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  • Crítica | Regra 34 é um discurso multifacetado, mal executado

    Crítica | Regra 34 é um discurso multifacetado, mal executado

    A obra de Júlia Murat, Regra 34, tenta falar de alguns assuntos delicados, sendo eles focados em pautas sexuais ou raciais, para o espectador da forma mais crua e direta possível. O problema, que envolve principalmente a direção e a equipe de roteiro, é que o filme se afoga em cenas com os diálogos menos orgânicos e mais apelativos possíveis.

    Os diálogos nas aulas de direito, no bar, entre os amigos, tudo parece uma cena dirigida de forma rasa e infantil. Lembrando até cenas de novela em alguns momentos. Fazendo com que o espectador, que esperava um discurso potente, fique tediado depois de 40 minutos de filme.

    Além do problema da direção, que é o mais chamativo, as partes técnicas funcionam em modo funcional, para não dizer básico, ou fraco. O som fica bastante baixo em certas ocasiões, fazendo a gente não entender oque certos personagens estão falando. O filme consegue errar até na construção de planos básicos. Além de que não tem nada muito chamativo além, para poder substituir pelo menos esse vácuo.

    Regra 34 é um filme dirigido pela diretora Júlia Murat, sobre uma estudante de direito, Simone(interpretada pela atriz Sol Miranda) que quer se aventurar no universo das práticas BDSM. Testando a prática na internet, ou com amigos próximos.
    Regra 34 | Imovision

    Voltando para o roteiro: Regra 34 tenta discursar sobre Racismo, BDSM e Machismo, mas não consegue se aprofundar, e nem finalizar, nenhum deles de forma pelo menos rápida. Os discursos sobre os tópicos raciais e sexistas parecem que foram escritos por alguém com pouquíssima maturidade. A ponto de alguns espectadores terem se retirado da sessão em que eu estava presente.

    O tema BDSM no filme, é abordado, mas trabalhado de uma forma infantil e mal dosado. A trajetória da protagonista junto ao tema, e sua jornada pessoal dentro do curso que estuda(além do caso de agressão a mulher que ela acompanha ao longo de parte da narrativa), é algo que não se encaixa e nem se embate. Um filme que acaba juntando temas profundos e jogando em uma piscina rasa.

    Nem mesmo as atuações conseguem dar algo de positivo para obra, já que, em sua maioria, os atores parecem engessados ou limitados pela produção. As vezes tentam entregar uma boa atuação em cenas sexuais mais fortes, mas só entregam algo mais apelativo para falar do que se trata o BDSM ou causar desconforto de forma fácil ao espectador.

    Regra 34 é um filme dirigido pela diretora Júlia Murat, sobre uma estudante de direito, Simone(interpretada pela atriz Sol Miranda) que quer se aventurar no universo das práticas BDSM. Testando a prática na internet, ou com amigos próximos.
    Regra 34 | Imovision

    O trabalho das atrizes Lorena Comparato e Isabela Mariotto(que interpretam as personagens: Lucia e Nat) fazem as amigas conselheiras de Simone, mas que aparecem por pouco tempo(e o tempo que aparecem, acrescentam pouco, ou nada, para a narrativa).

    O ator Lucas Andrade(interpreta o personagem Coyote) é oque mais aparece em cena, contando as cenas sexuais com a personagem Simone, mas que tem pouquíssima profundidade. Fazendo com que o espectador não se conecte tanto com o personagem, a ponto de criar empatia por ele. Problema igual é presente na própria protagonista.

    Regra 34 é uma tentativa de grito político, que tenta agrupar tudo e todos. Porém, a sua execução é feita de forma rasa e infantil; o trabalho técnico é feito de forma simples e com pouca criatividade; as atuações são mal desenvolvidas, assim como os personagens; tenta causar um desconforto e criar uma sensualidade, mas não consegue chegar perto do que diretores como Nagisa Oshima(Império da Paixão e Império dos Sentidos), Ingmar Bergman(Gritos e Sussurros, Persona e Monika e o Desejo), Lars Von Trier(Anticristo e Ondas do Destino), Agnes Vardá(As Duas Faces da Felicidade), entre outros(as), que já fizeram(minimamente, de forma madura) e entediante.

    Nota: 0,5/5

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  • Crítica | Holy Spider: Como seria se Ted Bundy fosse iraniano?

    Crítica | Holy Spider: Como seria se Ted Bundy fosse iraniano?

    O filme de Ali Abbasi, Holy Spider, consegue trabalhar o seu discurso político em conjunto com um thriller psicológico, de forma que o filme consegue fisgar o espectador e questioná-lo sobre oque tem ocorrido nesses últimos meses no Irã. Sendo mais audacioso em colocar vítimas que são prostitutas em um país com uma cultura extremamente machista e violenta.

    O filme, mesmo sendo em um país com muito calor e com bastante claridade, o filme se passa em sua maioria nas noites de uma cidade do Irã. Além da utilização de uma iluminação esverdeada neon em contraste com outras de ambientação. A câmera e o som tem um trabalho bem coloquial, sem tentar se aventurar muito em movimentos ou uma edição rebuscada. Algo positivo para um filme que quer ser direto sobre o tema com o espectador.

    É necessário falar também o trabalho de atuação de Zar AMir Ebrahimi e Mehdi Bajestani(que interpreta o personagem Saeed) que conseguem criar uma conexão com o espectador em momentos de suspense, angústia e de forte tensão. Separados, ou juntos, conseguem atuar de forma realista e delicada, sem se perderem em nenhum momento. O roteiro, em certas partes da narrativa, é oque atrapalha o trabalho da dupla em Holy Spider.

    Holy Spider é dirigido pelo diretor Ali Abbasi (Border de 2018), e conta a história, baseada em fatos reais, sobre a repórter Rahimi(interpretada pela atriz Zar Amir Ebrahimi) que busca respostas sobre um serial-killer de prostitutas em uma cidade do Irã.
    Holy Spider | O2 Filmes

    Holy Spider não saí, e nem tenta sair, de um convencional filme sobre Serial-Killers. Se espera algo de novo da obra que fuja do modus operandi sobre filme de assassinos em série produzidos, e dirigidos, em solo norte-americano, não será aqui que você irá encontrar. Além de algumas facilitações narrativas que estragam aquilo que o básico poderia entregar tudo que o espectador pede.

    Sem contar o fato das cena de assassinato que são explicitas. Explicitas sem necessidade e de forma que caminha para um desrespeito às vítimas e às mulheres daquele país. Quase como uma ênfase infantil de mostrar o quão o antagonista é cruel, mesmo com o espectador sabendo disso logo de cara.

    Porém, o roteiro consegue trabalhar a ideia do machismo religioso dentro do país de uma forma não muito orgânica, mas funcional para a obra. A ideia de como cada um vê o antagonista, como veem oque ele acredita como uma missão sagrada, e uma visão diferenciada para o ocidente ver algo nesse estilo na religião muçulmana.

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    Holy Spider | O2 Filmes

    A tentativa de tentar mostrar um lado mais humanitário do antagonista com sua família é algo que funciona na narrativa, e consegue criar camadas a mais até a quase resolução da obra. Além de também criticarem a polícia moral existente no país, algo que é construído na relação da protagonista Rahimi com o policial Rostami(interpretado pelo ator Sina Parvaneh).

    Um personagem que tem uma forte utilização, mesmo aparecendo pouco em cena, é o filho e filha de Saeed. Mesmo sendo crianças em cena, conseguem entregar ao espectador o impacto do legado construído pelo antagonista e o como eles refletem de forma absurda nessa sociedade oriental específica.

    Isso acontece na última sequência do filme, com uma estética audiovisual bastante diferente da estética de todo o longa. Sendo utilizada uma imagem com menos qualidade e mais granulada, como uma câmera manual, com fita, entre os anos 2000 e 2001.

    Holy Spider é dirigido pelo diretor Ali Abbasi (Border de 2018), e conta a história, baseada em fatos reais, sobre a repórter Rahimi(interpretada pela atriz Zar Amir Ebrahimi) que busca respostas sobre um serial-killer de prostitutas em uma cidade do Irã.
    Holy Spider | O2 Filmes

    Holy Spider consegue ser um filme satisfatório de thriller investigativo, mas falha em tentar transmitir a potência discursiva que o filme tenta trazer sobre pautas sociais, questões machistas e perturbadoras sobre a obsessão por trás da religião. Mas, mesmo com seus pesares, o filme ainda funciona para o entretenimento e discussão política depois da sessão.

    Nota: 3/5

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  • Crítica | Dois Dias, Uma Noite: Sua saúde mental, não vale Mil Euros

    Crítica | Dois Dias, Uma Noite: Sua saúde mental, não vale Mil Euros

    A obra Dois Dias, Uma Noite conta a história de Sandra, que ficou de licença do trabalho por causa da depressão. Quando ela esta curada e saudável para trabalhar, fazem uma votação em seu local de trabalho, para saber se seus companheiros preferem um bônus de mil euros ou a permanência de Sandra no trabalho. Ela tem apenas o fim de semana, para convencer seus companheiros de votarem a favor dela.

    Dois dias, Uma Noite é um filme tecnicamente simples. Sendo em sua maioria feito por câmera na mão e com cores bastante frias e pouco contrastadas. O som tem um trabalho delicado e no resto de sua composição, a direção não tenta se aventurar muito. Até pelo fato de que o peso da obra está no roteiro e nas atuações, a técnica entrega o necessário.

    A narrativa consegue criar uma tensão tênue entre a protagonista e o espectador, criando ansiedade para saber o resultado dessa corrida contra o tempo, para Sandra saber se vai conseguir continuar com seu emprego ou não.

    Dois Dias, Uma Noite é um filme francês, de 2014, escrito e dirigido pelos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne. A atriz Marion Cotillard foi indicada ca categoria Melhor Atriz no Oscar de 2015 pela sua interpretação como Sandra.
    Dois Dias, Uma Noite | Imovision

    A relação da personagem Sandra com seu marido, Manu (interpretado pelo ator Fabrizio Rongione) é um pilar condutor de toda a obra, até sua resolução. A conversa que ambos tem indo de um lugar para o outro de carro, em casa e em momentos que Sandra se mostra em crise, consegue dar uma forte camada a obra. Sem contar, que sempre nos lembra que estamos vendo uma protagonista que acaba de sair de uma depressão.

    A obra também mostra de forma delicada o como cada pessoa reage ao pedido pessoal de Sandra para pensar no próprio voto. Sendo muitos indecisos, com medo, ou por questões próprias, ficando contra a parede. E cada ator, e atriz, soube fazer muito bem cada sentimento necessário em cena.

    O filme tem uma resolução leve demais, comparada com toda a densidade da obra. Fazendo com que o espectador fique desapontado pelo quanto se investiu emocionalmente na personagem. Mas, mesmo o final tendo sua leveza, ele carrega em seu penúltimo diálogo a pesada crítica que esse filme grita em seu todo.

    Dois Dias, Uma Noite é um filme francês, de 2014, escrito e dirigido pelos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne. A atriz Marion Cotillard foi indicada ca categoria Melhor Atriz no Oscar de 2015 pela sua interpretação como Sandra.
    Dois Dias, Uma Noite | Imovision

    Quanto vale um funcionário em uma empresa? Quanto é necessário se humilhar para conseguir sobreviver no mudo neocapitalista? Companheiros de trabalho, são “realmente” companheiros? A obra serve como um chamariz para mostrar o como muitos indivíduos se vendem por um simples bônus financeiro. E como são facilmente trocáveis.

    Essa crítica se concluí a cada sequência de Sandra falando com seus companheiros, até seus superiores. O como a personagem Sandra reage do início da jornada, até sua quase resolução, mostra uma exaustão na qual ela mesma vai se questionando, se tudo aquilo era realmente tão necessário e importante como ela pensava.

    Além de abordar o como as pessoas veem alguém que acaba de ter passado por um quadro depressivo, como se fosse incapaz de trabalhar da mesma forma que antes. Contado também como é importante reparar as pessoas que apoiam ou não a protagonista. É visível nos pontos de diferença de classe e etnia, mostrando uma visão social sobre a França na última decada.

    Dois Dias, Uma Noite é um filme francês, de 2014, escrito e dirigido pelos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne. A atriz Marion Cotillard foi indicada ca categoria Melhor Atriz no Oscar de 2015 pela sua interpretação como Sandra.
    Dois Dias, Uma Noite | Imovision

    Mesmo o filme não terminando da forma potente que ele mesmo se propaga ao longo de sua narrativa. Dois Dias, Uma Noite faz um trabalho exemplar em mostrar a faceta de um mundo sujo, no qual o trabalhador é obrigado a sobreviver.

