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CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | Vera e o Prazer dos Outros toma a audiência como refém

Na medida que assistimos à Vera e o Prazer dos Outros, nos percebemos cúmplices de sua protagonista.

Dirigido por Romina Tamburello e Federico Actis, Vera e o Prazer dos Outros é um coming of age argentino que retrata a descoberta sexual de Vera, uma jovem de 17 anos que após roubar as chaves do apartamento que sua mãe tenta vender, começa a alugar o apartamento para jovens transarem e começa a desfrutar de seu prazer oculto: escutar os atos sexuais de outras pessoas.

Segundo o dicionário, voyeurismo é uma curiosidade patológica por tudo que é íntimo e privado. Vera desfruta deste prazer com maestria, porém, sem percebermos, ao acompanharmos sua jornada a audiência se torna voyeur na mesma medida.

Na medida que Vera se torna cada vez mais aberta a novas descobertas sexuais, Romina e Federico fazem uso de planos cada vez mais próximos, terminando na sequência chave da produção: uma longa cena de sexo à três, filmado em plano sequência, impedindo o público de desviar o olhar da ação.

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Cena de “Vera e o Prazer dos Outros”- Foto divulgada pelo Festival do Rio

Vera e o Prazer dos Outros é um filme lento, uma degustação de momentos, porém, deve-se destacar o trato de ter uma protagonista bissexual em um coming of age, algo ainda raro dentro do cinema atual. Existem coming of age com protagonistas gays, como Me Chame Pelo Seu Nome; protagonistas lésbicas, como em Bottoms; e obviamente de héteros, como 95% de comédias adolescentes desde os anos 80, porém, não me recordo de um coming of age com protagonista bissexual feito de modo tão delicado e ao mesmo tempo tão corajoso, a ponto de mostrar cenas de masturbação da protagonista para demonstrar o seu crescimento psicológico.

Vera não é uma protagonista nobre, diversas vezes temos raiva de sua infantilidade, porém, é uma personagem complexa, principalmente ao entendermos a sua vida familiar que inclui um pai ausente, tanto em sua vida quanto em grande parte do filme, apresentando pouco destaque, e sua mãe, uma workaholic que gerencia inúmeros apartamentos para locação e trai o marido com seu chefe.

Uma das cenas mais impactantes de Vera e o Prazer dos Outros, ocorre quando o voyeurismo de Vera se volta contra ela mesma, na medida que pega sua mãe traindo o pai, e não apresenta a oportunidade de escapatória, assim, o público se isola no armário junto com ela e observa somente por uma fresta uma cena angustiante.

Vera e o Prazer dos Outros é uma produção sensorial, principalmente em questão de tato, por meio de planos detalhes, a plateia desfruta até mesmo do tecido da colcha de veludo de Vera, assim, sentimos estes prazeres ocultos na mesma medida, para enfim, no último plano do filme receber um olhar gratificante da protagonista por meio da quebra da 4º parede, e um reconhecimento de fim de jornada.

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