    Com uma grande quantidade de personagens mal desenvolvidos, o longa perde a oportunidade de construir uma ameaça convincente e coesa, comprometendo até mesmo o antagonismo da história. Várias cenas divulgadas na campanha de marketing são descartadas do produto final, dando uma impressão de uma versão incompleta.

    CRÍTICA I Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é um fracasso nostálgico na busca pelo sucesso

    Ghostbusters: Apocalipse de Gelo | Sony Pictures

    Por outro lado, destaca-se positivamente os competentes efeitos visuais e a comédia, em momentos pontuais, que evitam o caos completo.

    Ainda assim, “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” revela-se, no todo, uma sequência inferior à sua predecessora, incapaz de renovar-se ou expandir-se, dependendo exclusivamente do apelo nostálgico. No máximo, serve apenas como entretenimento leve para uma sessão da tarde com pipoca.

    No entanto, parece que a Sony está satisfeita em contar apenas com os resultados numéricos, impulsionados pela nostalgia, mesmo que isso signifique sacrificar a qualidade e a originalidade de uma franquia tão querida.

    Nisso, para resolver qualquer problema, a Sony já sabe a quem chamar.

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  • Crítica | O Regime: Entre fungos e beterrabas, o absurdo regime de Kate Winslet, em uma intrigante minissérie da Max

    Crítica | O Regime: Entre fungos e beterrabas, o absurdo regime de Kate Winslet, em uma intrigante minissérie da Max

    No primeiro episódio de “O Regime”, a paranoia domina o palácio da chanceler Elena Vernham. Estranhos aparelhos estão espalhados pelos corredores e a umidade deve ser constantemente medida para controlar a presença de um fungo misterioso. Tudo muda após a chegada do mentalmente instável Cabo Zubak, mas não para o melhor. Um estranho relacionamento se forma, que coloca a segurança e futuro de uma fictícia nação europeia em perigo. Para os personagens é um caos, mas para quem assiste aos seis episódios dessa minissérie, é uma hilária e imprevisível jornada.

    Acompanhamos um governo se tornando instável. A governanta soberana interpretada pela magnífica Kate Winslet, inicialmente se apresenta como uma imponente líder. Porém, lentamente se revela uma pessoa frágil, quando conhece o igualmente atormentado Cabo Zubak, trazido à vida por Matthias Schoenaerts em uma insana performance. Adicionalmente, Andrea Riseborough se destaca como uma mãe presa aos quereres de sua superior.

    Crítica | O Regime: Entre fungos e beterrabas, o absurdo regime de Kate Winslet, em uma intrigante minissérie da Max

    O Regime | HBO | Max

    Um ótimo design de produção retrata a mudança nos ambientes do palácio, que refletem a psique da chanceler, desde estarem cobertas por plástico, até cheias de batatas, que de acordo com o cabo, são curadoras. Também apresenta referências visuais divertidas a “O Grande Hotel Budapeste”. Além disso, uma excelente trilha sonora pelo premiado Alexandre Desplat, mistura sons que lembram hinos militares misturados com uma melodia quase mágica.

    A condução da narrativa lembra Kafka e George Orwell, onde uma controladora líder, cujas inseguranças a levam a tomar decisões inacreditáveis, como iniciar uma conspiração envolvendo beterrabas. Porém, é possível ver um lado humano, que revelam traumas do passado, mostrado em cenas em que a protagonista conversa com o caixão de seu pai.

    O ritmo é rápido e diversos momentos imprevisíveis são chocantes. Mas eles vem ao custo de personagens tomarem decisões não condizentes com suas ações. Mesmo assim, “O Regime” é uma ótima adição ao catálogo da Max, que deve surpreender o público. Ótimas atuações, especialmente da Kate Winslet e Andrea Riseborough, design de produção e história, elevam essa minissérie em meio a muitas outras.