    Nota: 4/5

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  • Crítica | O Milagre: Uma critica à cegueira causada pelo fanatismo religioso

    Crítica | O Milagre: Uma critica à cegueira causada pelo fanatismo religioso

    O Milagre, produzido pela Netflix, conta a passagem da enfermeira Lib Wright, interpretada pela atriz Florence Pugh, na Irlanda, para um serviço de vigilância sobre uma garota, chamada Anna O’Donnell. Que apresenta estar sem comer durante meses, como um milagre católico. O objetivo da presença de Lib é comprovar se o acontecimento é real ou manipulado pela família da garota, que é fervorosamente cristã

    O filme começa com uma apresentação metalinguística sobre a narrativa que estamos prontos a ver na tela, fazendo uma transição de um set de filmagem presente, até o tempo que a história acontece. Trajetória que acontece em um plano sequência de menos de 2 minutos. Claro objetivo de mostrar o filme como uma obra fictícia em que o espectador está sendo convidado a crer no ocorrido ou não. Algo que é abordado de forma nem muito sutil e nem muito agregador ao valor da obra completa (Ato de quebra da quarta parede também é utilizado para isso em um diálogo pouco orgânico durante a narrativa).

    O enredo é apresentado como um drama dividido em duas partes, sendo a jornada da personagem protagonista com o luto por uma perda familiar, e tendo que se dopar em um pequeno ritual todas as noites antes de dormir; e a visão dela sobre a garota que é voltada de forma mais realista, pelo fato de não ser religiosa como a família de Anna, que também teve a perda de seu irmão, que se apresenta de forma agonizante, com seus olhos pintados em um retrato da família. Colocando o espectador ciente sobre a importância desse personagem, naquilo que está acontecendo.

    O Milagre: Netflix se mostra capaz em produzir uma obra madura em criticar a cegueira causada pelo fanatismo religioso
    O Milagre | Netflix

    A fotografia do filme conversa bastante com a jornada da protagonista, principalmente nas transições e na utilização de cores em contraste, sendo azul, a cor do único figurino da protagonista em toda a obra, e o verde, sendo do espaço com pouca saturação e da natureza. Um simbolismo de que, mesmo uma personagem com um forte controle emocional e calma, está em um ambiente em que algo de muito errado e desconforto está acontecendo em sua volta.

    Os cantos e a respiração reverberada na trilha sonora do filme, também compõe essa dualidade de algo milagroso, mas escondido, sem saber se é um canto ou um grito, uma respiração de calma, ou de ansiedade pelo que está acontecendo. Sem contar que é uma voz doce, como a da personagem Anna. Que é, durante a narrativa, obrigada a seguir o milagre, de forma opressora, sendo psicológica ou pelo afeto.

    A obra demonstra ao longo da narrativa, as possíveis consequências, de formas dramáticas e indo até para um caminho de terror (utilizando da interpretação da atriz Elaine Cassidy, a mãe de Anna, Rosaleen O’Donnell; e a fotografia fria e desconfortável criada a partir da pouca saturação e da trilha sonora) sobre o fanatismo religioso sobre a figura infantil feminina no final do século XIX. Época que se deu origem ao niilismo, e o começo de uma geração que não está com os pés tão fincados na fé como a de seus pais e avós, demonstrando que existe algo muito de errado no meio dessa “” que as famílias tanto perpetuavam.

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    O Milagre | Netflix

    Algo que é demonstrado na fotografia captando a protagonista, seja nos planos caminhando em meio a natureza, e nos planos dela comendo. Seja em frente a uma janela, quando tem algo a se revelar, ou na frente de uma escada, quase cogitando sendo um milagre dos céus, mesmo tendo algo estranho nos degraus negros que se tem que subir para acreditar.

    A narrativa é instigante e a interpretação de Florence Pugh e Kila Lord Cassidy, que demonstram o desconforto sobre o que está acontecendo e que algo precisa ser falado entre elas, mas de outra forma, sem ser pelo caminho da realidade. Mas o filme tenta se aventurar de algumas formas para prender o espectador, e para demonstrar maturidade, que fogem do sentido narrativo do filme em maior parte do tempo.

    Sendo os principais pontos: A jornada afetuosa da personagem Lib com o repórter interessado no milagre, que acontece de forma apressada; a utilização de artimanhas audiovisuais como quebra da quarta parede, e a metalinguagem, que não tem nenhum motivo que agregue o discurso posto pelo resto do filme. É como se o diretor quisesse nos lembrar que o filme é uma ficção, mas separando o espectador mais que o aproximando.

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    O Milagre | Netflix

    Mas, mesmo com pequenos casos de excessos, o filme demonstra maturidade e beleza em sua execução, com um bom trabalho técnico, e um bom desenvolvimento de personagens, de mãos dadas com as interpretações das personagens principais.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

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  • Crítica | Aftersun: Como o primeiro longa de uma diretora se torna um dos melhores filmes de 2022?

    Crítica | Aftersun: Como o primeiro longa de uma diretora se torna um dos melhores filmes de 2022?

    Aftersun é uma obra que não necessita, e nem tenta, se aventurar em pirotecnias audiovisuais. Não é cercado de efeitos, movimentos de câmera e, muito menos, reviravoltas em seu roteiro. O filme logo no começo já fala do que vai se tratar. Uma semana de férias de Sophie(interpretada pela atriz Frankie Corio) e seu Pai(interpretado pelo ator Paul Mescal).

    A narrativa mostra uma relação bem próxima de ambos, além de mostrar, nos detalhes, o como um personagem de mostra tão distante do outro. Sophie ainda não repara nisso, pois tem apenas 11 anos. Mas mesmo aos 11, mostra um pouco de sua figura amadurecendo nessa semana com o pai. Seja no que ela repara aos poucos, como os adolescentes que ela aproveita o hotel, até um garoto de mesma idade que brinca com ela em um vídeo game.

    O pai, ao mesmo tempo que se mostra uma figura paterna atenta e cheia de vida, mostra em rápidas cenas o tamanho de sua angústia. Angústia na qual ele não quer mostrar a sua filha ainda tão jovem. É nesse contraste entre ambos os personagens que faz o filme ter uma força arrebatadora, sem em nenhum momento o filme botar os personagens falando sobre isso.

    O primeiro longa da diretora Charlotte Wells conta a narrativa de Pai e filha que passam uma semana de férias juntos. Mas Sophie, depois de anos, se lembra aos poucos desses momentos.
    Aftersun | A24

    Além de um diálogo de Sophie com o Pai, em que ela pergunta sobre algo que ela mesma esta pensando, e o Pai, simplesmente, cospe a pasta de dente que estava em sua boca enquanto estava escovando os dentes. Seu cuspe vai direto no seu rosto refletido, e ele só responde: “E aí, está pronta?”.

    Nessa cena, mostra um autodesprezo de sua figura e reage da maneira mais rápida, para sair com sua filha como se nada tivesse acontecendo em sua cabeça. Esses tipos de cena acontecem mais de uma vez, e de formas diferentes. Seja o pai cortando o braço sem querer, retirando o seu gesso, ou com o Pai no banheiro sozinho, tentando respirar fundo com uma toalha molhada na cabeça.

    Além de um roteiro que cria uma narrativa, que se segue em completa calma. A montagem consegue seguir a media certa em discussão entre presente e passado, mostrando o como foi importante para a personagem de Sophie mais velha(interpretada pela atriz Celia Rowlson-Hall) aquela semana que ela passou com o pai.

    O primeiro longa da diretora Charlotte Wells conta a narrativa de Pai e filha que passam uma semana de férias juntos. Mas Sophie, depois de anos, se lembra aos poucos desses momentos.
    Aftersun | A24

    A ideia do filme de trabalhar a nostalgia daquela semana na personagem em um formato de sonho como se fosse uma festa louca cheia de flashes, faz com que o espectador sinta muita empatia pela protagonista. Que coloca o expectador na tela refletindo em como esses pequenos momentos, ou devaneios, são os momentos em que, as vezes, nos faz lembrar de quem mais amamos. E, muitas dessas vezes, esses que amamos já não estão mais aqui para nos abraçar.

    O contraste também acontece com edição e mixagem de músicas como Under Pressure de David Bowie e Queen, e a música Tender da banda Blur. Tendo as vezes uma mudança de tempo na música, ou isolamento de vocais de outra, mudando de um passado exato para uma fantasia recente.

    Aftersun coloca o espectador para refletir sobre como o tempo é curto e como realmente amamos aquele que achamos demonstrar tão bem nosso amor, seja de filho ou dos pais; o como certos momentos da vida podem fazer parte de sua vida por anos; qual é a potência de registrar momentos nos quais nunca mais poderemos vivenciar da mesma forma que foi e como o filme consegue comprovar oque o diretor Martin Scorsese disse: “Quanto mais pessoal é o filme, melhor ele vai ser.”

    O primeiro longa da diretora Charlotte Wells conta a narrativa de Pai e filha que passam uma semana de férias juntos. Mas Sophie, depois de anos, se lembra aos poucos desses momentos.
    Aftersun | A24

    Aftersun é o cinema na sua forma mais forte e honesta que uma cineasta poderia entregar.

    Nota: 5/5

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  • Crítica | Os Fabelmans é Delicado, íntimo e puro. Spielberg traz às telas uma ode a sétima arte em sua obra mais intrínseca até então

    Crítica | Os Fabelmans é Delicado, íntimo e puro. Spielberg traz às telas uma ode a sétima arte em sua obra mais intrínseca até então

    Nesta quinta-feira (12) chega aos cinemas Os Fabelmans, onde Spielberg conta um pouco mais da sua história e tudo o que o influenciou a trilhar esse caminho.

    Quando dizemos que Steven Spielberg é um dos maiores diretores da história, não há discussão da sua importância para a sétima arte, em Os Fabelmans ele apresenta um pouco mais de tudo aquilo que por bem ou por mal fez ele chegar nesse patamar nos dias de hoje.

    E apesar de sua inspiração realmente serem histórias reais da vida do diretor, o filme tem suas liberdades poéticas e romantiza seu personagem principal e todos os que o rodeiam para criar uma história mais do que agradável ao público.

    Os Fabelmans
    Os Fabelmans | Foto: Universal Pictures

    Os Fabelmans conta a história de Sammy (Gabriel LaBelle) e como a sua paixão por cinema e o ato de criar seus próprios filmes foi surgindo ao longo dos anos. Logo na primeira cena vemos Sam e seus pais Burt (Paul Dano) e Mitizi (Michelle Williams) na fila do cinema e seu pai explica com detalhes a tecnicalidade do que é o cinema, logo depois Sam assiste ao seu primeiro filme e de cara já se apaixona.

    Muito mais do que contar mais um pouco de sua história, Spielberg conta uma história de relações, sejam familiares ou não, tudo é muito delicado de uma maneira em que conseguimos facilmente criar empatia e ver os personagens como nossa família também.

    Os Fabelmans
    Os Fabelmans | Foto: Universal Pictures

    Os Fabelmans é uma carta de amor ao cinema e com o prêmio de Melhor Filme no Globo de Ouro é um dos fortes candidatos da Academia para esse ano. No final das contas Spielberg nos apresenta o que pode ser sua despedida da cadeira de diretor e como a crença e o suporte aos seus filhos pode criar algo fabuloso de verdade para o mundo.

    E se realmente vimos sua despedida em Os Fabelmans, eu amei o quão profundamente pessoal isso parecia, e se o lendário diretor encerrar sua carreira naquela cena final, ele pode cavalgar ao pôr do sol e colher suas flores, ele mereceu.

    Os Fabelmans
    Os Fabelmans | Foto: Universal Pictures

    Possivelmente mais um clássico de Spielberg e se eu fosse você não deixaria de assistir, enquanto isso confira outros trabalhos do diretor aqui e aqui.

    Fique por dentro das últimas notícias sobre cinema e séries!

    Nota 4,5/5

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  • Crítica | Aterrorizante 2 é o terror gore que continua potente na atualidade

    Crítica | Aterrorizante 2 é o terror gore que continua potente na atualidade

    O palhaço ART continua sendo a maior ameaça do filme(interpretado pelo mesmo ator David Howard Thornton) sendo uma figura sobrenatural que aterroriza jovens no dia das bruxas. Mas o filme é complementado com a jornada de uma estudante que não sabe se ART é real, e se deve enfrentá-lo.

    O filme, assim como o primeiro, continua com uma estética fria, mas com muita mistura de cores como azul e laranja desbotadas, e com um trabalho mais delicado na direção de arte e efeitos práticos que a primeira obra. Aterrorizante 2 mostra ter mais orçamento que o primeiro filme, e o diretor faz questão de mostrar isso na obra.

