CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | Apesar de lindo, Parthenope perde força em sua protagonista
Em Parthenope, Paolo Sorrentino, faz sua primeira protagonista mulher uma personagem linda, porém, superficial.
Paolo Sorrentino é um mestre do cinema contemporâneo Italiano, A Grande Beleza (2013) e Juventude (2015), são filmes belos tanto em questões estéticas, principalmente na fotografia que se tornou uma marca registrada da carreira de Sorrentino, quanto em suas famosas reflexões sobre a vida, principalmente no quesito do envelhecimento, porém, enquanto o diretor italiano sabe trabalhar com maestria este questão em personagens masculinos, o mesmo não se pode dizer para a sua primeira protagonista feminina.
Existem lendas diferentes sobre Parthenope, a mais conhecida está presente na Odisseia de Homero, aonde foi uma meiga sereia que falhou em enfeitiçar Ulisses, assim, se matando de sofrimento. Sorrentino reimagina esta lenda por meio de uma protagonista que é vista ao longo de toda a produção como algo maior do que humana, porém, que pode ser facilmente resumida em três palavras, verbalmente expostas a ela ao longo da produção: ela é bonita, ela é inteligente e ela é atrevida.
Sorrentino mostra a jornada de Parthenope, desde seu nascimento nas águas, seu nome como uma homenagem à cidade de Nápoles, sua juventude, seu amadurecimento e rapidamente sua velhice, uma pena, pois é um período que poderia ter sido muito melhor explorado para ocasionar uma maior catarse à produção.
A questão é, enquanto os personagens de Sorrentino como Jep Gambardella de A Grande Beleza apresenta tantas camadas, porque a sua sereia apresenta somente 3? Ao retratar sua protagonista como algo maior do que humano, Parthenope perde todo o potencial que poderia ter sido alcançado caso apresentasse mais camadas dentro de sua odisseia.
Apesar de ser maravilhoso acompanhar a beleza surreal de Celeste Dalla Porta, com roupas sensuais e um sorriso que incentivaria qualquer um a pular do penhasco do mesmo modo que a sereia de Homero. Percebemos, como já discutido em outras produções de Sorrentino, incluindo esta, que a beleza é algo magnífico, mas que não dura eternamente, assim, mesmo com seu brilho natural, Celeste não consegue trazer destaque a uma personagem que se apresenta fraca, dentro de tantos personagens masculinos que apresentam maiores nuâncias em suas ações.
Cena de “Parthenope” de Paolo Sorrentino- Foto divulgada pelo Festival do Rio.
Parthenope lida com diversos homens em diferentes etapas de sua vida, desde o seu irmão que apresenta um amor incestuoso e age como a sereia do mito de Homero, se matando após perceber que jamais conseguiria tê-la, o escritor John Cheever, interpretado por um suado Gary Oldman, um padre milagroso, entre outros. Na medida que estes são enxergados como humanos, Parthenope é sempre vista como algo divino, cativando no começo e perdendo força na medida que o filme avança em suas mais de duas horas.
O filme apresenta diversas marcas tradicionais do cinema de Sorrentino, sua fotografia nunca esteve tão bonita, os simbolismos estão pontuais, o roteiro apresenta discussões sobre amor e velhice, e existe um bizarro onírico, neste caso remetendo à La Dolce Vita (1960), de Federico Fellini, porém, enquanto este tinha Marcello Mastroianni em um dos personagens mais ricos do cinema italiano, Parthenope tristemente não consegue chegar neste nível de complexidade, na medida que Sorrentino explica diversas vezes ao longo do filme que ela é linda, ela é inteligente, e ela é atrevida, uma pena que mesmo com todos os esforços e beleza, o filme não permite que ela seja mais do que esta sereia intocável e distante.
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