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  • CRÍTICA | 2ª temporada de Invencível mostra a dificuldade de superar um trauma

    CRÍTICA | 2ª temporada de Invencível mostra a dificuldade de superar um trauma

    Depois de lutar contra o próprio pai para salvar a Terra, Mark Grayson se dedica a vida heroica sem permitir que descanse e viva um pouco como um adolescente normal. Sua mãe e amigos dão o máximo para auxiliá-lo nessa recuperação, em ajuda-lo a equilibrar os dias de luta e de faculdade, até que surge um homem chamado Angstrom Levy, que após sofrer um acidente envolvendo o Invencível, o vê como uma ameaça que deve ser destruída não importa de que Terra no multiverso venha.

    Partindo disso, o segundo ano do universo criado por Robert Kirkman, que atua fortemente na produção da animação, explora todos os lados imagináveis envolvendo o multiverso, a galáxia que é bem mais ampla do que aparenta e para que rumo vai levar cada personagem com suas tramas particulares. Então, mesmo que cada episódio apresente uma duração de quase uma hora e todos sejam completamente bem equilibrados no ritmo, na abordagem de um tema especifico e de quando vai propor uma briga dentro da história, fica uma sensação de que muitos assuntos foram colocados e alguns acabaram esquecidos, ao mesmo tempo, que ao parar pra pensar sobre o que deveria ser feito, não existe muitas ideias palpáveis para manter a temporada.

    Os primeiros episódios são estritamente focados em abordar a ideia do multiverso, onde o espectador conhece versões alternativas do protagonista como um inimigo e os Guardiões como os defensores da Terra, do mesmo jeito que acompanha variadas personalidades de um mesmo personagem que se unem em prol de um objetivo comum. Ainda que o tema seja explorado de um modo divergente do que ficamos acostumados a ver no cinema, quando a série decide abordar outros assuntos e volta com isso apenas no final, fica a sensação de que faltou algo, seja o protagonista conhecendo seu lado maléfico ou o antagonista trazendo algo de relevante ao retornar, principalmente quando em determinado momento descobre uma arma que poderia derrotar o Invencível, mas que no último episódio tudo fica resumido em ameaçar quem o herói ama.

    Entretanto, mesmo que o tema de realidades alternativas pareça desperdiçado por parte de viajar por estas outras dimensões, se mostra um ponto fundamental para o crescimento de Mark que durante toda a temporada lutou contra a chance de ser comparado ao Omni-Man, buscando dar valor ao seu relacionamento com a Amber e se controlar com os seus poderes em prol de não acabar matando ninguém, fazendo um reflexo distinto para com uma versão que é vista nos primeiros minutos da temporada. O herói, ainda que ressentido para com seu pai se encontre numa encruzilhada ao perceber que a raça viltrumita ainda busca dominar a Terra e só ele é capaz de impedir, mas como fazer isso sem soltar um lado agressivo que existe dentro de si?

    CRÍTICA | 2ª temporada de Invencível mostra a dificuldade de superar um trauma

    Invencível (2ª temporada) | Prime Video

    Então, a luta do herói para se afastar de uma versão sombria em potencial e superar o que aconteceu no final do primeiro ano, reflete tanto nos outros personagens lidando com os seus próprios problemas, como na abertura do seriado que ainda se faz presente ao conversar com a obra num todo. Iniciando ensanguentada e escura, para ser quebrada no decorrer dos episódios, representando essa superação de algo traumático e uma renovação para com a nova pessoa que vai surgir a partir disso, espelhando-se tanto com o protagonista que ao final promete deixar de lado uma parte de sua vida para se dedicar em ser melhor, quanto com o amadurecimento dos coadjuvantes em seus respectivos enredos.