    As cenas de violência são parte do entretenimento da obra, mesmo elas sendo muitas vezes gratuitas, algo que persiste desde o primeiro longa. Mas o diretor consegue injetar uma narrativa com novos personagens que consegue fazer o espectador torcer por eles. Algo que dá errado com frequência em filmes do gênero.

    Aterrorizante 2 continua tendo o diretor e roteirista Damien Leone como responsável desde o curta com mesmo nome, que depois virou o primeiro longa "Aterrorizante", de 2016.
    Aterrorizante 2 | A2 Filmes

    Um dos pontos da obra que faz o espectador criar uma conexão diferenciada na obra é a capacidade da violência ser mostrada na tela de forma cômica em certas cenas, junto com a atuação de David Howard Thornton. Não esquecendo as seguintes atuações:

    Lauren LaVera (como Sienna Shaw); Elliot Fullam (como Jonathan) e Sarah Voigt(como a mãe de Sienna). As interpretações citadas conseguem criar empatia por cada personagem e sentir quando se perde um deles, algo difícil em um filme que não foca em algo dramático em sua proposta geral.

    A introdução da nova personagem, A Garota Pálida (interpretada por Amelie McLain) acontece de forma mal medida, e sua presença não é tão aterrorizante e forte como a do palhaço ART. Mesmo tendo a sua função mínima na condução da narrativa.

    Aterrorizante 2 continua tendo o diretor e roteirista Damien Leone como responsável desde o curta com mesmo nome, que depois virou o primeiro longa "Aterrorizante", de 2016.
    Aterrorizante 2 | A2 Filmes

    Aterrorizante 2 também contém uma trilha sonora que nos remete a filmes de fantasia e aventura dos anos 80, feita completamente por teclado além de um bom trabalho de figurino. Algo acentuado na sequência final da obra com as fantasias de Halloween.

    A obra em seu conjunto consegue executar aquilo que é proposto desde o primeiro filme. Mesmo com um tempo a mais desnecessário, e com a saturação de cenas violentas, o filme consegue divertir o espectador apreciador do gênero de terror gore. Claro, para os que não se sentem a vontade em ver cenas de extrema violência, sendo a maioria de mutilação, pode não ser a melhor experiência.

    A cena pós-crédito dá a entender que vai ocorrer um terceiro filme, ainda com a ameaça do palhaço ART. Porém, o diretor demonstrou nesse filme que faz questão de executar uma obra com mais de 2 horas com mais da metade do filme sendo cenas de violência gráfica.

    Aterrorizante 2 continua tendo o diretor e roteirista Damien Leone como responsável desde o curta com mesmo nome, que depois virou o primeiro longa "Aterrorizante", de 2016.
    Aterrorizante 2 | A2 Filmes

    No primeiro filme, até a penúltima sequência do segundo, o diretor pode estar sugerindo o como a violência pode ser uma forma de entretenimento para muitos espectadores. Algo que faz sentido com a utilização do personagem Jonathan, que é um garoto jovem fascinado por coisas macabras e assassinatos. Um retrato trágico de muitos jovens nos Estados Unidos, mas que não deixa de ter sua parcela de realidade.

    Porém, é possível observar que o filme não se trata de algo denso em seu discurso, mesmo com o excesso de violência. É um filme que segue o simples discurso de mostrar para o espectador a experiência que ele tanto procura, mas com uma linha narrativa sustentável até certo ponto, e não algo displicente.

    Mas, se a ideia do diretor é fazer mais uma obra, que contenha os mesmos elementos, e que não seja algo saturado, deve ter muito cuidado para não chegar ao ponto da saga Halloween, onde ninguém mais liga para oque vai acontecer com Michael Myers.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

    Depois da crítica de Aterrorizante 2, leita também:

  • Crítica | Babilônia tenta ser um épico Hollywoodiano, mas se perde no caminho

    Crítica | Babilônia tenta ser um épico Hollywoodiano, mas se perde no caminho

    Damien Chazelle já é conhecido, mesmo com apenas 3 longas executados, como um forte apreciador do cinema clássico hollywoodiano e do gênero musical Jazz. A estética de Babilônia não foge dos quesitos citados, e são fortemente utilizados como fio condutor da obra.

    O diretor tenta criar uma conexão da música, com a estética de figurinos das décadas de 20 e 30, cores saturadas sem sair da medida e com uma montagem frenética. Montagem que começa a ficar de lado conforme a jornada dos 3 personagens protagonistas.

    O filme começa com uma sequência frenética em uma festa que representa de forma eficaz aquilo que estamos prontos para ver na tela, uma aventura por trás das câmeras e sem escrúpulos. Porém, o diretor tenta se mostrar habilidoso em vários sentidos, esquecendo de tentar capturar o espectador para a jornada dos três personagens. Fazendo com que o filme se prolongue mais do que o necessário.

    O filme é escrito e dirigido pelo jovem diretor Damien Chazelle, que foi responsável por obras conhecidas na última década, como: LaLa Land(2016) e Whiplash(2014). Em Babilônia , Chazelle mostra a trajetória do cinema mudo, para o falado, da ascensão a queda das estrelas naquela época.
    Babilônia | Paramount Pictures

    Falando sobre o ator Diego Calva, que interpreta um dos três protagonistas, Manny Torres: seu personagem é a principal conexão do espectador com a estória mostrada, sendo um indivíduo imigrante e que esta fascinado em saber como é viver e trabalhar por trás do espetáculo cinematográfico mudo. É um personagem que funciona na maioria do longa, até o momento que mostra sua jornada romântica e pautas sociais. Momentos nos quais o diretor não mostra saber muito bem oque fazer com ele na obra.

    Brad Pitt é o ator, que interpreta o personagem Jack Conrad, que mostra estar mais se divertindo no filme. Fazendo um ator famoso que cai em decadência ao começar a era do cinema falado. Não atoa, seu personagem tem singularidades com o protagonista do filme O Artista(2011). É uma pena que seu desfecho na obra tenha sido executado de forma triste e preguiçosa.

    Margot Robbie chama a atenção em cenas mais frenéticas e de dança. Porém, Chazelle utiliza da imagem exagerada da personagem como instrumento sexual para o filme, deixando de lado o desenvolvimento de assuntos pautados durante a obra sobre a relação dela com o pai, jogo e drogas. Se tornando apenas mais uma forma básica de narrativa para conduzir a estória do personagem Manny.

    O filme é escrito e dirigido pelo jovem diretor Damien Chazelle, que foi responsável por obras conhecidas na última década, como: LaLa Land(2016) e Whiplash(2014). Em Babilônia, Chazelle mostra a trajetória do cinema mudo, para o falado, da ascensão a queda das estrelas naquela época.
    Babilônia | Paramount Pictures

    Os personagens Sydney Palmer e Anna May Wong, interpretado pelos atores Jovan Adepo e Li Jun Li, são utilizados pelo diretor para abordar termas sociais, como racismo e homofobia, nos Estados Unidos nos anos 30. Porém, eles são pouco aprofundados na tela e mostram os temas citados da forma mais rápida possível.

    Como se o diretor quisesse se justificar por ter colocado Ryan Gosling, um homem branco e heterossexual, como o salvador do Jazz em Lala Land. E agora, simplesmente, mostra o assunto. É como se Chazelle falasse que está ciente de que preconceito existia na época, porém, não desviem o olhar do resto.

    A trajetória envolvendo a personagem de Margot Robbie, Manny Torres, e o personagem do também produtor Tobey Maguire, James McKay, é extremamente desnecessária. Além de fazer o espectador se cansar do discurso inicial da trama. A beleza dos bastidores, a loucura que era fazer cinema e a precarização por trás dos sets, que é trabalhada de forma humorística na obra.

    O filme é escrito e dirigido pelo jovem diretor Damien Chazelle, que foi responsável por obras conhecidas na última década, como: LaLa Land(2016) e Whiplash(2014). Em Babilônia, Chazelle mostra a trajetória do cinema mudo, para o falado, da ascensão a queda das estrelas naquela época.
    Babilônia | Paramount Pictures

    No final das contas, Chazelle mostra que sabe dirigir, mostra sua paixão pelo cinema clássico, sua paixão pelo mesmo, e sabe conduzir um filme. Mas o diretor ainda se mostra imaturo para trabalhar certos temas, medir suas pirotecnias técnicas, e foco em sua narrativa. Ao sair da sessão, me remeti a uma ideia que bato na tecla faz bastante tempo sobre o audiovisual: as vezes menos, é mais. Tentou entregar um épico, e foi nos dado apenas uma cansativa carta de amor ao cinema.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao Trailer:

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  • Crítica | Emancipation é uma contraditória mensagem cristã com romantização da Guerra

    Crítica | Emancipation é uma contraditória mensagem cristã com romantização da Guerra

    A produção da Apple TV consegue criar um clima existencialista e melancólico com uma fotografia com mais frames e com baixíssima saturação. Juntando o fato da história contada se passar durante a Guerra Civil dos Estados Unidos e como o filme trabalha os castigos nos quais os escravos são obrigados a passar.

    Will Smith consegue atuar como um escravo vindo do Haiti de forma convincente, mesmo o roteiro não ajudando com excessos de clichês e com frases motivacionais cristãs, em meio a uma narrativa que demonstra um lado de extremo peso sobre uma falta de humanidade no povo majoritariamente branco dos EUA no final do século XIX.

    Além do discurso problemático que o filme transborda, a utilização mal medida dos clichês, e uma atuação de antagonista que é o mais puro estereotipo esperado de um personagem malvado em um filme sobre escravidão(o personagem Fassel, interpretado pelo ator Ben Foster), o filme não sabe medir seu tempo e aproveitamento durante a narrativa.

    A nova produção da Apple TV, Emancipation, tenta contar uma história baseada em fatos reais. Porém, o filme acaba sendo uma triste execução de mais um filme sobre escravidão com seguimento cristão.
    Emancipation | Apple TV

    Sem contar o fato de que Emancipation tenta exaltar a participação de homens negros livres, ou refugiados de fazendas do sul, como soldados no front. O ato de romantizar a utilização de homens que acabam de se tornar livres como soldados fica ainda mais ridículo com uma trilha sonora forçada e cenas de câmera lenta, quase como uma propaganda pró guerra.

    A obra também contém furos de roteiro explícitos e desrespeitosos até com os espectadores leigos do mundo cinematográfico, tendo facilitações narrativas baratas e utilização de cenas densas de forma desleixadas.

    Mesmo a parte técnica sendo feita de forma delicada, o roteiro e outros problemas já citados transformam a experiência de ser uma homenagem a um sobrevivente de tempos caóticos em mais um filme simplista, e uma propaganda barata sobre a força da fé cristã.

    Nota: 1,5/5

    Assista ao Trailer:

    Emancipation | Apple TV

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  • Crítica | Pinóquio mostra a inocência da infância utilizada como forte instrumento para o fascismo

    Crítica | Pinóquio mostra a inocência da infância utilizada como forte instrumento para o fascismo

    Pinóquio consiste na história que a maioria já conhece pelas várias adaptações, sendo a mais popular a da Disney(1940), porém, com muitas mudanças narrativas e de textura com o formato de execução da obra. A própria jornada melancólica do personagem Gepetto(dublado pelo ator David Bradley) consegue fisgar o espectador para essa aventura de 2 horas.

    A obra não tem aquela atmosfera densa e esverdeada da maioria dos filmes do mesmo diretor, mas, mesmo assim, o filme não é isento de personagens com áureas macabras, como os personagens antagonistas: Conde Volpe(dublado pelo ator Christoph Waltz) e o Podestá(dublado pelo ator Ron Perlman).

    A ambientação criada em conjunto com uma paleta de cores amarelada cria um clima entristecido, expressando os tempos de guerra presentes, e as figuras místicas são caracterizadas quase como criaturas bíblicas. Sendo fadas que parecem caracterizadas de forma angelicais belas, mas bizarras.

    A nova obra de Guillermo Del Toro, "Pinóquio" consegue ser uma obra exemplar em explicar para o público infantil os efeitos da Segunda Guerra Mundial, utilizando da fantasia junto a beleza técnica do Stop Motion.
    Pinóquio | Netflix

    Tendo a mistura de asas com vários olhos, e a mistura de corpos animalescos. A dublagem da atriz Tilda Swinton ajuda bastante na construção dessas figuras citadas.

    A dublagem, e a construção narrativa, do personagem protagonista, Pinóquio(dublado por Gregory Mann), não é o ponto forte do filme, mesmo não sendo esse o foco da obra. Mostra uma figura inocente, em formato de madeira, e sem pintura alguma, mostrando o lado mais fantasioso do personagem em comparação com as outras versões criadas.

