Oscar 2021 | Os 7 de Chicago — O poder dos diálogos em dramas de Tribunal
A Sétima Arte cria associações, direta e indiretamente. Quando o palco de um filme é o Tribunal, nosso cérebro rapidamente anseia pelos diálogos afiados e monólogos marcantes. O indicado ao Oscar, Os 7 de Chicago, drama histórico escrito por Aaron Sorkin, é mais um longa que se aventura no texto para compor camada por camada de uma história regida pelas palavras.
“Você não aguenta a verdade!” essa é umas das frases mais famosas do cinema, dita pelo ator Jack Nicholson, intérprete do personagem Coronel Nathan Jessep, no longa Questão de Honra. “Orações são para os fracos, prefiro acabar com a sua raça no tribunal“, esse “ataque”, feito com palavras, saiu da boca da advogada mais famosa da TV, Annalise Keating (vivida por Viola Davis), protagonista do “show” How to Get Away with Murder, sucesso de Shonda Rhimes.
Certo. Mas, o que essas frases têm em comum? A resposta é óbvia! Todas elas foram ditas no tribunal, usadas como instrumento de guerra, pois quando uma corte é palco para um confronto, somente os diálogos são capazes de ferir, salvar, inocentar, acusar ou condenar uma pessoa. O grande poder de um filme que retrata os dramas de um julgamento está no roteirista e na sua sagacidade ao escrever conversas, muitas vezes simbolizadas como uma batalha perante o Júri.
Aaron Sorkin, provável vencedor do Oscar, concorrendo a Melhor Roteiro Original, sabe como envolver a audiência e transformar cada frase em uma escada rumo ao grande clímax. As letras são suas balas, o roteiro é a sua arma e a mira está apontada para as nossas emoções. É impossível escapar desse controle majestoso que ele tem sobre o texto.
Quer outro exemplo vivo da genialidade de Sorkin? Dê “play” no filme A Rede Social e seja fisgado pelas lutas travadas com palavras.
A voz das pessoas é, e sempre será necessária quando se debate questões sociais e políticas. Quando a vida de um cidadão é colocada no jogo político em prol da vitória na guerra, o medo se torna combustível para mover os donos dessas vozes. Essa é premissa que paira no começo de Os 7 de Chicago, apresentando como pano de fundo o cenário conturbado da década de 1960, período este que os Estados Unidos entrou no confronto da Guerra do Vietnã.
Grande mérito desta obra é causada pela escrita arquitetada. Alguns diálogos (mesmo aqueles carregados de jargões) são tão densos e poderosos que roubam o protagonismo da cena. Percebe-se isso quando a raiva da audiência cresce sob os ataques desleais provocados pelo abuso de poder. É na representação do juiz Julius Hoffman (vivido pelo ator Frank Langella) que o roteiro transforma as falas em combustível para mover a narrativa para frente.
São desses momentos que o roteiro extrai tamanha veracidade, mirando nossa atenção para as temáticas, que apesar de retratarem o passado, são extremamente atuais. É um lembrete doloroso que resgata fragmentos de narrativas similares como o longa Luta por Justiça e a minissérie Olhos que Condenam.
Aaron Sorkin pinta um retrato fidedigno de 50 anos atrás e ao mesmo tempo reflete o presente. Motivo esse que faz Os 7 de Chicago saber o momento certo de entregar cada pequena situação, para que segundos depois as transforme em algo incontrolável. Pode-se dizer que é como assistir o bater de asas de uma borboleta criando o Caos.
Com 6 indicações, Os 7 de Chicago concorre nas seguintes categorias: Melhor Fotografia, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Edição, Melhor Filme, Melhor Canção Original e Melhor Roteiro Original.
O filme está disponível na Netflix.
Assista ao trailer:
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