    O ponto alto da série sempre se tratou no modo como os roteiristas sabiamente trabalhavam todos os personagens de um jeito humano, complexo, onde raramente alguém soava preto no branco e a humanidade era imposta até mesmo nos inimigos do Invencível. Nessa temporada, isso ficou ainda melhor. O drama do seriado ganha força nesses oito episódios, deixando de lado uma luta física de pessoas poderosas para trabalhar a luta interior do dia a dia que todos passam, seja a Amber tendo que lidar com a ausência do seu namorado porque este precisa salvar o mundo, ganhando muita simpatia do espectador por reconhecer seu esforço em ser compreensiva mesmo que doa, ou a Debbie, mãe do protagonista, enfrentando a dor de ter sido traída pelo amor que nunca foi reciproco, ganhando um escopo fundamental para falar sobre trauma, depressão e o combate diário que não se mostra fácil, mas pelo menos se mostra vencível. Tornando ela uma das personagens mais bem trabalhadas, tal como se mostrando um exemplo de uma mulher forte.

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    Invencível (2ª temporada) | Prime Video

    Isso sem contar outros personagens, com tramas deixadas em aberto na primeira temporada, que são concluídas aqui em um ponto preciso entre os episódios, como se a produção quisesse deixar pouco assunto em aberto imaginando o que tem preparado pro terceiro ano. Trazendo a sensação de esta temporada ser um ano de passagem, de trabalhar, amadurecer e fortalecer todos os personagens perante as dificuldades que devem enfrentar em uma terceira temporada já confirmada. Mas nunca deixando de ser criativa ao fazer isso, como no episódio que decide mostrar a vida do Allen, o alienígena, e coloca uma voz over (termo usado para definir um narrador que não está presente em cena) para contar a jornada desse personagem divertido, enquanto esclarece sua relevância para uma guerra a caminho. Além de ser um jeito da própria produção mostrar sua criatividade, não só em como abordar personagens de um jeito diferente, mas como de conversar com o espectador na abertura ou em cenas mais especificas (e memoráveis) como aquela em que Mark conhece seu artista favorito.

    Na parte técnica, é notável uma evolução em todas as áreas, ainda que mínimo perante o esperado, principalmente na parte visual que não mudou muita coisa e deixou ainda mais negativo o tempo demorado para entregar pouca evolução, ainda que notável. Já na parte da trilha sonora, na dublagem e na direção, fica claro um aprofundamento em todos os sentidos, onde tudo está bem alinhado e a música consegue passar perfeitamente a ideia do momento que se encontra, seja algo que soa desafinado quando Mark perde a linha, a batida tensa quando uma pessoa importante é ameaçada e algo leve para acompanhar um alienígena carismático.

    Sendo assim, a segunda temporada de Invencível mesmo apresentando leves problemas de foco em narrativa, ainda se mostra um diferencial no gênero de super-heróis provando a imensidão de temas que podem ser abordados quando há criatividade e carinho com cada personagem, mesmo o mais irrelevante possível. Ainda que demore pra chegar, o retorno do seriado é muito bem vindo e consegue encontrar sempre um jeito de surpreender. Mostrando que independente das atitudes que tenha ou das situações que vivencie, nunca é tarde para mudar e se renovar, ainda que dificilmente consiga se tornar invencível.

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  • CRÍTICA | True Detective: Terra Noturna busca ressuscitar o passado no Alasca, mas acaba se perdendo na neblina de suas próprias memórias

    CRÍTICA | True Detective: Terra Noturna busca ressuscitar o passado no Alasca, mas acaba se perdendo na neblina de suas próprias memórias

    True Detective: Terra Noturna acaba deixando os espectadores ansiando pelo brilho original que definiu a série.

    A série “True Detective” sempre ocupou um lugar especial entre minhas preferências, especialmente pela marcante primeira temporada. Infelizmente, as subsequentes, a segunda e a terceira, não conseguiram manter o mesmo nível, resultando em uma experiência decepcionante.

    As expectativas estavam altas para a quarta temporada, com a esperança de recuperar a genialidade da temporada original. No entanto, “Terra Noturna” acabou por desapontar ao apoiar-se excessivamente na fórmula da primeira temporada, revivendo mistérios previamente apresentados. Essa abordagem, ao invés de inovar, resultou em uma narrativa que se afasta da originalidade e frescor que caracterizaram o início da série.