    Porém, a forma que trabalham o protagonista como uma criança que não faz questão de se enquadrar no cenário fascista da Itália de Mussolini e ainda criticá-lo cara a cara ao que seria o líder supremo na época, dá uma potencia fenomenal em sua jornada. Dando um peso a mais para esse filme não ser apenas mais uma adaptação para um publico infantil, mas para fazer eles entenderem como o assunto “guerra” e “manipulação” é algo de extrema seriedade, sem perder o tom de aventura.

    A nova obra de Guillermo Del Toro, "Pinóquio" consegue ser uma obra exemplar em explicar para o público infantil os efeitos da Segunda Guerra Mundial, utilizando da fantasia junto a beleza técnica do Stop Motion.
    Pinóquio | Netflix

    Mesmo a obra possuindo cenas musicais, que não são muito orgânicas junto a narrativa, “Pinóquio” é uma obra que carrega uma forte importância de ser apresentada e apreciada para ambos os públicos. Del Toro se aventura, e acerta na sua maioria, em algo for a de sua zona de conforto, e entrega um belo espetáculo poético no formato audiovisual.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao Trailer:

    Leia também: Pinóquio, os clássicos nunca morrem

  • O Menu mostra como a arte se tornou simples consumo, e nada mais

    O Menu mostra como a arte se tornou simples consumo, e nada mais

    Em O Menu, um casal decide visitar um dos restaurantes mais requisitados pela alta sociedade, junto com um grupo de pessoas influentes em diversas áreas, mas acabam percebendo que algo de estranho está acontecendo no meio desse grande evento. Evento que tem como responsável o Chefe Slowik (interpretado pelo ator Ralph Fiennes). O questionamento é: como os clientes vão reagir para conseguir fugir desse restaurante? Que se encontra em uma ilha.

    Na direção, temos Mark Mylod, que dirigiu também What’s Your Number?(2011), e na produção temos Adam Mckay, que foi responsável por filmes notáveis; sendo diretor dos seguintes filmes: Don’t Look Up(2021); A Grande Aposta(2015); Vice(2018) e o filme de comédia Anchorman(2004). Além de ser produtor de outro lançamento esse ano, também no gênero de terror e suspense, Fresh (lançado pela Star+).

    O filme tem uma premissa simples de reféns presos em um lugar sem escapatória, sendo partes de um jogo sádico de um responsável majoritário no território. Porém, a beleza do filme se enquadra no sarcasmo e o como a direção lida com os personagens com esse sentimento. Temos a personagem Margot (interpretada pela atriz Ana Taylor-Joy) que se mostra a mais humilde entre os clientes, e a com a melhor percepção de que algo não está certo na ilha. A relação da personagem com o Chef são um dos pontos que fazem o filme ter uma dinâmica com um bom desenvolvimento entre ambos.

    Os outros personagens tem rápidos desenvolvimentos ao longo da trama, mas sem faltar nada do que o espectador tenha necessidade de saber. E o filme, mesmo tendo uma criação fotográfica, e da direção de arte, de um clima denso e escurecido, com contrastes brancos, ele consegue entregar um humor em certos momentos que funciona. Nenhuma piada entregue no filme é feita de forma gratuita, assim como é entregue as cenas de violência.

    Em O Menu, um casal decide visitar um dos restaurantes mais requisitados pela alta sociedade, junto com um grupo de pessoas influentes em diversas áreas, mas acabam percebendo que algo de estranho está acontecendo no meio desse grande evento. Evento que tem como responsável o Chefe Slowik (interpretado pelo ator Ralph Fiennes). O questionamento é: como os clientes vão reagir para conseguir fugir desse restaurante? Que se encontra em uma ilha.
    O Menu | Searchlight Pictures

    O Menu constrói, dentro do suspense criado pela atmosfera e pelos personagens, uma forte crítica a uma sociedade que não faz questão de apreciar e digerir arte; e sim ,em consumir. Algo que também é notado pelos planos detalhes sobre os alimentos prontos, como se fossem programas culinários. Sendo visto como um simples produto televiso, assim como programas de disputa culinária. Essa crítica também existe na existência e nos diálogos dos personagens presentes no restaurante.

    Para quê consumir tal obra; Por quê ir tanto para um lugar e não apreciar oque tem de melhor; A necessidade de ir para um lugar para simplesmente ser reconhecido como alguém do alto padrão e ser uma figura que precisa manter certa imagem. Para o Chef, tudo isso é uma piada de mal gosto. E nenhum dos presentes liga para oque é a arte necessariamente, na sua forma mais pura.

    Mesmo tendo algumas mortes com desenvolvimento apressado de certos personagens, e uma parte do arco que poderia ter sido acertada de forma mais delicada. O Menu é uma obra que consegue fazer um bom entretenimento, sem perder a sua postura em criticar uma sociedade que não sente uma real ligação com a arte, e sem nenhum respeito ao artista.

    Nota: 4/5

    Assista ao Trailer!

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  • Até os Ossos: Um romance trágico entre predadores

    Até os Ossos: Um romance trágico entre predadores

    Do diretor Luca Guadagnino, responsável pelo remake de Suspira(2018) e por Me Chame Pelo seu Nome(2017), Até os Ossos é uma história de amor entre Maren Yearly e Lee, que vivem se refugiando de um lugar para o outro nos Estados Unidos por causa de seus costumes canibalescos. Em busca de sua mãe por respostas sobre tal necessidade, Maren se junta a Lee em uma viagem de carro para conseguir entender sua natureza.

    A obra mostra um cenário de um Estados Unidos, por volta dos anos 80, seguindo o ponto de vista de quem seriam os “excluídos” ou os “incompreendidos” pela sociedade por seguirem um estilo de vida considerado animalesco. O canibalismo não demora para aparecer no filme. Logo nos primeiros 10 minutos aparece uma cena do ato, sendo ela bem detalhada na forma gráfica e sonora. Cena que, é o ponto inicial para fazer toda a trajetória da personagem Maren (interpretada pela atriz Taylor Russel).

    Claro que o filme tem cenas com bastante violência gráfica, mas não a ponto de ser algo trabalhado para causar incômodo de forma apelativa. Até pelo fato de que a violência, é uma pequena parcela do que todo o conjunto da obra tem para apresentar. Principalmente com o desenvolvimento do personagem Lee (interpretado pelo ator Timothée Chalamet), envolvendo sua família e o como ele tenta lidar com seu passado.

    É apresentado diversos cenários, ligando a vários personagens coadjuvantes que vão aparecendo ao longo da viagem do casal protagonista. Nesses diferentes personagens, em diferentes momentos do filme, mostra-se como cada um deles lida com a natureza sem explicação que eles tem dentro de si. Sendo alguns simples viajantes de estrada, ou alguém que tenha passado toda a vida sozinho, em busca de sobrevivência. Nesse sentido, o filme funciona logo em sua introdução, mostrando várias pinturas de paisagens como a nossa forma de interpretação, como espectador, da imagem pintada para a filmada.

    Até os Ossos: Como é a experiência de um romance trágico entre predadores?
    Até os Ossos | Vision Distribution

    A obra tenta se aventurar um pouco pela montagem, mas de forma desproporcional com o resto do filme, se mostrando perdida em querer criar alguma importância em meio a narrativa. Algo que não é tão necessário, até pelo fato da obra funcionar com uma montagem linear simples. Algo que a fotografia faz diferente, demonstrando planos gerais (com muita utilização de paisagens naturais), planos conjuntos com cores quentes (porém, desbotadas) e sendo utilizada poucas vezes na mão. Com esse conjunto, mesmo com a montagem, o filme consegue criar um ambiente quase apocalíptico na jornada do casal.

    O trabalho de cada personagem, até mesmo os secundários, tem um desenvolvimento de qualidade. O mesmo serve para o personagem Sully (interpretado pelo ator Mark Rylance) que se destaca pela presença quase mística, mas que acaba sendo utilizado como um facilitador para o final, que poderia ter um desenvolvimento mais calmo. Mesmo o ato final sendo realizado sem nenhum furo, poderia ter tido um pouco mais de tempo para criar um ápice para o fim da jornada do casal.

    A obra pode ser considerada um Roadmovie, misturado com romance Shakespeariano e com pitadas de terror gore. Consegue entreter o espectador, na mesma forma que consegue instigar muitos questionamentos:

    Até os Ossos: Como é a experiência de um romance trágico entre predadores?
    Até os Ossos | Vision Distribution

    Seria a obra uma alusão ao vício de heroína de décadas atrás? Seria simplesmente um retrato de uma sociedade capitalista que não sacia sua fome nem devorando de sua própria carne? Como é simpatizar com personagens que precisam devorar outros para continuarem a existir e a estarem juntos? Uma obra que nos coloca em viagem junto com esse casal em busca de respostas e ensopados de sangue.

    Nota: 4/5

    Assista ao Trailer:

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  • Noite Infeliz: Na corda bamba, nova obra da Universal Pictures tenta agradar a todos os públicos, mas falha

    Noite Infeliz: Na corda bamba, nova obra da Universal Pictures tenta agradar a todos os públicos, mas falha

    Obra produzida pela Universal Pictures, protagonizada por David Harbour, começa propondo um filme de natal mais satírico. Porém, acaba aceitando, de forma acovardada, uma experiência que funcione para crianças. Mesmo o filme carregando cenas de muita violência e com conflitos que não são apropriados para a idade que tenta se promover ao longo da história

    O filme conta a história de um Papai Noel que se encontra infeliz em um mundo de crianças consumistas. E, ao entregar alguns presentes e diversas casas, uma delas, de uma família muito rica, sofre um assalto em grupo de assaltantes infiltrados. O tal Papai Noel, planeja, de alguma forma, salvar a menina Trudy, e sua família, na noite de Natal. A obra é dirigida por Tommy Wirkola e é distribuída pela Universal Pictures.

    Noite Infeliz não foge da proposta mostrada nos trailers, em ser um filme de ação em meio a uma noite natalina. Porém, o filme, realmente, tem uma violência gráfica bastante acentuada. Oque não é o real problema da obra por completo. David Harbour, por exemplo, carrega um humor sarcástico durante a obra que é bem medido e é um dos pontos fortes do filme. Porém, o filme tem uma mistura de tramas, e de desenvolvimento parcial de personagens, que faz o filme se alongar sem necessidade e sem muito acrescentar em seu discurso.

    A trama familiar envolvendo o casal Jason e Linda (interpretados por, Alex Hassel e Alexis Louder) tenta compor um romance deturpado por questões entre os personagens, porém, o casal não vende a química necessária e se mostram deslocados em uma trama que não deve ser levada tanta a sério. Algo que o romance tenta fazer em um filme que não tem romance como tema central. Algo que é acertado no personagem Morgan Lightstone, interpretado por Cam Gigandet, que serve como um alívio cômico estereotipado de “ator bonito bobão”, mas consegue trabalhar de forma simples o roteiro, sem demonstrar humor de forma forçada.

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    Noite Infeliz | Universal Pictures

    O personagem de John Leguizamo, Scroge, junto com os outros que fazem parte do grupo de assaltantes, são exatamente o retrato dos vilões de filmes infantis, porém, com bastante palavrões. Tentativa triste para fazer jovens com mais de 12 anos rirem por ouvirem palavrões, algo que foi feito de forma repetitiva pelo personagem Scroge. O personagem ainda tenta ter algum desenvolvimento mais pessoal dentro do roteiro, mas que no final das contas: não acrescentou nada a obra, e não nos envolveu mais com o personagem durante o longa.

    No quesito técnico, o filme tem cenas de ação dirigidas com segurança e com efeitos práticos, e ensaios de luta, que são executados de forma que cativa o espectador a violência da obra, sem ela ser gratuita. O trabalho de som é bem detalhado, seja ele em pequenos momentos cômicos, diferente da trilha sonora. Trilha que se repetia e invadia muitos momentos do filme, a ponto dela começar e entregar mais irritação que conforto desejado. É necessário dizer que é possível, em cenas simples, reparar a utilização da tela verde. Um contraste sem motivo, pelo fato de que em outras cenas, os efeitos são detalhados e imersivos, como o plano final, por exemplo.

    Ênfase pelo trabalho de relação entre a personagem Trudy, interpretada pela Leah Brady, e o Papai Noel, que conseguem demonstrar time cômico e transmitir sentimento de empatia em ambos os personagens, principalmente em cenas de dialogo entre ambos. O mesmo para o trabalho da dupla das personagens Linda e Alva, interpretada por Edi Patterson, que tem poucos momentos cômicos que funcionam, diferente da sua maioria. Contando as cenas com o personagem Bert, interpretado pelo Alexander Elliot, que também existe com o intuito de ser um alívio cômico, mas que parece perdido na maior parte do tempo.

