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CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | Retrato de um Certo Oriente demonstra a harmonia na Amazônia

Dirigido por Marcelo Gomes, Retrato de um Certo Oriente usa dois irmãos libaneses para discutir sobre memória, imigração e sincretismo religioso

Baseado no livro de Milton Hatoum, escolhido por Marcelo Gomes por ser inadaptável, Retrato de um Certo Oriente, conta a história de Emilie e Emir, dois católicos, que fogem do Líbano após o assassinato dos pais. Ambos embarcam em uma jornada de navio em direção ao Brasil, enquanto Emir descobre o amor pela fotografia, Emilie se apaixona por um Árabe muçulmano, trazendo a ira de seu irmão.

A discussão principal de Retrato de um Certo Oriente é a possibilidade de convivência pacífica entre os povos, não por coincidência, a equipe presente no Cine Odeon, antes e depois da apresentação do filme, soltaram gritos legítimos de “Palestina Livre”. Dentro da produção, um árabe que ora para Allah tem um relacionamento com uma católica libanesa, que tem o irmão salvo graças à medicina tradicional indígena.

O filme apresenta um sentimento melancólico, estamos na viagem junto com Emilie e Emir e sentimos a força da floresta amazônica junto com eles, por conta de pessoas da cidade não apresentarem um contato profundo com estas raizes, ficamos tão maravilhados quanto, e a fotografia nos auxilia dentro deste processo.

A produção é lenta, porém, visualmente estonteante. A Amazônia é tratada como algo imenso e surreal, todos os personagens são pequenos perto dela, inclusive o espectador. A decupagem auxiliada por uma fotografia em preto e branco, segundo Marcelo Gomes uma escolha exigida por sua protagonista, transmite um sentimento de grandiosidade dentro de uma estética que remete aos primórdios do cinema, não por acidente que o diretor de fotografia Pierre de Kerchove, cita Limite de Mario Peixoto como uma grande referência.

Retrato de um Certo Oriente

Cena do filme “Retrato de um certo Oriente”- Foto Divulgada pelo Festival do Rio

Com o protagonismo do filme sendo direcionado para Emilie, Emir é pouco explorado ao longo de Retrato de um Certo Oriente, sendo rebaixado a um irmão raivoso da irmã e desaparecendo por grande parte do segundo ato, porém, sua importância é fundamental por conta do apreço que ele encontra em fotografias.

O único momento da produção em que existe alguma cor, é no momento de revelação destas fotos, quando os personagens são iluminados por uma luz vermelha e divina, apresentando uma segunda discussão fundamental: a fotografia e o modo como ela é usada para captar memórias.

Marcelo Gomes mudou o nome original do livro de Hatoum de Relato de um Certo Oriente, para Retrato de um Certo Oriente, enfatizando a força da fotografia e o modo com o qual ela traz redenção, por meio de uma aceitação das memórias do passado, e um olhar de esperança para o futuro, mesmo com a saída de um lar destruído, no caso de seus personagens a Líbia, é possível construir novas memórias e relações em outros lugares.

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