    CRÍTICA | True Detective: Terra Noturna busca ressuscitar o passado no Alasca, mas acaba se perdendo na neblina de suas próprias memórias

    True Detective: Terra Noturna | HBO | Max

    Explorando agora os cenários intrigantes do implacável inverno do Alasca após passagens por Louisiana, Los Angeles e Ozarks, a trama se desenrola em torno do misterioso desaparecimento de oito homens de uma estação de pesquisa em Ennis, Alasca, durante uma longa e fria noite. Diante de um quebra-cabeça complexo, as detetives Liz Danvers (interpretada por Jodie Foster) e Evangeline Navarro (interpretada por Kali Reis) precisam transcender atritos e confrontar segredos do passado para desvendar o mistério e resolver o caso. Uma narrativa envolvente que mergulha nas camadas da investigação, destacando a perseverança e a complexidade das relações humanas sob o gélido e desafiador ambiente do Alasca.

    A chegada da abordagem mais vinculada ao sobrenatural e espiritualismo inicialmente gerou entusiasmo, especialmente entre aqueles que acompanharam a impactante primeira temporada. No entanto, ao longo do desenrolar da temporada, a atmosfera sobrenatural apresentada no início perdeu consistência, tornando-se o principal ponto de descontentamento para a maioria dos telespectadores. Esta discrepância entre as expectativas criadas e a evolução da narrativa até o desfecho contribuiu significativamente para a sensação de decepção entre a audiência.

    O destaque positivo de True Detective: Terra Noturna recai sobre as notáveis performances do elenco, que exploram temas sociais e humanos impactantes, adicionando camadas importantes de profundidade à narrativa.

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  • CRÍTICA | Avatar: O Último Mestre do Ar, entrega uma adaptação coerente, apesar de algumas falhas

    CRÍTICA | Avatar: O Último Mestre do Ar, entrega uma adaptação coerente, apesar de algumas falhas

    Adaptar animações para séries live action é, quase sempre, uma tarefa arriscada, tanto pela dificuldade em reproduzir traços característicos de desenhos quanto pelo apego que os fãs têm pela obra original.

    Portanto, ao embarcar na produção da série “Avatar: O Último Mestre do Ar“, a equipe assumiu um desafio, especialmente após o fracasso da adaptação cinematográfica de 2010, comandada por M. Night Shyamalan. Dado o histórico, a maioria dos fãs não tinha grandes expectativas com a série. Mas, em meio à desesperança, a obra de Jabbar Raisani se provou bastante convincente em seus oito episódios, se mostrando bastante fiel à obra original.

    A trama se desenrola em um mundo dividido entre quatro nações, cada uma representando um elemento: água, terra, fogo e ar. Aqui, certas pessoas possuem o dom da dobra, enquanto o Avatar tem o poder de dominar todos os elementos e por isso, se torna uma figura de enorme respeito entre as nações. Na narrativa, um deslize faz com que o novo Avatar, o garoto Aang, fique em coma por 100 anos e, nesse meio tempo, a nação do fogo começa sua missão de dominar o mundo, dizimando vários povoados. Ao ser encontrado pelos irmãos da tribo da água, Sokka e Katara, Aang desperta e descobre que precisa aprender a dobra de mais três elementos para salvar o mundo, contando com a ajuda dos novos amigos.

    CRÍTICA | Avatar: O Último Mestre do Ar, entrega uma adaptação coerente, apesar de algumas falhas

    Avatar: O Último Mestre do Ar | Netflix

    Dado o tempo limitado de tela, alguns aspectos da trama tiveram que ser simplificados ou até mesmo deixados de lado, uma decisão compreensível para manter o ritmo da narrativa. A nova abordagem resultou em uma série que conseguiu explorar temas relevantes de forma mais madura, como genocídio, morte e machismo.

    A escolha dos personagens, no geral, foi bastante feliz, com Gordon Cormier no papel principal, trazendo muito carisma. Mas o destaque vai para Kiawentiio Tarbell, que trouxe bastante leveza e espirituosidade à personagem Katara, e para Dallas Liu, que interpretou Zuko com bastante emoção, lhe conferindo toda a densidade necessária.