    Noite Infeliz consegue entregar cenas de violência, carregadas de sangue, com pitadas de humor. Mas não consegue cativar o espectador em relação aos personagens, nem a trama em si. Resultando em uma experiência monótona, com clichês entediantes, e sendo mais um filme de natal morno. Pelo simples fato da produção tentar agradar gregos e troianos, e tanto vender para os dois públicos. Mas com poucas chances de conseguir agradar um ou outro.

    Nota: 2/5

    Assista ao Trailer:

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  • “Tubarão: Mar de Sangue” mira em uma história séria, mas acerta em uma narrativa rasa

    “Tubarão: Mar de Sangue” mira em uma história séria, mas acerta em uma narrativa rasa

    O longa tenta criar uma narrativa dramática, mas não apresenta os recursos necessários.

    Filmes de desastres causados por animais marinhos, como tubarões e piranhas, estão presentes na história do cinema. Inclusive, essa estética de terror fez bastante sucesso nos anos 70. “Tubarão: Mar de Sangue”, dirigido por James Nunn (Tiro Certo), entra em uma esfera parecida com essa e entrega um roteiro semelhante às outras obras do gênero. Contudo, em 2022, talvez essas tramas não façam mais sentido para o público, ainda mais quando a narrativa tenta ser levada a sério.

    A história não poderia ser mais clichês, cinco amigos estão de férias em uma praia e, então, o grupo resolve pegar jet-skis e passear no mar. O óbvio acontece, os jovens sofrem um acidente e ficam ilhados no meio do oceano enquanto um tubarão os persegue, procurando presas para se alimentar. Para completar a tragédia, um dos personagens machuca a perna e deixa um rastro de sangue no mar. Assim como em outros filmes do gênero, o vilão é o animal, que parece estar possuído por alguma coisa e sedento por sangue. Dessa forma, o grupo precisa achar uma maneira de se manterem vivos e retornarem para a costa.

    tubarão: mar de sangue
    Foto: Divulgação

    A maior parte das cenas de ação do filme são bem fantasiosas, fora de qualquer realidade. O que seria comum em uma obra dos anos 70 ou 80, mas em 2022, esse estilo é batido e não pega o público da mesma forma. Claro que nem todos os longas são feitos para serem levados a sério, podemos citar “Sharknado” aqui. Mas no caso de “Tubarão: Mar de Sangue”, a premissa do diretor parece fazer uma narrativa convincente e, até mesmo, chocante para o público. Isso torna o filme, mais uma vez, falho.

    Tentar criar uma história séria em cima de uma obra rasa não funciona. As atuações não são boas, mas os papéis dados aos atores também são superficiais e toscos, o que torna quase impossível entregar um bom trabalho. Nenhum personagem tem uma história ou qualquer profundidade ao longo da trama. São cinco universitários, mas nem mesmo o curso de cada um deles é descrito. O filme entrega apenas um pequeno dilema romântico (e clichê), que também é mal explorado. Até mesmo os adolescentes de “American Pie” são mais bem escritos e conseguem passar certo carisma aos telespectadores.

    Crítica Tubarão: Mar de Sangue

    O filme não ultrapassa nada além de universitários que foram em uma viagem para curtir, mas acabaram se envolvendo em uma situação fatal. Nenhum diálogo é interessante e nenhuma parte da obra passa qualquer drama, embora a situação seja extremamente dramática, pois todos correm risco de vida. Ainda assim, não é sequer possível sentir empatia por ninguém na trama. Durante a trama, existem momentos tensos e bastantes sangrentos, alguns com CGI bem feito, outros não. Mas nem nessas horas o telespectador consegue se envolver na trama, por ser muito rasa.

    tubarão: mar de sangue
    Foto: Divulgação

    Veja também: Crítica de Pantera Negra

    Além disso, o ritmo da obra também é massante, os jovens se perdem em meio ao oceano antes dos 20 minutos de tela. A partir daí, a trama apenas se repete e não sai do lugar até os momentos finais. A melhor parte é que o longa não ultrapassa uma hora e meia, pois a história é cansativa e parece andar em círculos até a última cena.

    Pode ser que esse estilo de filme não caiba mais nos dias atuais, já é quase impossível fazer um bom longa nesse gênero, que seja convincente e dramático, temos alguns exemplos medianos, como “Águas Rasas”, mas que não saem da média também. Talvez a ideia de jovens atacados por animais marinhos deva ficar no passado ou se manter nos padrões mais “toscos” do cinema.

    Mas a realidade é que “Tubarão: Mar de Sangue” se prestasse apenas a ser um terror tipo B, um filme trash ou até mesmo um besteirol, como “Todo Mundo em Pânico”, talvez a obra fosse mais convincente. O problema é tentar levar a história a sério, o que James Nunn estava claramente tentando ao conduzir a história. Portanto, o maior erro do longa foi, talvez, ter se prestado a uma seriedade, que não pôde ser conduzida ou construída ao longo da trama. Embora o filme se passe em alto mar, com o perdão do trocadilho, a história é mais rasa que qualquer praia.

    Nota: 1/5

  • Nada de Novo no Front – Netflix decide uma produção mais ousada, mas necessária, para falarmos sobre Guerra

    Nada de Novo no Front – Netflix decide uma produção mais ousada, mas necessária, para falarmos sobre Guerra

    Um dos últimos lançamentos da plataforma, Netflix tenta demonstrar com muita técnica, e ação, as consequências da Primeira Guerra Mundial sobre a vida de jovens inocentes. Mas não te impacta tanto, em alguns aspectos, como a versão de 1930

    A obra, dirigida por Edward Berger, lançada pela Netflix, conta a história de Paul e seus companheiros se inscrevendo para serem soldados da pátria alemã contra os franceses no front. O filme não demora para mostrar conflito, sangue e violência logo nos primeiros minutos de introdução.

    Além de um desenvolvimento com planos detalhes, que acabam falando muito sobre oque significa ser um soldado em uma guerra, onde milhões de jovens foram mortos de um dia para o outro. A parte de introdução dos personagens protagonistas tem algumas semelhanças com o clássico de 1930. Mas, em sua maioria, o filme parece completamente outro. E isso é algo positivo.

    A obra que acaba de ser lançada, tem um pouco menos de desenvolvimento dos personagens comparada com a de 1930, dirigida por Lewis Milestone. A própria introdução do clássico faz com que o espectador tenha uma forte simpatia por aqueles jovens que vão à guerra, tendo uma marcha dos soldados alemães nas ruas, enquanto o professor discursa para os alunos sobre a “honra” de lutar essa guerra em nome do país. A obra da Netflix começa de forma ágil, sem se aprofundar tanto na introdução desses jovens para o front.

    Nada de Novo no Front - Netflix decide uma produção mais ousada, mas necessária, para falarmos sobre Guerra.
    Nada de Novo no Front | Netflix

    Algo positivo para os amantes de filmes de guerra com ação gratuita, mas não tanto para aqueles que querem sentir uma conexão próxima dos personagens. Algo que, infelizmente, vale para todos. Mesmo o filme tendo muitas cenas sangrentas e de conflito, e sendo uma obra de 2 horas e meia, dificilmente o espectador pode sentir uma melancolia acentuada quando um deles é ferido ou morto em combate. Algo resultante pela falta de cenas de diálogo e entrosamento entre os soldados.

    O filme tem sua construção de realidade executada pelas questões técnicas: a fotografia, que é bem dividia sendo ela na mão ou não; o trabalho de cores que decide acentuar o azulado e o cinza, para o desenvolvimento de um espaço que lembre um limbo pouco esperançoso; uma trilha que é utilizada de forma acentuada, sendo ela feita por algo como um sintetizador, ou teclado, e a maquiagem, que desenvolve bastante os traços de longos dias dos personagens, como se a guerra estivesse “tatuada” em seus rostos.

    Sem contar, a imensa importância de esse filme ser feito por alemães, algo que não foi feito pela obra clássica, mesmo a língua não sendo um problema. Porém, alemães contando a história de alemães traz uma camada a mais no filme de imensa importância.

    Nada de Novo no Front | Netflix

    A atuação de Felix Kammerer, junto com a direção fotográfica e a maquiagem, tentam resultar em uma estética que lembre bastante o filme Vá e Veja de Elem Klimov, filme de 1985, feito na antiga URSS. As obras em questões de narrativa lembram bastante uma a outra, falando sobre a relação de jovens soldados impactados pela guerra. Mas é necessário colocar que, os filmes falam de guerras diferentes, em cenários diferentes, sendo ambas impactantes.

    Porém, por motivos diferentes. Não esquecendo que, oque faz a obra de Elem Kilmov ser tão impactante é a decisão de mostrar toda a podridão que o ser humano pode chegar a fazer em um cenário de guerra, utilizando um protagonista para mostrar todo esse caminho. Algo que afeta e cria uma bagunça na construção geral de Nada de Novo no Front.

    Mesmo o filme se perdendo em como medir a estética que quer chegar e desenvolvendo mais personagens secundários do que o próprio protagonista, com seus companheiros, a obra consegue demonstrar o terror da guerra de forma direta e necessária, principalmente no cenário mundial que nos encontramos. Netlix, finalmente, se permite em navegar em obras mais sérias e feita de forma mais delicada em que a maioria de suas produções.

    filme nada de novo no front imagem divulgacao netflix
    Nada de Novo no Front | Netflix

    Uma experiência aterrorizante, mas não tanto a ponto de entrar naquele universo, e com um controle de direção necessário, deixando de lado as relações e o diálogo, para mostrar um cenário de guerra mais próximo, como uma tentativa de simulação de algo que não é um espetáculo. Guerra é um terror, que só mata os inocentes, e não os culpados.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

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  • Andor demora para engrenar, mas quando chega lá, nos arrebata

    Andor demora para engrenar, mas quando chega lá, nos arrebata

    Amor, sacrifício e revolução tratados de maneira exemplar em Andor.

    Andor, criação de Tony Gilroy (dos filmes da franquia Bourne), é uma produção de suspense e espionagem dentro do universo Star Wars. Acompanhado do androide K-2S0 (Alan Tudyk), Cassian Andor (Diego Luna) embarca numa nova aventura, tendo como pano de fundo os primeiros dias da Rebelião contra o Império. A série se passa cinco anos antes dos eventos de Rogue One: Uma História Star Wars (de 2016, pelo mesmo diretor), onde Andor foi piloto e agente de inteligência da Aliança Rebelde, líder da Rogue One, unidade que, naquela ocasião, tentou roubar os planos da Estrela da Morte. O resto é história.

    O Cassian Andor de Diego Luna realmente não é um protagonista cativante, sempre sisudo e de respostas curtas e grossas, mas serve como símbolo de um viés que não se curva a nada nem a ninguém e que, se necessário, é capaz de matar para sobreviver ou para realizar a missão do jeito que se deve (como revelado nos primeiros minutos), e pelo qual, todos os demais personagens orbitam.

    Com um elenco engajadíssimo, Andor é povoado de personagens marcantes e envolventes, muito bem distribuídos em diversos núcleos com frentes distintas, seja de uma atuação mais direta, seja nas artimanhas políticas. Além de Diego Luna, a produção ainda conta com nomes como Adria Arjona, Kyle Soller, Faye Marsay, Alex Lawther, Varada Sethu, Ebon Moss-Bachrach, James McArdle, Forest Whitaker, além de destaques dos impressionantes Andy Serkis, Genevieve O’Reilly, Fiona Shaw, Denise Gough e o lendário Stellan Skarsgård.

    Andor demora para engrenar, mas quando chega lá, nos arrebata
    Andor | Lucasfilm, Disney+

    Tratando sobre amor, sacrifício e revolução de maneira exemplar, a obra sabe dosar seus diálogos literários com suntuosas sequências de ação, de espionagem e drama, com uma competência técnica de encher os olhos, tanto no CGi, quanto nos maquinários, cenários e figurino. De texto mais adulto e sem a necessidade dos Jedi, a história não tem tempo para o humor, abrindo mão de seus populares alienígenas, criaturas e robôs, que comumente fazem parte da civilização (eles até existem, mas surgem de maneira tímida aqui e ali), o que pode ser interpretado como certa descaracterização dos elementos comuns de Star Wars (no qual o primoroso Mandaloriano encontra melhor equilíbrio).

    Por outro lado, a série encontra na temática da rebelião, o cerne que serviu de ponto de partida para George Lucas mais de quarenta anos atrás quando da criação de Uma Nova Esperança, no qual essa premissa mira, acertando todos os alvos.

