Crítica | Until Dawn cria tensão, mas peca no terror

Until Dawn

Dirigido por David F. Sandberg, Until Dawn é um filme de terror vazio

Segundo o site de crítica, Rotten Tomatoes, O Babadook (2014, Jennifer Kent), é considerado um grande sucesso, com 98% de aprovação e uma história sincera e genuína, sem apresentar sustos baratos. Ao usar a alegoria de um monstro infantil, como modo de representação do luto, a produção apresenta um core emocional dramático forte, uma mensagem potente, um medo que acompanha todo o filme, e um sentimento final de conclusão, a ponto da diretora se recusar a fazer sequências do filme. Nada do que foi elogiado em O Babadook, pode ser dito sobre Until Dawn.

Apesar de pertencerem a sub-gêneros diferentes do gênero cinematográfico, Until Dawn também é um filme de terror que lida com o luto, porém, na medida que se encaixa em um terror “padrão”, incluindo, mas, não limitado à: monstros, bruxas, hospitais abandonados, assassinos mascarados e casas assustadoras, a produção fica vazia de conteúdo, em pró de uma checklist de itens assustadores, focando em sustos baratos, ao invés da história em si.

Baseado na franquia de sucesso da Playstation, Until Dawn gira em torno de Clover, uma jovem que refaz, juntamente com 4 amigos, a última viagem de sua irmã antes de desaparecer, porém, o grupo se percebe preso em um looping temporal de horror, sendo obrigado a passar por diferentes pesadelos, que só serão interrompidos se o grupo sobreviver até o amanhecer.

Until Dawn

Cena de Until Dawn-Divulgação Sony Pictures

Já tivemos alguns exemplos de adaptações de videogames que se tornaram sucessos cinematográficos, acredito que a franquia Sonic seja o maior atual. Para alcançar o público, Until Dawn se utiliza de um nome poderoso e se distancia do material original, a ponto de manter a temática principal, mas, criar novos personagens e uma história inédita, com o número certo de referências para entreter os assíduos pelo videogame.

A graça de se jogar Until Dawn é estarmos na pele de seus personagens, nós tomamos as decisões e temos que lidar com as consequências, o jogador ativamente participa da situação, ao passarmos a produção para o cinema, nos tornamos passivos, tirando grande parte de nossa potência, assim, o sentimento de medo diminui, o que o diretor deveria fazer para evitar que isso ocorresse? Construir um sólido universo, amedrontador para o público e simples de entender, algo que não soube trabalhar tão bem.

Parafraseando John Goodman no clássico independente Matinee (1993, Joe Dante), ao presenciarmos uma sensação de medo, nos sentimos mais vivos em seguida, pois, percebemos que aquilo era só um filme, trazendo um sentimento de catarse e satisfação, porém, em Until Dawn, este sentimento se torna raiva na medida que acompanhamos os personagens tomando decisão estúpida, atrás de decisão estúpida, o que só me fez relembrar a paródia O Segredo da Cabana (2011, Drew Goddard), e como ela estava a frente de seu tempo em tantos níveis.

Sim, as regras de Until Dawn são simples de entender, afinal, como foi verbalmente exposto no filme, o público já está muito acostumado com produções de looping temporal, porém, para que então, em seu terceiro ato, tentar explicar psicologicamente tudo o que estava acontecendo? De modo sem nexo que confunde mais ainda o espectador? Tudo para enrolar o vilão para ele ser derrotado do modo mais clichê, previsível, e fácil, possível? Sem catarse nenhuma por trás? Isto sim, é decepcionante.

Until Dawn

Ella Rubin em Until Dawn– Divulgação Sony Pictures

Eu não vejo nenhum problema em filmes de terror que não se levam a sério, inclusive, em muitos aspectos os acham mais interessantes do que os demais, como os da franquia Pânico e o filme de Goddard, porém, eu vejo problema quando ocorre uma mudança de tom em plena narrativa, quando a produção não entende o que ela realmente almeja alcançar.

O que começa como um filme de terror interessante, abraça o trash de uma maneira inorgânica e sem nexo, ao mesmo tempo que a produção almeja ser um novo Evil Dead (1981, Sam Raimi), ela quer ser inteligente, duas coisas que não combinam, e tiram a força do terror em si.

Algumas cenas trazem tensão, auxiliado pelo clima criado pela fotografia, e pelos efeitos visuais, construindo um gore que é muito atraente, e é divertido em certos momentos, porém, na medida que o roteiro foca em sustos baratos e previsíveis, indo na contramão da tensão orquestrada por Jennifer Kent, mostrando, assim, mais do que deveria, a produção falha aonde mais importa: construir um filme de terror que dê medo.

Enquanto O Babadook foi um filme de terror independente que alcançou novos ares por conta do modo eficiente que usa o terror, Until Dawn é um filme de grande orçamento, com um nome poderoso por trás, que permitirá sequências, e uma nova vida no streaming, porém, é vazio de conteúdo se o considerarmos como um produto isolado de todo o ânimo que permeia esta franquia.

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