James Mangold convida o espectador a uma imersão completa na transformação do astro da música, nos anos 60.
As cinebiografias de cantores têm sido um gênero recorrente no cinema, retratando a trajetória de grandes nomes da música. Produções sobre ícones, como Elvis Presley, Elton John e Freddie Mercury, mostram como Hollywood se dedica a contar histórias de artistas que marcaram épocas. Nesse contexto, “Um Completo Desconhecido” se destaca por sua abordagem singular de Bob Dylan, explorando uma fase específica de sua carreira e mergulhando na complexidade do artista.
Dirigido e escrito por James Mangold (“Logan”), o longa é adaptado do livro “Dylan Goes Electric!” (2015), de Elijah Wald (“Jelly Roll Blues”). A obra não é apenas mais uma biografia convencional, mas sim um estudo profundo sobre o músico, concentrando-se em um recorte preciso de sua jornada entre 1961 e 1965.
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Um Completo Desconhecido I Searchlight Pictures
Nesse período, Dylan chegou a Nova York para encontrar seu ídolo, o cantor Pete Seeger (interpretado por Edward Norton), e atravessou uma fase de grandes transformações no cenário do Folk. A produção, que enfrentou atrasos por conta da pandemia, só chegou aos cinemas graças ao empenho de Mangold, que priorizou o projeto e o levou à Searchlight Pictures.
Ao contrário de muitas cinebiografias que seguem uma linha cronológica simples ou uma narrativa de “origem”, Mangold opta por focar em um momento crucial da vida de Dylan, evitando o formato “filme legado”, muito comum nas produções atuais. O diretor traz um momento de incertezas, antes da explosão artística de Dylan, explorando o processo de transformação do intérprete e sua busca por um espaço no mundo da música.
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Um Completo Desconhecido I Searchlight Pictures
O papel de Dylan, aqui, é vivido com maestria por Timothée Chalamet (“Me Chame pelo Seu Nome”), que, em uma das melhores performances de sua carreira, captura tanto os maneirismos quanto os dilemas emocionais do cantor. Chalamet transmite a angústia de Dylan, suas dúvidas sobre o amor, a carreira e a fama. O longa o apresenta como um “completo desconhecido”, antes de sua ascensão, evidenciando sua luta interna e os desafios que enfrentou até alcançar a consagração.
Mangold também reconstrói com precisão a Nova York dos anos 60 e o efervescente cenário do Folk. Um dos elementos centrais da trama é o uso da guitarra elétrica por Dylan, que gerou grande polêmica na época. Esse ato se torna um símbolo de inovação e resistência, refletindo a transição do Folk para o Rock e a discussão sobre autenticidade na música. Além disso, o filme propõe uma reflexão sobre a relação entre fã e artista, abordando a dificuldade de Dylan em lidar com a fama e sua sensação de ser reduzido à figura de apenas “servidor do público”.
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Um Completo Desconhecido I Searchlight Pictures
Apesar de ser um projeto bem executado e uma homenagem bem-vinda a um dos maiores ícones da música, o longa, infelizmente, peca por um distanciamento emocional. Faltou um maior aprofundamento nas reflexões pessoais de Dylan, especialmente no que diz respeito aos seus sentimentos internos e ao impacto de sua obra. Contudo, isso não impede o filme de se destacar, pela sua excelente recriação da época e pela atuação brilhante de Chalamet.
Em suma, “Um Completo Desconhecido” não busca ser uma obra espetacular, mas cumpre sua proposta com precisão. É uma homenagem fiel a Bob Dylan, com uma narrativa focada e uma produção técnica impecável, que toca diretamente os fãs da música Folk e do cantor.
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