    Entre os grandes destaques da produção, estão o monólogo de Luthen com um infiltrado, os momentos de Cassian e Kino Loy na prisão, o discurso poderoso de Maarva durante um velório, além do grande caos formado no clímax em Ferrix, que distribui as repercussões daquele evento com ganchos interessantíssimos para o futuro da série.

    Andor demora para engrenar, mas quando chega lá, nos arrebata
    Andor | Lucasfilm, Disney+

    Andor tem um início lento e moroso, sem grandes avanços, que demora para dizer ao que veio. Portanto, é recomendável que se assista a série da maneira como ela foi apresentada: aos poucos, um episódio por semana. O consumo do enredo fica mais palatável e interessante dessa forma. A partir do sexto episódio, muitos elementos interessantes e fundamentais são apresentados e começam a acontecer. Quando o público percebe, já foi arrebatado. E por mais que saibamos o destino do rebelde que dá título a série, é interessante acompanhar tudo o que o motivou para chegar até ali e de como isso se desenrolou. Em um dos melhores materiais já realizados em Star Wars.

    Nota 4,5/ 5

  • Depois do Universo: Clichês e obviedade ofuscam a história do filme

    Depois do Universo: Clichês e obviedade ofuscam a história do filme

    Nem mesmo a química entre os protagonistas supera a previsível narrativa do longa.

    Romances adolescentes não costumam estar entre as produções mais famosas do Brasil. É aí que entra a novidade em “Depois do Universo”. Embora o longa seja focado na paixão entre dois jovens adultos, a narrativa vem recheada de elementos dos filmes “teen”, comumente produzidos nos Estados Unidos. A história, dirigida por Diego Freitas, passa pela vida de Nina (Giulia Be), uma jovem pianista que sonha em tocar na Orquestra Sinfônica Brasileira. Mas tem a vida complicada pelo lúpus. Quando a doença afeta seus rins e a garota precisa fazer hemodiálise até conseguir um transplante, ela entra na vida de Gabriel (Henry Zaga).

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    Gabriel é o médico residente do hospital e vai acompanhar a jovem durante seu tratamento. A história dos dois acontece de forma comum no cinema, quase como um amor à primeira vista. Antes de se conhecerem profundamente, ambos já estão apaixonados e arriscando muito um pelo outro. Mas existe um entrave nessa relação, com medo da morte e sem esperanças para o futuro, Nina não quer ser um peso na vida do rapaz.

    O médico, por outro lado, sempre vê o lado bom das coisas e não se importa de enfrentar o conselho de ética do hospital, que condena seu romance para ficar ao lado da pianista. A narrativa, então, une os jovens em uma espécie de metáfora, que trabalha dois pólos extremos, positivo e negativo, Gabriel com sua visão de mundo sempre colorida e Nina com seu pessimismo constante. Apenas pela sinopse já é possível traçar um paralelo com outros filmes do gênero, principalmente “A Culpa é das Estrelas”, de 2014.

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    Química entre o casal é o ponto mais alto do filme. – Foto: Reprodução/Nerflix

    À medida que o filme se desenvolve, é preciso relevar inúmeros detalhes. Que, em certo momento, deixam de ser apenas detalhes. O longa trabalha 90% do tempo com clichês de filmes norte-americanos. O romance entre os adultos remete mais a uma paixão de adolescente, fora de qualquer realidade palpável. Desde o momento em que o casal se conhece até os créditos finais, Depois do Universo é recheado de momentos já vistos em outras produções. Os diálogos entre os personagens são fracos e muito distantes da vida real. No entanto, a própria construção dos personagens é fraca. Todos os presentes no longa são muito pouco, ou quase nada, explorados, isso inclui os protagonistas, que não tem nem uma história aprofundada. Não é possível saber nada além do básico do casal. O filme não entra em detalhes sobre suas famílias, histórias ou infância etc.

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    Como nem os principais têm a relevância necessária, com os coadjuvantes a história é pior ainda. Os personagens secundários têm pouquíssima abordagem e estão no longa para comentar ou orquestrar o romance principal. Em mais de duas horas de tela, só é possível narrar um breve romance, que poderia ter sido desenvolvido em bem menos tempo, dado que o filme não aborda muita coisa além disso. Todo longa é bastante previsível, é fácil entender o que acontece em cada sequência. Nem mesmo o final que deveria ser uma surpresa é, de fato, inesperado. Todo o filme caminha para uma obviedade.

    Depois do Universo até chega a tangenciar assuntos de suma importância, como o lúpus e, principalmente, as dificuldades enfrentadas por aqueles que estão na fila para transplante de órgãos no Brasil. Contudo, essa abordagem também é superficial. Com isso, o tema necessário é deixado de lado e, no lugar, temos a retração de um romance de sessão da tarde.

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    Foto: Reprodução/Netflix

    As atuações do filme são boas, a estreante das telas, a cantora Giulia Be, faz um trabalho convincente e carismático, assim como seu parceiro Henry Zaga. O ponto mais alto do filme é a química que o casal entrega. Os dois conseguem passar uma emoção e segurar o público em algumas cenas de romance. No entanto, essa conexão não é suficiente para revelar o restante da história. Os coadjuvantes, embora tenham papéis com pouca relevância, também fazem boas atuações no longa, mas sem o devido destaque também.

    O final de Depois do Universo, embora seja previsível, consegue ser uma parte um pouco interessante e causar certo impacto, pela maneira como as últimas cenas são conduzidas. No entanto, até mesmo essa parte fica perdida em meio a tantos clichês e obviedades do longa. Por fim, Depois do Universo tinha ideia com potencial interessante, mas deixou de ser explorada e se tornou apenas um filme comum, que parece imitar produções “teen” dos Estados Unidos.

    Nota 1,5/5

  • Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho

    Ryan Coogler faz de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre uma terapia em grupo para a superação do luto entre seus personagens e o público.

    O novo filme solo do Pantera Negra já estava escrito para lidar com o luto, de acordo com Ryan Coogler. O longa se passaria após a volta de T’challa em Vingadores: Ultimato, onde o herói lidaria com o sentimento de luto pelo tempo perdido, dos cinco anos que ficou ‘blipado’.

    Após a morte de Chadwick Boseman, o filme teve que ser reescrito para lidar com a ausência de seu protagonista, visto que a Marvel nunca cogitou reescalar outro ator para o personagem ou até mesmo trazer Chadwick em CGI; com isso, T’challa também é dado como morto logo nos primeiros minutos de filme.

    A partir daí, a trama se desenrola na recuperação do luto do povo de Wakanda pelo seu rei e a ascensão de um novo Protetor em meio as dificuldades causadas pelas consequências deixadas no longa anterior.

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho
    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre | Marvel Studios

    O que mais surpreende em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, é que o filme não é apenas sobre quem será o novo personagem-título, mas sobre o desenvolvimento de Wakanda em meio a essa perda trágica. O material promocional já indica isso, com o foco sempre direcionado ao povo wakandano e principalmente o co-protagonismo de Shuri, Ramonda, Okeye e Nakia, algo também que pode ser notado no título do filme.

    Com isso, consequentemente, a Marvel Studios tem mais uma produção de mega destaque representativo em um filme dominado pelas mulheres, visto que o núcleo de coadjuvantes também é praticamente dominado por elas, incluindo Riri Williams e a Dora Milage Anika. Tudo de forma natural, visto que o Pantera Negra de Chadwick Boseman sempre esteve envolto pela maioria delas.

    Apesar disso tudo, o filme ainda tem uma preocupação da passagem inevitável e inesperada do manto do protetor de Wakanda, que todos sabiam com obviedade que seria de Shuri. Apesar de todas as polêmicas envolvendo Letitia Wright, a atriz entrega o seu melhor trabalho até então com uma atuação carregada de sentimento.

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho
    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre | Marvel Studios – Imagem exclusiva da Empire Magazine

    Ryan Coogler, diretor e co-roteirista, transforma o luto em combustível para criar um filme sentimental e melancólico mas que não se perde na tristeza, se permitindo também celebrar a importância de Chadwick para o UCM, o que fica claro nos primeiros minutos na retratação da cultura wakandana.

    Os diálogos entre os personagens a respeito de T’challa transpassam a tela para também integrar o público na superação do luto por Chadwick e mudar o sentimento do espectador em relação a perda. Após a sessão o sentimento que fica é de aceitação e entendimento de que como na cultura ali apresentada, Chadwick viverá pra sempre através do legado deixado.

    Apesar disso tudo, Wakanda Para Sempre ainda segue a linha da fórmula Marvel, com piadinhas e conexões com o passado, principalmente referenciando situações do primeiro filme, como também o futuro, com um cameo específico que instiga para o que vem a seguir.

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho
    Ryan Coogler na Premiere mundial de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

    Todavia, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre também se preocupa em trazer entretimento, seguindo a linha de padronagem do universo cinematográfico da Marvel. O filme é repleto de momentos de ação e cenas bem elaboradas. O destaque fica com o povo da cidade submarina de Talocan , Okoye e Riri Williams em sua armadura. Ainda também trazendo momentos de leveza com tiradas cômicas que funcionam nos momentos certos.

    E por falar em Talocan, Namor segue uma adaptação quase beirando a originalidade, claramente uma jogada para diferenciar o personagem do Aquaman da DC, o qual já teve destaque em dois filmes da concorrência. O destino do personagem pode desagradar os fãs mais fervorosos, mas é inegável que a essência do personagem ainda permanece ali.

    Tenoch Huerta toma o personagem para si e entrega uma atuação digna e envolvente. Namor mostra para o que veio e é fácil entender seu ponto de vista de mesmo indo de desencontro com o dos protagonistas e que suas ações causem marcas tristes e permanentes no futuro da franquia.

    A origem de Talocan é simples, porém eficiente, e a cidade submarina é bem apresentada. Em meio ao que fazer para trazer originalidade para esse núcleo e se distanciar do que já foi apresentado antes, adaptar o mesmo como uma descendência dos Astecas remete a visuais belíssimos e uma cultura interessante para explorar futuramente e mesmo assim a essência do povo atlante também está lá.

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega mais que melancolia em filme feito com carinho
    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre | Marvel Studios – Imagem exclusiva do Fandango

    Pantera Negra: Wakanda Para Sempre tem uma direção incrível, um roteiro eficiente e um design de produção belíssmo. A fotografia é contemplativa em diversos momentos, principalmente quando envolve o povo de Talocan. além disso o filme conta com uma trilha sonora potente de Ludwig Göransson que se complementa bem às cenas elevando todo o sentimentalismo; um dos favoritos para a próxima temporada de premiações.

    A respeito do CGI, aqui temos um trabalho muito melhor executado em relação ao primeiro filme, que trouxe um dos piores efeitos especiais da história do UCM. Indo ao contrário de praticamente toda essa fase 4 que pecou nesse quesito, Wakanda Para Sempre faz bom uso da ferramenta, mesmo que deslize uma vez aqui e outra ali.

    Por fim, é fácil dizer que o longa entregou tudo o que prometeu: emoção, ação, piadas padrão Marvel, e a preparação do terreno para desenvolver seus personagens futuramente, além de principalmente honrar o legado de Chadwick Boseman. Com um reinício forçado, a Marvel Studios e Ryan Coogler conseguiram fazer o melhor que puderam e o que estava em seu alcance.

    Nota: 5/5

  • Crítica | House of The Dragon – 1ª Temporada

    Crítica | House of The Dragon – 1ª Temporada

    A Casa do Dragão ou House of The Dragon conta a história de 172 anos antes de Daenerys Targaryen nascer e se tornar uma das principais lideranças de Westeros. 

    Quando a HBO confirmou que estaria desenvolvendo um spin-off de Game of Thrones, série de maior sucesso da emissora, inicialmente o público ficou dividido. Isso porque o fim da série original tinha deixado um gosto amargo na boca dos espectadores.

    Apesar dessa desconfiança inicial, as notícias sobre House of the Dragon logo nos seus estágios iniciais começaram a repercutir, e logo os fãs ficaram ansiosos para essa nova jornada no mundo grandioso de Westeros.

    Baseada no livro Fogo & Sangue de George R. R. Martin, House of the Dragon narra a história do conflito em Westeros, conhecido como a Dança dos Dragões. Situada quase dois séculos antes dos eventos da série original, acompanhamos a guerra civil que acontece enquanto os meio-irmãos Aegon II (Tom Glynn-Carney) e Rhaenyra (Milly Alcock, Emma D’Arcy) almejam o trono após a morte do pai Rei Viserys I (Paddy Considine). Rhaenyra é a filha mais velha e legítima herdeira de seu pai, contudo, Aegon é o filho homem de um segundo casamento, o que acaba gerando uma crescente tensão entre dois clãs Targaryen sobre quem tem o verdadeiro direito ao trono. 

