CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | The Outrun lida com a dificuldade em se tratar vícios
Com Saoirse Ronan em seu melhor papel até agora, The Outrun conta a história de uma jovem e seu vício em álcool
Clarissa Pinkola Estés conta no capítulo 9 de seu livro: “Mulheres que correm com Lobos”, a lenda das mulheres foca, nele, é discutido um regresso necessário que a mulher precisa ter para com sua pele e principalmente com sua alma, tendo que buscar um lugar de repouso ao longo de sua vida.
Em The Outrun, a diretora Nora Fingscheidt, inicia a produção fazendo um paralelo entre esta lenda e sua protagonista Rona, uma jovem de 29 anos, que após 10 anos em Londres, retorna para sua casa nas ilhas Órcades, buscando recuperação após chegar ao fundo do poço por conta de seu vício em álcool.
Solitária na ilha, lidando com o pai doente, a mãe religiosa, e ninguém de sua idade, Rona reflete sobre os acontecimentos que a levaram até lá. De forma não cronológica, acompanhamos diversos momentos de sua vida, seja sua infância vendo os pais brigarem, seu relacionamento amoroso em Londres que foi arruinado por conta de seu alcoolismo, e principalmente sua busca por melhoras.
Saoirse Ronan em cena de “The Outrun”- Foto divulgada pelo Festival do Rio
The Outrun é um filme lento. Por meio de uma voz off constante, temos conhecimento dos pensamentos internos de Rona, algo que fica cansativo após um tempo. Saoirse Ronan está em todas as cenas da produção e transmite uma emoção diferente em cada uma, mesmo com um sorriso, enxergamos uma mulher que busca se libertar desta pele que a prende e simplesmente ser livre, porém, é impedida pelo seu próprio remorso.
Em 2017, Saoirse Ronan estrelou o filme Lady Bird de Greta Gerwig, por mais curioso que possa parecer, eu enxergo The Outrun como uma sequência extraoficial, na medida que ambos os filmes lidam com amadurecimento e são filmes poéticos sobre mulheres que buscam a liberdade.
A maior discussão dentro de The Outrun, algo que comentei após o fim da sessão com duas mulheres que conheci, foi a veracidade e o cuidado com que o vício em álcool é abordado dentro da produção, apesar do contexto, o filme traz esperança, ao final, Rona não vira uma foca, porém, de certo modo consegue o domínio sobre a natureza, algo que ela sempre diz que conseguia fazer.
Rona entra em paz consigo mesma, os sentimentos que ela acreditava que somente o álcool poderia lhe dar, são encontrados em outros lugares, seja auxiliado por um morador da ilha, sóbrio à 12 anos e que apresenta grande empatia com a personagem, ou o apoio materno após ambas terem batido de frente diversas vezes ao longo do filme.
Por meio de poesia, alegorias e um final esperançoso, The Outrun traz o conforto que não importa quanto tempo passe, sempre é possível se tornar alguém melhor e vencer as desavenças que o mundo nos joga diariamente.
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