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CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | Todo mundo ama Touda se arrasta em uma trama circular

Dirigido por Nabil Ayouch, Todo mundo ama Touda é lindo, mas, repetitivo após sua primeira hora

Todo mundo ama Touda inicia com um letreiro explicando o que é uma Sheika: uma categoria de mulheres que usa o canto e a dança como forma de libertação, principalmente por conta da Aita, a epítome da poesia musicada, que transforma tanto quem escuta, quanto quem canta.

Touda tem o sonho de ser uma Sheika, para se estabelecer em Casablanca e conseguir um futuro melhor para si e para seu filho surdo. A ironia clara da Sheika apresentar um filho surdo, é mostrada por meio do apreço que a mãe tem por ele. Touda daria a vida se isso significasse um futuro melhor para sua criança, assim, ela se submete a cada vez mais absurdos, sempre com ele em mente.

Na medida que a produção se passa dentro na sociedade marroquina, um local extremamente machista, acompanhamos desde a primeira cena o tom que se dará no resto do filme: Touda canta lindamente, Touda é vista como objeto sexual, e sofre as consequências por ser uma mulher independente e livre, em uma sociedade dominada por homens.

Todo Mundo Ama Touda

Nisrin Erradi em “Todo Mundo Ama Touda” – Foto divulgada pelo Festival do Rio.

Todo mundo ama Touda nos apresenta duas Toudas. A primeira é a mãe caridosa, melancólica e atenciosa, enquanto a segunda se liberta durante as suas performances, Nisrin Erradi cativa à todos durante cada uma de suas perfomances, cantando de modo que sempre traz uma tristeza por trás.

Ao longo de Todo mundo ama Touda, perdi a conta de quantas vezes sua protagonista é vista erroneamente como uma prostituta, seja pelo seu chefe ou pelos homens para quem canta. Apesar desta discussão ser importante, principalmente na atualidade, ocorre um desgaste após a primeira uma hora, sempre repetindo a mesma primeira cena, sem acrescentar nada de novo e somente mais dor para sua protagonista.

Uma mudança ocorre quando Touda se muda para Casablanca, lá ela conhece um violinista que se torna um mentor para sua jornada e indiretamente permite que ela finalmente se liberte deste ciclo. Em uma performance final, acompanhada por um longo plano sequência, vemos a última performance de Touda, porém, enquanto os homens continuam agindo do mesmo modo que sempre, Touda aceita que não merece mais isso, e desiste de terminar o seu canto. A câmera a segue e o filme se encerra com um sorriso misturado de lágrimas, em um final agridoce.

Apesar do final impactante de Todo mundo Ama Touda, não consigo relevar o fato que assistimos por uma hora e 40 o mesmo ciclo de ação e reação, e que cansa a audiência a ponto de uma pessoa na sala de cinema roncar alto durante a produção.

A maior falha de Todo mundo ama Touda não é a direção de fotografia, não é a direção de arte que apresenta vestidos cada vez mais lindos e não é o roteiro, pois a história de Touda é eficiente e muito forte. Seu maior problema é o ritmo cansativo, ao enfatizar tantas vezes seu ciclo de sofrência, a produção perde forças, justamente por termos visto a mesma situação anteriormente.

Todo mundo ama Touda é o representante oficial de Marrocos para a pré seleção do Oscar de melhor filme internacional do ano de 2025, tentando uma vaga juntamente com A Garota da Agulha e Matem o Jóquei.

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