    Crítica: House of The Dragon - 1ª Temporada
    Paddy Considine e Milly Alcock como Viserys e Rhaenyra Targaryen na primera fase de House of the Dragon | Foto: HBO Max

    Diferente do que vemos na série original, o enredo de House of the Dragon é o conflito familiar, dessa forma a série foca toda sua atenção em Porto Real, com menos personagens e uma trama mais concisa. Assim fazendo com o que o espectador se envolva muito mais rápido aos personagens e seus dilemas.

    Com isso, a série consegue ter uma narrativa muito mais amarrada, qual é o conflito principal da série? A sucessão! A temporada inteira investe nisso, em quem vai ficar no lado de quem, qual é a motivação dos personagens para lutar para cada lado e qual caminho seguir. E claro, repleto de traições e reviravoltas.

    Além disso, o livro Fogo & Sangue, em que a série é baseada, é um livro de relatos, ou seja, muito do que é escrito no livro pode ter acontecido de maneiras diferentes. Assim, os roteiristas precisaram criar diálogos e modificar certos acontecimentos do livro para conseguir fechar algumas lacunas, e também para a história fazer sentido na mídia em que está sendo adaptada.

    Porém, existe um pequeno problema, o roteiro. O texto simplório da série é nítido, não chega a ser ruim, mas é fraco em comparação a série original. Na verdade, lembra muito as últimas temporadas de Game of Thrones, onde os roteiristas ultrapassaram os livros e precisaram seguir com os próprios pés.

    Crítica: House of The Dragon - 1ª Temporada
    Emma D’arcy e Olivia Cooke como Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower em House of the Dragon | Foto: HBO Max

    “Ah mas não deveríamos comparar as séries, são coisas completamente diferentes!” Não, não são! A própria série se interliga em seus acontecimentos, e até mesmo na abertura. Estamos falando sobre uma série do universo das Crônicas Gelo e Fogo, então comparações vão acontecer.

    Outra problema, que ´tanto é do roteiro, quanto da montagem da série, é a passagem de tempo. Durante toda a temporada temos passagens de tempo abruptas que atrapalham um pouco no desenvolvimento da trama. Meses e anos são passados durante os episódios de forma corrida. As vezes isso é dito apenas em pequenos diálogos que muitas vezes o expectador não tão atento deixa passar despercebido.

    Em certo episódio temos um grande acontecimento em um casamento, que deixa diversas lacunas abertas. Mas no episódio seguinte temos uma passagem de 10 anos, onde não vemos as consequências de nada que ocorreu.

    Porém, na minha concepção não atrapalhou o envolvimento na série. Os atores conseguem entregar tanta verdade em seus papéis que você logo se desprende dos problemas e embarca na jornada.

    A história, a extensão do universo e os personagens são o grande atrativo da série. Por ser muito mais focada em um grande núcleo o show consegue ser grandioso, e ao mesmo tempo mais contido.

    Além disso, House of the Dragon entrega grandes acontecimentos em cada episódio de sua primeira temporada, surpreendendo até mesmo quem é um leitor dos livros e conhece a passagem da Dança dos Dragões.

    Crítica: House of The Dragon - 1ª Temporada
    Paddy Considine como Viserys Targaryen em House of the Dragon | Foto: HBO Max

    Por fim, a série traz tudo que o fã da obra do George R. R. Martin aguarda, como o mesmo falou, a série faz até melhor que o livro em alguns momentos. Apesar do final ser um pouco controverso para os fãs, mas é aquilo, o que é o jogo dos tronos sem um pouco de subversão de expectativas né?

    House of the Dragon é uma série de fantasia e drama de ótima qualidade, com um ótimo elenco e momentos de tirar o folego. Apesar de alguns problemas, é um show empolgante, impactante e intrigante e merece toda atenção de quem foi ou é fã do universo das Crônicas de Gelo e Fogo.

    Nota: 4,5/5

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  • Critíca | Adão Negro – Violento e sarcástico, o anti-herói da DC chega com os dois pés na porta!

    Critíca | Adão Negro – Violento e sarcástico, o anti-herói da DC chega com os dois pés na porta!

    Adão negro é uma força implacável que não tem vergonha de infligir brutalidade em qualquer um que fique no seu caminho, longa chega aos cinemas nesta quinta (20).

    Uma palavra que exemplifica Adão Negro é hype! A mais nova adaptação dos quadrinhos da DC chega aos cinemas nesta quinta, rodeado de expectativas e uma campanha que fez jus ao tamanho de Dwayne Johnson, que desde o início abraçou o personagem e agora finalmente apresenta sua melhor versão ao público.

    Adão Negro inicialmente sofre para encontrar seu caminho, mas uma vez que a Sociedade da Justiça entra em cena tudo fica mais divertido de se assistir. E de fato os personagens do longa merecem destaque, principalmente Aldis Hodge (Gavião Negro) e Pierce Brosnan (Dr. Destino), o segundo inclusive traz suporte para os demais, sempre com sequências marcantes e falas eloquentes, deixando aquele gostinho de quero mais para as futuras produções.

    Adão Negro | Foto: Warner Bros.
    Adão Negro | Foto: Warner Bros.

    Noah Centineo (Esmaga-Átomo) e Quintessa Swindell (Cyclone), completam o grupo de heróis enviados por Amanda Waller para deter a ameaça iminente que atende pelo nome de Teth-Adam, que desperta depois de 5.000 anos para estabelecer uma nova hierarquia de poder na Terra. O Anti Herói de Dwayne Johnson apresenta uma nova dinâmica intrigante para o DCU, o que eu espero de verdade que seja explorado, mais do que foi aqui, por vezes o filme parecia se perder em tantas histórias a serem contadas, mas ainda assim achando seu ritmo do segundo ato pra frente. 

    Com sequências de tirar o fôlego, o visual do filme atrai desde o primeiro frame, trazendo cores brilhantes, cenários míticos e efeitos visuais bem sólidos. Lawrence Sher assina a fotografia e assim como em Joker, é distinta, mas encanta com tudo o que põe na tela.

    Adão Negro | Foto: Warner Bros.
    Adão Negro | Foto: Warner Bros.

    O filme é brutal, em todos os sentidos, em momento nenhum o diretor Jaume Collet-Serra (A Órfã) esconde o fato de que o Adão Negro é uma máquina de matar e não um herói, mas ainda assim é um protetor com boas morais. O roteiro trabalha bem o ‘’heroísmo’’ do personagem e o fato de não precisar ser um herói para libertar seu povo.

    Lorne Balfe compôs a trilha sonora e conseguiu trazer a profundidade, a ira e a fúria do personagem junto com as músicas, principalmente no tema principal do Adão Negro. Por outro lado a edição deixa um pouco a desejar, com cortes muito secos e rápidos em cenas de diálogo onde nenhuma ação acontece, quase como se o filme não conseguisse desacelerar, nem mesmo na edição.

    Adão Negro | Foto: Warner Bros.
    Adão Negro | Foto: Warner Bros.

    The Rock está por toda parte, paixão, coração, criação, realmente um diferencial no filme, ele capturou a essência do Adão Negro dos quadrinhos, você consegue ver a raiva e o ódio através da tela, uma ótima desconstrução do que é ser herói enquanto a DC forja um verdadeiro campeão do povo. Tudo isso aliado a um roteiro mitológico que ecoa pelos de Zack Snyder só poderia culminar em um grande espetáculo para os fãs.

    Esse não é o melhor filme introdutório da DC, mas é um filme importante, que expande o universo de uma maneira que deixa os fãs animados para o futuro, coisa que os DCnautas não sentem há algum tempo. 

    Adão Negro | Foto: Warner Bros.
    Adão Negro | Foto: Warner Bros.

    A melhor coisa sobre Adão Negro é que parece que foi feito pela mãos dos fãs, uma bela continuação para o que foi introduzido anos atrás e a esperança de um futuro melhor para este universo. 

    Ah e se eu fosse você não perderia a cena pós créditos, o cinema inteiro aplaudiu arrepiado!

    Não perca tempo e vá conferir Adão Negro nas telonas! Enquanto isso você pode conferir outros trabalhos do cárismatico The Rock aqui e aqui.

    Nota: 4/5

    Assita ao Trailer:

  • Critica | Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder

    Critica | Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder

    Os Anéis do Poder se situa centenas de anos antes dos eventos de O Senhor dos Anéis, o drama épico produzido pela Prime Vídeo segue personagens tanto familiares, quanto novos, enquanto eles enfrentam o temido ressurgimento do mal na Terra-Média.

    Além da criação dos Anéis, a primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder girou em torno da vingança de Galadriel (Morfydd Clark) contra Sauron. Porém, o enredo da série segue em torno do mistério de quem é o vilão.

    Diferente de tudo que já vimos na tv, a Amazon Studios não poupou investimento na série, você consegue ver isso na tela. É uma das séries mais bonitas já feitas, isso é inegável, os cenários, figurinos e até mesmo caracterização dos personagens são de saltar os olhos. Visualmente a série é impecável.

    Por não conseguir os direitos da Primeira Era (que conta a gênesis da Terra Média), e nem da Terceira Era (onde ocorrem os acontecimentos de O Senhor dos Anéis e O Hobbit). A série da Amazon teve a difícil tarefa de adaptar a Segunda Era, que além de ser uma história de meio, era necessário preencher muitas lacunas. Afinal, a história foi apenas brevemente narrada nos apêndices de O Retorno do Rei.

    Contudo muitas vezes a série falha ao fazer isso, a forma que a série decide contar a história acaba se tornando em alguns momentos exaustiva. O problema maior fica no núcleo de Númenor, apesar de ser importante para o futuro da história, em diversos momentos parece que introduzem enredos apenas para render mais tempo.

    Os Anéis de Poder | Reprodução: Prime Video
    Morfydd Clark como Galadriel em Os Anéis de Poder | Reprodução: Prime Video

    Além disso, o protagonismo exacerbado de Galadriel é cansativo, a personagem é inegavelmente importante para trama, contudo sua atitude incisiva e inconstante acaba fazendo com que o espectador não se identifique com a personalidade mostrada na série. A verdade que mesmo sendo uma personagem essencial, Galadriel muitas vezes não transparece o que diz, suas palavras não encaixam com suas atitudes, e suas atitudes na maior parte do tempo, são apenas vazias.

    Porém diferente de Númenor, todo o núcleo de  Khazad-dûm e dos Pés-Peludos é perfeito, e a série brilha quando dá mais atenção a eles. Os personagens são carismáticos, cativantes e toda a trama que os cercam é envolvente. Existe um momento musical dos Pés-Peludos, antepassados dos hobbits que é emocionante demais.

    Os Anéis de Poder | Reprodução: Prime Video
    Os Anéis de Poder | Reprodução: Prime Video

    Em diversos momentos a série tem deslizes, principalmente em seu ritmo. A montagem dos episódios também deixa a desejar, sendo algumas vezes até confusa. A sensação é que a série, mesmo que tente se distanciar da obra de Peter Jackson, não consegue se desprender dela. Afinal, existem parâmetros de adaptações que só funcionam em longa metragem. Sendo assim, fica a pergunta, era realmente necessário que todos os episódios tivessem mais de uma hora de duração? 

    Contudo, o saldo da série é muito positivo, quando esses pequenos problemas são deixados de lado, você consegue embarcar na jornada desses personagens e se envolver com seu desenvolvimento.

    A verdade é que Anéis do Poder é uma fantasia de muito coração, visualmente incrível, com ótimos personagens, mistérios envolventes e momentos épicos de arrepiar.  Dessa forma, a primeira temporada da série é uma ótima introdução à Terra Média em uma época que ainda não tínhamos visto. Apesar de ter sim problemas, a série é sim grandiosa, e com as próximas temporadas tem capacidade de se tornar ainda melhor.

     Nota: 4/5

    Ouça o CineramaCast:

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  • Crítica | The Umbrella Academy – 3ª Temporada

    Crítica | The Umbrella Academy – 3ª Temporada

    Focando no que funcionou nas temporadas anteriores, a terceira temporada de The Umbrella Academy é mais contida, podendo ser considerada mais do mesmo, mas ainda assim diverte até o último segundo.

    Em uma época repleta de conteúdos baseados em quadrinhos e super-heróis, The Umbrella Academy estreou em 2019 entregando uma história diferente, mesmo com um universo fantástico e protagonistas poderosos e com uma missão de impedir o apocalipse sempre em pauta. A série focava nos fracassos e traumas dos tal heróis, lidando muito mais com a relação disfuncional dos personagens que compõem a familia Hargreeves, e deixando a parte “super” em segundo plano.