    Por outro lado, a série limitou bastante Sokka, um dos personagens com mais destaque da animação, tirando seu humor e, consequentemente, sua personalidade, o deixando um tanto blasé. A falta de caracterização do personagem pode ser um impeditivo para seu desenvolvimento durante a série, algo que saberemos nas temporadas seguintes.

    Ainda nesse sentido, a ausência de certos episódios afetou o desenvolvimento dos personagens e a construção de seus relacionamentos, especialmente com Appa, um dos elementos mais queridos da série original. Por esse motivo, em linhas gerais, a série perdeu um pouco sua essência, deixando algumas brechas no caminho, que trazem uma imprecisão de desenvolvimento na trama. No entanto, apesar das falhas, essa é uma adaptação convincente, que foi feliz na maior parte de suas escolhas, e traz, inclusive, certo sentimento de nostalgia aos fãs mais antigos do desenho.

    Espero que a segunda temporada traga mais da essência da série com os novos personagens!

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  • CRÍTICA | Uma Prova de Coragem é um filme que oferece uma prova de paciência

    CRÍTICA | Uma Prova de Coragem é um filme que oferece uma prova de paciência

    Filmes sobre a relação entre pessoas e cães podem ser excelentes quando bem feitos. O clássico “Sempre ao Seu Lado” vem à mente, que oferece um drama pessoal, entrelaçado a uma relação com um amigo peludo. “Uma Prova de Coragem” tenta entrelaçar drama pessoal e esportes extremos com a história de amizade com um cachorro solitário. O que parece uma receita para o sucesso, tem resultados medianos.

    Baseado em fatos reais, Mark Wahlberg interpreta Michael Light, talentoso, competitivo, e nunca venceu um troféu no esporte que mais ama: corrida de aventura. Porém, anos depois de ser humilhado na frente do seu time, ele retorna para uma última fatídica competição, em que ele apostou tudo para finalmente vencer. Ao longo da jornada, acaba criando um laço com um cachorro que parece os ajudar de maneiras inusitadas.

    Mesmo extraindo fatos da história verdadeira, o longa tem problemas em justificar sua importância além do próprio aspecto de retratar algo que aconteceu na vida real. Mesmo que o mostrado seja impressionante, com histórias de superação dos personagens ao atravessar obstáculos difíceis, o roteiro e o ritmo fazem pouco para dar mais sabor à história. Assim tornando a experiência um tanto monótona.
    Porém, alguns aspectos interessantes tornam a experiência um pouco mais aproveitável. Principalmente a atuação do Arthur, o cachorro encontrado pela equipe, é ótima, trazendo momentos de leveza que são a alma do filme, especialmente do meio para o fim.

    CRÍTICA | Uma Prova de Coragem é um filme que oferece uma prova de paciência

    Uma Prova de Coragem | Lionsgate

    Além disso, as atuações do elenco humano também são boas. Mark Wahlberg faz um bom trabalho como o protagonista em cenas mais emotivas, mas Simu Liu rouba a cena como um corredor influencer obcecado pela própria imagem.

    Além disso, o filme consegue criar situações de perigo e tensão memoráveis, como é o caso de uma cena envolvendo uma tirolesa. Essas cenas funcionam principalmente por um bom trabalho de direção de Simon Cellan Jones, mesmo que poderiam ter sido mais utilizadas ao longo da narrativa.
    “Uma Prova de Coragem” não aproveita de maneira satisfatória uma premissa interessante inspirada em fatos reais. Porém algumas cenas de destaque envolvendo um amigo peludo e momentos de tensão tornam o filme minimamente interessante.

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  • CRÍTICA | 1ª temporada de Invencível dá um novo frescor pro gênero sem perder sua essência

    CRÍTICA | 1ª temporada de Invencível dá um novo frescor pro gênero sem perder sua essência

    Mark Grayson é filho do maior super-herói da Terra, mas sempre se sentiu deslocado por nunca demonstrar ter puxado o gene poderoso da família, até que em um dia qualquer, encontra uma força além do comum e a oportunidade de alcançar as estrelas sem uma máquina. Deste dia em diante, ele busca ser um herói diferente de tudo que já foi visto, testando sua capacidade para poder enfrentar qualquer tipo de problema que lhe aparecer. Infelizmente, ele não esperava que o seu próprio pai poderia vir a calhar de ser um desses problemas.

    Com uma trama simples, mas instigante como esta, Invencível deixa sua marca dentro do gênero de super-heróis ao pegar elementos que conhecemos, como um herói poderoso que usa capa, uma equipe familiar que age quando convém e um garoto do colégio que precisa equilibrar a vida secreta com a pessoal, para subverter suas expectativas com o que está acostumado a ver e compreender aos poucos, que essa realidade é um pouco diferente. É um universo que compreende mais as consequências de ter um corpo invulnerável no mundo real.

    CRÍTICA | 1ª temporada de Invencível dá um novo frescor pro gênero sem perder sua essência

    Invencível (1ª temporada) | Prime Video

    Veja bem, por mais que a comparação com “The Boys” seja inevitável, ao assistir dois ou três episódios, ficará perceptível a diferença entre as duas séries que fazem parte do catálogo do Prime Video, pois enquanto a citada traz um olhar cínico que vilaniza os poderosos de uniforme, trazendo um forte humor satírico para brincar com o que é feito na indústria audiovisual, a série animada que procuro analisar nunca perde a energia divertida, aventuresca e inspiradora que as melhores obras de super-heróis conseguem emanar. Contudo, apresenta precisão em dosar o elemento fantasioso com a parte cruel que cerca o mundo, seja em pessoas ruins manipulando heróis em benefício próprio ou a verdade nua de que na maioria das vezes, não vai aparecer alguém de última hora pra te salvar. Fazendo tanto o protagonista quanto o espectador a amadurecer a ideia de que tudo é possível e todos correm risco de nunca mais voltarem… ainda que alguns sim graças ao elemento fantasioso.

    A técnica da animação provavelmente acaba sendo a maior crítica que podem ter com o seriado pela qualidade variar em momentos e episódios. Se no primeiro, o personagem voa de um jeito menos fluído que um filme feito em stop-motion, no capítulo final, a luta é dinâmica, empolgante e bem dirigida a ponto de cada plano conversar com a trilha sonora marcante de John Paesano para surtir efeito em quem assiste. A mim, o incomodo com a estética foi pouco, pois vi como algo próprio do seriado, trazendo essa sensação de ver um gibi ganhando vida, no caso aqui, em 2D, enquanto que seu roteiro demonstra a força matriz para desenvolver os personagens e suas respectivas tramas, de um jeito que seja difícil não simpatizar. Algumas envolvendo personagens secundários podem ficar em aberto, mas é esclarecido que eventualmente retornarão para causar quando o mundo aparentar calmaria.

    CRÍTICA | 1ª temporada de Invencível dá um novo frescor pro gênero sem perder sua essência

    Invencível (1ª temporada) | Prime Video

    Sendo assim, a adaptação do quadrinho de Robert Kirkman demonstra originalidade e um verdadeiro frescor para aqueles que podem estar cansando da fórmula batida em obras de super-heróis, evidenciando que há sempre um jeito de surpreender, principalmente quando este universo prova ser ainda mais interessante ao sair do planeta Terra. Invencível pode indicar o potencial de cair em temas batidos, mas a forma como conduz a narrativa de um jeito adulto, alinhando tudo que debate sem esquecer-se de destacar o sentimento das pessoas comuns e poderosas para com os seus erros, defeitos e acertos, é o que a torna tão atraente e fácil de acompanhar.

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  • CRÍTICA | Godzilla e Kong: O Novo Império exagera na medida certa em seu universo de monstros

    CRÍTICA | Godzilla e Kong: O Novo Império exagera na medida certa em seu universo de monstros

    Desde 2014, o chamado MonsterVerse (universo de monstros) tem deixado sua marca no cinema atual seja para o bem ou para o mal, apresentando separadamente dois seres famosos dentro da indústria cinematográfica para uni-los de um jeito que seria difícil não empolgar o espectador que curte uma surra de gigantes. Para agora, quando parecia que não tinha mais o que fazer, encontrar novos elementos a serem trabalhados e apresentados para dar continuidade de uma forma inesperada e instigante.

    Sendo assim, o longa-metragem dirigido pelo Adam Wingard continua do ponto de partida do que aconteceu no evento anterior, com os protagonistas vivendo em mundos distintos enquanto a personagem da Kaylee Hottle já crescida se vê deslocada da realidade que a cerca. Então, após um combate para se salvar, Kong desperta a atenção de algo poderoso o suficiente para impactar na Terra e levar os humanos a invadirem essa Terra Oca para impedir que um novo problema chegue até eles.

    Godzilla e Kong: O Novo Império exagera na medida certa em seu universo de monstros

    Godzilla e Kong: O Novo Império | Warner Bros. Pictures

    Então, com uma narrativa simples como essa, fica claro que os criadores ouviram as reclamações dos fãs sobre os primeiros filmes darem maior atenção para os humanos ao invés dos monstros e aqui, o intuito se mostra realmente trazer uma nova etapa para os gigantes, dando mais tempo de tela para seus sentimentos e para o espectador ter a oportunidade de acompanhar suas realidades tão distintas e atrativas. Tanto Godzilla quanto Kong se encontram em novos papéis graças aos seus feitos, descobrindo novos adversários, ao mesmo tempo que um motivo pelo que lutar, nos deixando passar um tempo considerável sem ouvir uma conversa humana, apenas compreendendo o que está acontecendo a partir de reações faciais e corporais, demonstrando certa coragem narrativa que atende as expectativas e quase incorpora ideias vistas recentemente na franquia Planeta dos Macacos.

    Entretanto, mesmo que com uma participação reduzida e compreensível de existir dentro da história, são pontos específicos como uma ação exagerada dentro de uma situação crítica para gerar humor e os diálogos cafonas e preguiçosos em busca de apenas dar uma razão para a participação de cada um que as pessoas da obra conseguem gerar os momentos mais desinteressantes ou vergonha alheia, ainda que os atores estejam bem em seus respectivos papéis, a química existe, e o Brian Tyree Henry brilha com seu humor inocente e apaixonado até demais. Infelizmente a Kaylee, que interpreta a garota Jia, acaba sendo a única que soa destoante por soar verde e superficial, não sabendo muito bem fazer outra expressão além daquela parecendo que mastigou uma cebola.

    Godzilla e Kong: O Novo Império exagera na medida certa em seu universo de monstros

    Godzilla e Kong: O Novo Império | Warner Bros. Pictures

    No fim, a diversão é garantida. Godzilla e Kong: O Novo Império praticamente não te permite descansar e a todo o momento apresenta algo de valor que vai impulsionar em um acontecimento mais importante que o antecessor, sabendo muito bem como fluir e viajar entre a trama do gorila, do monstro e dos humanos. Sendo difícil te tirar da imersão graças ao ótimo trabalho de efeitos visuais em que mesmo fantasiando bastante, consegue fazer tudo ecoar real e belo de comtemplar. Porém, o embate final que acontece em um local familiar, acaba soando superficial demais conforme a destruição se intensifica, dando a sensação dos monstros serem reais, mas o cenário não. Da mesma forma, que levemente me desapontou não aproveitarem o fato de tudo ser animado, sem qualquer intervenção humana, para trazer planos longos e deixar o conflito mais compreensível e prazeroso de se acompanhar. Não se deixando cair na armadilha de um Transformers do Michael Bay em ter múltiplos cortes seguidos, mas também não se permitindo uma coreografia louvável como no Avatar de James Cameron.

    Ainda que a obra corra para fechar sua história e não indique continuação com uma cena pós-créditos, mesmo tendo fôlego para tal, o saldo acaba sendo bem positivo para quem comprou a proposta de viajar na maionese com elementos absurdos e uma pancadaria muito louca, já quem for esperando sair emocionado ou reflexivo sobre as ideias debatidas durante as duas horas vai se decepcionar pelo quão superficial consegue ser neste aspecto.

  • CRÍTICA | O Homem dos Sonhos pode não ser o que gostaria

    CRÍTICA | O Homem dos Sonhos pode não ser o que gostaria

    Paul Matthews é uma pessoa esquecível de acordo com o comentário de certo personagem no filme. Então, imagina o quão sortudo, ou não, ele se sente ao começar a aparecer no sonho de várias pessoas ao redor do mundo, a ponto de se tornar uma celebridade.

    Por mais que a obra esteja sendo definida como uma comédia, eu diria que ela transmite bem mais a sensação de drama pelo desenvolvimento de personagem realizado e suspense pelo questionamento que se desenrola por buscar entender o que está acontecendo. Ainda que a comédia possa ser encontrada e notada por cenas especificas, o valor nisso pode vir mais a calhar pelo protagonista ser interpretado pelo Nicolas Cage, que acabou ganhando essa fama de fazer filmes abaixo da média e trazer uma interpretação carita, tornando-o basicamente um meme, do que por conta do filme produzir cenas genuinamente engraçadas.

    O Homem dos Sonhos pode não ser o que gostaria

    O Homem dos Sonhos | A24

    Aproveitando que falei do homem, mesmo com esse legado que gerou pelo currículo do passado, este filme é mais um dos que tem participado ultimamente que apresenta sua evolução em escolha de trabalhos e atuação. Seu personagem é alguém introvertido que busca ser o contrário, tentando encontrar um meio de fazer sucesso e ser reconhecido pelo que é bom profissionalmente. Cage consegue personificar isso de um jeito tão singelo, do qual mesmo sem ninguém dizer, leva ao espectador enxergar dentro desse homem para entender que tipo de pessoa ele é e como tudo que está acontecendo no filme, não passa de uma base para dissecar esse homem.

    Mesmo parecendo simples, conforme o longa-metragem desenrole, é difícil perder o interesse pelo que está acontecendo, pois mesmo que o filme brinque de um jeito divertido, com a repercussão destes sonhos bizarros por parte da reação de pessoas próximas ao protagonista ou das empresas buscando lucrar com isso, fazendo diversas críticas aos tempos modernos, o filme começa a trabalhar as consequências dos atos de Paul. Então, ele toma uma atitude que altera os sonhos que as pessoas estavam tendo, levando a ele sofrer por algo que ninguém sabe que aconteceu. E isso leva ao limite, mas também a uma resolução, que mesmo trazendo aquela sensação de que faltou algo, não deixa pontas soltas. Objetivos foram concluídos e o questionamento sobre os sonhos, ganha uma resposta através daqueles que nunca sonharam, o que conecta com o tipo de pessoa que acompanhamos por quase duas horas.

    Dream Scenario 2023

    O Homem dos Sonhos | A24

    O filme de Kristoffer Borgli se mostra cada vez mais inteligente conforme se permita refletir sobre ele e tudo que apresentou. O roteiro é inteligente em não dar todas as respostas, mas em pontuar dicas para que a verdade seja construída de acordo com a visão do espectador, sabendo bem o que deve contar e como equilibrar o tom cômico e triste por parte do que se assiste. O homem, ou a mulher, dos sonhos é um termo que pode ser visto de modos divergentes pela idealização que cada um cria de acordo com o próprio gosto, às vezes aquilo já cabe a você, mas a ideia do que outras pessoas têm sobre isso lhe aprisiona mentalmente, te levando a seguir um caminho que o deixe irreconhecível. E o que antes fosse o homem dos sonhos de alguém, pode acabar se tornando o de ninguém.

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