    The Umbrella Academy
    The Umbrella Academy – Terceira Temporada | Divulgação: Netflix

    Logo, a série se tornou uma das mais populares da Netflix, chegando até mesmo superar, em seu ano de estreia, a audiência de grandes sucessos da casa como Stranger Things.

    Continuando exatamente a partir do cliffhanger deixado pela segunda temporada. Após salvar o mundo do apocalipse duas vezes a Umbrella Academy retorna para sua casa no presente, com esperança de que a linha do tempo tenha sido consertada. Contudo, devido à sua desastrosa interferência no passado, eles voltam a um presente irreconhecível, com sua antiga casa agora sendo o lar da Sparrow Academy, uma versão diferente da equipe de heróis. Ao ser abordado por seus filhos no passado, Reginald Hargreeves (Colm Feore) viu que fizera uma escolha terrível de adoção, e decide seguir por um rumo totalmente diferente quando os bebês mágicos de 1989 nascem. Mantendo apenas um mebro, Ben (Justin H. Min) em uma versão completamente diferente da que conhecemos nas temporadas anteriores.

    Porém, ao chegarem nesse novo universo, o time descobre que com seus atos no passado, eles criaram um paradoxo temporal. Fazendo o mundo agora enfrentar sua terceira ameaça de aniquilação, dessa forma os antigos e novos Hargreeves terão de encontrar uma forma de trabalharem juntos para impedir o fim da existência.

    The Umbrella Academy
    A Sparrow Academy – The Umbrella Academy – Terceira Temporada | Divulgação: Netflix

    A terceira temporada de The Umbrella Academy decide apostar no caminho que viu que funciona, seguindo o mesmo padrão das outras duas. O foco é a relação familiar, seja em seus arcos individuais ou entre eles mesmos. Afinal, o espectador já conhece esses personagens, já conhece seus dramas, aqui eles ficam no confortável apenas acrescentando pequenas novas camadas.

    Dessa forma, se assim como eu, você ama esses personagens, ama o estilo e a estranheza da série, a terceira temporada é para você. Contudo, se você está aguardando uma renovação e uma nova grande história, talvez você se sinta um pouco desapontado com o rumo da série.

    Tirando o elefante da sala, o terceiro ano acaba sendo o mais inconsistente até aqui, engatando apenas nos seus episódios finais. A decisão de trazer um ar de rivalidade pelos dois times, algo muito aguardado pelos fãs, se torna um tanto cansativo depois de dois episódios. Mesmo com novos personagens com personalidades e poderes interessantes o roteiro e direção acaba não sabendo utilizar eles de maneira que contrastem ou encaixem com os já estabelecidos.

    A trama de um terceiro fim do mundo também é algo que já não salta nossos olhos, se já se tornou cansativo para os personagens que estão vivendo aquilo, para o publico então. E olha que para eles se passaram no máximo três semanas, para gente foi anos.

    https://www.youtube.com/watch?v=uoaC6EXnMOM
    The Umbrella Academy – Terceira Temporada | Divulgação: Netflix

    Ainda assim o saldo dessa temporada é positivo, principalmente nos arcos de Alisson (Emmy Raver-Lampman) e Viktor (Elliot Page). Em todas as temporadas Alisson é a personagem que mais precisou sacrificar algo de sua vida para o mundo ser salvo. Tendo a jornada mais difícil até aqui, apesar de em alguns momentos você até sentir um pouco de desconforto com suas atitudes. Porém toda sua indignação é legitima.

    Enquanto Viktor, apesar de eu ser um tanto critico quanto a atuação do Elliot, não me entendam mal, eu gosto dele, mas acredito que ele sempre entregue o mesmo personagem, ele mesmo. A forma que abordam a transição já nos primeiros episódios, de maneira leve, trazendo uma narrativa que agrada e cativa. Chega ser emocionante ver a reação de alguns personagens, e o apoio que dão ao seu irmão. Além da gente conseguir sentir a felicidade e o conforto do ator no papel.

    É claro que todos os atores estão ótimos em seus respectivos papéis, dando destaque claro ao sempre carismático Robert Sheehan com seu problemático Klaus, e por incrivel que pareça a temporada da um destaque maior a Tom Hopper, que faz Luther, um personagem considerado chato pelos fãs, mais atrativo. Infelizmente das novas adições, como eu disse, o roteiro não deixa muito os personagens se mostrar a ponto de marcar.

    Mesmo com uma temporada mais inconsistente que as outras, o terceiro ano de The Umbrella Academy é cheio de carisma e diverte da mesma maneira. Em contraste com as temporadas anteriores essa é a mais contida de todas, mesmo que a ameaça seja maior do que as outras.

    O final da temporada conclui diversos arcos, entretanto, a série termina deixando uma cena pós créditos e pontas soltas pra uma sequencia, nos deixando imaginar se haverá uma renovação ou não.

    Nota: 4/5

    https://www.youtube.com/watch?v=uoaC6EXnMOM
  • Crítica | Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – É assim que se faz um filme sobre multiverso!

    Crítica | Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – É assim que se faz um filme sobre multiverso!

    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é mais um filme da leva que promete explorar a teoria do multiverso de um ponto de vista comum mas com detalhes originais que transforma a obra em algo divertido e com uma mensagem a ser transmitida.

    Sinopse: Em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, acompanhamos uma imigrante chinesa (Michelle Yeoh) que parte rumo a uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que poderia ter vivido. Contudo, as coisas se complicam quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa.

    Crítica | Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo - É assim que se faz um filme sobre multiverso!
    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Diamond Films

    É quase impossível não comparar um filme a outro quando em um período recente temos o lançamento de diversas produções que decidem abordar a mesma temática como foco central de sua trama. Seria injusto comparar? Seria mais injusto ainda comprar um filme de baixo custo com um grande blockbuster? Ao eu ponto de vista a resposta é claramente um sonoro não (e nesse caso está realmente impossível fazer isso).

    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo conseguiu a façanha de superar um grande blockbuster que há muito prometia e pouco entregou (e creio que vocês sabem sobre qual me refiro). De forma original, o longa dos Daniels representou da melhor maneira a teoria do multiverso se aproveitando apenas da premissa para trazer um filme original apesar de um tema, que quando retratado sempre vem da mesma maneira e com a mesma narrativa. O diferencial aqui é a forma como isso tudo é abordado: extrapolar os limites de sua adaptação do tema, se aproveitando das ideias básicas da teoria, mas também das formas mais absurdas e bizarras, se aproveitando das infinitas possibilidades, mesmo que sejam as mais ridículas possíveis. A vergonha alheia aqui é sem limites.

    Crítica | Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo - É assim que se faz um filme sobre multiverso!
    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Diamond Films

    O filme tem um tom de comédia escrachada, que tira boas gargalhadas, predominante nos dois primeiros atos. Apesar da comédia, o drama não se perde e se mantém como um ótimo recurso para manter o espectador envolvido emocionalmente com os personagens. O roteiro dá conta de progredir em diversos gêneros como o drama, a comédia, o sci-fi, transformando tudo que aborda em ouro de maneira coerente e eficiente.

    Mesmo com um mix de gêneros, as diversas mensagens que o filme apresenta ao espectador é captada de maneira simples quando se entende que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo trata-se sobre família e autodescoberta. O longa tem uma pegada filosófica sobre o sentido da vida, se encaixando perfeitamente com a proposta de que num infinito multiverso podemos ser mais, ou também podemos ser menos. A ideia central transborda da tela tornando o filme uma experiência pessoal após o fim da sessão e rende bons papos cabeça.

    Além disso o filme aproveita sua temática familiar para abordar de forma sensível temas como sexualidade, ancestralidade e aceitação ao mesmo tempo que consegue dosar com a ciência da teoria multiversal fazendo uma construção de mundo única.

    Crítica | Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo - É assim que se faz um filme sobre multiverso!
    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Diamond Films

    O grande destaque fica para as atuações de Michelle Yeoh, que faz aqui o grande papel de sua carreira, se provando como uma atriz versátil que cabe bem em qualquer papel que se propõe, e Ke Huy Quan que impõe sua presença em diversos momentos. Apesar desses destaques não há um que fique devendo nesse quesito, até mesmo as participações especiais mostram seu máximo potencial, como Jamie Lee Curtis que enche a tela no pouco que aparece.

    O conjunto da obra da parte técnica é incrivelmente bem trabalho. O roteiro é bem elaborado, coeso em seus plots, a trilha sonora é um espetáculo que complementa bem as cenas, o trabalho de coreografias e dublês é esplêndido, e o figurino vem tão bizarro quanto as situações que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo retrata. Sem dúvida alguma, o que mais chama atenção é a montagem do longa que é muito bem executada e tinha tudo para dar errado dada a complexidade do projeto.

    Crítica | Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo - É assim que se faz um filme sobre multiverso!
    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Diamond Films

    Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é assertivo em sua mensagem, mas principalmente em se manter firme em seu propósito de fazer um filme sobre multiverso, sem deixar isso de lado para focar em tramas repetidas, sem importância, ou dar importância demais á tramas secundárias. O longa de Daniel Kwan e Daniel Scheinert é sincero em sua premissa e um dos grandes acertos de 2022 até o momento, se consagrando como um dos melhores e já entrando nos bolões prematuros da próxima temporada de premiações.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:
  • Crítica | A Hora do Desespero – Suspense se mostra previsível e recheado de clichês

    Crítica | A Hora do Desespero – Suspense se mostra previsível e recheado de clichês

    O filme, estrelado por Naomi Watts, não explora nada interessante no tema abordado. 

    “A Hora do Desespero”, dirigido por Phillip Noyce, é um suspense que tenta provocar grande agonia no telespectador em cerca de 80 minutos. Amy Carr (Naomi Watts) é uma recém viúva e mãe de dois filhos. Sua vida muda, mais uma vez, quando descobre que um atirador entrou na escola de seu filho mais velho, Noah (Colton Gobbo). A personagem, então, tem apenas seu celular para conseguir ajudar Noah, e também para se comunicar com as autoridades. Coincidentemente, uma tragédia, como a do filme, aconteceu há menos de um mês nos Estados Unidos. O que pode ajudar a levantar um debate sobre os recorrentes casos de massacres que ocorrem na sociedade estadunidense.

    crítica a hora do desespero
    Foto: Reprodução

    O filme se passa em poucos cenários, com um pequeno elenco. Watts fica encarregada de atuar sozinha na maior parte da obra, falando com outros apenas pelo telefone móvel. A câmera acompanha os passos de Amy, com a intenção de registrar seu desespero. Além de demonstrar suas dificuldades para entender o que está acontecendo. 

    Noyce escolheu abordar um tema delicado e complicado de trabalhar, já que pode ser fácil cair em clichês quando se fala sobre massacres em escolas. Pois não é difícil acabar entrando em uma narrativa de mocinhos e vilões. Talvez por esse motivo, o filme ficou bastante previsível e muito parecido com vários suspenses que já existem. Já no começo, é possível notar certa monotonia dos acontecimentos, o longa parece dar voltas e não sair do lugar, pelo menos até a metade da obra. Há uma falta de dinâmica, que um filme agoniante pede. Além disso, as reviravoltas não parecem convencer, muito menos pregar peças no público. As dúvidas que o filme propõe são sanadas rapidamente e sem muito esforço. Os “plot twists” não surpreendem, ao final das contas, quase tudo ocorre como o esperado. 

    crítica a hora do desespero
    Foto: Reprodução

    No decorrer da narrativa, o longa consegue criar algumas partes agoniantes, que geram efeito em quem está assistindo. Porém, são momentos breves, que não perduram por tempo suficiente para criar uma atmosfera de suspense. A atuação de Naomi Watts é o maior ponto positivo da obra, a atriz trabalha bem no papel que lhe foi designado. Mas nem seu bom desempenho faz com que o filme convença ou se torne agradável de assistir. Muito disso, porque nem os personagens principais são aprofundados na obra. Todo o filme gira em torno de um único acontecimento e não explora nada além disso, nem mesmo os desdobramentos da situação. 

    crítica a hora do desespero
    Foto: Reprodução

    Noyce poderia, inclusive, usar seu longa para abordar temas mais sensíveis, como o motivo de alguém entrar atirando em uma escola. Existia também a possibilidade de falar sobre o ideal armamentista americano. No geral, esse tema poderia ser usado para causar uma reflexão social. Mas o diretor optou por ficar no cinema mais convencional, sem uma narrativa de risco. Então, o que poderia ser uma história interessante, profunda e bem trabalhada, se tornou apenas mais um filme simples e comum. Em resumo, “A Hora do Desespero” é um suspense maçante, que se mostra previsível do começo ao fim. 

    Nota: 2/5

    Confira o trailer abaixo: